Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

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terça-feira, 14 de junho de 2011

Como se fez um campeão


Uma comemoração mais do que merecida

Ontem eu infelizmente estava sem tempo e fiz um post apenas exaltando a conquista do Dallas Mavericks: Seus jogadores, o que significa essa conquista, a difícil temporada pela qual o time passou e idolatrei o Dirk Nowitzki mais um pouco. Mas hoje, é hora de falar com mais calma sobre  assunto. Ainda amanhã eu vou tentar dar uma passada pra comenta sobre os rumos do blog agora que a NBA acabou - não deve mudar nada, mas só pra esclarecer aos leitores mais novos mesmo. E sim, esse post ficou imenso, peço desculpas.

Primeiro de tudo, essa temporada da NBA foi simplesmente sensacional. A quantidade absurda de histórias que nós tivemos ao longo do ano e a quantidade de emoções (A raiva também é uma emoção) que elas geraram garantiram que essa temporada fosse, sob alguns aspectos, muito melhor do que as últimas, ou pelo menos muito mais comentada, com muito mais cobertura e mídia. Só pra citar algumas, a chegada da maior máquina de vídeos no Youtube que a Liga teve em algum tempo com o Blake Griffin, o Derrick Rose evoluindo de pirralho talentoso pra MVP em questão de meses, as trocas de grandes estrelas como Carmelo Anthony e Deron Williams, o Danny Ainge realizando a troca mais doente da história recente da Liga e sozinho assassinando as chances do seu time ser campeão (Depois de ver o Grizzlies liderado por Marc Gasol e Zach Randolph quase chegar na Final do Oeste, alguém ainda tem coragem de afirmar que a troca do Pau Gasol pro Lakers foi mais idiota do que a do Danny Ainge?), a evolução do Thunder de 'time do futuro' pro 'time que pode ganhar quando o Russell Westbrook aprender a armar mais e arremessar menos' e, claro, a existência de um vilão como não se via no esporte talvez desde sempre (Pistons do final dos anos 80, talvez?) que foi a versão 2011 do Miami Heat. E essa última foi a linha mestra através da qual gravitaram todas as atenções da NBA ao longo de grande parte da temporada.

E tudo isso começou com o show de Free Agents do último verão e, claro, com o The Decision. Agora que já se passaram onze meses desde aquele dia, a gente pode sentar e pensar com calma no efeito daquela decisão. A idéia de juntar três dos melhores jogadores da Liga em Lebron James, Dwyane Wade e Chris Bosh em Miami era ao mesmo tempo fascinante e assustadora. Sempre é bom ver grandes craques jogando juntos, Wade e Lebron talvez sejam os dois melhores jogadores do mundo na atualidade, mas por outro lado, muita gente viu isso como uma "trapaça", uma forma fácil de tentar ganhar títulos. O medo de um time que seria tão supremo também tomou conta da Liga e, como o Heat continha o Lebron James, todas essas coisas se transformaram em ódio. Assassinando o Salary Cap pra assinar seu Big Three e mais Udonis Haslem e Mike Miller, o Heat completou seu time com restolhos (Aqueles que NUNCA são escolhidos pro seu time de futebol no colegial) e logicamente confiou no talento de suas grandes estrelas pra ganhar um título, a ponto de até comemorar muito antes da temporada começar. Não é a toa que eles eram tão odiados: Era um time com muito talento, uma boa dose de arrogância, e o jogador mais odiado do mundo.

Eu pessoalmente não gostei da troca por três motivos: Primeiro, porque achei que o Lebron estava escolhendo o "caminho fácil" para um título, que era se juntando a outras estrelas em seu auge. Não precisava necessariamente ficar em Cleveland, mas eu confesso que prefiro ver grandes jogadores desenvolvendo seu jogo e seus times ao seu redor ao invés de sair e se juntar a um mais forte. Talvez mais velhos, em busca de um título desesperado, mas o Lebron tem 26 anos e está no auge de suas forças! Não que seja errado ou proibido, eu só não gosto. Em segundo lugar, porque eu fiquei com medo que, se a combinação Wade-Lebron desse certo demais, a gente podia ter um campeonato chato e previsível com um time apelão demais, tipo aqueles que você montava no NBA Live ao trocar o JR Smith pelo Pau Gasol. E por fim, porque eu adorava a rivalidade Wade/Lebron e com os dois no mesmo time a gente não veria mais jogos épicos de rivalidade entre os dois, como aconteceram vários nos últimos anos.

Mas o motivo pra eu torcer contra o Heat era outro. O Heat contrariava tudo que eu acredito em esportes. Era a representação da idéia de que você só precisa juntar muito talento pra vencer. Eu sempre acreditei que havia muito mais para um time ser campeão do que simplesmente colocar bons jogadores juntos, que existia muito mais coisa por trás, a própria ideia de 'time', de que existem coisas que não podem ser mensuradas em números ou estatísticas, que existia aquele coletivo que torna cada um dos seus componentes tão melhores que só pode ser alcançado por times que evoluem juntos, jogam juntos, conhecem suas falhas e conhecem um ao outro. O Heat era exatamente o contrário disso, e eu queria ver o Heat derrotado pelo menos nesse seu ano de estreia para que eu pudesse ver que eu não estava errado.

Mas o Celtics mandou o Kendrick Perkins embora e trouxe de repente uma cacetada de jogadores que nunca tinham jogado juntos, e o Chicago Bulls não foi páreo para o Miami no Leste. O Heat foi um time que cresceu muito ao longo da temporada, passou cada vez mais do jogo individual para o coletivo, mas ainda era um time sem um grupo, eram três estrelas e um bando de descartados em volta. Mas o time parecia imparável e suas estrelas, de fato, eram grandes estrelas. O Heat chegou na Final da NBA com status de favorito.

E enfrenteram, na Final, um time que era exatamente o oposto desse time cheio de grandes craques e mais 12 jogadores descartáveis. O time de uma única estrela e mais uma cacetada de Role Players que sabiam exatamente sua função em quadra, um time que era arquitetado não como um conjunto de três ou de cinco, mas sim de oito ou nove jogadores. Um time que jogava um basquete tão coletivo a ponto de sua grande estrela se sentir extremamente confortável como uma peça do time como outra qualquer, um jogador que não jogava só como o grande pontuador que é mas como parte do todo, atraindo marcações duplas, distribuindo a bola e confiando nos seus parceiros. As vezes ele passava jogos inteiros só arremessando oito ou nove vezes porque preferia achar seus companheiros em boas condições com uma ótima rotação de bola - marca registrada da equipe - a forçar arremessos. Um time veterano com uma grande defesa coletiva, ótima rotação de bola, que chegou onde chegou do "jeito antigo", montando um núcleo, trazendo jogadores, evoluindo seu jogo, refinando o esquema tático e superando todo o tipo de adversidade juntos.

A questão aqui não e quem está certo e quem está errado, qual é o melhor e qual é o pior. São dois times com formações totalmente diferentes, um baseado no talento individual e que ganhava porque tinha três grandes craques, e outro baseado no jogo coletivo, em cada jogador desempenhando seu papel e que ganhava por causa disso. O fato de um ter ganho não quer dizer que seu caminho seja certo ou melhor, só que DEU certo dessa vez.

De certa forma, foi ironico que logo esses dois times chegassem à Final. Não só eles representavam duas mentalidades de basquete totalmente opostas, como também eram opostos em mais um monte de coisa. Eu falei, nas Finais de Conferência, que os times velhos que polarizaram a NBA recentemente (Lakers, Spurs e Celtics) estavam perdendo espaço para times jovens como Heat, Bulls e Thunder. A excessão era, justamente, o Dallas Mavericks, time veteraníssimo. E claro, não vamos esquecer que foi esse mesmo Miami Heat liderado por esse mesmo Dwyane Wade quem destruiu o sonho do Mavs seis anos atrás, quando mesmo ganhando por 15 pontos no jogo 3 em Miami e com a série 2-0 em seu favor viu o Wade sozinho virar para 2-4 as Finais e levantar o troféu com ajuda do Shaq. Se vocês não acreditam em Destino, ver logo esses dois times chegarem nas Finais - a revanche de 2006, o último representante vivo da velha geração contra os dois melhores jogadores da nova (atualmente), um time baseado no individual outro no coletivo, um time montado com base no talento outro com base no time, a possível última chance de jogadores como Nowitzki e Jason Kidd ganharem um título contra a primeira chance do Big Three do Heat - talvez faça algumas pessoas mudarem de ideia. Não podia ser mais simbólico.

