Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

sábado, 23 de junho de 2012

Um anel para South Beach

Convenhamos: Ele é bom demais pra passar três Finais em branco


Quinta feira passada, enquanto o jogo 2 das Finais da NBA rolava em Oklahoma City, eu tava no Morumbi para ver São Paulo e Coritiba pela Copa do Brasil. Pra quem não sabe, ou apenas não liga, foi um jogo horrível, o São Paulo jogou muito mal o primeiro tempo todo, bagunçado, deu raiva. No intervalo, tava vaiando o time a plenos pulmōes. No segundo tempo, o Sampa teve um jogador expulso, passou sufoco, tomou bola na trave... E no final do jogo, ganhou com um gol numa jogada individual isolada de tudo que o time tinha feito, extremamente nervoso, mas todo mundo sabe que assim da um sabor especial. Quando acabou o jogo, 1 a 0, eu comentei com meu pai que não sabia como eu tava me sentindo, nem como eu devia me sentir. Bravo, pelo futebol muito fraco apresentado pelo time? Aliviado, pela vitória que poderia facilmente ter sido uma derrota? Animado, pela vitória emocionante no final? Francamente, eu não fazia a menor ideia de como eu me sentir. Era uma overdose de emoçōes diferentes e conflitantes, provavelmente excessivas, já que era meu time do coração (No final das contas, não adiantou nada, o time perdeu o jogo de volta e foi eliminado. E é por isso que vocês não verão mais nenhuma referencia a futebol nessa coluna. Eu odeio todo o mundo).

De certa forma, foi assim que eu me senti sobre as Finais desse ano. Como nenhum é meu time do coração (Celtics) e nem... bem, o Lakers, minhas reaçōes mais sobre o ponto de vista de um fã de basquete. Mas confesso que, mesmo como fã de basquete, eu tive muitas reaçōes totalmente contraditórias sobre essas Finais. Algumas coisas me deixaram feliz, outras me deixaram frustrado, outras me deixaram irritado, outras me deixaram maravilhado... Foi uma overdose de sentimentos conflitantes.

Talvez o principal conflito tenha sido por quebra de expectativas. Eu assisti muitos jogos do Thunder esse ano, sempre gostei da equipe e acompanhei a evolução deles ao longo do ano muito de perto, culminando naqueles quatro jogos contra o Spurs onde eles engoliram o melhor time da NBA quatro vezes seguidas com uma compostura e confiança que eu não tinha visto até esses playoffs. Pra mim,  o Thunder tinha finalmente encontrado uma compostura que iria manter esse time um pouco sem cérebro mais confiante, menos desesperado, e que isso seria essencial junto com todo o talento, depth e versatilidade da equipe pro time bater de frente com o Heat, trocar alguns golpes, ver cada time sendo obrigado a aumentar cada vez mais seu nível pra conseguir vencer, e no final de sete jogos teriamos um vencedor saindo de uma longa, disputada e brigada série. Mais ou menos como dois pesos pesados presos num ringue, trocando golpes o tempo todo, cada golpe forçando o adversário a responder ainda mais forte, cada um forçando o outro a um nivel ainda maior, até que um caia e o outro saiba que chegou no seu melhor pra vencer.

Bom, isso não aconteceu. O Thunder entrou mais focado, usou exatamente o mesmo que fez contra o Spurs, e deu o primeiro soco no Jogo 1. Como esperado, o Heat fez alguns ajustes e voltou melhor no jogo 2, devolvendo o soco e empatando a série. Ainda que o Thunder não tenha feito muitos ajustes no jogo 3, o time voltou mais focado novamente, viu seus talentos individuais e em certo momento até os coadjuvanetes elevarem seu jogo, abriram 10 pontos de vantagem... E ai o Kevin Durant cometeu sua quarta falta e saiu, Russell Westbrook tomou duas decisōes idiotas, o Scott Brooks tomou a pior decisão da série tirou Westbrook por "razōes de basquete" (o que nos levou aos piores 5 minutos de basquete dos playoffs)... E o Thunder NUNCA foi o mesmo. O time foi massacrado nos minutos seguintes, perdeu a confiança, viu os coadjuvantes sumiram completamente do jogo (James Harden e Serge Ibaka ainda estão sendo procurados pela polícia, foram vistos pela ultima vez em Oklahoma City, quem tiver informaçōes favor contatar as autoridades), e tentou manter o ritmo contra o Heat (que genuinamente jogou como um time de basquete, finalmente entendeu que basquete depende tanto da parte subjetiva, do conceito de "time", da forma como os jogadores se relacionam, quando do talento que eles tem de sobra... Mas já voltamos a esse ponto), e tentou se manter na série contando apenas com o individualismo de seus craques Westbrook e Durant, enquanto o Heat jogava como um time, envolvia todo mundo e mostrou que finalmente se achou como um time.

Isso quase deu certo no Jogo 4, quando o Thunder jogou um primeiro quarto igual ao que vinha fazendo até aqui, com a diferença que as bolas cairam, os coadjuvantes apareceram e o Heat começou a partida fazendo exatamente o contrário do que tinha dado tão certo nos jogos 2 e 3 (Ao invés de atacar a cesta, trabalhar no pick and roll e rodar a bola para os jogadores cortando em direção ao garrafão, o Heat jogou muito em isolaçōes, rodou pouco a bola e tentou jogar com arremessos de fora, o que não deu certo), e o Thunder abriu uma boa vantagem... Até o Heat se acertar, começar a acertar as bolas longas, Lebron brincar de Larry Bird (Quando o arremesso de Bird não estava caindo, ele parava de arremessar, começava a atacar o aro, jogava mais perto do garrafão, pegava rebotes, cavava faltas e usava seus passes para afetar o jogo de outras maneiras... E foi exatamente isso que Lebron fez, só que muito mais forte fisicamente e melhor defensor, pra compensar o fato de que não tem um bom arremesso ainda) e achar companheiros livres pra cestas fáceis, dominar o Thunder fisicamente (Ele até teve menos sucesso assim quando foi marcado por Thabo Sefolosha, mas dominou quando marcado por Westbrook e, especialmente, James Harden. Eu juro que tou até agora tentando entender porque o Nick Collison não foi marcar ele num jogo onde ele tava dominando o Thunder jogando de Power Foward, no post, sendo marcado por um SG - realmente não foi uma boa série do Brooks), e o Thunder tentou responder com mais individualismo e bolas longas... Que dessa vez não caíram, e o Thunder novamente não teve calma pra adaptar seu jogo, insistiu na afobação e fez exatamente o que o Heat queria.

E ai, depois de ver Lebron jogar três quartos transcendentais, algo que Bird teria assinado embaixo, Russell Westbrook decidiu que tava na hora dele aparecer também. Ele pegou a bola, e começou a atacar a cesta (Algo que faz menos do que devia, ele é muito mais mortal assim, mas enfim), começou a fazer cesta atrás de cesta, tirou sozinho a vantagem do Heat, e manteve o Thunder no jogo enquanto Miami continuava acertando as cestas, mesmo depois que Lebron saiu com câimbras (Lebron sente câimbras? Ele é humano?? Daqui a pouco vão me falar que ele também sangra e sente frio... Pff). E o Westbrook continuou chamando a responsabilidade com Durant apagado, marcou 18 pontos no quarto periodo, terminou com 43 pontos... E claro, matou as chances do Thunder no final quando cometeu uma falta intencional no Mario Chalmers (Pegou fogo no jogo, 25 pontos, o Heat não ganharia sem isso) quando ele teria tres segundos pra dar um arremesso totalmente desequilibrado e o Thunder ainda teria 13 segundos pra empatar o jogo com uma bola de trés (ele achou que o cronometro tinha voltado pra 24 segundos, ao invés de 5, quando deu a bola presa). Westbrook, mais resumido impossivel: 43 pontos, 18 no quarto periodo, sozinho salvou o jogo e manteve o time na partida... E por um instante de burrice matou as chances do time no jogo.

Mas sinceramente, se você culpa o Westbrook pela derrota do Thunder, pode parar de ler essa coluna. Tipo, agora mesmo. A verdade é que cada jogador na NBA é como se fosse um pacote - ele tem coisas que ele trás, que ele adiciona, e tem coisas nele que prejudicam o seu time. Ate mesmo Lebron tem o lado ruim do pacote (No caso, seu arremesso de meia e longa distância, ainda muito erráticos - e sim, isso é buscar migalhas), qualquer jogador o tem, a questão é o jogador e o tecnico trabalharem pra minimizar o lado ruim, e também qual o custo-benefício de ter aquele jogador em quadra. Com Westbrook, você sabe exatamente o que vai ter: Um bom defensor, excelente nos contra ataques, muito atlético, um dos maiores competidores da NBA, um cara que joga com tudo que tem do primeiro ao último minuto, otimo atacando a cesta, ocasionalmente vai pegar fogo de meia distância... E ao mesmo tempo um jogador muitas vezes precipitado, um SG jogando de PG que não sabe exatamente como conduzir um time, um jogador que as vezes vai transformar sua intensidade em afobação, que vai insistir com o que da errado, e vai tomar decisōes ruins em quadra. Tudo isso faz parte do pacote, mas a questão dele é: Você está melhor aguentando a parte ruim do Pacote Westbrook pra usufruir da parte muito boa do que não utilizando nenhuma das duas. Sim, o Westbrook tem que trabalhar de forma a minimizar o lado ruim, mas não pode em nenhum momento abandonar o seu lado bom, o que faz dele especial... E se o custo disso for algumas más decisōes em quadra, excesso de afobação, e tudo o mais... Bom, então que seja. O Thunder é um time muito melhor com ele. Só ver o que aconteceu no Jogo 3 quando Brooks estupidamente tirou ele de quadra, sendo que Durant já estava no banco e Harden era uma múmia em quadra.

E se você acha que a pane cerebral do Westbrook foi a causa da derrota, lembre-se de que não teria acontecido se o Thunder tivesse perdendo por 14 pontos... O que teria acontecido se o Westbrook não tivesse lá pra pegar fogo e colocar o Thunder no jogo. Mesmo naquele ponto do jogo, se Westbrook não faz a falta e Chalmers errasse, o Thunder ainda tinha que pegar o rebote, montar uma jogada para uma bola de três quando o Heat sabia que ela viria (provavelmente uma isolação do Durant bem longe da linha dos tres), e acertar. A chance era bem improvável. Além disso, considere que Harden errou uma bandeja sozinho num contra ataque que deveria ter enterrado, duas bolas de três livres, e no final do jogo não quis chutar um 17-footer livre, hesitou, demorou, e acabou chutando com Chris Bosh no pescoço dele (e errou). Considere que, com o jogo empatado, Sefolosha mandou um air ball numa bola de três totalmente livre. Considere que Durant teve um quarto quarto muito ruim, teve muitos problemas com a marcação física de Lebron e Shane Battier, e insistiu em forçar arremessos longos e contestados. Considere que, com o jogo empatado e Lebron no chão com caimbras (um momento chave no jogo, quando o Thunder precisava de uma cesta pra assumir o controle) o Thunder teve um contra ataque de 5-contra-3, quando Derek Fisher (Pessima série pra ele, especialmente nos jogos 3 e 4 - NADA justifica que ele jogue 18 minutos por jogo de uma Final de NBA a essa altura), que tinha Harden absolutamente livre no perímetro e um Westbrook pegando fogo do seu lado pedindo a bola, preferiu correr sozinho pra dentro e dar um arremesso correndo da cabeça do garrafão com Bosh em cima dele na jogada mais idiota de todo o jogo. E lembre que tudo isso aconteceu no quarto período, quando Westbrook sozinho colocou o time no jogo, teve que lidar com tudo isso dos companheiros e AINDA quase ganhou o jogo sozinho, colocando a bola embaixo do braço e dizendo "De jeito nenhum eu vou deixar o time perder esse jogo!"... Francamente, foi uma das grandes atuaçōes da história das Finais, e se você acha que o Thunder perdeu o jogo por causa do Westbrook e do seu erro no final, então você precisa assistir outro esporte. Westbrook jogou como gente grande hoje, mesmo sendo apenas um pirralho de 21 anos, e quase salvou seu time num jogo decisivo. Merece o máximo de respeito possível.

