Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

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quarta-feira, 5 de novembro de 2014

The Playbook - A defesa do Cavaliers

Playbook errado, bro...



Lembra ano passado quando eu fiz alguns posts rápidos analisando a anatomia de algumas jogadas da NBA durante os playoffs, e foi um grande sucesso? Pois bem, acontece que é bem divertido fazer esses posts também, então achei legal trazer de volta isso para a temporada 2015 da NBA. Acabei chamando essa coluna de The Playbook.

Pra quem não lembra, a idéia é pegar algumas jogadas importantes por algum motivo (seja porque foi uma jogada chave, seja porque ilustra algum ponto importante) e mostrar, lance a lance, o que aconteceu, o que não aconteceu, e porque isso é relevante. 

Para inaugurar essa coluna, decidi falar hoje sobre um assunto que tem chamado alguma atenção mesmo antes da temporada começar: a defesa do Cleveland Cavaliers.

O Cavs foi o time mais polarizador da ultima offseason, trazendo de volta LeBron e juntando ele com Kyrie Irving e Kevin Love. Entre três grandes jogadores ofensivos, o potencial desse lado da quadra para Cleveland era praticamente ilimitado, cheio de jogadores capazes de espaçar a quadra, arremessar de fora, criar o próprio arremesso, ou jogar de costas para a cesta. Tinha tudo para ser um dos melhores ataques da história recente da NBA - pelo menos no papel.

A grande interrogação era do outro lado da quadra. Enquanto o talento ofensivo da equipe era único, o talento defensivo deixava muito a desejar. O time contava com apenas UM defensor acima da média em Anderson Varejão, o que é muito pouco para um time que busca o título (sim, eu sei que LeBron é um fantástico defensor quando ele quer. Mas ele não quer faz mais de um ano, foi bem mal ano passado, e até ver ele se interessar de novo, não vou considerá-lo um bom defensor). O Cavs não tinha nenhum shot blocker no elenco, nenhum defensor de perímetro para vir do banco (tirando Marion, que tem 37 anos e decaiu muito nos últimos dois anos), sua dupla titular de perímetro (Irving e Waiters) é possivelmente a pior defensivamente da liga... em resumo, tinha tudo para ser um desastre defensivo. A idéia fácil, claro, era que o Cavs simplesmente teria que compensar essa deficiência no ataque, mas David Blatt sabia que para ser um forte candidato ao título precisaria conseguir pelo menos tirar algo decente dessa defesa.

Considerando a falta de talento em mãos, seria interessante observar como Blatt iria querer compensar isso com base em um esquema defensivo elaborado. E até agora, a primeira solução que Blatt tentou foi uma que surpreendeu muita gente: uma defesa bastante agressiva, lembrando inclusive a defesa que LeBron usava no Heat. Muitas blitzes, muita pressão no ballhandler.

A idéia não é ruim. O Cavs não tem qualquer tipo de proteção ao aro (adversários estão acertando 53% de seus arremessos no aro contra Varejão ou Tristan Thompson, e 62% contra Love) ou bons defensores mano-a-mano, então é uma forma de atrapalhar os ataques alheios ANTES de executarem suas jogadas, ao invés de usar um esquema tático mais conservador que simplesmente impeça arremessos fáceis e confie na sua defesa para fazer boas jogadas.

Bom, até agora, não tem funcionado como desejado. A defesa do Cavs foi horrível nos três primeiros jogos, cedendo 108 pontos por 100 posses de bola, quinta pior marca desse começo de temporada. Mas assistindo aos jogos, o problema não é a blitz e o esquema agressivo de Blatt - é que os jogadores não são bons o suficiente para executá-la consistentemente. Muitas vezes, a dobra de marcação e a pressão no ballhandler estão sendo bem executadas, taticamente falando, mas o problema é que os defensores não estão mostrando capacidade de continuar executando as movimentações e jogadas corretas depois de um primeiro "ataque". No fundo, tem sido basicamente maus jogadores defensivos fazendo más jogadas defensivas.

Eu separei duas jogadas do jogo de ontem contra o Blazers para mostrar essas dificuldades, uma em situações agressivas de blitz e outra em uma jogada normal de movimentação de bola, que mostram  a dificuldade e até o desinteresse dos jogadores do Cavs em defender direito.


Primeira jogada: Blitz no pick and roll

Essa jogada inicia de forma muito simples. Steve Blake recebe a bola perto do meio de campo depois de um lateral normal, com cada defensor ainda marcando seu jogador respectivo.

A jogada do Blazers começa quando Blake faz um passe em direção a Will Barton na lateral, que estava começando um deslocamento na sua direção, como mostra a imagem abaixo. Cada jogador ainda está marcando seu respectivo jogador, individualmente.




Em velocidade, Will Barton pega a bola e começa a contornar a linha dos três pontos. Aproveitando que Barton já tem um head start e uma vantagem sobre seu marcador, Thomas Robinson (#41) corre para fazer uma screen, liberando Barton na direção do meio da quadra, onde teria espaço para atacar a cesta ou iniciar outra movimentação ofensiva.

Usar Robinson como o screener aqui tem duas vantagens principais: primeiro, que você mantém Kaman (um passador muito melhor) na cabeça do garrafão como uma opção de emergência contra um blitz; e segundo que você tira Varejão, o melhor defensor do Cavs, de perto do garrafão. Matthews está do lado oposto da quadra para espaçá-la, e assim que a ação de Barton e Robinson começa, notem como Blake corre para se juntar a ele do lado oposto, liberando o lado direito da quadra para o pick and roll.




O Cavs responde usando a defesa agressiva que tanto tem usado nesse começo de temporada, com Varejão passando por Robinson para atacar Barton e impedir seu avanço. Dion Waiters, o marcador original de Barton, completa a blitz atacando o SG pelas costas, "travando" assim o jogador naquele ponto, a base de qualquer defesa com blitz.




No entanto, Varejão - um senhor de 30 anos de idade - não é tão atlético ou tão rápido na blitz como era, por exemplo, Chris Bosh. Ainda que tenha conseguido impedir o avanço de Barton, essa fração de segundos que Varejão demorou a mais para atacar o ballhandler deu a ele uma janela para fazer um passe para sua válvula de escape, Chris Kaman, ao invés de forçar uma dobra rápida que impediria qualquer movimentação de Barton ou mesmo forçar um turnover. Veja na imagem acima como a bola já está indo na direção do camisa 35 quando Varejão e Waiters completam a dobra no Barton.