O que torna a vitória do Dallas tão interessante. Talvez a velha guarda esteja indo embora levando com ela o estilo antigo de se vencer e de se montar um campeão, como fez o Mavericks. Talvez na nova geração a moda seja times como o Heat ou o Knicks (E estamos no aguardo ainda de Deron, Chris Paul e Dwight Howard fazerem seus movimentos) que são montados se pegando um monte de grandes estrelas em seu auge e colocando juntas cercadas por um banco de restolhos que não devem atrapalhar. O Bulls é um time que escapa um pouco a isso, talvez um motivo de eu ter torcido tanto pra eles. Mas nessas Finais, nesse momento, vimos esse time cheio de jogadores com famas de amarelões, jogadores que supostamente não seriam vencedores - em resumo, jogadores sem um anel - ganhar, com base na força do seu grupo, sobre o time mais baladado dos últimos anos, sobre as grandes estrelas da NBA. E sim, eu sei, eu falo que nem velho.

E olhando a série agora, nós podemos dizer que o Mavericks jogou melhor que o Heat tirando, digamos, os dois últimos jogos? Pra mim não. Mas pra mim, o único jogo que o Heat dominou foi o jogo 1, quando Wade e Lebron dominaram o Mavs no segundo tempo, conseguiram impor seu jogo e fizeram todos acreditarem que eles iriam levar essa com facilidade. No jogo 2, apesar do Heat ainda ter jogado melhor a maior parte do jogo, a dominação foi menor porque, no final do jogo, o Mavs usou sua grande estrela para mudar o panorama da partida, ganhar o jogo sozinha e empatar a série. E se o Dirk quase fez o mesmo no jogo 3 - outro jogo onde o Heat jogou melhor, mas não dominou - nos últimos três jogos o Mavs sobrou. E sobrou porque, finalmente, apareceu o jogo do Mavs. Nos três primeiros jogos, o duelo foi entre as estrelas, como eu disse nesse post sobre o jogo 3. Sim, o Nowitzki ganhou um deles sozinho, mas se ele as Finais continuassem se resumindo a disputas entre estrelas, o Dallas não tinha a menor chance, nenhum time da Liga tem. E foi aí que o Dallas percebeu isso e voltou a jogar seu basquete, um basquete coletivo cheio de bolas de três, que ganhou os jogos 4 e 5. E isso a gente notou de uma forma absurda principalmente no jogo 6, que pra mim foi o símbolo dessa série.

No jogo seis, o Dirk Nowitzki estava mal. Muito mal. Ele acertou apenas um de 12 arremessos no primeiro tempo e só foi para o banco com três pontos porque o Mario Chalmers foi uma besta de cometer uma falta técnica desnecessária. Ele não fugiu do jogo, não desistiu de arremessar, continuou jogando seu jogo, mas ele estava descalibrado. A bola batia dentro e saia, o aro atrapalhava, qualquer coisa que fosse, mas ele não acertaria nem pra salvar a vida no primeiro tempo. E mesmo assim, o Dallas foi pro intervalo ganhando! Sim, foi porque o Jason Terry teve uma noite transcendental, mas isso não conta toda a história. O DeShawn Stevenson acertou duas bolas lindas de três. O Tyson Chandler fez o que quis no garrafão. O JJ Barea continuou forçando e acertando todo tipo de arremesso. Que diabos, até o Ian Manhimi e o Brian Cardinal foram úteis para o Mavs! Quando os coadjuvantes estavam mal, o Dirk levou o time nas costas. Quando o Dirk estava mal, o time todo ajudou o alemão, e ele sabia que estavam lhe dando cobertura, por isso continuou arremessando e errando até entrar num ritmo assassino no quarto período. Isso é jogo em equipe. Um jogador pode estar mal, mas o resto do time dava apoio e contornava o problema, fosse o JJ Barea ou o Nowitzki. E no final do jogo 6 - como em todos os jogos - quem colocou a bola embaixo do braço e fez cesta atrás de cesta sem ligar pra coisas mundanas como as leis da física foi o alemão, mesmo tendo tido um jogo péssimo no primeiro tempo, foram mais 10 pontos decisivos para o Dallas nos quartos períodos - ele teve 62 somando os seis quartos periodos da série. E o Heat nunca conseguiu superar os problemas que o Lebron teve nos últimos cinco jogos das Finais. A responsabilidade caiu demais no Wade, que sabia que não tinha ninguém pra lhe dar cobertura. Quando o Wade se machucou no jogo 5 e o Lebron não assumiu a responsabilidade dentro de quadra, o time se perdeu. O time não conseguiu achar uma forma de dividir a responsabilidade, como o Mavs tanto fez. O Mavs mostrou que não se ganha um título com três, e sim com 10!

Não acredita? Então conte comigo. Dirk Nowitzki, MVP da Finais, MVP dos playoffs, o jogador mais imparável da pós temporada. Jason Kidd, que não é o mesmo armador de antes mas que manteve sua inteligência em quadra e ainda adicionou um arremesso de três pontos certeiro, e fez cestas de três quando seu time mais precisou - foi uma no jogo quatro, uma no cinco e duas no seis. Jason Terry, que foi o principal coadjuvante do alemão, e quando ele começou a aparecer pro jogo o Dallas começou a ganhar, foi fundamental para manter o time no jogo quando o alemão esteve fora de ritmo e ainda acertou bolas de três decisivas em toda a série. Shawn Marion, que fez um trabalho defensivo absurdo no Lebron James e ainda foi o terceiro melhor jogador ofensivo do time. Tyson Chandler, um monstro na defesa, que foi o responsável por dominar o garrafão (Fator importantíssimo para a série) e manter o Heat longe do aro e dos rebotes. JJ Barea, o anão branco vindo do banco que jogou mal os quatro primeiros jogos pra depois chutar a bunda do Heat nos dois últimos com infiltrações malucas e bolas de três forçadas. DeShawn Stevenson, que acertou bolas de três importantes nas últimas vitórias da equipe. E sim, Brian Cardinal - que foi responsável por um dos momentos decisivos do último jogo, quando desmontou a defesa do Heat (!!!) partindo pra cima antes de achar o Dirk livre no perímetro pra três e depois antecipando a bandeja do Wade (!!!!!!!!!) e cavando uma falta de ataque, duas jogadas que tiraram de vez o Heat do jogo. Até o Peja Stojakovic - que não foi bem nas Finais mas que foi importantíssimo pra vencer Lakers e Thunder - e o Brandon Haywood (Machucado nas Finais) tiveram um papel fundamental ao longo dos playoffs. Contou? Foram 10. Claro que nem todos foram essenciais para o título, mas todos tiveram seu papel e todos contribuiam. O Heat no máximo pode falar, além do seu Big Three, de Mario Chalmers e Haslem. Cinco.

E mais um personagem que merece muitos créditos aqui é o Rick Carlisle. Ele foi responsável direto pela vitória do Mavs na série. Ele fez todos os ajustes importantes nas horas certas pra fazer seu time vencer, como por exemplo deixar a zona de lado após o jogo 1 e reservá-la pra confudir o Heat em momentos chave da partida, colocar o JJ Barea de titular pra deixar o DeShawn Stevenson vindo do banco pra marcar o Lebron na ausência do Marion e colocar uma pulga branca de titular pra confudir a defesa de Miami, as mudanças nas jogadas ofensivas pra furar a marcação ninja de Miami nos pick and rolls, afundar o Peja Stojakovic no banco pra dar mais minutos ao Brian Cardinal... Ele fez tudo certinho, manejou o time com perfeição, leu o Heat como ninguém tinha lido até aqui e foi infinitamente melhor que o Eric Spolestra.