(Importante demais pra deixar de fora: Um dos principais motivos da derrota do Thunder e da forma como o Heat dominou os ultimos jogos foi a total falta de ajuda que Durant e Westbrook tiveram do resto dos jogadores do Thunder. Tirando os 21 pontos do Harden no jogo 2 - 17 no primeiro tempo, apenas 4 no segundo - nenhum outro jogador do Thunder teve um bom jogo pra ajudar seus craques. Nos jogos 2, 3 e 4 - os decisivos da virada do Heat - apenas Harden com seus 21 pontos no jogo 2 e Kendrick Perkins, que teve 10 no jogo 3, passaram de 10 pontos! Ninguém mais! Quando Collison ameaçou um grande jogo com um grande primeiro quarto, ele passou os dois quartos seguintes no banco!! O Thunder chutou 27% de três pontos, ninguém acertou pra Oklahoma. E enquanto Durant e Westbrook tinham que levar nas costas o ataque do Thunder até o Final porque ninguém foi capaz de ajudar - Serge Ibaka, horrível dos dois lados da quadra, e Harden foram as principais decepçōes das Finais - Lebron e Dwyane Wade receberam muito mais ajuda dos seus companheiros, com os 18 pontos de Battier no jogo 2 e os 25 pontos do Chalmers no jogo 4, decisivos para as vitórias da equipe - até as 7 bolas de três de Mike Miller no jogo 5. O Heat não teria fechado essa série em 5 se não fossem esses dois grandes jogos dos coadjuvantes (talvez até três), e não fecharia em 5 se algum jogador do Thunder além de Durant e Westbrook tivesse aparecido nos jogos 3 e 4. Isso fez toda a diferença)

Então sim, tivemos muitos jogos divertidos, muitos jogos apertados, muitas atuaçōes espetaculares (Durant nos jogos 1 e 2, Lebron e Mario Chalmers no jogo 4, Lebron no jogo 5, Westbrook no jogo 4... E sim, de longe a melhor foi do Lebron no jogo 4) e, em geral, uma Final bem interessante. Não da pra dizer que foi uma Final ruim. Mas dada a expectativa que todos criamos (em especial que eu criei), foi uma Final um pouco decepcionante. Eu esperava mais do Thunder, esperava mais do Durant (Que teve uma série fraca depois dos dois primeiros jogos, ficou em problemas de faltas as vezes por falta de calma ou experiência - ou seja, por decisōes burras - não conseguiu escapar da marcação de Lebron e Battier, forçou bolas que não deveria ter arremessado - embora isso não seja só culpa dele, o ataque do Thunder muitas vezes só tocava pra ele e esperava um milagre - e, talvez mais importante, ficou com tanto medo de fazer falta no jogo 4 que praticamente não brigou por nenhum rebote, não tentou nenhum roubo de bola e foi extremamente frouxo na marcação de quem ele estivesse marcando - o que permitiu ao Chalmers e ao Norris Cole muito espaço pras bolas longas. Mas de novo, ele tem apenas 23 anos e tem potencial saindo pelo teto, não da pra jogar a culpa nele), esperava mais dos coadjuvantes do Thunder, esperava que o Thunder fosse conseguir subir seu nível quando precisasse, que forçasse o Heat a fazer o mesmo, e que a série acabasse escalando pra níveis épicos (quando na verdade o Heat dominou os últimos quatro jogos). Eu esperava uma Final que me fizesse falar "Wow, não sei como essa série pudesse ser melhor, ou como esses times pudessem ter jogado melhor"... E ao invés disso saí me perguntando se teríamos uma série mais disputada e parelha caso o Spurs tivesse ido pras Finais (pra mim, sim).

Então esse foi o downside das Finais, a parte que me deixou bastante frustrado, esperando muito mais, até irritado que o Thunder (que perdeu para si mesmo durante grande parte da série) não fosse capaz de elevar seu jogo nas Finais, bater de frente contra o Heat e nos dar uma experiência mais transcendental nessas Finais, como muita gente - especialmente eu - esperava. Isso foi uma decepção, e o principal motivo de eu não ter gostado tanto assim das Finais como deveria mesmo com tantos jogos disputados e decididos de forma dramática, e algumas performances históricas. No final, eu acabei tão impressionado com o Thunder contra o Spurs que subestimei a vantagem que a experiência do Heat proporcionava ao time. Em 2011, o Mavs foi um time sólido, que errou pouco, usou sua experiência, e contou com o brilhantismo de Dirk Nowitzki pra se impor pra cima do Heat e forçar o Heat a vencê-los... E o Heat acabou perdendo pra si mesmo naquelas Finais. Dessa vez, eles fizeram o mesmo, e forçaram o Thunder a vencê-los... E o Thunder, assim como o Miami ano passado, acabou perdendo para si mesmo. Mas se esse foi o lado que me deixou chateado, irritado, frustrado e que acabou com minhas expectativas, teve um lado muito positivo nessas Finais. E ele se chama Lebron James.

Olha, eu sei que muita gente não gosta do Lebron. Eu sei que o Lebron tem dois momentos indefensáveis na sua carreira (Boston em 2010, Mavs em 2011). Mas o que vimos do Lebron ao longo desse último ano é o tipo de coisa que queremos ver durante nossa vida. Se nós assistimos esportes porque estamos esperando constantemente que apareça algum jogador que transcenda tudo que já vimos, que seja tão bom que pareça mentira, que nos maravilhe como ele faz tudo parecer fácil... Ou seja, se estamos constantemente esperando alguém que apareça e nos leve a um lugar maior como fãs de um detemrinado esporte, então nós assistimos esportes por causa de pessoas como Lebron James.

Todo mundo conhece a história do Lebron - draftado com grandes expectativas, talento absurdo, potencial praticamente ilimitado, os times medíocres em Cleveland, a vergonhosa derrota em 2010 para o Celtics, e por ai vai. Depois da derrota pro Celtics em 2010 (quando Lebron desapareceu nos jogos 5 e 6, jogando como se estivesse louco pra ir embora dali), Lebron fez um tremendo show na Free Agency, e anunciou sua decisão de ir pra Miami se juntar a Wade e Bosh em rede nacional sem avisar Cleveland, uma tremenda sacanagem com o time e com a cidade. Não demorou pra que Lebron virasse um dos maiores vilōes da história da NBA: A mídia caiu matando, torcedores vaiavam o Heat em arenas lotadas ao redor do mundo, diversos ex-jogadores criticaram a decisão de Lebron, e por ai vai.

(Sobre a The Decision, duas coisas: Primeiro, o especial na TV foi extremamente de mau gosto e repreensível... E eu tenho certeza que o Lebron sabe disso, e que se pudesse faria as coisas diferentes. Segundo, não tem nada de errado da parte dele querer ir jogar com Wade - seu maior rival - mas como fãs de esporte, nós não gostamos. Queremos que grandes jogadores conquistem a concorrência, tenham rivais e duelos épicos - quem viu os jogos entre Miami e Cleveland nas ultimas temporadas antes da The Decision sabem do que eu falo - e não que eles corram pra se juntarem a eles para ficar mais fácil de ganhar um título. Na verdade, naão tem nada errado com essa decisão, ele é livre pra fazer o que quiser... Eu só odiei porque foi uma forma dele de fugir da responsabilidade de carregar um time nas costas. Mais sobre isso abaixo).

Em 2011, o Heat - e em especial o Lebron - receberam tanto ódio do resto da NBA e da mídia que acabaram assumindo o papel de vilão, abraçaram a imagem que a mídia passava deles. Em especial, Lebron mudou totalmente seu comportamento: Parou de ser aquele jogador alegre, companheiro e sorridente de Cleveland, começou a reclamar cada vez mais, deu declaraçōes polêmicas, provocou outros times, começou a encarar adversários e a torcida adversária desafiadoramente depois de cada enterrada... Em outras palavras, ele assumiu um papel de vilão que não era dele, era um papel artificial, que ele assumiu simplesmente porque recebeu mais ódio que qualquer outro jogador na era da internet. Isso acabou forçando ele uma direção diferente, que ele nunca quis, simplesmente porque jogaram esse manto nas costas dele. No fundo, Lebron ainda era um cara imaturo, que a vida toda foi cercado de gente que o idolatrava e falava sim pra tudo por causa de seu talento espetacular, e que não estava preparado pra tudo isso. Ele assumiu uma personalidade que não era dele como quem diz "Vou mostrar pra todos voces!", quando na verdade Lebron nunca foi assim.

No fundo, ele foi pra Miami justamente porque não queria a responsabilidade que tinha em Cleveland, onde seu time era fraco mas a culpa da derrota era sempre dele. Nós queríamos que ele fosse um Alpha Dog nos moldes de Jordan - nosso parâmetro de excelência - um jogador patologicamente competitivo, que valorizasse a vitória e a dominação mais do que tudo, que treinasse feito louco pra se tornar o melhor de todos, que simplesmente não aceitava ser o segundo em alguma coisa, e que levasse um time mediano nas costas pra um título na pura determinação e competitividade. Lebron não é assim, nunca quis ser assim, ele nunca valorizou a vitória mais do que tudo, como fizeram Bird, Bill Russell, Jordan, e por ai vai. Se Lebron fosse assim, talvez poderia usar ainda mais do seu talento, se elevar a níveis nunca antes vistos e ser ainda melhor do que é... Mas ele não é assim, e é uma estupidez tentar forçar ele a ser assim, porque você estaria fazendo ele ser alguém que ele não é, e sendo alguém que ele não é só prejudica seu jogo. Nós nos preocupamos tanto com o que Lebron PODERIA ser caso ele fosse diferente, uma vez que ele tem um teto praticamente ilimitado, e não olhamos pro que ele realmente é e para o que ele realmente faz, com tanta consistência que chega a ser impressionante. Podem ter certeza que tudo isso dos últimos dois parágrafos contribuiu em muito para a triste série que teve contra Dallas.

Em 2012, Lebron mudou. Na verdade, ele não mudou, apenas deixou de lado o papel que estava tentando incorporar e voltou a ser ele mesmo dos tempos de Cleveland, só que mais maduro e mais humilde, talvez por causa das Finais de 2011. Parou de falar besteira, parou de jogar como vilão e de procurar encrenca (ironicamente, quem virou um pentelho em 2012 foi o Wade, claramente frustrado), e assumiu o papel de líder do elenco não porque ele tentou se forçar nesse papel, mas sim naturalmente com Wade voltando de lesão (talvez Wade, percebendo que agora Lebron era o líder e craque do time, percebendo que pela primeira vez ele tenha ficado em segundo plano dentro do que era SEU time, tenha acabado ficando amargo daquele jeito). E finalmente entendeu que você não joga basquete pra você mesmo, e sim para seus companheiros, algo extremamente importante mas que não são todos os jogadores que entendem - pelo contrário, são poucos, e é por isso que eu insisto que a forma como um jogador afeta seus companheiros é tão importante como o que ele faz em quadra. Pela primeira vez desde 2010, ele parecia estar jogando basquete porque realmente gostava, porque se divertia, envolvendo seus companheiros... Enfim, por prazer, porque ele ama isso. E isso se refletiu demais no jogo dele. Em 2012, Lebron atingiu um nível ainda mais alto como jogador de basquete.

E nos playoffs, quando um estrupiado time do Celtics fez o que o Mavs fez em 2011, forçou o Heat a vencê-los e os colocou contra a parede no jogo 6, Lebron acabou entendendo outra coisa: "Se eu não levantar aqui e ganhar esse jogo, nós vamos pra casa. Não posso ser só bom, tenho que ser ainda melhor. Tenho que fazer mais do que isso. Vou jogar o jogo todo e marcar 45 pontos, e se mesmo assim perdermos, pelo menos eu fiz o que eu podia". Em outras palavras, Lebron finalmente fez o que eu esperava dele desde os dias de Cleveland, ele passou do nível de "grande jogador", ele finalmente colocou todas as peças juntas e alcançou algo ainda maior. Ele descobriu afinal como ele gosta mais de jogar, descobriu a melhor forma de usar seus companheiros, a melhor forma de fazer o seu TIME melhor... Tudo se encaixou, e ele demoliu o Celtics  sozinho. Nas Finais, Lebron tomou o primeiro soco de Durant, elevou seu jogo... E a série nunca mais foi a mesma, porque Lebron nunca mais foi a mesma. Ele atingiu o nível mais alto de basquete que eu vi em toda a minha vida, firmou seu estilo de jogo (único na história da Liga) da forma como era melhor, e se o Heat teve vários fatores que contribuiram para a vitória, talvez o mais importante seja que  eles tiveram o melhor jogador na série. E no mundo. E quando Lebron teve seu histórico jogo 4 - francamente, foi um dos melhores que eu vi na vida, melhor ainda que o Jogo 6 contra Boston - ele deixou claro quem ele era e o que ele queria. Ele virou um assassino, alguém que também estava falando "Não vou deixar o time perder!". Se ele nunca será um maluco patológico como Jordan, ou um jogador que valoriza a vitória acima de tudo como Russell ou Jordan, ele chegou o mais perto disso que sua personalidade permitiu. E dominou, fez o Heat funcionar muito bem, e foi o MVP com toda justiça.