Ainda assim, é um passe difícil e apressado que o Cavs conseguiu forçar. Foi uma bola difícil e não-precisa que Kaman precisou de algum tempo para conseguir dominar e se colocar em posição de seguir com a jogada. Tempo suficiente para o Cavs se rearmar defensivamente e evitar uma situação 4 vs 3 mais perigosa.




Quando Kaman finalmente domina a bola, o Cavs já está em posição. Olhe de novo a imagem acima: Barton está inofensivamente atrás da linha dos três pontos, e Tristan Thompson está atrapalhando Kaman. Dellavedova escorregou para marcar Thomas Robinson (lateral do garrafão) - deixado livre por Varejão na blitz - e Shawn Marion está do lado oposto impedindo um passe mais difícil para Matthews ou Blake. A blitz, em um primeiro momento, foi executada com sucesso.

Mas dai começam os problemas. Com Varejão se recuperando na jogada e voltando para o garrafão, Dellavedova tem que começar a se deslocar para o outro lado da quadra, para evitar que Marion fique preso marcando dois jogadores e retomar sua marcação em Blake. No entanto, Dellavedova nunca faz essa movimentação - ele continua parado mercando Robinson. Isso força um Varejão voltando da blitz - um jogador muito mais lento - a atravessar a quadra inteira para marcar Blake, que fica completamente livre enquanto isso.

Com Dellavedova demorando para começar uma rotação e ainda marcando Robinson do outro lado da quadra, e Varejão totalmente perdido no meio do nada, isso significa que quando Chris Kaman começa sua movimentação ofensiva na direção do lado "fraco", Blake está completamente livre na zona morta sem ninguém perto dele para marcá-lo. Apenas Marion teria como recuperar para marcar o armador de Portland, mas com o perigoso Wesley Matthews ameaçando um corte para a cesta, Marion é obrigado a continuar próximo de Matthews. 

Repare na imagem abaixo como só então - com Blake lá livre na zona morta e a jogada do lado direito praticamente morta - é que o armador do Cavs começa sua recuperação.




Matthews percebe essa recuperação, e  corre para fazer uma screen em Dellavedova para atrasar sua rotação e não deixar que ele atrapalhe Steve Blake na zona morta. Por algum motivo bizarro, mesmo com Matthews indo na direção de Dellavedova e com Varejão a poucos passos do lado dele protegendo o garrafão, Shawn Marion continua acompanhando Matthews, ao invés de fazer a rotação correta para Blake, que agora está totalmente livre na zona morta. O Cavs tem dois jogadores perdidos com Wes, e Blake arremessa uma bola de três totalmente livre que ele vai acertar na maior parte do tempo.




Wes acabou fazendo uma péssima screen e Dellavedova até se recuperou bem, mas ainda é um arremesso que qualquer time ficaria muito feliz em conseguir e que Blake errou por meio centímetro.

É um bom resumo dos resultados dessa defesa agressiva do Cleveland nesse começo de ano: a blitz foi bem executada, e conseguiu interromper a ação inicial de Portland. O esquema tático de Blatt, que tinha como objetivo conseguir exatamente isso, deu resultados. O problema é que, a partir do momento que a primeira ação ofensiva do time é desmontada com a blitz e o Portland (e em geral os adversários do Cavs) partem para suas ações ofensivas secundárias - muitas vezes improvisadas - a defesa para de ser um esquema previamente montado (no caso, a blitz) para depender da reação, percepção e movimentação dos defensores de Cleveland. E nisso o time tem se perdido com muita freqüência, em boa parte porque seus jogadores não são bons defensores.

O ataque do Blazers nessa jogada foi inteligente, mas não particularmente bem executado - os passes e reações foram um pouco lentos, e Cleveland teve várias chances de fazer a rotação correta. Mas em nenhuma vez eles conseguiram - Varejão demorou para recuperar, Dellavedova nunca fez a rotação correta deixando Robinson para Varejão e demorou demais para perceber Blake, Shawn Marion desnecessariamente deixou Blake livre para acompanhar um Matthews que estava indo para o meio do nada... um show de erros, em geral erros individuais, leituras erradas e movimentações desnecessárias. Tem sido o mais comum quando se assiste jogos de Cleveland nesse começo de ano.


Segunda jogada: Transição, preguiça e péssima ajuda

Essa jogada é ainda mais fácil e mais simples de se ver porque o Cavs está tão ruim defensivamente. Ao contrário da primeira, ela não envolve um esquema defensivo ou nenhum lado tático complicado - ela é simplesmente péssima defesa por parte dos jogadores do Cavs.

Essa jogada começa em uma semi-transição, depois que Lillard ganhou uma disputa de rebote contra LeBron na defesa e apressou o ataque para tentar pegar a defesa de Cleveland desprevenida. Mas, a exceção de LeBron, a defesa de Cleveland se recuperou muito bem, e quando Lillard chega no ataque, eles estão já razoavelmente bem posicionados e em superioridade numérica.



Ainda assim, Lillard decide aproveitar a vantagem em velocidade e agilidade de seus jogadores para pegar a defesa do Cavs desprevenida e ainda se arrumando em semi-transição. Antes que o resto de seus jogadores possam chegar, Lillard chama uma screen de LaMarcus Aldridge, que corre para fazer o bloqueio em Irving.




Essa é uma boa jogada, bem executada pelo Blazers. Mas a defesa do Cavs aqui é genuinamente horrível desde o começo. Irving não ve a screen chegando, e simplesmente vai de cabeça em Aldridge. Ele demora para passar pela screen, dando muito espaço para Lillard fazer o que quiser. Thompson, por sua vez (defendendo Aldridge na screen), pula na frente de Lillard para impedir seu avanço, mas só por um segundo - ele logo volta a sua posição original entre o armador e Aldridge, dando caminho livre ao armador. Com Irving demorando tanto tempo pra fazer a volta em Aldridge, Thompson precisaria se manter na frente de Lillard o suficiente para permitir que Irving volte a entrar em boa posição defensiva, ou então caso o camisa 0 acelere, Thompson precisa acompanhar sua trajetória para não deixá-lo livre.

Mas como Irving demora muito para conseguir passar da screen e não consegue se recuperar, e como Thompson apenas deu um passo na sua frente antes de recuar para perto de Aldridge, Lillard agora não tem ninguém pela frente, apenas um caminho livre até a cesta sem um armador ou ala-pivô para acompanhar e atrapalhar sua progressão até o aro.