O Spolestra fez ajustes sensacionais contra o Bulls e explorou muito bem as fraquezas do adversário (as más linguas dizem que quem mandou ele fazer tudo isso foi o Pat Riley) mas ficou completamente perdido nas Finais. Aliás, chega a ser engraçado como as coisas deram errado pra ele. Ele notou o problema do coletivo do Miami e implementou o ano todo um sistema ofensivo coletivo, que envolvia todos os jogadores e diminuia as jogadas individuais. Mas foi exatamente isso que tirou a bola das mãos do quentíssimo Wade no jogo 2 e tentou envolver Bosh e Haslem quando o Mavs estava voltando a apertar no placar, o que deu muito errado, o time não conseguiu pontuar e quando o Wade pode finalmente receber a bola já tinha esfriado. Ele também mandou o Lebron fazer mais o papel de facilitador do que de pontuador para achar o buracos na zona do Mavs, o que ele aliás fez bem, mas quando o Mavs se acostumou e se adaptou a isso, o Heat não conseguiu se adaptar mais. O time não conseguiu defender as variações ofensivas criadas pelo Carlisle e nem achar uma forma eficiente de pontuar no quarto período, muito em parte pela passividade do Lebron também. E por fim, um técnico que tenta implementar um jogo coletivo não pode chegar até a Final sem ter uma rotação e um plano de jogo definido. O Mike Bibby jogou 20 minutos por jogo nos cinco primeiros e não entrou em quadra no último. O Eddie House jogou 15 minutos em TODOS os jogos desses playoffs combinados até o jogo 6, quando jogou 21. Se você na Final não tem uma rotação, sinto muito, mas você vacilou.

E não da pra falar disso sem falar de Wade e Lebron, até porque essa conversa toda começou com o The Decision. A postura do Lebron James nos últimos cinco jogos das Finais foi um grande enigma pra muitos. Muita gente vai chamar ele de amarelão, muita gente vai falar que ele não gosta de jogos decisivos, mas pra mim não é o caso. Ele já provou pra gente muitas vezes que sabe decidir quando precisa - Contra o Pistons em 2007, contra o Magic em 2009, contra o Celtics e o Bulls esse ano mesmo. Só porque ele foi mal em UMA série decisiva (A de 2010 não conta, ele tava claramente jogando esperando a hora de ir embora) não quer dizer que ele não consiga jogá-las. Aliás, é engraçado como o fenômeno de mídia que é o Lebron cria uma faca de dois gumes. Existiam tantos haters, tantas críticas ao Lebron sem fundamento que não mereciam atenção (ao mesmo de outras que eram justificadas, claro) que agora que ele realmente jogou mal e vacilou num momento importante a gente não pode críticar sem ouvir gente falando que é ódio contra o Lebron. Pra mim, ele realmente foi mal, merece as críticas que vai ouvir, mas a gente tem que saber diferenciar uma coisa: Não foi o Lebron que perdeu a Final. Foi o Miami Heat. Um indivíduo não ganha sozinho nem perde sozinho. Wade, Bosh e todo mundo lá também perdeu a Final pra um conjunto que foi superior.

Dito isso, eu acho que o Lebron foi mal sim. Não por ter armado mais e pontuado menos, ele prefere assim e diga-se de passagem é excelente armando o jogo, mas por não ter conseguido sair disso. Ele começou assim pra destruir a defesa por zona do Mavs no jogo 1, depois assumiu esse papel nos outros jogos, mas não fez mais nada. E quando você só tem três jogadores no elenco que sabem criar o próprio arremesso e o Chris Bosh é bem mal aproveitado, é de se esperar que o Lebron seja mais agressivo. O Heat chegou até aqui por era impossível marcar Wade e Lebron indo pra cima e infiltrando. Mas quando o Heat precisou das infiltrações e do pontos do Lebron, ele simplesmente foi passivo, preferiu passar a bola de lado - e muitas vezes isso não envolvia criar uma situação de assistência, simplesment pegar a bola e soltar. Revejam o terceiro período do jogo 6 e vocês verão uma hora em que duas vezes o Lebron ficou com medo de jogar de costas em cima do JJ Barea, preferindo primeiro voltar a jogada até o meio da quadra com o Wade e depois dar um empurrão grotesco pra uma falta de ataque. Ele muitas vezes pareceu desconfortável em quadra e até sem confiança. Não foi o Lebron que usa seu físico e controle de bola de outro mundo pra infiltrar, desmontar todas as defesas do universo e conseguir pontos fáceis em bandejas, enterradas ou lances livres, foi um Lebron que parecia com medo de pisar no garrafão, que preferiu insistir nos arremessos longos que não caíram a série toda. E, claro, sumiu completamente dos quartos períodos. Muitas vezes nem fazia o papel da armação, parecia que ele só queria sair de cena e ficar longe da ação, pegando a bola e tocando rápido quando acontecia e evitando chamar o jogo. Desculpa Lebron, mas se você é tão bom (e ele é!) você não pode ficar se escondendo atrás do Wade o tempo todo e esperar que o Haslem apareça pra aliviar a carga do camisa 3. O Heat chegou até aqui porque vocês dois eram espetaculares, porque agora você preferiu ficar na sua e deixar tudo nas mãos dele?

Não sei o que aconteceu em Miami. O Wade era o líder do time, era a sua mentalidade competitiva que o time assumiu ao longo da temporada, mas dentro de quadra o Lebron era o jogador consistente. O Wade estava jogando mais fora da bola (Orientação do Spolestra) pra variar o repertório ofensivo do time e o Lebron era o centro das ações de ataque de Miami, seja criando ou finalizando. O Wade era decisivo pro Heat - sempre foi, mais que o Lebron - mas o Lebron sempre esteve lá, pra combinarem seus jogos e fazerem um ao outro melhor. Mas o Wade, principalmente durante os quartos períodos, teve que carregar o time nas costas. Pontuar sozinho, armar todas as bolas, porque ninguém mais no time fazia isso - o que não teria grandes problemas se um cara que foi duas vezes MVP não estivesse do outro lado da quadra. O Wade jogou seu melhor jogo na Final, apareceu e jogou muito basquete, e o Lebron se escondeu durante boa parte. Não falemos que o Lebron é amarelão - ele não é - mas não tenhamos medo de falar que sim, ele jogou mal, foi passivo demais e não é a toa que o Wade se enfezou com ele e deu uma tremenda bronca no companheiro no final do jogo três.

No final, o Mavs finalmente foi campeão e Terry, Kidd, Marion e Dirk finalmente conseguiram o anel que mereciam há anos. Finalmente podem se livrar daquelas idiotices de que quem não foi campeão tem menos valor do que alguém que foi. E agora o Kidd pode se aposentar em paz e o Dirk pode finalmente relaxar sabendo que seu nome está entre os maiores de todos os tempos. O Dallas vai querer mais, claro, mas não sabemos se o time velho vai conseguir. E não tem problema, eles fizeram a história aqui.

Para o Heat, ao contrário, a história está só começando. Se não houver (ou estiver tendo) um conflito de egos dentro do time, esse Big Three deve durar mais quatro ou cinco anos. É tempo de sobra pra ganhar títulos, fazer história e dominar a Liga. O time deve aproveitar agora a offseason pra trazer jogadores pra melhorar o elenco de apoio, um bom pivô, renovar com o Chalmers e tudo mais. O Heat - e o Lebron - tem agora a sua chance de crescer, de aprenderem com os erros, de reconhecerem as próprias falhas e evoluirem juntos. Eles provavelmente vão voltar mais fortes ano que vem e eventualmente podem sair campeões. Mas eu confesso que, pelo Dirk, pelo Mavs e por tudo que eu acredito no basquete, eu fiquei feliz que esse título do Heat não tenha saído de primeira. Talvez de segunda...

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Apenas sobre o Dallas Mavericks

Os três jogadores que mais mereciam esse título


Quem entrar nesse blog, amanhã a tarde, vai encontrar um texto longo e analitico sobre o jogo seis das Finais, a série como um todo, os dois times envolvidos e até sobre tudo que aconteceu na temporada regular. Quem acompanha o blog a mais tempo sabe que os posts analíticos são a minha especialidade e o que eu mais gosto de fazer. Mas hoje é o primeiro dia após o título. Não é dia de pensar, e sim de comemorar ou de chorar (dependendo do seu time). E até porque eu infelizmente estou sem tempo e não vou conseguir fazer um post como gostaria hoje, aqui fica apenas um espaço pra comentar mais sobre esse título, o primeiro da carreira do Dallas Mavericks. Amanhã a gente volta a falar de tática, da temporada regular, do Miami Heat. Amahã a gente vai falar sobre os erros e acertos do Rick Carlisle, do Eric Spolestra, e claro, do Lebron James. Mas hoje a gente vai deixar a razão um pouco de lado. Hoje é apenas sobre o Dallas Mavericks.