Lebron acabou virando um monstro capaz de driblar no perímetro, atacar a cesta como ninguém, jogar de costas pra cesta contra adversários menores (não tem os melhores post moves do mundo, mas tem muita força e agilidade pra causar problemas), um passador de elite que não pode sofrer dobras sem punir o adversário, que pode ser o armador principal do time, que pode dominar os rebotes, e capaz de defender quatro posiçōes em altíssimo nível. Ele finalmente abraçou seu potencial, e atingiu seu auge. E sinceramente, se estamos julgando jogadores APENAS pelo seu auge, Lebron atingiu um nível nesses playoffs que só sete jogadores na história atingiram (Jordan, Bird, Magic, Russell, Kareem, Wilt e Walton). Tirando Wilt (que cansou, nunca teve o foco necessário pra manter) e Walton (que machucou demais), todos esses jogadores tiveram auges duradouros e que envolveram muita dominação. Eu sinceramente acho que isso foi apenas o começo. Lebron atingiu um nível historicamente bom, e de repente apenas um anel para Lebron começa a parecer absurdo. E não da pra negar o impacto dele nesse time, marcando Durant, distribuindo o jogo, envolvendo todos seus companheiros, achando frequentemente jogadores livres pra arremessos ou perto do aro, pontuando quando queria... Tudo simplesmente se encaixou em torno dele. Talvez ele precisasse de uma derrota com a do Mavericks ano passado pra entender tudo isso, talvez ele precisasse apenas de mais maturidade e experiência, mas o fato é que tudo convergiu de tal forma que ele finalmente alcançou o nível que seu potencial permitia. E daqui, ele talvez só suba. E por ter nos dado essa versão ainda melhor de um dos melhores jogadores de todos os tempos, esses playoffs já valeram a pena.

Pensem rapidamente no seguinte cenário: Os Marcianos invadiram a terra, destruiram algumas cidades, e nos desafiaram para uma série de sete jogos de basquete, com o futuro da Terra como prêmio. Nós temos uma máquina do tempo capaz de pegar qualquer jogador de qualquer época da NBA pra montar um supertime capaz de chutar o traseiro dos Marcianos. Mesmo que você não goste de Lebron, me diga se você NÃO iria querer Lebron 2012' no seu time?? Talvez não como seu Alpha Dog, talvez não como seu titular (Ainda colocaria Bird de titular, nem que seja por causa das bolas de três), mas DEFINITIVAMENTE iria querer ele no meu time. Um cara que defende quatro posiçōes, capaz de pontuar de dezoito formas diferentes, exímio passador, joga pro time, não se preocupa com seus números (O Lebron de Cleveland era definitivamente obcecado por estatísticas, mas não em 2012) e não precisa ser o principal jogador da equipe. Ele iria se adequar em quase qualquer esquema, jogar e qualquer formação, tapar qualquer buraco, e não iria causar problemas no grupo por tocar pouco na bola ou ter um papel mais passivo (Pros curiosos, meu time seria Magic-Jordan-Bird-Duncan-Kareem. Se voces quiserem, faço um post explicando melhor o porque e aprofundando no assunto).

No entanto, Lebron não vai ter um caminho fácil pela frente, simplesmente porque o Heat nessas finais pode ter mexido em um vespeiro. Vocês viram a cara do Durant quando o Heat venceu as Finais - foi uma mistura de frustração, decepção, e mais importante, determinação. O Thunder é um time muito jovem e inexperiente, mas essa derrota pode ser vir muito pra eles. Durant e Westbrook nunca aceitaram essa derrota, e nem vão aceitar: Vão dar a volta por cima,  evoluir ainda mais, e voltar pra desafiar o Heat. Se nessas Finais não tivemos um time elevando seu jogo, forçando o outro a fazer o mesmo, e isso se repetindo algumas vezes, fazendo no final com que ambos os times estejam em um nível superior do que eles normalmente estariam, essa derrota para o Heat tenha esse efeito no Thunder para os próximos anos. Em esportes, você precisa de alguém pra constantemente te forçar a melhorar, para que você continue evoluindo para superá-lo. Lebron perdeu esse rival quando Wade virou seu companheiro, mas acabou ganhando outro em Durant. E com certeza essa derrota (e a clara superioridade do Lebron) vão ter esse efeito no Durant e no Westbrook. Vai fazê-los evoluir, e o Thunder só tem a melhorar daqui pra frente. O Heat é o soberano na NBA no momento, mas Bulls (Não fosse a lesão do Derrick Rose, o Heat provavelmente não tería ido pras  Finais sem Bosh nos primeiros quatro jogos - e talvez até com ele, não fosse o salto de Lebron no jogo 6) e Thunder são dois times jovens que só devem evoluir indo pra frente pra continuar desafiando o Heat.

Como disse uma vez Shogun, técnico dos White Knights: "Nesse mundo, só os que são derrotados ficam mais fortes". Funcionou com Lebron James. Com certeza vai funcionar com Kevin Durant. O impacto desses playoffs ainda vai ser sentidos por muitos anos.

terça-feira, 19 de junho de 2012

A falta de cérebro do Thunder finalmente alcança o time

Essa situação tem acontecido um pouco demais pro gosto do Thunder


Quem acompanha NBA sabe que numa série de playoff de sete jogos - especialmente se for a Final - o vencedor não é determinado apenas por qualidade do elenco e dos jogadores dois dois times. Esse ano, por exemplo, os dois times são muito parelhos em termos de talento, dificilmente seria o fator determinante num título. O que muitas vezes acaba determinando o rumo de uma série é a capacidade dos times de se adaptar a cada jogo e a cada nova situação, bem como a capacidade psicológica de cada time.

Por esse motivo, antes da série, eu acreditei que o Thunder tinha uma pequeeeena vantagem sobre o Heat. Nem tanto contra o Lakers (um time inferior), mas principalmente contra o Spurs o time de Oklahoma mostrou muita força psicológica e muita confiança, o tipo de time que não se desesperava quando seu jogo não estava funcionando, usava seu talento individual para se manter no jogo, até que seu basquete emplacava, o time se impunha no jogo e usava esse bom momento pra dominar o adversário. O tipo de postura que times veteranos como o Spurs demonstram, mas nem sempre vemos em times mais jovens. O Thunder mostrou isso contra San Antonio (Um excelente time) e eu achei que eles estavam prontos. Ainda que tivessem um excesso de jogadores sem cérebro como Russell Westbrook e Serge Ibaka, achei que como um time eles poderiam ter encontrado um equilíbrio, uma mentalidade que camuflasse os problemas individuais. Ainda que o Heat fosse um excelente time, ele ainda não tinha encontrado esse equilíbrio nesses playoffs, o time parecia flutuar um pouco demais durante os jogos, as vezes exagerar nas jogadas de isolação quando ficava atrás no placar, querer responder a uma boa sequencia do adversário de forma precipitada, e isso acabava virando uma bola de neve, especialmente contra um time eficiente como o Thunder.

Veio o jogo 1, e eu fiquei bastante satisfeito com minha análise, porque basicamente tudo que eu pensava tinha acontecido no jogo 1: O Heat tomou a dianteira no primeiro tempo e manteve o controle do jogo, jogando com calma e eficientemente, e isso foi possivel principalmente porque Mario Chalmers e Shane Battier estava acertando suas bolas livres. Com Lebron partindo pra dentro do garrafão e as bolas longas caindo, o Heat rodou bastante a bola, achou jogadores livres e conseguiu vários pontos em arremessos desmarcados. O time de Miami é infinitamente mais perigoso quando joga assim ao invés de insistir nas isolaçōes.

E mesmo com o controle do jogo do lado do Miami, o Thunder não se exaltou. Claro, o Westbrook tomou decisōes idiotas, o time ficou estagnado, mas em nenhum momento o time pareceu se descontrolar. Continuou com seu jogo, manteve a diferença no placar num nível aceitável, e não deixou o Heat disparar. No segundo tempo, a situação inverteu: O Thunder apertou a defesa no perímetro acelerando as rotações, as bolas longas do Heat pararam de cair, e o ataque do time começou a estagnar. O Thunder aproveitou o mau momento do ataque do Heat e começou a cortar a diferença, impor seu estilo de jogo e apertar ainda mais na defesa. Isso resultou em muitos ataques apressados e isolaçōes que o Thunder aproveitou para transformar em pontos fáceis do outro lado da quadra. Ou seja, as bolas longas do Heat pararam de cair, Dwyane Wade não estava inspirado e o jogo caiu demais nas costas do Lebron, e o Thunder aproveitou pra impor seu jogo. E foi aí que o Heat começou a ficar nervoso. Tentou responder as sequências de OKC com jogadas apressadas (gerando mais turnovers e rebotes longos, mais contra ataques e mais pontos pro Thunder), carregou esse nervosismo pra defesa, e o Thunder aproveitou isso pra abrir uma vantagem confortável atrás de Kevin Durant. Foi exatamente o que eu esperava pro começo da série, a questão era como os times iriam se adaptar dai pra frente.

No jogo 2, o Miami voltou com uma postura um pouco mais agressiva. Atacando mais no pick and roll com o Wade jogando bastante tempo de armador principal, o Heat jogou com uma formação de Chalmers-Wade-Battier-Lebron-Chris Bosh praticamente o jogo todo, com Udonis Haslem sendo o principal jogador vindo do banco. Apesar da formação baixa, o Heat aproveitou isso com muita movimentação sem bola e cortes em direção à cesta (duas coisas que eu cobro do Heat desde sempre). Isso, mais o fato do Wade ter entrado em um dia inspirado, fizeram o Heat assumir novamente o controle do jogo desde o começo, abrindo boa vantagem no primeiro tempo. De novo, o Thunder não se desesperou, e contou com James Harden pra manter o time no jogo, ainda que a formação mais baixa do Heat tenha se mostrado rápida demais pro lento Kendrick Perkins e pro estabanado Ibaka jogarem juntos, o que o Scott Brooks ainda não pareceu entender. 

No segundo tempo, o Thunder apertou, Durant fez sua mágica e o Thunder começou a pontuar com consistência, se encontrando de forma confortável no ataque, assim como aconteceu no jogo 1. A diferença do jogo 2, no entanto, foi que dessa vez as bolas longas não pararam de cair - pelo contrário, Battier continuou acertando, acertou 5 de 7 bolas de três para 17 pontos. Mesmo que o Thunder estivesse jogando bem e cortando a diferença ocasionalmente, o Heat continuou fazendo o que sabia fazer de melhor, usando Wade e Lebron para infiltraçōes e punindo a defesa do Thunder quando eles dobravam a marcação. A diferença continuava na casa dos 10, o Thunder não conseguia parar o Heat, e ai pra piorar o Durant cometeu sua quarta falta em Lebron e foi pro banco. O Heat chegou a aproveitar para abrir 14, mas Russell Westbrook tomou conta do final do terceiro quarto e, na marra, manteve a diferença mais ou menos constante. E lógico que começando o quarto periodo, Durant fez uma falta besta sem bola, sua quinta. E a diferença foi para 13 pontos, com o melhor jogador do Thunder com cinco faltas, marcando um Lebron que ele não conseguia parar sem falta. 

E aí aconteceu o tipo de coisa que se espera que aconteça num duelo de tão alto nível. Durant acertou uma bola de três. No ataque seguinte, uma enterrada. Dois minutos depois, outra bola de três. Um jumper. Uma bandeja. Ele começou a arremessar e a não errar mais. Ainda que Bosh, Wade e Lebron estivessem se virando, do outro lado tinha Durant acertando arremessos impossiveis, improvaveis, sem errar. Faltando 1 minuto e meio, Lebron acertou um arremesso - seu unico de meia distancia no jogo - que pareceu ter matado o jogo, colocando a diferença em 5 e matando o momento do Thunder depois de dois turnovers do Heat. No lance seguinte, a típica falta de cérebro do Thunder atrapalhou, pela primeira vez mostrando um certo pânico: Durant chutou uma bola extremamente forçada de 3 com 18 segundos no relogio pra arremessar, que errou. Westbrook pegou o rebote, mas ao invés de trabalhar a jogada novamente, tentou forçar um arremesso apertado, que errou. Mas Thabo Sefolosha conseguiu pegar o rebote dentro do garrafão entre Bosh e Haslem... E por algum motivo, achou que era uma boa ideia tentar levantar o braço e fazer a bandeja entre dois alas de força com 20cm de altura a mais. Não foi, o Bosh deu o toco, e no lance seguinte o HEat fez 98 a 91, faltando 55 segundos. Game over.