Reparem no espaço deixado por Irving e Thompson para Lillard infiltrar. Isso é simplesmente péssima defesa de pick and roll - ninguém fez qualquer esforço para atrapalhar a progressão do armador ou acompanhá-lo no seu caminho até a cesta, apenas estenderam um tapete vermelho para ele passar. 

Mais duas coisas importantes de se observar na imagem acima: primeiro, que enquanto Thompson não fez muito esforço para bloquear Lillard e logo retomou sua posição inicial, ele também em nenhum momento volta para marcar Aldridge, um perigoso arremessador. Ele simplesmente volta a sua posição e continua acompanhando Lillard, só que agora paralelamente a ele e a uma considerável distância. Ele não tem qualquer papel no desenvolvimento dessa jogada se não for para ficar marcando Aldridge ou o lado "fraco" da jogada, que não tem nenhum jogador do Cavs cobrindo.

Segundo, LeBron James não está marcando absolutamente ninguém. Ele está parado no perímetro olhando para... ninguém, pois todos os jogadores do Blazers que ele poderia marcar estão nas suas costas. O jogador que LeBron deveria estar marcando na transição, Wesley Matthews, já está se deslocando em alta velocidade para oferecer uma opção completamente livre na zona morta oposta.



A imagem acima é o desenvolvimento da jogada um pouco depois, e mostra melhor os pontos acima. Irving está muito atrasado para conter a infiltração de Lillard, e Tristan Thompson está perdido no meio do nada - não está marcando ninguém, não está cortando qualquer linha de passe, nem oferecendo nenhum tipo de ajuda a impedir a jogada de Lillard. LeBron também continua desinteressado em defender - ele não faz QUALQUER esforço para impedir o avanço do armador, enquanto Wes Matthews continua correndo completamente livre em direção a zona morta.




Lillard chega no ponto final da sua infiltração, com Love na sua frente e um espaçamento muito ruim do Robin Lopez impedindo que ele continuasse. Importante frisar que não tem qualquer motivo para Tristan Thompson estar aonde está - Love já esta fechando o caminho para o garrafão, e dificilmente TT teria como contestar esse arremesso. Mas nessa tentativa de "ajudar", ele está deixando Matthews e Aldridge livres. Idealmente, LeBron teria rodado para marcar Aldridge e Thompson estaria impedindo o passe para Matthews tentando minimizar o estrago, mas não é o que acontece - Thompson está perdido e LeBron continua sem interesse na jogada. Lillard tem um Matthews totalmente livre na zona morta, e é para lá que ele faz o passe. 




Matthews recebe o passe em ótimas condições de tentar um arremesso livre de três pontos, tamanho o espaço que ele tem ao receber a bola. No entanto, Matthews percebe que Thompson está tentando corrigir o erro, mudando de direção para ir até ele. Com LeBron ainda parado no meio do nada, a seis metros de qualquer jogador do Blazers que ele poderia estar marcando e nem sequer fingindo tentar defender, Wes percebe que Aldridge está completamente livre no seu lugar favorito da quadra, e é para lá que faz o passe. 

Aldridge recebe a bola com ninguém a menos de cinco metros dele. LeBron FINALMENTE percebe que tem que se mexer ao invés de ficar pensando na vida, e começa sua movimentação na direção de Aldridge.




LeBron corre que nem uma paca louca na direção do camisa 12, que simplesmente faz um pump fake, pelo qual James passa totalmente lotado e não faz qualquer esforço para se recuperar. Com Love marcando Robin Lopez de perto e fora de posição, Aldridge tem um caminho completamente livre até a cesta. 




O espaço deixado no meio e a movimentação de Aldridge, que teria uma cesta fácil, forçam Thompson - que finalmente percebeu que precisa marcar Matthews na zona morta - a ajudar na marcação e correr para fechar seu caminho. O que, claro, deixa Wes completamente linha na zona morta, que é para onde Aldridge faz o passe.




LeBron desistiu da jogada depois de cair no pump fake de Aldridge e não faz qualquer esforço para contestar o arremesso. Wes Matthews recebe o passe e faz a cesta de três pontos mais fácil da sua carreira.

É sério, olhem na imagem abaixo - ele recebe a bola sem ninguém a UM QUILOMETRO dele. E reparem, de novo, aonde está LeBron.




Swish.

No fundo, essa foi uma jogada sensacional do Blazers. Os jogadores a executaram muito bem, com grande movimentação, passes excepcionais e muito altruísmo. Basquete de alta qualidade. Ainda assim, é bem possível ver como o Cavs torna isso tão mais fácil para a equipe. Irving e Thompson marcam horrivelmente o pick and roll inicial, dando um espaço absurdo para Lillard infiltrar, o que força a defesa atrás a fazer rotações... que ninguém faz corretamente. Thompson está completamente fora de posição a jogada inteira, assim como Love não tenta fechar o espaço de Aldridge mais para o final. LeBron não fez qualquer esforço a jogada inteira para ajudar seus companheiros. E o resultado é que Portland consegue fazer o que quer e conseguir um arremesso fácil demais nessa jogada. Eles tiveram três ou quatro bons arremessos na jogada, mas preferiram renunciar a eles porque a má defesa do Cavs continuava dando oportunidades ainda melhores. 

No fundo, isso se resume a duas coisas: desinteresse, e pura e simples incompetência. Jogadores que não conseguem conter uma infiltração ou marcar um pick and roll, que constantemente estão se colocando fora de posição e oferecendo passes bons para o ataque, que não conseguem fazer uma rotação correta ou compensar isso de qualquer forma. E o único jogador desse time que projetava como um possível bom defensor está totalmente desinteressado e preguiçoso na defesa, ao ponto de que o Cavs é TRINTA PONTOS POR 100 POSSES DE BOLA MELHOR COM LEBRON NO BANCO (defensivamente)! Claro que essas são apenas duas jogadas, mas são duas jogadas que ilustram bem os problemas que levaram o Cavs a ter uma das piores defesas da NBA nesse começo de ano. 