Porque esse título foi saboroso. Saboro demais para o Dallas Mavericks. O Mavs começou muito bem o ano e tudo mais, mas desde a lesão do Caron Butler, o time oscilou muito entre um grande time e um time capenga, apenas esperando a hora de cair. O Dirk Nowitzki levou o time nas costas durante grande parte da temporada regular, compensou totalmente a falta de outros pontuadores no time (Tirando o Jason Terry, os únicos dois outros jogadores do time que realmente sabiam criar o próprio arremesso passaram o ano machucados, Butler e Roddy Beaubois) mas muita gente - e eu estava entre eles - achou que o time não ia longe assim nos playoffs. Eu apostei no Blazers passando por eles. Nuggets e Hornets estavam rezando para caírem contra o Mavs na primeira rodada dos playoffs. A aposta de muita gente pra zebra da primeira rodada era justamente a derrota do Mavs contra qualquer adversário que fosse.

Mas o Mavs passou pelo Blazers com relativa facilidade -  não fosse um jogo inspirado e um histórico de um cara sem cartilagem nos joelhos, Brandon Roy, teria sido uma varrida - e enfrentou os temidos Lakers, um time que essencialmente é o mesmo que foi bicampeão e que vinha de duas vitórias embaladas sobre o Hornets. E todo mundo pensou: Como eles podem sobreviver a essa? Mas Dallas foi superior do começo ao fim, impôs seu jogo, não deixou o Lakers confortável e viu o Dirk comer com farinha quem estivesse pela frente. Nas Finais, o Dallas não era mais o azarão depois do que tinha feito, mesmo contra o time sensação da 'Nova Geração', o Thunder, que em nenhum momento foi realmente páreo pro Mavs. Sim, dominou alguns jogos, sim, foi melhor em algumas partidas, mas o Dallas teve a resposta pra tudo que o Thunder fez, e o Thuder não. E na Final, contra um time com Dwyane Wade, Lebron James e Chris Bosh, o Mavs não era e nunca foi o favorito. O Heat tinha os melhores talentos, mas na hora de decidir, quem tinha o melhor coletivo era o Mavs. Foi o jogo de equipe do Mavs, com todo mundo se matando para conseguir o título que Dirk e Jason Kidd tanto mereciam, pra se vingar do algoz do Mavs em 2006, que superou o talento de Lebron e Wade. Nowitzki levou os seus companheiros nas costas quando eles não apareceram. E quando o alemão esteve mal, Jason Terry, JJ Barea e tantos outros apareceram pra ajudar o seu craque. Um time, em todos os sentidos da palavra.

E claro que não da pra falar desse título sem falar do Nowitzki. Ele é ja faz algum tempo um dos maiores jogadores da história da NBA, mas sempre era acompanhado pelo fardo de não ter um título. Pela fama de amarelar nas decisões, um rótulo injusto que ele carregava desde as Finais de 2006, quando seu Mavs estava ganhando de 2-0 e com uma boa vantagem no final do jogo 3, só pra ver o Wade virar o jogo e a série, incapazes de reagir. E não ajudado pela traumática eliminação em 2007, quando eram disparado o melhor time, para a 8th seed daquele ano, o Golden State Warriors, e pelos fiascos nos playoffs nos anos seguintes. Ninguém ligava se, em 2009, ele foi o único jogador do time que jogou bem na eliminação para o Nuggets. Que ele sozinho tenha duelado pau a pau com Carmelo Anthony, Chauncey Billups, Nenê e companhia e ainda tenha conseguido ganhar um jogo e levar tantos outros pros momentos finais. Ninguém ligava que, quando o Spurs surpreendeu todo mundo ao eliminar Dallas ano passado, foi apesar do Nowitzki continuar colocando a bola na cesta e fazendo 30 pontos por dia esperando alguém aparecer pra ajudar. Ele era sempre chamado das mesmas coisas: amarelão, soft, etc.

E nesses playoffs ele calou a boca de todo mundo dentro de quadra. Ele foi o jogador mais imparável, mais dominante e também o melhor jogador durante todos os playoffs. Ele desmontou a defesa do Lakers, abriu espaços, fez as cestas importantes e comeu o Pau Gasol com farinha. Ele teve uma das séries mais fantásticas de todos os tempos contra o Thunder, quando apesar de uma marcação sensacional do Nick Collison e de ter pelo menos umas cinco faltas por jogo não marcadas naquela marcação insana do Collison ele foi totalmente dominante, levou o time nas costas quando precisou, dominou o final dos jogos e continuou mostrando que ninguém na Liga era capaz de pará-lo. E nas Finais, bom, eu só posso dizer que seus 62 pontos nos seis quartos períodos que a série teve são mais pontos do que Wade e Lebron tiveram juntos nesses quartos períodos. Ele levou o Dallas nas costas três jogos, ganhando um praticamente sozinho, enquanto esperava seus colegas. Quando eles chegaram pra jogar, o Dirk fez seu papel de jogador de equipe, de passar a bola, atrair a marcação e pontuar quando necessário. Foram bolas de três, bolas de dois, lances livres, e duas coisas que vão passar desapercebidas por muitos, mas rebotes e defesa. Seus rebotes foram fundamentais pra evitar que o Heat dominasse os rebotes ofensivos. E mais do que isso, ele foi o cara dominante nos quartos períodos. Quando o time precisou de uma cesta, ele tava lá. Quando o time precisou de um passe pra achar o Terry livre, ele tava lá. E mesmo quando o time estava jogando bem e ele não, foi nas mãos dele que o time confiou as bolas importantes, e ele acertou todas, uma atrás da outra. Ele superou Kobe Bryant, Wade, Kevin Durant, Lebron e qualquer outro jogador que tenha cruzado o caminho do Dallas nessas Finais. O seu time teve méritos sem a menor dúvida, fizeram grandes jogos pra fechar a série, mas o Dallas não teria sido campeão nunca sem seu alemão, e talvez não tivesse sido campeão com qualquer outro jogador da NBA no lugar dele.

Por fim, o Dallas pode enterrar seus fantasmas da Final de 2006. Dirk e Terry, os únicos que sobraram daquele time (Sem falar no Mark Cuban, que parou de dar suas declarações polêmicas, apoiou o time sem causar problemas e que teve uma demonstração surpreendente de classe ao dar ao primeiro dono do Mavs o troféu para ser levantado), foram os líderes do time em quadra que derrotou o mesmo Miami Heat, mas muito mais badalado, muito mais cheio de estrelas e, sinceramente, muito mais arrogante. Apagaram de vez a fama de amarelões e agora, depois de uma longa espera, são merecidamente campeões.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

A questão Lebron James

Ele podia fazer 30-10-10 que, se o Miami Heat perdesse, ainda iam botar a culpa nele


Quando um jogador joga mal, é normal que ele receba críticas. E no mundo de hoje, vários jogadores recebem muito mais atenção quando erram - e portanto, muito mais críticas - do que de costume, que é o caso de grande parte das superestrelas da Liga. Toda superestrela tem seus odiadores, os famosos haters, que vão reclamar de alguma coisa sempre: O Lebron James é um amarelão, o Dirk Nowitzki também, o Dwyane Wade só é tão bom porque a arbitragem marca falta por qualquer coisa nele, o Kobe Bryant é fominha demais até no All Star Game, o Kevin Durant não é decisivo, etc e tal. Infelizmente isso hoje em dia se tornou normal, e a gente vê uma necessidade crescente de fazer algumas pessoas piores pra enaltecer outras. Um exemplo que não tem muito a ver com basquete mas que ilustra bem foi quando o Rogério Ceni fez seu 100º gol contra o Corinthians e eu e alguns outros sãopaulinos estavamos comemorando numa comunidade do Orkut até que chegou alguém e disse "Mas o Marcos era melhor goleiro que ele". Tudo bem, o Marcos podia ser ou não ser, mas o que tem a ver uma coisa com a outra? Estavamos comemorando um feito e alguém tenta diminuir o jogador por uma comparação idiota dessas. É essa eterna necessidade que temos de diminuir os jogadores dos quais não gostamos pra fazer os que gostamos parecerem melhor.