Ou pelo menos foi o que todo mundo pensou. Mas Durant fez uma bandeja linda, o Thunder apertou a saida de bola e forçou o Heat a pedir tempo pra não estourar os cinco segundos. Depois do tempo, o Thunder continuou apertando a saida de bola, dobrou a marcação em Wade, e Derek Fisher conseguiu tirar a bola das mãos do camisa 3. A bola foi parar em Durant, que parou na linha de três, e arremessou. Swish.

E a coisa mais impressionante não foi que ele acertou: Foi que todo mundo assistindo sabia que ele ia acertar. As vezes, com grandes jogadores, você tem a sensação de que algo especial vai acontecer antes que ele realmente faça. Uma vez li alguem dizendo que a melhor coisa do ultimo arremesso do Michael Jordan no Bulls não foi que ele entrou, mas sim que a gente sabia que ia entrar! Isso que faz deles jogadores especiais. E ontem, o arremesso do Durant foi um desses. Quando ele arremessou, todo mundo sabia que ia cair. O arco foi perfeito, a bola nem tocou no aro, e de repente eram 37 segundos e apenas dois pontos para o Thunder. Um novo jogo.

Claro, o Heat teve a chance e matar o jogo com Lebron, mas inexplicavelmente ele preferiu forçar uma bola de três da cabeça do garrafão ao partir pra cima e tentar uma bandeja (lembrando que Lebron acertou UM arremesso de fora o jogo todo), que tinha mais chance de cair e ainda de rebote de ataque. Ele errou, e o  Thunder teve a chance para um ultimo arremesso. Fisher bateu rapido o lateral pra Durant no garrafão, Lebron foi pego de surpresa, e Durant pulou livre para o arremesso. E de novo, tivemos a mesma certeza: Essa bola vai entrar!

Mas vocês sabem o que aconteceu. Lebron fez falta em Durant no arremesso (Se não acreditam, vejam o vídeo), a arbitragem não marcou nada, e o Lebron (amarelão, claro) bateu dois lances livres pra matar o jogo. Nada de milagre de Durant, e nada de prorrogação.

Eu tenho evitado falar da arbitragem nas colunas, simplesmente porque acho que ela é ruim pra todos os lados igualmente e não da pra falar que ela influenciou no resultado como aceonteceu, por exemplo, no jogo 6 entre Lakers e Kings em 2002 e nas Finais de 2006. Entao queria deixar isso claro sobre o jogo 2: Sinto muito, entendo a indignação pela falta não marcada no Durant, ninguem queria mais que eu ver o Durant empatando o jogo e mais 5 minutos desse espetáculo de jogo, mas não da pra falar que o Thunder perdeu por causa da arbitragem. O Thunder perdeu porque o Heat ajustou seu ataque depois do jogo 1 para envolver mais finalizaçōes perto do aro (pick and roll, cortes para a cesta, menos bolas longas), porque Wade teve um jogo inspirado nos dois lados da quadra, porque as bolas longas do Battier cairam o jogo todo, porque a defesa do Heat fechou o garrafão e obrigou o Thunder a jogar mais de longe, e porque em nenhum momento perdeu a cabeça ou tentou forçar o jogo. O juiz errou no lance final no Durant, mas também errou em diversos outros momentos ao longo de todo o jogo a favor de ambos os times, resumir o jogo a apenas UM lance é impossivel (inclusive teve um momento que o Durant cometeu uma possivel sexta falta no jogo e a arbitragem fez vista grossa), então não vamos simplificar. O jogo 1 seguiu conforme o roteiro, o Thunder aproveitou sua mentalidade mais estavel pra abrir vantagem. No jogo 2, o Miami contou com as bolas longas do Battier, um bom jogo do Wade e fez os ajustes necessários pra ganhar. Nenhuma surpresa, nada incomum.

Mas era isso que eu queria ver desde o começo: Jogos disputados, times se ajustando após cada jogo, Durant e Lebron fazendo a gente ter aqueles momentos de ESP quando a gente sabe o que vai acontecer antes de acontecer, grandes quartos períodos e, basicamente, dois grandes times com vários grandes jogadores jogando basquete de alto nível.

Mas depois da derrota do jogo 2, era hora do Thunder fazer os ajustes necessários para o jogo 3 e evitar os mesmos erros. Mas o que se viu foi exatamente o contrário, o Heat continuando com sua estratégia de jogar com o time baixo, usando sua velocidade pra cortar constantemente em direção à cesta, e um Thunder olhando incapaz de fazer nada para pará-los. Enquanto o Thunder jogou com sua lineup titular, o Heat dominou as açōes ofensivas com os cortes em direção à cesta que o Thunder não foi capaz de evitar pela falta de velocidade no garrafão. Quando o Thunder foi pra Small Ball pra igualar a velocidade do Heat, o time de Miami massacrou o de Oklahoma nos rebotes, pegando 9 rebotes de ataque só no primeiro tempo. Mas bizarramente, apesar da dominação do jogo por parte do Miami, o Thunder continuou perto do placar no primeiro tempo graças a duas coisas: Ao jogo individual do Russell Westbrook, que acertou todos seus arremessos idiotas de meia distância, e ao fato de que o Heat não acertou nada de fora. Ficou barato pro Thunder, mas o que importava era o placar, e o Heat estava apenas um ponto na frente.

E no terceiro quarto, tivemos - como sempre - o Thunder engatando a quinta marcha, impondo seu jogo e jogando seu melhor basquete. Durant abusou do seu talento na meia quadra, o Thunder foi muito eficiente no contra ataque, e o Heat teve um começo de quarto bem descuidado, cheio de turnovers e bolas longas (merito também da defesa do Thunder, que voltou mais forte no garrafão), e com Lebron apagado. Do outro lado, o Thunder começou a movimentar a bola, cortar para a cesta e abusar da capacidade atlética nos contra ataques pra abrir vantagem, controlar totalmente o momento do jogo, e o Heat voltou a cometer o erro do jogo 1: Exagerou na pressa, forçou o jogo, e basicamente fez o jogo do Thunder. Em certo ponto, o Thunder abriu 9 pontos. 

Mas aï o grande problema do Thunder no jogo 3 (E em boa parte do jogo 2) apareceu de novo, logo depois que o Westbrook se empolgou, esqueceu o cérebro em casa e cometeu um turnover estupido por tentar fazer demais e errou uma bola de três que nunca devia ter sido arremessada: Depois de cometer sua terceira falta num lance totalmente desnecessário logo no começo do terceiro periodo, Durant cometeu sua quarta falta num contra ataque mano a mano contra Wade. De novo, desnecessário. Tudo bem, eu entendo que o Durant teja marcando o Lebron, que é rapido e forte demais pra ele marcar tempo demais sem falta, mas algumas dessas faltas são totalmente desnecessárias, sem a bola, tentando fazer algo que ele não precisava sabendo que precisa ficar em quadra. E ai, com o Thunder 6 pontos na frente (depois de uma cesta e um lance livre certo do Wade), sua estrela, melhor jogador e quem tava liderando o show do Thunder no terceiro periodo vai pro banco por problemas de faltas idiotas, e praticamente mata o momento do time.

Nesse momento, sem sua estrela em quadra e depois de ver o Russell Westbrook cometer uma sequencia de jogadas idiotas por falta de cérebro (que pararam o bom momento do time e geraram dois contra ataques - um deles forçando a quarta falta do Durant), o Scott Brooks entra em pânico e toma a pior decisão do jogo: Tirar Westbrook de quadra. 

Francamente, porque ele faria isso? James Harden não está na sua melhor série, o time tinha acabado de perder o momento do jogo e sua estrela pelo resto do quarto... Você vai "punir" seu segundo melhor jogador com uma ida pro banco nesse momento crucial porque ele fez o que sempre fez e ninguem no time disse a ele para não fazer? No jogo 2, o Westbrook teve longas sequencias nas quais forçou o jogo, exagerou no individualismo sem pensar nas consequencias e custou caro ao time. E depois do jogo, o Westbrook declarou que não ia mudar nada, o Brooks disse que ele é assim mesmo e que é assim que ele quer... E dai quando ele faz exatamente isso e compromete o bom momento do time, você tira o armador num momento crucial do jogo? Brooks fez o Eric Spolestra parecer o Red Auerbach nessa.

E sim, essa decisão gritou "estou entrando em pânico porque o Westbrook está fazendo o que sempre fez". E ai tudo que o Thunder tinha de vantagem - sua confiança, mentalidade focada, capacidade de jogar num periodo dificil sem entrar em pânico e esperar pelo momento que eu jogo de sempre iria encaixar e o time iria embalar - foi por água abaixo. E ai, depois de uma four-point play do Fisher (que aliás forçou a bola de três), o Thunder embalou essa sequencia que está abaixo. Se você tem estômago fraco, nao leia.

Ibaka forçando um arremesso de meia distância. Ele errou, mas Perks pegou o rebote e sofreu falta. Errou os dois lances livres, mas Sefolosha pegou o rebote. Ai Ibaka forçou outro arremesso de meia distância, Perks pegou rebote, Ibaka forçou um terceiro arremesso de meia distância, mas sofreu falta e acertou apenas um lance livre.

No ataque do Heat, Ibaka faz uma falta num arremesso de três do Battier que ele não tinha como desviar. Totalmente estabanado. Battier acerta os tres.

Sefolosha força um arremesso de três quando tinha mais oito segundos no relógio. Air ball.

Fisher faz uma falta num arremesso de três do James Jones que ele não tinha a menor chance de evitar. Jones acerta os três.

Harden cava duas faltas seguidas (com um turnover do Wade no meio), mas acerta apenas dois lances livres.

Harden força um arremesso com 16 segundos no shot clock, de longe, e erra.

Fisher força uma infiltração e tenta um floater da linha do lance livre, que se tivesse sido do Westbrook,ele teria sido dissecado na internet por isso. Era uma vez o argumento de "São imaturos, ainda são jovens e inexperientes!".

Daequan Cook força pra três, marcado, com 15 segundos faltando no shot clock.

Harden tem duas chances de fechar o quarto, da dois arremessos forçados de três marcados, e erra os dois.

Pronto, você já pode parar de vomitar. Se conseguir. Sinceramente, foram os piores quatro minutos de basquete que eu vi EM TODOS OS PLAYOFFS. Foi pra mim um tapa na cara, depois de tanto jogo bom e basquete bem jogado, ser obrigado a assistir esses quatro minutos que violam tudo de bom que o basquete tem: Jogadores fazendo o que não sabem, arremessando individualmente ao invés de trabalhar a bola, um monte de faltas desnecessárias (duas em bolas de três), enquanto Durant e Westbrook mofavam no banco. Quando acabou essa sequencia, a vantagem de 8 do Thunder tinha virado 2 para Miami. Essa sequencia de basquete foi tão ruim, com um time tão nervoso, com tantas decisōes ruins, com tanta coisa errada junta que eu tive que ir pro Youtube ver um clipe do Blazers de 77 antes de conseguir prosseguir em paz pro quarto periodo. Me chamaram de hater no twitter, mas é a mais pura verdade: O Thunder entregou essa sua boa vantagem e seu bom momento por falta de cérebro e de inteligência. Westbrook forçou o jogo quando não devia, tentou resolver sozinho quando o time estava excelente coletivamente, Durant exagerou nas faltas fora de hora, e o Brooks decidiu que o melhor era colocar os dois no banco e jogar com Fisher-Cook-Sefolosha-Ibaka-Perkins. Sensacional.

O quarto período também não foi exatamente uma beleza. O Heat entrou nervoso pra fechar o jogo, e o Thunder não conseguiu retomar seu controle anterior, continuou jogando de forma afobada e pouco inteligente. Ao invés de aproveitar a defesa forte pra jogar nos contra ataques e evitar erros na meia quadra, o Thunder exagerou nas jogadas de isolaçōes e parou de rodar a bola, colocou a bola nas mãos de Durant (marcado à perfeição por Lebron ao longo de todo o quarto período) e Westbrook, para que eles fizessem o que fizeram no jogo 1 (ou no caso do Durant, ainda mais o jogo 2). Mas não deu certo, o Heat identificou perfeitamente a estratégia do Thunder, fechou o garrafão pro Westbrook e forçou a ele a ficar com arremessos de fora - que não caíram - ou infiltraçōes estabanadas (aliás, méritos pro Bosh, defendeu muito bem o garrafão) e deixou o Durant se virar no mano a mano contra Lebron. O camisa 6 do Heat marcou o ala de Oklahoma muito de perto, não deu espaço pro arremesso e obrigou o Durant a tentar o drible (o que ele não se sente tão confortável fazendo) ou a arremessar contestado. E Durant jogou muito mal no quarto periodo, com 2-5, um rebote, dois turnovers e errando os dois lances livres cruciais que o Thunder teve. Não foi um quarto de grande basquete como no jogo 2, e ganhou o time que errou menos e aproveitou melhor as chances que teve e, em geral, se controlou melhor. 