A temporada ainda é longa, e tem muito chão. Blatt vai tentar diferentes sistemas para tentar tirar mais coisa da sua defesa, e ainda tem condições da equipe evoluir desse lado da quadra com maior entrosamento e confiança. Mas no fundo, o que se destaca nesse começo de temporada (pelo menos na defesa) é algo que todo mundo já temia em Setembro: os jogadores do Cavs são simplesmente ruins defensivamente! Ao contrário do ataque - que não está bem, mas que é esperado que melhore conforme os jogadores se entrosam e se acostumam melhor a um complicado sistema ofensivo - a defesa não tem a qualidade para tal. Não da para dizer em três jogos que a defesa do Cavs vai ser horrível assim o ano todo, mas até agora, não vimos nada para nos encorajar para o futuro. 

domingo, 24 de abril de 2011

Ressurgindo das cinzas

Graças a uma certa empresa de internet, fiquei sem a dita cuja durante todo o feriado, mas pelo menos agora ela voltou. Ainda bem que aconteceu nessa primeira rodada dos playoffs... Mil desculpas pelos dias sem postagem, estamos de volta.
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Brandon Roy entra em quadra

Faltando dois segundos no quarto período, o Blazers Trail Blazers parecia perdido. A série estava 2-1 para o Dallas Mavericks, o jogo quatro em Portland estava totalmente a favor do Mavericks, que liderava por 21 pontos, e do jeito que as coisas caminhavam o Blazers ia ter que vencer duas vezes em Dallas pra avançar nos playoffs. O Blazers, definitivamente, parecia acabado, pronto pra sair dos playoffs. Só que aí a bola chegou no Brandon Roy.

O resultado foi bem interessante: Nos próximos 12 minutos e 2 segundos, Brandon Roy marcou 21 pontos, inclusive a cesta da vitória, e o Blazers venceu o Mavericks por 84 a 82 para salvar sua pós-temporada e, quem sabe, a carreira do próprio Brandon Roy.

Para quem não lembra, o Roy teve alguns problemas com seus joelhos recentemente. Aliás, foi exatamente a preocupação com eles que fez o Roy cair tanto no Draft de 2006, quando foi pego na sexta posição pelo Wolves pra ser trocado em seguida para o Portland pelo também recém-draftado Randy Foye (Os engravatados do Wolves andam se gabando por terem deixado passar o Roy porque esperavam isso desde o começo, mas trocar o Roy pelo Foye não vai fazer o time ganhar nada). Ano passado mesmo, ele fez uma cirurgia no joelho perto do final da temporada, quando supostamente iria desfalcar o time nos playoffs, mas ele voltou no jogo quatro, entrou em quadra (ao som de Eye of the Tiger) e jogou no sacrifício, transformando aquela série contra o Suns numa série de verdade. Mas esse ano, as coisas pioraram de novo, com uma nova lesão no joelho e mais preocupações acerca da durabilidade deles. A falta de cartilagem nos joelhos do Roy é um problema e, segundo os médicos, ele só tem mais dois anos aproximadamente pra jogar basquete em alto nível. O que é uma grande pena, porque o Roy é um dos melhores jogadores da Liga, muito completo e um dos melhores closers da NBA.

E com a lesão do Roy, o time teve que se virar sem ele, contando principalmente com a ótima fase do Wesley Matthews e dando mais minutos para o Rudy Fernandez. Mesmo quando o Brandon Roy voltou, ele ficou no banco, com minutos limitados e um basquete mais contido que de costume. Ele teve grandes jogos, um deles contra o mesmo Mavericks, mas a dúvida era se ele estava se poupando e sendo poupado ou se o novo papel dele no time era apenas aquele, um reserva que podia ter um bom jogo.

Mas os playoffs começaram e Roy continuou no banco. Ele mal jogou nos dois primeiros jogos em Dallas, quando o Blazers perdeu ambas as partidas. E isso gerou uma reclamação no Roy sobre o seu papel no time, que ele achava que era muito pequeno. E, conseqüência ou não, Roy teve um ótimo jogo 3 e um jogo quatro histórico.

No jogo quatro, depois de sair machucado no primeiro tempo, Roy voltou no terceiro período com uma assistência para o Lamarcus Aldridge e depois uma bola de três nos segundos finais do terceiro quarto. No quarto período, foram dezoito pontos e quatro assistências, além de ter sido o centro de todas as ações ofensivas do time, acertando oito de dez arremessos e colocando a bola debaixo do braço. O Blazers se inspirou e começou a defender feito malucos, tanto que segurou o ataque do Dallas a só 15 pontos enquanto marcou 35, sendo 26 desses diretamentes de pontos ou assistências do Roy.

A importância do Roy nos dois jogos vencidos pelo Blazers ressalta algo que eu já disse no preview dessa série, que é o fato do Blazers não ser um time excepcional, é um time completo, bem montado, com muitos bons jogadores e que tem uma boa defesa e um bom ataque, mas o time as vezes sente falta de um elemento mais explosivo, imprevisível, capaz de carregar o time durante um período ruim ou energizar o time quando ele precisa, além de ficar com a bola na mão nos momentos cruciais. Em outras palavras, uma estrela. O Aldridge é ótimo, ta evoluindo muito, mas ainda não chegou lá. O Gerald Wallace é um ótimo role player, faz o trabalho sujo muito bem, mas não é a estrela do time: a única estrela de verdade do time de Portland está vindo do banco de reservas, e quando ele entra ditando o ritmo do time, é quando o Blazers encontra seu melhor basquete. E é exatamente o que o Blazers precisa pra fechar essa série de uma vez por todas. Agora a série vai voltar para Dallas para o jogo cinco, e o Blazers tem o momento na série depois dessa virada histórica. Ganhar o jogo cinco em Dallas e decidir em casa é tudo que o Blazers quer, mas pra isso o Roy vai ter que entrar, ditar o ritmo e fazer sua mágica, como a gente já viu ele fazendo muitas vezes.