Não que o Lebron James, provavelmente o jogador mais odiado da atualidade, seja um santo. Ele era em Cleveland muitas vezes arrogante, jogava bem demais pra todo mundo gostar dele e sempre houve em torno dele uma aura de exagero, aquela história de "King" James e "O Escolhido". Não foi uma criação dele, o mundo ao redor dele desde pequeno sempre gravitou pro quão bom ele era, desde o colegial - ele chegou a ter jogos do seu time transmitidos em rede nacional apenas por causa dele, por exemplo, e foi capa da revista Sports Illustrated, uma das mais importantes dos EUA no mundo esportivo, aos 17 anos com o título "O Escolhido". Não foi uma criação dele, mas ele viveu nesse mundo desde pequeno, pra ele é uma coisa quase natural, ele abraçou esse tipo de coisa porque pra ele não era nada além do mundo como ele conhecia. Mas o que realmente acabou de vez com sua popularidade ao redor da Liga foi sim culpa dele. Foi o "The Decision", o especial de uma hora sobre ele mesmo que passou na ESPN quando ele anunciou sua decisão de "levar seus talentos a South Beach". Foi um ato totalmente insensível para com seu antigo time, o Cavaliers, e também de um egocentrismo desmedido, e aí novamente a gente cai nessa história de que ele não criou, apenas abraçou, esse mundo. Além disso, muita gente - e ai eu me declaro culpado também - não gostou do fato dele ter tomado o chamado "caminho fácil" para um título, simplesmente saindo do seu time anterior e indo para um time já cheio de estrelas onde seria fácil.

Dito tudo isso, não é estranho que o Lebron receba muitas críticas pelo seu time estar atrás na série 3-2 precisando ganhar os dois últimos jogos pra levar o troféu Larry O'Brian pra South Beach. Mas mesmo sabendo que existe uma grande parcela de ódio simplesmente por ser o Lebron James, a gente não pode negar um simples fato: Ele não está jogando bem nessas Finais.

Sobre o jogo 4 eu já falei, está no post logo abaixo. Eu disse nele que o Lebron não tinha só jogado mal, ele tinha sido totalmente passivo no jogo, desaparecendo por muito tempo ao longo da partida, passando a bola assim que tocava nela ao invés de bater pra dentro ou então criar uma situação de assistência. Não que ele não tenha feito isso, ele fez, mas fez muito menos do que a gente ta acostumado. Ele chutou apenas quatro lances livres -errou dois - e preferiu ficar chutando de longe a infiltrar. Ele parecia desinteressado, deixando o Wade e o Chris Bosh levarem o time nas costas. Mas no jogo 5, ele não jogou mal. Pelo contrário, jogou bem. Pegou muitos rebotes - embora curiosamente tenha parado de se interessar por eles quando chegou a dez -, armou muito bem o jogo, achou seus companheiros livres para cestas e fez seus pontos. Claro, não foi a grande performance que todos nós sabemos que ele é capaz de fazer, mas foi um bom jogo, bem completo, pra responder à sua fraca performance no jogo 4. Mas o jogo dele ainda tem um problema grande nessas Finais. Mas, vamos com calma e vamos ver o jogo como um todo antes de chegar nos pontos importantes.

O Heat, além dos fracos jogos do Lebron antes do jogo 5, ganhou mais um problema grave logo no começo da partida pra desespero dos torcedores: Depois de uma trombada normal com o Brian Cardinal, o Wade aparentemente caiu de mau jeito no chão e teve que sair de quadra machucado. O Wade, que tinha sido o grande catalizador do time nas Finais, quem estava levando o time nas costas durante a maior parte dos jogos, chamando a responsabilidade e sendo de longe o jogador mais importante da equipe estava indo pro vestiário claramente com dificuldades e o Dallas estava fazendo um bom jogo coletivo, alguém ia ter que aparecer pro jogo. E por incrível que pareça, não foi o Lebron (que jogou muito melhor no terceiro quarto) nem o Chris Bosh, apesar de ter tido um bom jogo também. No resto do primeiro tempo, quem chamou a responsabilidade foi o armador reserva, Mario Chalmers. Desde o meio da temporada eu defendo que o Chalmers deveria ser o armador titular dessa bagaça, porque ele arremessa decentemente de três, não precisa da bola na mão o tempo todo mas sabe armar quando necessário e ainda é um bom defensor, ele é perfeito pro time do Heat, mas por alguma razão transcendental o Eric Spolestra prefere o Carlos Arroyo e o Mike Bibby.

Tudo bem, quando o Wade saiu, a gente sabia que ele ia voltar mesmo sem uma perna, se necessário. Mas pro Heat não deixar o Mavs abrir o placar, o Chalmers teve que acertar suas bolas ninjas de três e usar sua boa defesa para atrapalhar o Mavs. Foi a hora do elenco de apoio do Heat aparecer e o Chalmers respondeu o chamado, auxiliado é claro por um bom jogo do Bosh e um jogo bom-mas-não-no-nível-dele do Lebron.

O grande problema do Heat, no entanto, foi que os coadjuvantes do Dallas - ou seja, todo mundo além do Nowitzki - também apareceram muito bem nessa partida. Eu bati na tecla aqui de que o Nowitzki podia fazer chover em quadra, como tava fazendo aliás, mas que não ia ganhar tudo sozinho, ele precisava que seus companheiros aparecessem, de nada ia adiantar o Dirk duelar com o Wade naquele nível épico se o resto do time fosse dominado pelo Heat. No jogo 4 isso aconteceu em menor nível, e ontem aconteceu em maior nível: Foram quatro jogadores do Dallas além do Dirk que pontuaram em dois dígitos, e mais o Shawn Marion, que teve oito pontos. E mais importante do que isso, o grande trunfo do Dallas nas outras séries, a bola longa, voltou a aparecer. O JJ Barea, que vinha tendo uma série muito ruim, acertou quatro bolas de três pontos e terminou o jogo com 17 pontos. O Jason Terry, mesmo ainda precisando de um cérebro as vezes, teve 21 pontos e 6 assistências, inclusive uma das mais importantes do jogo pro Jason Kidd. E o Tyson Chandler está merecendo uma estátua (menor que a do Dirk, claro) em Dallas, porque ele está jogando demais nessas Finais. Está batalhando dentro do garrafão, pegando rebotes e pontuando bem contra o garrafão fraco do Heat, sem falar na velocidade lateral de outro mundo que ele tem e que ajuda demais na defesa. E quando você tem os coadjuvantes do Mavs jogando tão bem e o Nowitzki fazendo 29 pontos, eu sinto muito, mas você não vai ganhar.

O fator decisivo aqui, mais uma vez, foram as bolas longas. O Barea continuou forçando bolas longas (e até perto da cesta) como fez durante toda a série, mas dessa vez elas caíram. Eu sempre digo que as bolas forçadas de longe podem cair ou não. Se não caem, são posses de bola disperdiçadas e o jogador é um idiota. Se caem, o jogador é um gênio e elas ganham jogos. O Barea e o Terry continuaram forçando bolas desnecessárias pra três, e elas continuaram caindo. Foram 13 acertos em 19 tentativas pro Mavs de trás do arco, que fizeram toda a diferença no final da partida. Elas não tinham caído até aqui, mas quando caíram, resolveram o jogo.

Mas o Heat conseguiu se manter no jogo graças à boa atuação do Lebron no terceiro quarto e a volta do Wade, que combinou com o Lebron pra dar assistências pra todo mundo, e mesmo machucado, estourado e sentindo dor o Wade continuou atacando a cesta, pontuando para o Heat, desafogando o time e abrindo espaço pra ele e o Lebron acionarem todo mundo perto da cesta. Mesmo quando o Spolestra inexplicavelmente afundou o Chalmers no banco - eu confesso que não entendi, ele tava jogando bem - o time continuou no quarto período, o Lebron deu quatro assistências - todas pra bandejas ou enterradas - no período e o Wade não só deu umas três ou quatro assistências também como continuou pontuando de todas as formas. Mas o Wade claramente estava incomodado pela lesão, não estava conseguindo ser tão veloz como de costume, e o Heat precisou que alguém pudesse chamar a responsabilidade pra si no quarto período.