Agora, o jogo 4 é um must-win para Oklahoma, já que nenhum time nunca voltou nas Finais de uma desvantagem de 3-1 e eu realmente não vejo esse Heat perdendo três jogos seguidos (Antes que alguem fale que eles perderam três seguidos pro Mavs ano passado, a chance de acontecer com o Lebron esse ano o que quer que tenha acontecido com ele ano passado nas Finais é zero). E pra isso o Thunder vai ter a sua vez de ajustar: Jogar com uma lineup mais baixa é bom pra evitar a velocidade do Heat, mas não podem jogar só com um jogador no garrafão porque isso compromete os rebotes (pra mim devia jogar com Ibaka e Nick Collison juntos um pouco mais, Collison é mais versatil e melhor reboteiro). O Thunder não pode ter Durant com problemas de falta, e ele já mostrou que não ta pronto pra marcar Lebron (melhor solução seria Sefolosha no mano a mano à distância, e alguém na cobertura) , então porque a demora pra deixar Durant em um jogador menos perigoso que lhe permita naão só evitar as faltas, mas usar seu atleticismo e alcance para voar pela quadra atrás de steals? 

E mais importante, o Thunder não pode entrar em pânico. O West não tem cérebro, isso já é dado, mas alguem (Brooks ou Durant) tem que saber controlar isso de fora, evitar que West tenha demais a bola na mão nos momentos errados, e que tenha liberdade pra ser agressivo nas horas certas (sou pró-West, Thunder é pior sem ele, ele só não pode ficar tanto tempo sem pensar dentro de quadra). E ficar deixando o Westbrook fazer o que quer, e dai "punindo" ele por isso quando o time mais precisava dele, não é o caminho. Thunder precisa se achar de novo nessas séries, voltar ao seu estilo frio de levar o jogo, e saber a hora de ir pra matar o jogo. O Thunder teve a chance no jogo 1 de se impor pra cima do HEat, e conseguiu - e venceu. No jogo 2, o Heat não deu essa chance pro Thunder, e venceu. No jogo 3, o Thunder teve o Heat sob controle... Mas deixou escapar a vitória por causa de uma sequência horrivel do Westbrook, duas faltas desnecessárias do Durant, e da decisão pavorosa do Brooks que nos rendeu o pior momento de basquete desses playoffs (pelo lado do Thunder). Não tem nada ganho, mas agora o Thunder tem que se adaptar antes que seja tarde pro jogo 4. Se perder, pode não ter uma terceira chance.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Preview (atrasado) das Finais da NBA

Um resumo do quarto período do Jogo 1


Ok, era pra ter saido terça, mas um dia dos namorados e uma prova atrapalharam. Então acabou saindo um pouco depois do que eu pretendia. Mas vamos a isto.

Bom, agora vocês já sabem o que eu acho do Boston Celtics, e do que ele significou pra NBA de 2008 até a derrota pro Heat na semana passada. E vocês sabem exatamente o que eu penso do Thunder e da forma como eles lidaram com o Spurs, que eu acreditava ser um dos melhores times da NBA desde 2001 mas que foram engolidos por um time do Thunder que finalmente encontrou a forma certa de jogar. Então sem prolongar muito, o que eu penso do Miami Heat?

Alias, antes de responder, queria deixar registrado o absurdo que foi o Pat Rilley ganhando o prêmio de "Executivo do Ano" em 2011. Sim, ele juntou Lebron James, Dwyane Wade e Chris Bosh no mesmo time... Mas ele não teve nenhuma influência nisso! Os três já tinham decidido jogar juntos em 2010 muito antes da Free Agency e que seria em Miami, que convenientemente passou o ano todo fazendo trocas absurdas pra limpar teto salarial para a Free Agency (o suficiente pra assinar três dos cinco mais cobiçados Free Agents do ano, quando podiam ter seriamente brigado pelo título daquele ano caso tivessem tentado e que se não tivessem assinado com ninguém além doWade eles teriam um time fraquíssimo pelos próximos anos... Eles agiriam assim se não tivessem alguma garantia de que sairiam com algo grande da Free Agency? Hmm...). Uma vez que Wade, Lebron e Bosh assinaram com o Heat (Sinto muito, eu preciso colocar esse link aqui), eles foram atrás de Role Players pra colocarem em volta  do seu Big Three. Esse era o verdadeiro trabalho do Rilley ano passado, colocar ao redor do Big Three (que se montou sozinho) um elenco de apoio bom o suficiente pra ganhar o título. Ele acabou assinando Udonis Haslem, Zydrunas Ilgauskas, Mike Miller, James Jones, Eddie House e Joel Anthony... Por 20 milhōes por ano, sendo que os contratos de Haslem (4,6 milhōes), Miller (6,4 milhōes) e Anthony (3,8 milhōes) vão até 2015. Em outras palavras, o Rilley teve um único trabalho em 2010 - montar um elenco em volta do Big Three - e saiu pagando 20 milhōes por ano pra cinco jogadores que dificilmlente jogariam mais de 15 minutos por jogo (juntos) em outros times da Liga. E ganhou o Executivo do Ano. As vezes, eu não entendo a NBA.

Mas enfim, o Heat montou seu novo time em volta do Big Three de Wade, Lebron e Bosh seguindo o molde do Celtics de 2008: Um trio de estrelas cercadas de role players e veteranos, com uma defesa muito forte e cujo ataque era baseado no talento individual de suas estrelas e improvisação. Mas o Heat tinha duas diferenças muito importantes pro Celtics de 2008. A primeira, e mais óbvia, era que as tres estrelas do Celtics eram jogadores que já tinham passado do auge, acima dos 30 anos, caminhando pro final de carreira. O Heat tinha seus três jogadores no auge da carreira e da capacidade física, o que obviamente era uma grande vantagem. Mas o que acabou sendo o mais problemático pro Heat era outra coisa: Enquanto Ray Allen, Paul Pierce e Kevin Garnett tinham jogos com características diferentes que se complementavam e tornavam mais fácil a tarefa de montar um time em volta deles, o Big Three do Heat é composto por tres jogadores muito parecidos e com as mesmas características, tornando muito mais dificil montar um time em volta deles.

Tanto Wade como Lebron e Bosh eram jogadores que gostavam de jogar com a bola nas mãos o tempo todo, criarem o próprio arremesso e jogarem próximo do aro. Não eram grande chutadores, não eram grandes defensores de garrafão, e a montagem desastrada do resto do elenco pelo Rilley deixou o time com algumas lacunas importantes: Falta de chutadores de três pontos confiáveis (os melhores, Miller e Jones, não podem jogar longos períodos sem comprometer em diversas outras áreas), faltava defesa de garrafão, era um time muito baixo e que tinha uma certa dificuldade pra pegar rebotes. Enquanto o Heat teve alguns problemas durante sua primeira temporada pra achar a melhor forma de jogar em volta dos seus craques (não achou até agora, embora tenha ajudado que o Bosh tenha se transformado num excelente arremessador de meia distância), o time chegou nas Finais simplesmente porque tinha talento demais no seu time - e perdeu justamente porque não tinha uma identidade nas Finais, porque foi dominado no garrafão pelo Tyson Chandler e porque os role players não apareceram para jogar (e sim, porque Lebron sumiu da face da terra e preferiu tocar de lado todas as bolas ao invés de ir pra cima do JJ Barea).

No segundo ano do Big Three, o Heat pouco mexeu no seu elenco além e trazer o Shane Battier (Bom jogador, ajudou, mas não era exatamente o que o Heat mais precisava), ficou claro que a preocupação não era arrumar o elenco ao redor do Big Three, e sim achar a melhor forma de jogar com as peças que tinham e tirar o máximo de Wade e Lebron. E pra mim, essa foi a grande questão do Heat desde o começo: Todo grande time na NBA tem uma identidade e uma hierarquia estabelecida. O Heat não tem nenhuma.

Em 2011, o Heat era um time mais perigoso quando Wade era o alpha dog do time, tinha mais tempo com a bola nas mãos e era o principal jogador do time, enquanto o Lebron era o facilitador, fazia todo o trabalho sujo. Naquele verão, Lebron se reinventou como um Pippen 2.0, defendendo quatro posiçōes, fazendo o trabalho sujo, voando pela quadra pra roubar bolas e jogando com uma intensidade impar. Lebron era o melhor jogador do time (e da NBA), mas o time era do Wade. Wade era o líder, era o Wade que os jogadores respeitavam mais, era ele quem ditava o ritmo do jogo, era o exemplo dele que eles seguiam. A enorme competitividade do Wade foi o que contagiou o time, e era ele quem os jogadores esperavam que tomasse conta do jogo. Por exemplo: Em Janeiro, estava em Miami e, por milagre, consegui ingressos pra ver Heat vs Bucks. E o que mais me impressionou foi como a torcida idolatrava o Wade! Era impossivel achar uma camisa do Wade na loja do estádio - estavam todas esgotadas. Toda vez que o Wade tocava na bola, a torcida levantava. Toda vez que o Wade fazia uma jogada, a torcida ia à loucura. Por mais que o Lebron fosse o melhor jogador (e terminou com 30-8-7 aquele jogo), aquele time claramente era do Wade (28-6-6). E adequadamente, Lebron foi quem dominou o jogo todo, mas foi Wade quem assumiu o controle do jogo quando o Bucks virou no quarto periodo. Foi pra ele que a torcida gritou MVP (Esse me surpreendeu, confesso) quando foi cobrar lances livres. Esse era, inclusive, meu maior argumento contra Lebron pra MVP em 2011: Ele era o melhor jogador da Liga, ok, mas como ele podia ser o jogador mais valioso da Liga quando nao era nem o melhor jogador do seu próprio time?

Mas ai chegou os playoffs, e Lebron assumiu o comando do time pelas primeiras rodadas. Ele quem engoliu o Celtics e o Bulls (sua série contra o Bulls foi fantástica, ele destruiu o MVP da Liga defensivamente e fez o que quis ofensivamente), acertou bolas de três de onde quis e levou o time nas costas. Ai chegamos na Final, Wade subiu uma marcha e Lebron desapareceu da face da terra... E o Mavs venceu o Heat, ainda que Miami fosse mais time e provavelmente nunca teria vencido se não tivesse acontecido com Lebron o que aconteceu (e até hoje não tem explicação - não foi que ele jogou mal, ele simplesmente se escondeu do jogo, se recusou a atacar a cesta e preferiu ficar tocando de lado pra companheiros mediocres e pra um Wade cada vez mais sobrecarregado).

Ai chegamos em 2012, e o Wade começou o ano machucado (Alias, ele não tem sido o mesmo desde que se machucou no jogo 5 das Finais)... E o Lebron assumiu o papel de Alpha Dog da equipe, teve um começo de temporada absolutamente fantastico considerando que estamos numa temporada de 66 jogos em 120 dias, levou o time nas costas e pela primeira vez foi um lider dentro do Heat. Mesmo quando Wade voltou, limitado, Lebron continuou a ser o principal jogador do time, liderou por exemplo e acabou jogando ainda melhor no ataque do Heat de 2012 (Menos jogadas, mais improviso), e ganhou o MVP com toda justiça.

Mas ainda assim, o Heat não se mostrou em nenhum momento um time definido. Eles tem muito talento, tem um jogador historicamente bom que está no seu auge e parece finalmente estar abraçando o papel de lider da equipe, mas não parece um time que está com a mindset definida. Se o Thunder não tem a confiança e experiência de quem já foi campeão uma vez e conhece o caminho das pedras, o HEat também não. Mas o Thunder é um time que já tem uma identidade, sabe exatamente quem é, qual sua melhor forma de jogar, o que fazer quando não está conseguindo se impor e que confia no seu jogo. É um time sólido psicologicamente, que aceita momentos ruins e confia no seu jogo, e que sabe aproveitar quando está quente. Ao contrário do Heat, eles tem uma mentalidade definida e sabem como reagir a cada situação dentro do jogo, favorável ou não. O Heat não, eles ainda parecem perdidos dentro de um jogo. Quando focados e quando as bolas dos coadjuvantes caem, o Heat aproveita o momento e sabe dominar a partida. Mas quando as coisas começam a sair do plano e o adversário começa a se impor, o Heat parece perdido, abandona seu plano de jogo, para de fazer o que estava funcionando e começa a jogar de forma precipitada, forçando o jogo. Ou seja, ainda não está com aquele nível de confiança e autocontrole que o Thunder atingiu contra o Spurs. E pra mim, isso pode fazer toda a diferença.