O problema pro Roy é o seu corpo. Por melhor que ele seja, o corpo dele não está na melhor forma pra correr de um lado a outro de uma quadra pra pular tentando alcançar um aro com uma bola. O joelho dele está todo esfarelado, o joelho dele é praticamente osso com osso, e não da pra sugerir que ele vai estar 100% fisicamente numa quadra de basquete algum dia na vida. Ele tem que lutar não só contra o time adversário, mas contra seu próprio corpo, que não aguenta a intensidade que é um jogo de basquete. Talvez funcione uma vez, duas, mas não da pra ter certeza que vai funcionar sempre, e por isso o Roy, querendo ou não, vai ter seus minutos mais limitados. O Roy é um guerreiro, ele sabe muito bem o que é jogar no sacrifício, até porque ele sabe o quanto o time depende dele pra vencer uma série complicada, que é exatamente o que o Blazers vai ver nos playoffs (a não ser que mude pro Leste). O corpo dele pode não aguentar, mas ele é competitivo demais pra ficar no banco e ver o time perder, mas ao mesmo tempo o corpo dele pode não aguentar uma hora e deixar o Blazers na mão. O Roy é a chance do Blazers de sonhar com algo maior na pós temporada, mas também pode ser uma bomba relógio, pronta pra esfarelar um joelho. Porque pra ganhar, eles dependem do corpo - e dos joelhos - do Brandon Roy. Porque ele é a verdadeira estrela da equipe. É dele que eles precisam pra controlar o time, passar confiança, liderar o elenco e, quando necessário, fazer 21 pontos em 12:02 minutos e liderar uma virada histórica para manter seu time vivo nos playoffs.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Preview - Dallas Mavericks vs Portland Trail Blazers

Dirk Nowitzki surta ao perceber a fria que se meteu ao ficar em Dallas

O Dallas Mavericks era mais um dos times sensações do começo da temporada: Muita defesa, Dirk Nowitzki jogando em nível MVP, o time ganhava de todo mundo e chegou a ficar longos períodos invicto, e parecia que o Mavs ia escapar do eterno rótulo de time que morre na praia. O Mavs ficou brigando pela maior parte da temporada com o Lakers pelo posto de segundo melhor time do fortíssimo Oeste e conseguiu ficar com a terceira seed, além de que o alemão continua jogando o fino da bola. Então porque eu não consigo realmente acreditar no Dallas?

Bom, a razão é simples: Caron Butler. O Butler machucou o joelho feio durante a temporada regular e, se retornar, deve retornar apenas após o fim da série contra o Blazers. Ou seja, ele não vai jogar essa série então o Mavs vai ter que se virar com o que tem. E quando eu digo o que tem, eu digo Jason Kidd, Jason Terry, Shawn Marion, Roddy Beaubois e Tyson Chandler. Não é o pior grupo de jogadores do mundo, são todos bons Role Players, algo que de certa forma o Butler também era. Então porque todo o circo por causa do Butler?

Primeiro, vamos analisar o time que sobrou. Kidd já foi um tremendo armador, um dos melhores passadores da Liga por anos a fio, mas ele não consegue criar um arremesso para si mesmo mais, não é uma garantia defensiva e parece perder um osso a cada jogo que ele joga desde o All-Star Game. Ele não tem mais o pique pra jogar, é um vovô que joga muito mais pela inteligencia e pela habilidade com as mãos, mas ele não aguenta mais uma série física como o Blazers tem condições de fazer. Marion e Chandler são ótimos defensores, o Marion individualmente marca muito bem jogadores de várias posições e o Chandler é perfeito e essencial para a defesa por znoa do Mavericks defendendo perto da cesta, mas também são dois jogadores incapazes de criar uma cesta. O Beaubois é um bom pirralho, mas talvez ele fosse mais valioso ao time se tivesse sido trocado por alguém antes da deadline, mas o Mavs confundiu ele com o Michael Jordan e acabou não trocando o pirralho. Ele é bom, sabe arremessar e tem um bom controle de bola, mas não é um grande jogador e também não vai resolver o problema do Mavs. E o Terry é basicamente um arremessador, é ótimo pontuando nos quartos períodos mas não aparece muito nos outros três quartos e já deixou de ser confiável a muito tempo.

Em outras palavras, o Mavericks tem, tirando o Nowitzki, um bando de role players, sendo que o único deles realmente capaz de criar um arremesso é o Terry, que parece funcionar a pilha e ela não dura mais do que oito minutos. O Mavericks lidou com isso durante toda a temporada rodando muito bem a bola, tendo muita paciência e fazendo o jogo passar pelo Nowitzki, que muitas vezes preferia continuar a rotação da bola ao invés de finalizar a jogada, o que ajudou muito o Mavs pela atenção extra que ele atraia da defesa e ajudou também o alemão a ter o melhor aproveitamento em arremessos da sua carreira.

O problema é que o time do Dallas tinha apenas três jogadores que criavam o próprio arremesso, e com eu já disse o Terry não funciona com Duracell. O Nowitzki é um, e o outro era o Caron Butler. O Butler não era o jogador mais habilidoso do mundo, ele é outro role player do time, mas a função dele era uma das mais importantes desse ataque. As vezes ele exagerava nos arremessos de três pontos, mas o fato é que o Butler era o único jogador desse ataque que era capaz de atacar a cesta quando o ataque estava estacionado. Isso dava uma dimensão diferente ao time porque ele era o único jogador que fazia isso com freqüência, o Nowitzki também faz as vezes mas não é o jogo dele, e o Nowitzki de meia distância e o Butler partindo pra cima e cavando faltas eram as válvulas de escape pra desafogar o ataque do Mavericks quando ele estagnava na partida. Desde a lesão do Butler, no entanto, o Mavericks não tem ninguém que faz eficientemente essa função, e então quando o ataque enguiça e a rotação de bola não funciona, ou quando o time precisa de uma cesta, só tem uma pessoa em todo o time capaz disso, e é lógico que é o alemão. Isso coloca pressão e responsabilidade demais em cima do Nowitzki, que tem que levar o ataque nas costas muito mais do que ele gostaria ou do que é saudável para o ataque do Mavs. Ele é a única opção nessas horas, o que também torna esse ataque ainda mais previsível.

Em resumo, o Nowitzki leva esse time do Dallas nas costas, com ou sem Caron Butler. O problema é que nos playoffs o Nowitzki não vai poder fazer isso pra sempre e o Mavs corre o risco de não conseguir arrumar uma solução para esse problema e apodrecer logo na primeira rodada dos playoffs pela milésima vez. O Dallas só não está condenado porque o Dirk é um monstro ridículo que realmente consegue levar um time nas costas, e ele vai ter que jogar melhor do que nunca pra fazer esse time continuar ganhando sem o Butler. O Mavs tem uma boa defesa, uma superestrela que coloca a bola dentro da cesta talvez como ninguém na Liga, e uma coleção de bons jogadores, tem potencial pra vencer o seu confronto, mas o excesso de dependência do Dirk - não apenas para pontuar, mas para colocar ordem em todo o ataque - é preocupante. A não ser que alguém no time consiga aparecer como uma válvula de escape pro alemão, o Dallas está condenado. Pode ser agora ou nas semifinais, mas está condenado.