 E não tem NADA - repito, NADA - errado em querer distribuir a bola e envolver seus companheiros como o James fez durante boa parte do jogo. A questão é saber quando essa é a melhor solução e quando o time está precisando que você tente pontuar. O Lebron fez um ótimo trabalho no começo do quarto distribuindo e dando assistências, mas quando o time precisou de alguém pra pontuar de forma fácil, infiltrar e cavar faltas, mais uma vez ele foi omisso e, pior, teve uma leitura errada do jogo. Durante todas as Finais, as bolas longas do James não estão caindo. Mas mesmo assim, na hora que seu time precisava urgentemente dos seus pontos, ele preferiu chutar de meia e longa distância ao invés de bater pra cima pra conseguir uma bandeja ou cavar uma falta, arremessos com aproveitamente muito melhor que bolas longas de um arremessador apenas mediano de três. E mais uma vez ele falhou ao assumir o papel de decidir a partida, teve apenas dois pontos no quarto período. Analisando as últimas posses de bola do Heat, vamos que, depois de uma bola de três do Wade que colocou o Heat quatro pontos na frente, o Bosh cometeu um turnover, depois errou um lance livre na posse seguinte. O Lebron James tentou um arremesso idiota de meia distância errado, depois cometeu uma falta de ataque no Chandler (Dificílima para a arbitragem, mas por uma fração de segundos foi a chamada correta) e na posse de bola seguinte ele tentou um chute desnecessário e forçado para três que - surpresa - não entrou. Ou seja, foram três posses de bola seguidas disperdiçadas pelo Lebron, o turnover ele não teve culpa (foi muito mais mérito do Chandler que outra coisa) mas ao escolher seus dois arremessos ele teve sim sua dose de culpa. O arremesso dele não estava caindo e mesmo assim ele preferiu ficar com ele.

E do outro lado, o Mavs continuou acertando. O Dirk acertou dois lances livres, depois achou um Jason Terry livre pra empatar. Depois, a jogada da partida, a meu ver. Terry, na cabeça do garrafão, sendo marcado por Lebron. Terry deu um belo drible e deixou Lebron pra trás, caminhando em direção ao garrafão. Quando o garrafão fechou, ele deu um lindo passe para trás (Aliás, quem adora dar esses passes é o próprio Lebron) pra achar o Jason Kidd, livre, na linha de três pra colocar o Dallas cinco pontos na frente. E sim, o Terry tem seu mérito mas o Lebron também deixou o Terry passar fácil demais e não tentou rodar pra cobrir o Kidd. E depois que o Lebron, do outro lado, fez seu único ponto no quarto período, o Jason Terry acertou uma bola de três longa, forçada, pra matar de vez o jogo. Foi o ponto final da partida e decretou a vitória do Mavs.

E claro que ainda não tem nada garantido. O Heat joga dois jogos em casa agora, onde é muito forte e só perdeu um jogo nos playoffs, que foi pra esse mesmo Dallas com uma grande performance do Dirk Nowitzki no quarto período, precisando ganhar as duas partidas pra fechar as Finais. Não é fácil, o momento da série é do Dallas e sempre é difícil ganhar de um time que está entrosado e focado com defesa forte como o Mavs, e além disso fica a incógnita de como vai estar o Dwyane Wade. Pra ganhar o Heat vai ter que se esforçar pra tirar os coadjuvantes de Dallas do jogo - nos dois jogos que o Heat venceu, o Terry não pontuou no quarto período, e nos outros três ele foi decisivo com bolas longas, médias ou lances livres - e vai ter que dar o suporte que o Wade precisar.

E, claro, o Lebron vai ter que jogar o que sabe. Tirando o jogo quatro, ele não teve necessariamente jogos ruins nessas Finais. Mas também não teve grandes jogos. Foram bons jogos, úteis, mas muito abaixo do que ele pode fazer. Ele joga demais, é um dos melhores jogadores do mundo, mas ele parece meio disperso as vezes. E a meu ver os grandes problemas dele são a má escolha de arremessos - exagerando nas bolas longas forçadas ao invés de infiltrar e cavar as faltas como ele sempre faz - e a passividade nos quartos períodos. Ele tem apenas 11 pontos nos cinco quarto períodos que tivemos até aqui, enquanto o amarelão do Dirk Nowitzki tem 52 (mas aposto que foram todos pura sorte). O Lebron sabe que pode fazer melhor, ele fez isso a carreira toda. Atacar a cesta, cavar falta e desmontar o sistema defensivo do adversário, ao invés de ficar arremessando de longe todas as bolas no final do jogo, é um bom começo.

E tem outra coisa. O Lebron sabe que ele está devendo uma grande atuação nessas Finais. Não pros críticos, não pra blogueiros chatos que nem eu que ficam pegando no pé dele. Ele deve uma atuação dessas pra Miami e, principalmente, pro Dwyane Wade. O Wade sempre foi um jogador carismático, simpático e muito, muito bom. Sempre ficou à sombra do Lebron porque seu time era uma desgraça e porque o Lebron tinha muito mais atenção da mídia, mas sempre foi um grande jogador. Ainda assim, nunca teve a dose de ódio que o Lebron teve na carreira. E quando o Lebron foi pra Miami, ele levou muitas coisas que o Wade nunca tinha experimentado na carreira: ódio de 90% da Liga, hostilidade quando ia jogar fora de casa, uma atenção da mídia e do mundo pronta pra meter o pau em cada problema do time. O Wade nunca tinha passado por isso até o Lebron chegar, e mesmo assim o Wade sempre apoiou o Lebron, sempre esteve com ele nas entrevistas e, nessas Finais, está levando o time nas costas quando o amigo não está conseguindo encontrar seu jogo. Mas, além do Wade estar levando o time nas costas praticamente sozinho nesses playoffs nos momentos importantes, agora o ala-armador está machucado e ninguém sabe em que condições ele vai entrar no jogo seis. Ele vai jogar, é claro, e provavelmente vai jogar bem, mas não sabemos se ele vai ter condições de carregar o time como fez até aqui. E principalmente para ele, o Lebron está devendo uma performance dominante nesses playoffs. E não tem melhor hora para ela vir do que em casa, precisando de uma vitória pra se manter vivo na série.

Ah sim, e ajudaria a situação do time e dele mesmo se ele evitasse provocar o Dirk Nowitzki antes do jogo quando tem uma câmera filmando...

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Uma imprevisível série previsível


Deal with it

Em uma série em que até aqui as defesas tem prevalecido, onde dois times muito parelhos tem disputado a liderança em sequências boas e ruins de ambos os times, onde cada ajuste após cada jogo é crucial e temos duas superestrelas jogando em altíssimo nível, o jogo quatro não fugiu à regra. Mais uma vez chamou a atenção o jogo irregular de ambas as equipes, o excesso de erros, as boas atuações individuais e, claro, um jogo que foi decidido até o último lance e ao fim do qual apenas três pontos separavam ambos os times.

E como todos os outros jogos dessa série até aqui, o jogo teve tantos momentos distintos, tantas mudanças significativas e tantos destaques diferentes em momentos diferentes que é até difícil saber por onde começar e como agrupar os fatos e as explicações. Por isso vamos começar pelo primeiro tempo.

Pra variar, o primeiro tempo terminou com o placar muito próximo. E não pela primeira vez, eu terminei o primeiro tempo pensando "Como o Dallas conseguiu fechar o quarto com o placar tão próximo?" O astro do time, Dirk Nowitzki, estava num dia ruim - somado ao tendão rompido do seu dedo, ele ainda estava com febre alta e claramente incomodado pelo fato. Do outro lado, apesar do jogo ruim do Lebron James, Dwyane Wade e Chris Bosh estavam levando o Heat nas costas e pontuando feito dois malucos. E mesmo assim a diferença ao intervalo era de apenas dois pontos. E até um dado momento no quarto período, quando o Heat abriu uma diferença mais significativa de nove pontos, o jogo permaneceu equilibrado mesmo com um Nowitzki enfraquecido e grandes atuações de Bosh e Wade. Afinal, que diabos aconteceu pra explicar esse tipo de coisa? Como o Mavericks, mesmo assim, saiu com a vitória? E o que aconteceu com o Heat, o time que sabia tão bem jogar no final das partidas contra as potências do Leste?