Na verdade, pra mim, Thunder e Heat estão, em termos de basquete, em um nível muito próximo. Tem Lebron de um lado e Kevin Durant do outro, Wade contra James Harden, Chris Bosh contra Serge Ibaka e o Russell Westbrook de coringa. Ok, o Thunder talvez seja um pouco melhor por ter um time mais completo e um banco melhor, mas o Heat tem um teto mais alto com Wade/Bosh/Lebron. Se vão ser capazes de aproveitar isso ao máximo, não da pra saber. Mas na média, não vejo esses times com uma diferença significante a ponto da diferença de qualidade ser o fator decisivo da série. Pra mim, o que vai ser decisivo nessa série vai ser qual time será capaz de lidar com a pressão, com o palco das Finais,  com as inevitáveis mudanças de momento que esses jogos vão sofrer e especialmente com as derrotas e vitórias. Ou seja, o mais importante pra mim vai ser como cada time responde às adversidades, qual time consegue jogar seu melhor basquete consistentemente, aproveitar os melhores momentos e manter a calma quando estiver num momento desfavorável. Na verdade, esse foi o determinante do jogo 1: O Thunder não perdeu a calma quando estava atrás (tirando meia dúzia de jogadas sem cérebro do Westbrook, mas isso faz parte do pacote, você aprende a viver com elas quando ele faz 27-8-11 num jogo de Finais), continuou pressionando, até que conseguiu impor seu estilo de jogo, as bolas do Westbrook começaram a cair e o time apertou na defesa. Ou seja, conseguiu mudar o estilo do jogo e transformá-lo a seu favor. E nesse momento, o Heat perdeu a calma. Parou de se movimentar sem a bola ofensivamente, começou a insistir ainda mais em isolaçōes e com isso errou mais, e o Thunder aproveitou isso pra calma e eficientemente abrir vantagem. Ano passado, o Bill Simmons nas Finais comparou o Heat ao Mike Tyson: Enorme, fiscamente intimidante, capaz de se impor facilmente, ou pelo menos até que o adversário ficasse sob controle e o acertasse um soco na boca. Foi exatamente isso que o Thunder fez, acertou um soco no Heat quando assumiu o controle do jogo e o Heat se acuou. 

Taticamente, não sei exatamente dizer pra onde essa série vai do jogo 1, especialmente porque muitas coisas que aconteceram dificilmente vão se repetir. Thabo Sefolosha dificilmente vai repetir o jogo ofensivo que teve no segundo tempo do Jogo 1(embora sua defesa espetacular em Wade e Lebron não seja novidade pra quem veio acompanhando os playoffs e viu o que ele fez com Tony Parker e Kobe Bryant). James Harden dificilmente vai ter um impacto tão pequeno. Wade tem jogado mal a pós-temporada inteira (tirando dois jogos contra o Pacers) e ta chutando menos de 40%, mas sempre pode explodir a qualquer minuto. Battier não vai acertar tantas bolas longas como no primeiro tempo, e talvez não erre tanto como no segundo tempo. Alias, esse foi o segredo do Jogo 1: O Heat dominou o primeiro tempo porque Mario Chalmers e Battier tavam engolindo o Thunder de fora do garrafão, com muito espaço. O Thunder travou o Heat no segundo tempo porque diminuiu esses espaços, mas também porque as bolas longas do Heat simplesmente pararam de cair, e ai o time não soube adaptar a nenhum plano B além de isolar Wade e Lebron sem sucesso. 

O que a gente pode dizer é o panorama geral das séries. Muita gente achou (ate certo ponto, corretamente) que o Heat deveria acelerar o ritmo do jogo pra evitar colocar seu ataque estagnado de  meia quadra contra a boa defesa do Thunder e seu forte garrafão defensivo. Isso deu certo durante algum tempo, mas depois começou a jogar contra Miami por um simples motivo: O Thunder é o unico time talvez em todos esses playoffs capaz de bater de frente com o Heat (talvez até superá-lo) em capacidade atlética. O Heat sempre foi dominante quando conseguiu acelerar o jogo e ganhar dos adversário nas pernas (especialmente usando sua agilidade e força fisica na defesa pra conseguir roubos), mas o Thunder sabe fazer isso quase tão bem quanto. O Thunder no segundo tempo apertou a defesa, usou a capacidade física dos jogadores pra conseguires roubos e demoliu o Miami em contra ataques, especialmente quando o Heat começou a aumentar a velocidade e também aumentou seu numero de erros. Então ainda que o Heat não possa aceitar um ritmo lento demais que faça seu ataque estagnado enfrentar a defesa forte do Thunder, o Heat tem que tomar cuidado pra saber a hora certa de forçar o ritmo (especialmente jogando nos contra ataques vindos de roubos de bola, não transformando qualquer posse num contra ataque com pura velocidade. O Heat fez isso muito bem contra os velhotes do Celtics, mas o Thunder tem capacidade pra acompanhar).

Além disso, o maior problema pro Heat são os matchups e as diferentes lineups que esse confronto vai exigir. O Heat é relativamente flexível, pode jogar diferentes estilos, mas não tem depth suficiente pra ser tão efetivo quando varia tanto. O Thunder gosta muito de usar um small-ball com Westbrook, Harden, Derek Fisher ou Sefolosha, Durant e Ibaka/Nick Collison, abusar do pick and roll e impor sua força ofensiva. O Heat tentou contra-atacar essa lineup com o seu proprio Small Ball, as vezes com Bosh ou Haslem de pivô, outras com os dois juntos... E foi um desastre. Bosh e Haslem não conseguiram fazer frente ao Thunder no garrafão fisicamente, foram dominados nos rebotes e ambos erraram mais rotaçōes defensivas nesse jogo do que o Bobcats, o que facilitou demais o Westbrook a usar suas infiltraçōes pra achar companheiros livres (Isso pode parecer um understatment, mas o Thunder MASSACROU o Heat dentro do garrafão, e o principal motivo foi a incompetencia defensiva do Heat la dentro). Quando o Thunder cresceu, o Heat tentou usar Wade de PG e Battier mais tempo em quadra, mas ele tomou uma surra do Durant. Se tentar reforçar o garrafão defensivo com Anthony, o Thunder praticamente ganha um Ibaka livre pra cobrir Wade e Lebron. Em outras palavras, o Heat tem a flexibilidade suficiente em Wade e Lebron pra jogar qualquer estilo de jogo, mas todos eles possuem algumas falhas que o Thunder pode ser capaz de explorar por ter maior qualidade nos reservas. Foi assim com Collison dominando o Heat no garrafão (vai ser um fator importante na série, btw), Sefolosha se movimentando sem a bola e ninguém acompanhando, e por ai vai. 

Em outras palavras, o Heat não pode ganhar do Thunder em profundidade do elenco, e nem qualidade dos coadjuvantes. Se o Heat quiser ganhar, tem que ser na qualidade individual das suas estrelas. Wade precisa sair da sua má fase e voltar a ser dominante criando para si mesmo e os outros. Lebron tem que continuar a sequência dominante que terminou a série contra o Celtics - não foi tão bem no jogo 1 como seus 30-9-4 indicam, embora isso seja mais mérito da defesa do Thunder e do Sefolosha e da incapacidade dos seus companheiros de aproveitarem as chances livres de cesta que ele cria com suas infiltraçōes (embora ele tenha tido alguns pontos quando o jogo ja tava decidido, só fez uma cesta em todo o quarto período e tenha errado quase todos seus arremessos de media ou longa distancia). Bosh não pode viver das bolas de três como ele pegou mania nos ultimos jogos, tem que abrir espaço com seu arremesso de meia distância e jogar de costas pra cesta em cima do Ibaka (Um dos jogadores que mais cai em pump fakes em toda a NBA), usar seu arsenal todo e se impor de tal forma que o garrafão do Heat pense duas vezes antes de correr pra ajuda quando Lebron e Wade infiltrarem.

Mas infelizmente pro Heat, eles não podem fazer isso sozinhos. Ok, as vezes podem, como no Jogo 5 contra Boston, mas não vai ser sempre, muito menos 4 vezes em 6 jogos. Mas eles PODEM ser dominantes a ponto de controlarem a série por causa do seu imenso talento - se receberem a ajuda necessária. Pra Wade e Lebron terem espaço e tranquilidade pra abusarem das suas infiltraçōes (especialmente se os arremessos não estiverem caindo - não tem caido) que geram muitos pontos, faltas e passes para companheiros livres, os coadjuvantes do Heat tem que acertar suas bolas, partir pra cima, e causar preocupação suficiente pra defesa do Thunder pra que eles não possam congestionar o garrafão e dobrar a marcação. E esse é o maior problema do Heat (E um dos principais motivos pra eles ainda não terem uma identidade e uma mindset definitiva pra quem quer brigar pelo titulo): Como Wade e Lebron tem estilos muito iguais, eles dependem um pouco demais de Role Players medíocres. Se você tem Battier, Haslem, Chalmers, Miller e esperar deles uma boa defesa, poucos erros e que eles saiam do caminho dos seus craques (e no caso do Miller, algumas bolas de três quando estiver jogando em casa), você espera exatamente o que eles tem a oferecer todas as noites. Mas se está esperando arremessos de fora num alto nivel, roubos de bola frequentes, cobertura no garrafão pra Durant e Westbrook e 25-30 pontos por noite, então você está pedindo um pouco demais de um grupo tão limitado. Lebron e Wade precisam que esse grupo acerte arremessos de meia e longa distância (contra um time que tem capacidade atletica suficiente pra evitar que os arremessadores tenham tempo demais antes de alguem fechar a marcação) e cubram o altissimo numero de jogadores capazes de pontuarem em bom nivel do Thunder (Que Wade e Lebron nao podem marcar sozinhos), então você ta com problemas. Eventualmente, eles podem ter jogos que façam tudo isso e o Heat seja imbatível (primeiro tempo do jogo 1), mas essa é a questão: Você não pode contar com isso toda as noites (especialmente fora de casa num lugar tão intenso como OKC). É um bônus além do que eles oferecem, e o Heat precisa desse bonus.

Por outro lado, o Thunder quer dos seus role players EXATAMENTE o que eles oferecem: Boa defesa (Sefolosha e Collison são dois dos defensores mais underrateds de toda a NBA e serão dois fatores muito importantes), que se movimentem sem a bola (um dos maiores problemas do Heat quando o time fica nervoso: eles param de se movimentar sem a bola, o que tira demais o poder de fogo do ataque) pra perto da cesta, espacem a quadra, um jogo físico (especialmente no garrafão, e que possam executar mais de uma função dentro de quadra. Se eles tem jogos ofensivos superiores, acertam muitas bolas longas, criam seus próprios arremessos... Isso tudo é um lucro. Mas a questão é que o Thunder não precisa disso pra executar seu plano de jogo. Ajuda, sem dúvida (ontem por exemplo eles tiveram alguns bônus, embora o Harden não vá jogar tão mal a série toda), mas nao é tão necessário, eles são capazes de aproveitar o que eles efetivamente tem de forma muito mais eficiente. Talvez por isso eles tenham uma identidade e um padrão definidos, e possam se controlar tão bem em quadra. Quando o Heat ganha o "bonus" dos seus role players, isso permite que Wade e Lebron liberem ainda mais suas habilidades, e nesse caso o teto do Heat é ainda maior que o do Oklahoma City (também acho que o Heat tem uma capacidade de ter um jogador com um jogo monstro que transcende estratégias ou defesas maior que o Thunder), o Thunder consegue aproveitar melhor suas capacidades com maior frequencia porque depende menos de fatores mais inconstantes e imprevisíveis. E por isso eles tem uma pequena vantagem sobre o Heat, dai meu palpite - Thunder em 6 ou 7.

Ainda assim, não da pra exagerar o que aconteceu no jogo 1. O Heat tem muito que pode adaptar pra um próximo jogo - Lebron marcando Durant, embora essa seja uma faca de dois gumes (Durant é muito menos eficiente marcado por Lebron, mas se Wade continuar nessa má fase, o Heat não pode se dar ao luxo de ter um Lebron esgotado no final dos jogos, e não tem mais ninguém no Heat capaz de marcar KD) e deva ser usada apenas em certos momentos das partidas, mudar as formas de defender o Pick and Roll, maior proteção no garrafão (Sefolosha e Collison tiveram facilidade demais), entre outras. O Thunder também tem que envolver melhor Harden na partida e se preocupar mais com o Westbrook forçando arremessos de meia distância quando eles não estão caindo. Ou seja, ainda tem muita coisa pra acontecer, e eu realmente espero que tenhamos 7 jogos nessa série simplesmente pra ver Lebron e Durant jogando um contra o outro.