E também não ajuda o fato do adversário do Dallas ser um time forte, entrosado, embalado e que tem um jogo físico e uma coleção de talentos, e talvez seja o time mais perigoso da primeira rodada dos playoffs já que o Grizzlies está sem o Rudy Gay. O Blazers é um time que chegou até os playoffs meio aos trancos e barrancos: Brandon Roy está com problemas sérios no joelho e o time parecia sem um padrão sem seu melhor jogador, mas o Lamarcus Aldridge aprendeu a jogar no garrafão, está atacando a cesta muito mais, e está pontuando muito mais também, virou um jogador muito mais perigoso e levou o Blazers nas costas por todo o tempo que o time esteve perto de jogar a toalha. E aí o Blazers aproveitou do Bobcats ter desistido do mundo pra pegar o Gerald Wallace numa troca, o Wesley Matthews está fazendo jus ao seu contrato que antes parecia absurdo e o time de repente ressurgiu como um novo time: mais físico, mais versátil (Várias vezes o time usa um small ball com o Aldridge de pivô, Wallace na 4 e o Nicolas Batum na 3) e muito mais preparado para a pós temporada.

O Blazers tem uma defesa forte no garrafão, tem ótimos marcadores individuais e tem como bater de frente com o Blazers, mas o Nowitzki ainda é o melhor jogador da série e isso pode ser problemático para o Blazers. Portland precisa estabelecer o jogo físico no garrafão, não dar espaço para as bolas longas e principalmente colocar alguém no Nowitzki capaz de incomodar, e acho que a melhor pedida aqui é o Wallace. O Dirk é ótimo, mas não é muito físico, e o Wallace já marcou muitos jogadores maiores que ele. A questão aqui é se o Wallace é capaz de tirar o Nowitzki da sua situação de conforto, de frente ou de costas para a cesta. Se ele incomodar o Nowitzki e conseguir evitar que o alemão carregue o time nas costas, o Blazers tem o jogo ganho. Mas também tem que ver como o Roy vai jogar essa série.

O Roy teve problemas no joelho, não consegue mais jogar tanto e parece que o tempo dele na NBA está contado (O do Grant Hill também estava, então isso não necessariamente é definitivo), e desde então o Roy tem saído do banco de reservas, tem tido minutos e produção limitada e não tem causado realmente um impacto na maioria dos jogos. Ainda assim, ele tem tido alguns bons jogos, ele comeu o Mavs com farinha no final do jogo de um encontro anterior e também acertou bolas importantes quando seu time venceu o Miami Heat. Ou seja, tem que ver se o Roy vai fazer apenas esse papel - entrar, acertar meia duzia de jumpers, e de repente jogar os minutos finais - ou se o Roy estava sendo poupado para os playoffs e agora que chegou ele vai ganhar mais minutos e jogar com mais agressividade. Não da pra saber, joelhos são uma coisa problemática, mas se a segunda for o caso o Blazers ganha um reforço importante não só pra série como pra toda a pós temporada, porque o Roy com força total é um dos melhores jogadores da Liga.

Palpite: Eu adoro o Dirk Nowitzki, mas acho que o Dallas não vai conseguir superar a ausência do Butler. Não por ele ser um craque - ele não é - mas porque isso faz com que o ataque do Dallas fique muito estagnado. Ainda assim, o alemão leva um par de jogos sozinho. Portland em seis jogos.

terça-feira, 1 de março de 2011

Para a NBA que eu quero descer! - Final

Ufa! Finalmente vamos terminar de analisar todas as trocas que aconteceram no deadline. Ficaram duas trocas pra hoje, mas as duas tem um interesse especial e uma delas é a minha preferida da noite. Então vamos acabar logo com elas. Ah sim, não esqueçam de seguir nosso recém criado twitter, que vamos usar a partir de hoje pra anunciar posts, trocas, novidades e comentar os jogos.
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Lebron gostou que finalmente terminamos de falar sobre as trocas

Os Bobcats mandam Gerald Wallace para o Blazers em troca de Sean Marks, Joel Przybilla, Dante Cunningham, duas escolhas de primeira rodada do Draft (Uma do Blazers em 2013 e uma do Hornets em 2011)

Eu ja falei nesse blog, muitas vezes, sobre a idéia de reconstruir um time da basquete, em especial nesse post sobre o Wolves, que fala exatamente das reconstruções que o time sofreu nos útlimos anos, sem resultado. A idéia por trás disso é você pegar um time que está estagnado, não é bom o suficiente pra brigar por título e que também não é tão ruim para ter escolhas altas de draft, e aí trocar os principais jogadores, limpar a folha salarial, acumular pirralhos e escolhas de draft e ai desenvolver todo mundo. Os times que passam por esse tipo de processo geralmente são aqueles que tem dificuldades financeiras ou que estão acima do teto salarial mas que sempre chegam na primeira rodada dos playoffs pra então perder. Ou seja, num estado estacionário, onde você não é bom pra brigar por nada nem pode sonhar com um bom draft. É a idéia de começar tudo de novo e, de preferência, economizar enquanto isso.

Mas nem por isso é um projeto facil de se executar, e por vários motivos. Primeiro que aceitar um processo de reconstrução significa desmontar seu time todo, aceitar que você vai ser saco de pancadas por algum tempo, e que não vai ter resultados animadores. Não é todo mundo que tem esse tipo de culhão, muitos preferem continuar sendo um time acima da média mas sem chances do que jogar tudo fora. Segundo porque é um projeto que depende demais de algo que você não pode prever. Geralmente um time que faz isso está pensando em arrumar boas escolhas de draft, draftar bons jogadores, desenvolver seus jogadores jovens e dai contratar uns veteranos pra tentar o título. Mas o Draft é uma ciência extremamente inexata, ninguém pode prever o que vai sair em 95% dos casos, e nem como seus jogadores novos vão render. As vezes não rendem juntos, as vezes demoram muito pra engrenar, etc. Por isso, não só voce joga tudo fora como corre o risco de acontecer como aconteceu com o Wolves, de dar errado e ter que recomeçar a reconstrução mais uma vez.