Pra começar, eu preciso lembrar de algo que disse no post logo abaixo desse, sobre o jogo 3, no qual Nowitzki e Wade duelaram durante boa parte do quarto período, mas no final o jogo foi decidido porque o Heat tinha outros jogadores que se envolveram na partida e o Mavs não. Eu comentei também nesse post e no nosso twitter (www.twitter.com/tmwarning) que se Wade e Nowitzki fossem duelar no nível que vinham fazendo, a partida não ia ser decidida pelos astros e sim pelos outros 11 jogadores de cada time, os "Coadjuvantes", na falta de uma palavra melhor (Porque convenhamos que chamar Bosh e Lebron de coadjuvantes é bizarro e doloroso). Eu disse isso porque, mesmo com o Nowitzki jogando demais, fazendo chover e tudo mais, nenhum outro jogador (além do Shawn Marion) estava jogando um basquete consistente pra ajudar o alemão, enquanto que mesmo quando o Wade sentava ou em alguns lances onde ele não era envolvido alguém do Heat sempre estava aparecendo pra fazer suas jogadas, fosse o Lebron, fosse até o Mario Chalmers. E se a gente sabe que um superastro como o Dirk é capaz de ganhar um jogo sozinho - o que ele fez no jogo 2 - a gente também sabe que ele dificilmente vai ganhar quatro nas Finais da NBA, e portanto o elenco de apoio do Mavs precisaria acordar.

E foi, de certa forma, o que aconteceu nesse jogo e que manteve o Dallas perto no placar no primeiro tempo, manteve o Dallas perto no placar no terceiro quarto, até a hora que o Nowitzki fez sua mágica. O técnico Rick Carlisle optou por variar um pouco na escalação, escalou o JJ Barea que vinha fazendo uma série péssima e deixou o DeShawn Stevenson no banco, pra poder aproveitar melhor a explosão e infiltração do Barea e deixar o Stevenson pra vir do banco, especialmente pro lugar do Marion. O Barea teve um jogo fraco, é verdade, mas não o DeShawn Stevenson, que acertou suas três bolas de três vindo do banco no primeiro tempo. Os 11 pontos do Stevenson na partida foram importantes, já que nos últimos jogos parecia que ninguém seria capaz de fazer nem que fossem esses 11 pra ajudar o Dirk. Mas além dele, tivemos um bom jogo do Jason Terry com 17 pontos, mais 16 do Marion, 8 do Barea e 13 do Tyson Chandler, que fez ótima partida. Mas mesmo assim, o Dallas teve um primeiro tempo onde eles cometeram novamente todos os erros que cometeram no jogo 1 e tinham corrigido nos demais: O Heat fez o que quis com os rebotes de ataque, foram dez só no primeiro tempo, e o Bosh encontrou muita facilidade no jogo de meia distância. Mesmo no começo do jogo, quando o Heat não acertava nenhuma cesta, o jogo estava empatado porque todos os erros voltavam para as mãos do Heat para uma segunda chance.

No segundo tempo, o Dallas melhorou da água pro vinho no quesito rebotes, o Tyson Chandler e o Dirk Nowitzki começaram a fazer box outs e pegar rebotes feito doidos - Dirk teve um no primeiro tempo inteiro e 10 no segundo - e mantiveram o Heat sem conseguir segundas chances fáceis. Mas o time também teve um problema que tem sido recorrente nos últimos jogos, os turnovers. Quando o time tentou acelerar o ritmo, forçar o jogo, ele entrou no jogo do Heat e cometeu muitos turnovers, em especial o Jason Kidd, que parecia sem controle nenhum. Em vários turnovers o Dallas deu sorte que a bola simplesmente foi pela linha de fundo e não gerou contra ataques, mas os erros individuais e o excesso de passes difíceis, forçados e previsíveis atrapalhou muito a vida do time do Texas no jogo todo.

A sorte do Dallas foi que, se do outro lado Chris Bosh voltava a ter um grande jogo, Lebron estava tendo seu pior jogo nesses playoffs, talvez seu pior jogo em todos os que disputou dos playoffs. Ele estava totalmente anêmico e, realmente, nem parecia o Lebron. Estava sem energia, não quis atacar a cesta, preferiu ficar arremessando de longe e abusou dos turnovers. É verdade que o Lebron não tem feito uma grande série até aqui, está muito abaixo do que estamos acostumados, mas ele sempre fazia seus pontinhos importantes, defendia bem e era importante para a equipe. Mas ontem o Lebron não foi apenas abaixo do seu nível, ele realmente jogou mal. Ele foi importante na armação para o Heat, distribuiu bem a bola, fez bons passes e deixou sua marca nisso, mas jogou mal em todo o resto. Em nenhum momento ele conseguiu ser efetivo no ataque (pela primeira vez na sua carreira falhou em marcar 10 pontos num jogo de playoffs), sua defesa deixou muito a desejar (Assistam por exemplo à primeira cesta do JJ Barea e vejam como o Lebron tenta dar o toco ao invés de simplesmente levantar os braços e fechar o espaço pro arremesso) e ele desaparece muitas vezes quando o time mais precisava.

Aliás, sumir nos quartos períodos tem sido comum para ele nessa série. Nos três primeiros jogos teve média de apenas três pontos por jogo em quartos períodos, principalmente porque neles ele exagerou no individualismo e tentou arremessos longos que, embora ele as vezes acerte, não são sua especialidade. Mas nesse jogo quatro ele foi ainda pior: nenhum ponto, errou o único arremesso que tentou e cometeu dois turnoveres, além de sumir totalmente do jogo nos momentos decisivos. O closer do Heat nessas Finais tem sido sempre o Wade, isso está claro desde o jogo 1, mas o que assusta é a apatia com que o Lebron joga nessas situações. Ontem pela primeira vez o Lebron pareceu desconfortável, desmotivado, até sem confiança. Não sei o que aconteceu, se foi só um dia ruim ou se é algo mais profundo, mas ele realmente não foi ele mesmo, não jogou com vontade, não jogou com energia e sumiu do jogo em vários momentos, além de ter reclamado com o Chris Bosh quando saiu para o intervalo após um primeiro tempo onde ficou abaixo em pontos e assistências do que o Chalmers.

Mas o problema do Heat não foi apenas que o Lebron estava mal. O Bosh estava bem, o Wade continuava de outro planeta. O problema foi que nenhum dos outros jogadores do Heat jogou bem. Chalmers, Udonis Haslem, Mike Miller, todos jogadores que tiveram bons momentos nos outros jogos não conseguiram fazer mais do que 15 pontos combinados, não se impuseram e não tiraram o conforto da defesa do Dallas. E numa série onde os "coadjuvantes" tem feito a diferença, o fato do principal companheiro de time do Wade estar num dia péssimo e mais ninguém além do Bosh ter jogado bem pra compensar atrapalhou em muito a equipe.

Mas mesmo assim, o Heat jogou nas costas de Bosh e Wade até abrir oito pontos de vantagem no quarto período, durante uma sequência que pegou o final do terceiro e o começo do quarto onde até o Lebron se achou mais em quadra, deu boas assistências e fez uma cesta. Mas aí entramos no quarto período, onde os jogos dessa série geralmente tem dado uma mudança para o bizarro - e, em geral, para o Mavs também. O Heat abriu a sua vantagem de nove pontos, mas nessa série isso não necessariamente é um bom sinal. O Heat apagou e o Mavs, embora não tenha acordado da mesma forma que nos jogos anteriores com grandes sequencias, esteve mais acordado que o Heat e conseguiu aos poucos tirar a diferença. Mesmo com febre alta e um dedo estourado, Nowitzki fez dois pontos, depois mais dois, chegou aos seis e finalmente aos oito, pra colocar o Mavericks na frente. E não venham me falar que essa doença do alemão era uma desculpa. Ele não estava no nível Jordan de gripe, tudo bem, mas não precisa estar naquele nível do Flu Game pra ser afetado. O Dirk praticamente não tinha dormido e ainda estava jogando numa temperatura muito acima do normal, não estava nem um pouco em condições de jogar por tanto tempo e seu jogo claramente foi afetado pela temperatura, tanto que ele errou seu primeiro lance livre nessas Finais, por exemplo.