Um último parênteses sobre essa série. Pra quem ela é mais importante, Durant ou Lebron? Depois que foi pra Miami, Lebron tem enfrentando mais criticismo que provavelmente qualquer outro atleta da história graças à Internet. Ele foi criticado por ir pra Miami jogar com seu maior rival e um dos melhores jogadores do mudo ao invés de tentar vencê-lo e consolidar seu status como o melhor jogador e Alpha Dog da Liga (não tem nada de errado com essa decisão, mas eu como fã de basquete não consigo perdoar. Ele basicamente tinha três escolhas em 2010: Lealdade (Cleveland), dinastia (Chicago) ou imortalidade (New York)... E escolheu "ajuda". De um certo ponto de vista, não tem nada de errado com isso, ele não é obrigado a nada. Do meu como fã de basquete, eu não consigo perdoar que ele nunca vá realmente impor todo seu talento e dominar a Liga. No fundo, quem perde somos nós, especialmemte porque Wade x Lebron era uma das rivalidades mais legais da NBA). Ele teve que sofrer com a fama de amarelão depois das Finais de 2011 (Indefensáveis) e ao longo de toda a temporada 2012, mesmo ele tendo no currículo performances clutch sensacionais nos playoffs (E uma que está entre as maiores de todos os tempos na NBA, seu jogo 5 contra Detroit em 2007), por exemplo destruindo o Bulls e o Celtics em 2010 e levar um time medíocre de Cleveland nas costas por cinco ou seis anos. E embora tenha três MVPs e tenha dominado a Liga por tanto tempo, ele continua sofrendo com críticas por seu desempenho porque ele não tem um anel, simplesmente porque é divertido ter vilōes em esportes e principalmente porque ele não corresponde às espectativas que todos tinham pra ele por conta do seu incrivel talento, de ser o centro de uma dinastia, ganhar vários títulos e dominar a Liga sem deixar nenhuma margem pra dúvida - como nós esperamos que ele faça, mesmo que ele não queira ou naão tenha o DNA pra isso. Ele precisa de um anel em grande estilo pra conseguir o respeito que merece e calar os críticos, e ganhar aqui contra seu maior adversário dos ultimos anos seria o melhor para ele finalmente firmar seu status no topo da NBA. Ele nunca vai atingir as espectativas que criamos pra ele, mas ele não precisa - ele só precisa de respeito. Mas mais uma derrota aqui, e ele vai receber ainda mais críticas, vai ser pintado ainda mais de amarelão e não decisivo... E isso só vai parar quando ele ganhar um título.

Tangente rápida: Na história da NBA, apenas Larry Bird, Magic Johnson, Michael Jordan, Kareem Abdul-Jabaar, Bill Russell, Wilt Chamberlein e Moses Malone (e agora Lebron) ganharam três MVPs em quatro ou cinco anos anos (no caso do Moses). Excelente companhia, já que eles estão entre os 15 maiores jogadores da história da NBA (E na minha opinião, Jordan, Russell, Magic, Bird e Kareem são os cinco maiores em alguma ordem - essa é a minha). E todos eles - sem excessão - ganharam pelo menos um título nesse tempo. Sem querer colocar mais pressão nem comparar Lebron com nenhum desses jogadores, mas é verdade.

Ja Durant, ao contrário de Lebron, não tem nada a perder se não conseguir o título... Mas e se ganhar? Ele foi vice-MVP dois anos seguidos, foi cestinha da Liga três anos seguidos e tem tudo pra ser pelos próximos cinco, está desenvolvendo seu jogo numa velocidade alucinante (Esse ano ele começou a defender melhor do que nunca, evoluiu como reboteiro e ainda se tornou muito bom em achar companheiros livres quando a marcação aperta), se tornou um monstro em quartos períodos nesses playoffs e, se ganhar aqui, vai ter também um título sobre um time do Heat muito bom (e com Lebron no seu auge), um possível MVP das Finais e vai ser a âncora de possivelmente a próxima dinastia da NBA... E ele tem apenas 23 anos. Com 23 anos, se ele mantiver o nível do Jogo 1 pelo resto da série e terminar com algo como 35-8-4, 52% FG, dominar quartos periodos, vencer o duelo com Lebron e ganhar um título... Ele praticamente já é um dos 50 maiores jogadores da história da NBA por qualquer cálculo. Como eu disse, ele tem muito menos a perder que o Lebron, mas dada sua idade, adversário e potencial desse time do Thunder pelos próximos anos, um título do Durant aqui pode ter um peso historicamente para sua carreira ainda maior que um do Lebron. Como se o duelo Lebron-Durant precisasse ficar mais interessante...

terça-feira, 12 de junho de 2012

O fim (?) do Big Three de Boston

RED - (quase) Aposentados e Perigosos


Sim, as Finais começam amanhã. Sim, eu sei que ela é a prioridade. Mas não consigo fazer um preview sem antes esclarecer tudo sobre o Celtics e o que significou o jogo 7 das Finais do Leste, quando o Heat eliminou o Celtics dos playoffs. Vou guardar as grandes análises táticas pra amanhã no preview, então vou tentar encurtar um pouco mais esse post e ser um pouco mais direto.

O Celtics é, junto com o Lakers, a Franquia com mais história de toda a Liga. São 17 títulos, vários Hall of Famers, jogadores do calibre de Bill Russell (11 títulos em 13 anos, melhor defensor de todos os tempos, maior vencedor da historia dos esportes americanos), Larry Bird (3 MVPs, 3 títulos, um dos cinco maiores jogadores da história), Bob Cousy (dono do meu apelido preferido da NBA - Houdini of the Hardwood) e John Havlicek (Top20 All-Time, 5 títulos), sem falar em Red Auerbach e companhia. Enfim, a Franquia tem mais história do que qualquer time de basquete não chamado Lakers (curiosidade do dia: Sabia que em 1960, o time do Lakers esteve envolvido em um acidente aéreo, quando o avião no qual o time viajava não tinha mais condiçōes de completar o voo por conta de uma falha mecânica e não estava suficientemente perto de nenhuma estação de pouso? O piloto não conseguia um pouso de emergência por causa do grande número de fios elétricos no local, até que enfim conseguiu pousar numa plantação coberta de neve enquanto os bombeiros e funerários locais (sério!) cercavam o avião. Ou seja, por muito pouco não chegamos a ter uma tragédia que possivelmente teria feito o Lakers nunca mais se recuperar. Voce sabia disso? Imaginei que não. Ainda bem que estou aqui!), e é o time mais vitorioso da NBA. Kevin

No entanto, o Celtics chegou a passar anos muito ruins entre os anos 80 e o final dos anos 2000. Depois da geração de Larry Bird, Kevin McHale e Robert Parish ter perdido sua competitividade no final dos anos 80 (Kevin McHale nunca foi o mesmo depois de jogar os playoffs de 1987 com um freaking pé quebrado - uma das histórias mais underrateds da Liga, porque ele estava com uma droga de um pé quebrado os playoffs inteiros! - e o corpo de Larry Bird começou a se quebrar por volta de 88/89), o time do Celtics passou por um periodo de times muito ruins: Depois da aposentadoria de Bird (92) e McHale (93), uns bons tres ou quatro anos depois da dupla parar de ter sido realmente eficiente em quadra por conta das lesōes, o time tentou se montar em torno do ala Reggie Lewis, que infelizmente morreu por conta de problemas cardíacos (vale aqui o parênteses: Em 1987, o Celtics - campeão no ano anterior com aquele que era, pra mim, o maior time de todos os tempos da NBA - tinha a secunda escolha do Draft, e escolheu o ala Lenny Bias. Lenny era um combo-foward muito talentoso, atlético, bom pontuador e reboteiro, e que jogava com muita atitude. Ou seja, um jogador que tinha tudo pra ser a nova cara da Franquia e pegar a tocha de Bird... Se não tivesse morrido de overdose de cocaína dois dias depois do Draft. E assim o Celtics perdeu o jogador que daria a proteção para Bird/McHale em 87 e 88 e seria seu Franchise Player indo pra frente). O Celtics então tentou se remontar com uma cacetada de movimentos pouco inteligentes, como por exemplo assinar com um Dominique Wilkins que estava uns oito anos passado do seu auge pra ser o go-to guy do time, trocar o então calouro Chauncey Billups porque ele não jogou bem nos seus primeiros CINQUENTA jogos como profissional (Nao foi nem uma temporada completa!), e se montar com escolhas fracassadas de Draft e veteranos pouco uteis.

Ainda que o Celtics tenha melhorado com as chegadas de Paul Pierce e Antoine Walker (O famoso "Cabeça-de-Lego - via Bola Presa), e tenha se remontado em cima da sua nova estrela Pierce com um bando de Role Players em volta dele , e mesmo que tenha chegado até a Finais de Conferência, isso se deveu muito mais aà falta de bons times no Leste do que a um time realmente bem montado, e o Celtics em nenhum momento se viu como um grande time na NBA.

Afinal, em 2007, o Celtics estava começando a montar um núcleo jovem em torno de Pierce: Rajon Rondo (muito antes de virar o monstro que é hoje), Sebastian Telfair (na época era considerado uma grande promessa), Ryan Gomes, Gerald Green (Sim, aquele que ta no Nets, na época também era considerado uma promessa vinda do High School), Tony Allen (Apelidado de Trick or Treat Tony. Voces imaginam o porque) e Al Jefferson. Ainda assim, o time ia se desenvolvendo lentamente, sem grandes progressos pra um time que queria tanto voltar ao topo. E acreditem, pra uma franquia tão acostumada a vencer como o Celtics (11 títulos com Russell entre 1957 e 1969, mais dois com Havlicek e Dave Cowens em 74 e 76 - deveria ter ganho em 73 se o Hondo nao machuca, mas enfim - depois mais três com Bird nos anos 80, com times dominantes em todas essas eras), não foi fácil aguentar quase 20 anos de times medíocres, jogadores que não se interessavam em ir jogar na franquia, jogadores jovens sendo trocados por veteranos inuteis só para depois nos assombrarem (Billups e Joe Johnson, alguem?) e estar em um segundo plano no mundo do basquete, sem um time carismático ou capaz de representar algo mais. Não foi fácil pra Boston.

Em 2008, após um começo de ano ruim principalmente por causa do impacto da morte do Red Auerbach no time, o Celtics aproveitou uma pequena lesão do Pierce pra afundá-lo no banco, deixou tempo demais os jogadores jovens pra levarem pancada e, em poucas palavras, fez de tudo pra perder o máximo possível pra ter uma boa posição no Draft e pegar os dois jogadores muito cobiçados daquele draft. Ou seja, Greg Oden e Kevin Durant. Era a chance do Celtics conseguir um jogador que alterasse o destino da Franquia (engraçado como pensavam isso do Oden na época, muito mais do que do Durant). Bom, vocês sabem o que aconteceu depois: O Celtics não só ficou sem Oden e Durant, como terminou com a quinta escolha, alta demais pra pegar um jogador que pudesse mudar o time. Ai o time decidiu jogar tudo pra cima e fingir um ataque cardíaco, e desmontar todo seu estabanado projeto de reconstrução em troca de ajuda imediata enquanto Paul Pierce estava nos seus melhores anos pra tentar uma arrancada rumo a um título.

Assim, o GM Danny Ainge foi atrás de veteranos, caminhando para o final da carreira, que estavam em busca de um título e que jogassem em times medíocres que estivessem prestes a começar uma reconstrução. Então mandou sua quinta escolha do Draft (eventualmente, Jeff Green) junto com Wally Szczerbiak e Delonte West para o então Seattle Supersonics, que nas mãos do genial GM Sam Priesti começava seu processo de reconstrução e já tinha a secunda escolha do Draft, em troca do veterano arremessador Ray Allen. Encorajados com a troca (importantíssima pra Seattle, mas ainda assim desequilibrada em favor do Celtics), e de repente com duas estrelas no time, o Celtics começou a se tornar um local atraente pra mais um All-Star. E o Wolves, que deixou o Kevin Garnett puto ao tentar trocá-lo antes do Draft (ele nunca quis sair), de repente viu um cenário muito mais tentador pro KG com Allen em Boston, e enfim Ainge conseguiu pegar o KG pro Celtics num assalto que eu tenho 99% de certeza que só aconteceu porque o GM do Wolves era, claro, Kevin McHale, que sangrava verde até o ultimo segundo. A troca foi o KG por Al Jefferson (Um legitimo futuro All-Star), Green, Theo Ratliff (Contrato expirante), Ryan Gomes e Sebastian Telfair, mais uma escolha de primeira rodada. Ao final das trocas, o Celtics tinha se livrado de todo seu núcleo jovem e promissor, sobrando apenas Glen Davis (veio junto com Ray), Rondo e Kendrick Perkins pra cercar o seu Big Three. Nos meses seguintes, Ainge tratou de assinar veteranos sem contrato em busca de um título e role players baratos pra cercar o Big Three, e ai o Celtics estava pronto pra 2008.