O Blazers fez isso ano passado, e chocou a NBA. Trocou todo mundo, trouxe bons jogadores, e montou um time muito forte que deveria ter começado a brigar pra valer nos playoffs. O time draftou muito bem, trouxe seus veteranos, desenvolveu todo mundo e tinha um elenco muito bom e contava com uma grande estrela no Brandon Roy. Mas infelizmente, o projeto não deu certo porque o time se implodiu antes disso. O Roy machucou muito, o Greg Oden, escolhido na frente do Kevin Durant no draft de 2007, que deveria ser a força defensiva no garrafão não conseguiu ficar saudável de jeito nenhum (Se machucou levantando do sofá!), e os jogadores começaram a bater a cabeça por causa de minutos, em especial o Roy e o Andre Miller, um dos veteranos contratados pra fechar o elenco. O time acumulou gente demais nas mesmas posições, fazendo as mesmas funções, e ainda contou com um azar digno dos piores dias do Clippers pra machucar o elenco todo do time. E a bomba veio essa temporada, quando o time descobriu que seu astro, Brandon Roy, não vai conseguir jogar basquete por muito tempo. Ele não tem menisco em nenhum dos dois joelhos e segundo os médicos ele teria que jogar sendo muito poupado e mesmo assim não aguentaria mais de duas temporadas. Ou seja, o craque do time está com os dias contados, ninguém sabe se até lá ele vai conseguir jogar em alto nível e por isso o plano de longa data do Blazers ficou seriamente ameaçado. Além, claro, do Oden nunca ter consguido jogar nada.

E o Blazers, sentindo os dias contados do Roy e vendo o crescimento do LaMarcus Aldridge de "pirralho com medo do garrafão" pra "ala-pivô que comeu o Tim Duncan na farinha", o time mandou a paciência que foi marca registrada da Franquia nesse tempo pro espaço pra tentar desesperadamente faturar um anel agora. Mandou um monte de restos e duas escolhas de draft pra trazer o Gerald Wallace. O Wallace é um ala atlético, ótimo defensor e que sabe pontuar, joga nas duas posições de ala e é um ótimo jogador. Não é, nunca foi e nunca vai ser uma estrela, mas é um excelente role player que ataca a cesta, defende muito bem e pega rebotes, além de ser ótimo em contra ataques. O Blazers já tinha o promissor pirralho Nicolas Batum pra jogar de ala, que deve agora ser a primeira opção vindo do banco de reservas junto com o Wesley Matthews enquanto o Wallace faz o trabalho sujo dentro de quadra. Ele com certeza é um jogador, hoje, melhor que o Batum e se o Roy conseguir voltar a jogar em alto nível e com o Aldridge destruindo quem vê pela frente o Blazers se torna um time bem interessante capaz de assustar muita gente nos playoffs. Por outro lado, o time só tem o vovô Marcus Camby no garrafão pra dar tocos e pegar rebotes, agora que o Joel Przybilla saiu e o Oden ta de muletas. O time pode até colocar o Wallace na posição 4, o Batum de ala e o Aldridge de pivô, mas é uma escalação baixa que pode ser problemática contra os times fortes do Oeste para ser usada por muito tempo. O time tem talento, pode ganhar de quase qualquer time na Liga, mas em séries de melhor de sete no ainda disputado Oeste, acho que o título - ainda que possível - é um sonho ainda bem distante.

E para isso você deixa no banco o Batum e o Matthews, dois pirralhos muito promissores. O Blazers sentiu o perigo de sair dessa reconstrução sem nada concreto devido às inúmeras lesões do elenco e não teve os culhões de tacar tudo fora e começar denovo, ao invés disso mandou várias escolhas de draft que poderiam render bons jogadores por um veterano que tem mania de se machucar semana sim, semana não. O Blazers, se percebesse que não ia ganhar nada e que sem o Roy o projeto ia fracassar, tinha como opção tacar tudo fora e recomeçar, faz parte, paciência. Tem o Batum, o Matthews e o Aldridge pra segurar as pontas, e se o Aldridge continuar evoluindo como tem evoluido pode ser o núcleo de um time em construção. A opção que o Blazers fez foi sacrificar isso pela chance de vencer agora, chance essa que ainda é bem pequena.

Já o Bobcats, ao trocar o Wallace e o Nazr Mohammed para o Thunder, deixa bem claro que quer começar sua própria reconstrução. O Sean Marks, o Mo Peterson e o Przybilla são contratos expirantes, o Dante Cunningham é um pirralho com algum potêncial, o DJ White também é um bom jogador jovem que não tinha minutos e o time acumulou várias escolhas de draft. O Michael Jordan faz uma sábia jogada de jogar tudo no lixo e tentar montar algo de um time sem tradição e sem a menor chance de dar em alguma coisa. O Stephen Jackson e o Boris Diaw correm o risco de serem os proximos a irem embora, e ai o Bobcats vai ser muito ruim - o que não vai surpreender ninguém -  e pode sonhar com calouros, futuras estrelas e em uma reconstrução que tenha um final feliz - diferente do do Blazers, de preferência.
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Os Grizzlies mandam Hasheem Thabeet e uma escolha da primeira rodada do Draft para o Rockets em troca de Shane Battier e Ish Smith.

Finalmente, a minha troca preferida!

Eu falei sobre duas coisas esses dias que são temas bastante recorrentes na NFL e que estão por trás de muitas decisões. Quando o Jazz mandou o Deron Williams para o Nets, eu falei um pouco sobre a questão dos mercados, dos times que estão dispostos a gastar toda sua grana pra assinar grandes contratos e dos times que tem medo de pensar em pagar 20 milhões por ano pra um jogador. E hoje ou naquele post sobre o Wolves, falei sobre os times em reconstrução. E essas duas coisas são fundamentais para entender essa genial troca que o Grizzlies tirou do chapéu.

O Grizzlies, alguns anos atrás, era um bom time, liderado pelo Pau Gasol, e que ia aos playoffs todos os anos. No entanto, chegando nos playoffs, o time sempre era varrido na primeira rodada. Era um time estacionado na mediocridade, nesse limbo que eu falei ali em cima, o time sem perspectivas. Aí, o Grizzlies fez o que muita gente chamou de loucura  na época: Trocou o Gasol por Kwame Brown, Javarris Crittenton, Marc Gasol e duas escolhas de draft com o Lakers. O Lakers saiu ganhando por muito, o Gasol lá desequilibrou a Liga e levou o Lakers três anos consecutivos aos playoffs, mas olhando agora, o Grizzlies sabia o que estava fazendo: jogando tudo no lixo e começando do zero. Os contratos expirantes acabaram, o Grizzlies limpou sua folha salarial, deu minutos pros pirralhos sem a obrigação de vencer e usou suas escolhas de draft pra montar um time jovem e talentoso. Então trouxe veteranos como o Zach Randolph, que ressurgiu jogando em Memphis, e mesmo em um mercado pequeno o Grizzlies conseguiu montar um bom time. Só que o time ainda não era bom o suficiente quando para ir para os playoffs no fortíssimo Oeste. O time era ótimo, mas o banco de reservas era bem ruim e faltava muitas peças para o time.

Nessa offseason, o Rudy Gay e o Mike Conley viraram free agents, e o Grizzlies ofereceu salários exorbitantes para os dois: 80 milhões para o Gay e 45 para o Conley, mais do que os dois valem. Mas foi o preço que o time achou justo pagar para evitar regredir uma etapa. O problema, no entanto, vem a seguir, quando Zach Randolph e Marc Gasol virarão Free Agents, e sendo um time de um mercado pequeno talvez não fosse possível cobrir os salários. O Z-Bo é um excelente jogador e que deu uma volta por cima espetacular na sua carreira desde que chegou em Memphis. Ele adora a cidade, gosta de jogar no time e quer ficar no time. Mas ele também se acha um craque e sempre cobra salários exorbitantes (geralmente baseados nos do Pau Gasol, vai entender). O Marc não vai querer tanto, mas os dois juntos talvez seja demais para o Grizzlies. Por isso, o time fez a manobra que precisava: mandou o Hasheem Thabeet embora. O Thabeet foi a segunda escolha do draft e era pra ser o pivôzão do futuro. Mas ele chegou cru demais, não tinha nenhuma habilidade ofensiva e fazia faltas demais, e aos poucos o time foi perdendo a paciência e afundou o gigante no banco de reservas. Apesar disso, seu contrato era vigente e altíssimo, principalmente levando em consideração que o moleque não era utilizado.

A solução encontrada pelo Grizzlies foi mandar o Thabeet embora junto com seu contrato. Em troca veio o Ish Smith, um armador jovem e talentoso, e o Shane Battier, que tem um contrato que acaba ao final da temporada. O Grizzlies, mandando o Thabeet embora, liberou uma enorme parcela na sua folha salarial que o time vai - e deve - usar pra renovar com o Z-Bo e com o Marc Gasol, mantendo assim o time titular intacto. Ainda existe a chance do time negociar o OJ Mayo no final da temporada, ele que tem mais atrapalhado do que ajudado,  liberando mais ainda a folha salarial. Só por isso, a jogada já foi excelente, já que voce abre espaço pra renovar com dois jogadores importantíssimos pro seu time. Mas não foi só isso.

Ja faz algum tempo que o Grizzlies é um dos times mais sólidos do Oeste, só sendo superado por Lakers e Spurs, sendo portanto o terceiro time que menos perdeu recentemente. E isso com Rudy Gay machucado e OJ Mayo suspenso. O Grizzlies tem um time titular muito bom, os jogadores jovens parecem melhorar a cada dia e o Randolph está eficiente como nunca. O time ainda tem uma moeda de troca bem valiosa no OJ Mayo, que está cada dia afundando mais no banco atrás do Tony Allen e do Xavier Henry e que pode ser trocado pra abrir espaço salarial e trazer outros jogadores assim que possível. Ou seja, o time tem potêncial, é jovem e está muito entrosado, e com o Oeste perdendo força por causa de times como o Jazz e o Nuggets, o Grizzlies tem uma chance real de ir aos playoffs. A defesa é boa e o time é muito eficiente no ataque. No entanto, ainda sentia falta de um defensor mais versátil e de bolas de três pontos. E aí, enquanto se livra do Thabeet, o time trouxe um veterano que faz tudo isso e ainda tem uma vantagem: é um jogador experiente, inteligente e que sabe manter sua cabeça fria. O time do Grizzlies peca as vezes por falta de calma, excesso de ânimo, e o Battier é um jogador que é excelente justamente em ficar calmo e controlar seu time, além de ser extremamente eficiente em tudo que faz. Foi uma jogada de mestre do Grizzlies, que solidifica seu banco, adiciona tudo que seu time precisava, e como o contrato do Battier é expirante, eles podem simplesmente deixá-lo ir embora ao final do ano ou reassiná-lo por menos dinheiro. O Grizzlies é um time sólido e jovem, se conseguir segurar Z-Bo e Marc com o espaço que eles abriram - e devem abrir ainda mais sem o Mayo - eles podem até sonhar com algo a mais nos próximos anos. Pra esse ano, eles fizeram o que precisavam para pelo menos sonhar: liberaram teto salarial, melhoraram sua defesa (Que já é a 10ª melhor da NBA) com um dos melhores defensores da Liga, e mantiveram junto a parte mais importante do grupo. Pensar em título esse ano é demais, mas o time é capaz de assustar os favoritos na pós temporada porque conta com as chaves para se vencer na pós temporada: um garrafão forte e uma boa defesa. Ainda vão sentir falta de um pontuador nato vindo do banco de reservas, mas é capaz de tirar uma casquinha de muito time forte por aí.

Já o Rockets continua o que começou: Adiciona uma escolha de draft e um jogador jovem em troca do contrato expirante do Battier. Com o time tendo problemas sérios no garrafão com um pivô de 1,98m, o Houston adiciona um jogador jovem, alto e cru. Agora o time deve fazer um intensivão no moleque pra ver se ele consegue aprender alguma coisa, pra ver se ele consegue ser pelo menos um jogador capaz de ser titular sem comprometer e ajudar o time com sua altura. O contrato do Yao Ming termina no final do ano também, e o Rockets ta preocupado em montar um novo time em torno do talento que já está lá. Uma peça alta no garrafão e uma escolha de draft, até que foi um bom começo. A perda do Ish Smith não vai ser sentida porque o time tinha gente demais pra posição, mas o Battier talvez faça mais falta. Agora o Chase Buddinger vai ter mais tempo de jogo e possívelmente o Rockets vai usar formações mais baixas com Courtney Lee ou Terrence Willliams em quadra, enquanto se prepara pro que vem pela frente. Que sempre é uma incógnita.