Dentro de quadra, o impacto dessa troca é relativamente fácil de entender: O Celtics montou um time em torno do Big Three, cercando-os com role players com papel limitado e diversos veteranos em busca de um título, um time com uma defesa fortíssima ancorada pelo intenso Kevin Garnett e ataque baseado em isolaçōes, improvisos e no talento individual dos seus três craques. Um time ultra-competitivo, intenso e com muita atitude, ele basicamente adquiriu as características do seu líder emocional (o recem-chegado  Garnett) e tudo se encaixou em torno disso. O Celtics logo engrenou, tomou a Liga de assalto e, depois de playoffs dificeis, fechou as Finais contra o Lakers com um jogo 6 no qual ganhou por 39 pontos. No ano seguinte (2009), o Celtics viu Rondo evoluir em uma máquina de Triple-Doubles capaz de carregar o time nas costas por longos períodos, mas perdeu a chance de repetir (E provavelmente teria repetido porque era mais time que Lakers e Magic naquele ano) o título do ano passado quando KG estourou o joelho e perdeu os playoffs. Em 2010, depois de uma temporada regular lenta, cheia de jogadores um pouco velhos e lentos, o Celtics pareceu que tinha perdido seu fogo... Quando chegou nos playoffs, engatou a quinta marcha, atropelou Magic e Cavaliers (os favoritos) e levou a Final contra o Lakers a 7 jogos antes de perder mesmo depois de controlar todo o jogo 7 (e ter tomado 28 rebotes ofensivos, algo assim), o que dificilmente teria acontecido se Perkins não se machucasse no Jogo 6 ou se Ron Artest não acerta o mais imbecil arremesso de toda a série (que, lógico, caiu pra três nos minutos decisivos do jogo 7). O resumo do Big Three nos seus primeiros anos, portanto, foi o seguinte: Título em 2008; Deveria ter ganho em 2009 não fosse a lesão do KG; e um vice-campeonato em 2010 contra um bom time do Lakers (sim, com seu pivô titular machucado no jogo 7, no qual tomou mais rebotes ofensivos do que pegou na defesa. Algo me diz que um Perkins saudavel teria ajudado, mas enfim). E ai chegamos a 2011, quando o Danny Ainge entrou em pânico com a falta de um SF para dar descanso ao Pierce e trocou Kendrick Perkins por Jeff Green e apostou que Shaq ia conseguir ficar saudável o suficiente para jogar 30 minutos por jogo nos playoffs. Não só isso deu errado, porque o Shaq machucou e o Celtics perdeu a vantagem da sua altura de garrafão (maior força na temporada) como também destruiu o time psicologicamente ao pisar em tudo que o time acreditava (lealdade, amizade, entrosamento...)  e mandar embora um jogador que servia como a âncora emocional de toda a equipe.  O Celtics não se recuperou, foi massacrado pelo Heat e parecia acabado (Sim, estou deixando a temporada 2012 de fora por enquanto. Segurem um pouco).

Como eu disse, é fácil entender qual foi o impacto que as trocas de Ainge em 2008 tiveram no time e na NBA dentro de quadra: Um titulo, um vice e uma grande chance perdida por lesão. Também nos deram um dos melhores times defensivos de todos os tempos e a chance de ver três (Talvez quatro, dependendo de como a carreira do Rondo continuar) futuros Hall of Famers jogando juntos, em um time histórico. Mas o impacto que esse time teve sobre os torcedores de Boston? Não da pra quantificar isso de jeito nenhum. A chegada de Allen e especialmente Kevin Garnett ressuscitaram o basquete em Boston, e mais importante, ressuscitaram Boston no cenário do basquete nacional. Transformou uma Franquia que tinha amargado quase 20 anos de mediocridade em um Juggernault, extremamente interessante e que jogava com o tipo de atitude, intensidade e paixão pelo jogo e pela vitória que faria Russell, Auerbach, Bird e Dave Cowens sorrirem orgulhosos. Pra uma Franquia e uma fan base tão acostumada a estar sempre brigando, sempre com um time para se orgulharem e com jogadores com os quais a torcida realmente se identificava, era uma tortura ver um time tão insignificante, com jogadores como Antonie Walker e Bassy Telfair, que nunca se identificariam com nenhuma fan base. A chegada do Big Three deu vida nova à cidade (em termos de basquete), deu vida nova à Franquia e se tornou um time extremamente identificado com a torcida. Talvez por esse motivo tenha sido tão dificil aceitar que esse núcleo estava velho e não conseguiria mais brigar por um título. Ate...

Que chegou a segunda metade da temporada 2012 da NBA! O Celtics passou uma primeira metade com jogadores veteranos totalmente sem perna, um time sem nenhuma vibração pós-Perkins e que parecia realmente o quinto ano de um projeto de três destinado a se desmontar (KG e Allen são Free Agents ao final da temporada). Até que passou a Trade Deadline e ninguém foi trocado, o Avery Bradley entrou no time e deu nova vida à equipe com sua defesa e intensidade, Garnett ressuscitou e o time se reinventou como um time veloz, muito agressivo no perímetro que jogava sem um pivô de origem (KG era o Center da equipe) e que acabou se fortalecendo dentro do grupo a cada contratempo que sofria (Os problemas sérios de saúde que acabaram com a temporada de Green e Chris Wilcox, a saída do Jermaine O'Neal, etc) e que, no final da temporada, estava jogando o melhor basquete da NBA de qualquer time que não chamasse Spurs. O time tinha criado uma nova identidade, tinha retomado sua intensidade e competitividade anterior, e estava novamente acreditando no grupo, nos companheiros.

Infelizmente, isso não durou muito. Antes dos playoffs, três dos principais jogadores do Celtics (Bradley, Allen e Pierce) sofreram lesōes importantes, e isso afetou demais a equipe chegando nos playoffs. Ray Allen estava incapacidado de jogar no começo dos playoffs, mas se sacrificou jogando com pedaços de ossos nos fucking tornozelos simplesmente porque o Celtics tinha perdido o Avery Bradley pro resto da temporada com uma séria lesão no ombro (seu melhor defensor de perímetro e as pernas jovens que tanto fizeram falta no jogo 7 das Finais de Conferencia), e Pierce jogou praticamente em uma perna só os playoffs inteiros porque não teve tempo de tratar ou de descansar uma lesão na perna. Pierce jogou no sacrifício e não foi nem de longe o jogador que é, Bradley machucou pra temporada no momento que o Celtics mais precisava dele, e Ray Allen jogou no sacrifício simplesmente porque não tinha mais ninguem pra jogar no seu lugar, ainda que não conseguisse correr, pular ou simplesmente pisar com segurança. O Celtics se arrastou pelos playoffs passando em sete jogos por Hawks e Sixers, depois encontrou uma última reserva de energia pra jogar contra o Heat e colocá-lo contra a parede mesmo com tudo contra Boston... Só que Lebron James teve um jogo épico em Boston pra ganhar o jogo 6 (e o pior, eu não posso dizer que tenha ficado surpreso), e ai no jogo 7 faltou perna, faltou gente pra ajudar vindo do banco e faltou um Pierce ou um Allen saudável pra carregar o ataque do time quando ele estagnou, incapaz de criar nada com Rondo ou acertar arremessos em isolaçōes ou jogadas rápidas. Os destroçados Celtics lutaram até o fim, usaram cada recurso e cada jogada, mas naão foram capazes de parar um time mais atlético, mais saudável e que tem Lebron James no seu auge.

A verdade é que eu, como torcedor do Boston, não podia ficar mais orgulhoso desse time. Mesmo com tantas lesōes, tantos problemas e tantos jogadores no sacrifício, o Celtics chegou a uma vitória das Finais na pura raça, vontade e experiência. Tudo que esse time representava - vontade, fome de vencer, confiança, jogadores se sacrificando pelo time - foi o que levou esse time muito mais longe do que deveria ter ido com tantos jogadores importantes machucados e tantos buracos no elenco. Eu não poderia respeitar mais esse time e esses jogadores, que conseguiram ir muito longe mesmo com tudo contra. Esse foi meu time do Celtics favorito da era do Big Three, simplesmente pela intensidade, pelo entrosament, pela confiança e pela forma como esse time sempre buscou dentro do proprio grupo a força pra superar adversidades, além da forma como Rondo jogou os playoffs todos. Não ver esse time jogar mais vai ser a pior coisa após a derrota pro Heat. Era um time com o qual nos identificavamos e que era muito bom de ver jogar.

Agora, ninguém sabe que rumo as coisas vão tomar com KG e Allen indo pra Free Agency. Garnett termina um contrato de 21 milhōes, e Allen um de 10. Em outras palavras, 31 milhōes estão saindo do Cap do Celtics. O Celtics pode reassinar os dois por muita grana, pode deixar os dois saírem e reconstruir de novo em torno do Rondo, pode tentar convencer os dois a reassinarem por valores muito mais baixos, de forma que o time possa ir atrás de Free Agents e Role Players pra completar o elenco em torno do Big Four. Eu pessoalmente acredito que Garnett volta por um salário baixo, mas não tenho muita certeza quanto ao Allen, especialmente porque arremessadores como ele sempre terão grande demanda e  Allen sabe que pode ir para um time, ganhar mais dinheiro por mais tempo e jogar por mais um título. Eu confio que a lealdade e teimosia do Garnett irão mantê-lo um Celtic, mas o Allen vai ter propostas muito melhores e mais interessantes (especialmente se os boatos dele e do Rondo não estarem nos melhores termos forem verdadeiros). Saudável, ele é o tipo de jogador capaz de dar um grande boost a times como Bulls ou Clippers mesmo nessa idade. E isso significa que o Celtics pode estar muito perto de dar adeus ao seu Big Three. Se Garnett ficar, mesmo sem Allen, o Celtics ainda tem cap space (e Bradley) e jogadores bons o suficiente pra tentar brigar mais uma vez com alguma criatividade na Free Agency (Como eu disse, vai ter cap para tal se Garnett aceitar ganhar pouco). Mas se Garnett e Allen sairem ambos, a coisa complica, porque aí o Celtics fica com pouca base pra se organizar pra tentar algo ainda com Pierce em bom nível. Nesse caso, faria mais sentido trocar Pierce e reconstruir em torno de Rondo... não fosse o fato de que você estaria apunhalando pelas costas um dos maiores Celtics de todos os tempos. Então tudo depende de como KG e Allen vão reagir. Pra mim, KG fica, Allen sai, o Celtics taca tudo que tem pra cima de Eric Gordon e Nicolas Batum na Free Agency, pega meia duzia de role players (chutador de três, defensor de garrafão), talvez até fique criativo com suas duas escolhas de primeira rodada (21 e 22, via Clippers)... Mas pra isso precisa manter Garnett.

Mas mais do que o tiítulo dos proximos anos em jogo, o fim do Big Three (e especialmente de Garnett) seria o fim de uma era do Celtics que trouxe de volta o orgulho da equipe (Celtic Pride), que recolocou o Celtics no cenário da NBA e que finalmente reaproximou a torcida do time. O time pode continuar competitivo, pode vir a ser campeão, mas independente disso tudo eu vou sentir falta do que Garnett, Pierce e Allen trouxeram pra mim como torcedor do Celtics. Tem times que simplesmente conectam com a torcida de uma maneira diferente. Esse era um desses times. Sou grato por ter visto esse time jogar, vou contar para meus filhos. E ainda que eu preferia que acabasse de forma diferente (com um título), a era Big Three do Celtics não poderia acabar de forma mais emblemática: Um time lutando até o final, usando toda a sua força de vontade e garra pra superar a enorme quantidade de adversidades que teve que enfrentar pra chegar mais alto do que deveria... Mesmo que chegasse perto e não atingisse seu objetivo. A imagem que os Celtics de 2008-2012 deixaram é a do time jogando com mais vontade e fome de vencer do que nenhum outro. E foi assim que essa era pode ter terminado.