E ao mesmo tempo que Jason Terry - que esteve totalmente apagado nos quartos períodos das derrotas do Mavs mas que foi muito importante nas duas vitórias - ajudou o Dallas (que também contou com um jogo espetacular de 13 pontos e 16 rebotes do Chandler, além de toda a energia nos dois lados da quadra) a dar o suporte que o Nowitzki tanto precisou nos outros jogos. E do lado do Heat, não só o Lebron continuou totalmente sumido como o Bosh, que vinha num ótimo jogo, também desapareceu, não tocou na bola mais e o Wade teve praticamente que jogar sozinho, como o Nowitzki tanto vinha jogando. O Mavs, também, contribuiu pra miséria do Heat e acionou sua defesa por zona, o que causou desconforto no time de Miami e a defesa, assim como aconteceu no jogo 2, não só foi colocada em prática como foi colocada de uma forma sobre humana, que não deu nenhuma folga para o Heat, evitando as cestas e contando com sua estrela no ataque. E o alemão fez sua parte, fez a última cesta do seu time com uma bela bandeja em volta do Udonis Haslem, muito parecida com a cesta da vitória do jogo 2 - e se naquela bola foi Haslem quem demorou a dobrar a marcação, dessa vez foi Lebron James. Mas o Heat teve sua chance em um turnover, após uma falta esperta do Kidd no Wade. Mas o Wade errou o segundo lance livre, e a diferença em um ponto aumentou pra três. Com menos de 24 segundos no relógio e perdendo por três, Wade recebeu a bola e, não encontrando ninguém livre, fez a cesta pra dois sozinho, forçando o Dallas a ter a bola mais uma vez. MAs ao invés de ir para o Dirk, a bola não foi pra ele, que seria a escolha obvia - foi pra seu companheiro de time, Jason Terry, que acertou as duas bolas.

E aí a fatalidade. O Eric Spolestra desenhou uma jogada no estilo Greg Popovich pra tentar a bola de três. Mas uma vez que o Wade saiu do corta luz do Bosh e Miller fez o passe, três coisas aconteceram. Primeiro, a pressão da defesa atrapalhou o Wade. Segundo, apesar do Wade ter caminho livre, o passe não foi na frente dele, onde ele estaria, e sim onde ele já estava, um passe ruim. E por fim, Wade, que claramente esperava um passe na mão, já estava pensando no que ia fazer e não conseguiu agarrar a bola, e por pior que o passe tenha sido era perfeitamente capaz que ele segurasse a bola, desde que tivesse olhando pra ela. Mas ele perdeu e a bola voltou quase pro seu campo de defesa. Wade conseguiu num mergulho espetacular evitar o backcourt violation e ainda passou a bola para o Mike Miller, mas aí faltou calma e experiência para o branquelo, que ao receber a bola - com pouco mais de dois segundos no relógio - chutou pra três de onde recebeu, longe da linha dos três e marcado, quando ele tinha tempo pra tentar se aproximar da linha dos três ou até tocar pro Bosh, que tava pedindo bola livre logo embaixo. Mas ele não teve essa calma, e chutou sua bola, que ainda quicou duas vezes até acabar o tempo do jogo.

Mais um jogo, mais uma boa vantagem do Heat e mais uma boa reação do Dallas. Não foi um Flu Game, mas o Dirk teve um jogo heróico, não é fácil jogar como ele jogou esse jogo e mesmo assim foi o jogador mais decisivo da partida no quarto período - como, aliás, tem sido durante toda a série, mesmo antes desse jogo ele já tinha mais pontos em quartos períodos do que Wade e Lebron juntos. Do outro lado, o Wade continua levando o Heat nas costas, ta jogando demais, sendo de longe o melhor jogador do time. Essas foram as grandes manchetes desse jogo, mais uma vez. Mas a maior de todas, pra mim, é a performance do Lebron. Deixando de lado as comparações Michael Jordan/Scottie Pippen, o Wade assumiu de vez o papel de líder do time nesses playoffs - e quem acompanhou o Heat pela temporada regular sabe que mesmo o Lebron tendo sido o melhor jogador do time de um modo geral, o líder, o mais importante da equipe sempre foi o Wade. Agora que ele ta jogando melhor, o Lebron parece estar caindo pra segundo plano, e não de uma forma eficiente, mas de uma forma apagada. Eu duvido que o Lebron vá ficar quieto no jogo 5, acho bem mais provável que ele saia acertando tudo quando é cesta pra calar a boca de todo mundo, mas o fato é que ele ainda não convenceu nessas Finais, e o injusto (e com uma memória curtíssima) mundo do basquete não vai deixar barato caso o Heat perca essa final. Se o Heat ganhar, ai o amarelão vai voltar a ser o Nowitzki.

Ai ai, essa necessidade eterna de alguém ter que ser ruim pros outros serem bons...

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Cinco contra cinco

O verdadeiro camisa seis do Miami Heat


Nesses playoffs, tivemos muitas performances em alto nível de vários jogadores. Jogos históricos de alguns, de outros nem tanto mas nem por isso deixam de ser grandes jogos. Lebron James, Dwyane Wade, Dirk Nowitzki, Kevin Durant, Brandon Roy, Carmelo Anthony, Chris Paul e Zach Randolph são alguns dos jogadores que podem se orgulhar de pertencer ao grupo de jogadores que conseguiram um grande jogo nesses playoffs. Mas acho que ainda não tinhamos visto um duelo do nível do que vimos ontem entre Wade e Nowitzki no quarto período.

E como tem acontecido até aqui nessas Finais, a história do jogo tem sido a inconsistência de ambos os times que resulta em várias sequências de algum time, que nesse período pontua, joga bem na defesa, comete poucos turnovers e executa bem no ataque, pra no período seguinte esse time apagar, errar tudo, e ver o adversário abrir vantagem (ou tirá-la) no placar. Foi assim no jogo 1, foi assim no jogo 2, e não tinhamos porque acreditar que seria diferente no jogo 3. Mas isso não quer dizer que ajustes não tenham sido feitos entre os jogos, muito pelo contrário. As mudanças do jogo 1 para o jogo 2 foram cruciais para a vitória do Mavs, como por exemplo abandonar a defesa por zona e congestionar o garrafão pra obrigar o Heat a chutar de longe e manter o Dirk mais próximo da cesta na defesa para fazer o box out e evitar rebotes ofensivos. E o Heat também fez as suas mudanças, misturou as dobras de marcação no Nowitzki, passou a atacar ainda mais as linhas de passe e centrou mais o jogo na dupla Lebron/Wade (Sim, ainda mais que de costume).

Mas pro jogo 3, parece que o Mavs ainda não aprendeu com alguns erros que vinha cometendo, principalmente quando o assunto é cometer turnovers. Foram 14 turnovers, e eles geraram 19 pontos em contra ataques fáceis, sem contar os lances livres. É verdade que o Heat também cometeu 13 turnovers, mas o Heat tem um aproveitamento muito melhor nos contra ataques do que o Dallas. Aliás, o Dallas muitas vezes comete turnovers quando sai no contra ataque, e tem resultados melhores quando pega os rebotes e cadencia o jogo ao invés de sair na correria. Foi algo que o Dallas fez certo, evitou um número maior ainda de turnovers, mas o número de disperdicios de bola em ataques de meia quadra ainda assustou. E pra piorar, o Brandan Haywood ainda escolheu o pior momento possível pra se machucar. O pivôzão pode ser reserva, mas é enorme, pega rebotes e da tocos, tudo que o Dallas quer pra congestionar o garrafão quando o Tyson Chandler ou o Nowitzki tiver que sentar com faltas ou pra descansar. O substituto dele é o Ian Mahinmi, que sejamos sinceros, é um Brian Cardinal mais alto e forte. Ele é horrível, jogou oito minutos por falta de opção e foi suficiente pra cometer cinco faltas e errar em 80% das posses de bola no ataque ou na defesa. Sem o par de monstros de garrafão pra tirar Wade e Lebron de dentro da área pintada, o Dallas não conseguiu fazer o ótimo trabalho que fez no jogo dois, limitando Miami a apenas 28 pontos no garrafão - foram 40 ontem a noite.

Tudo isso foi o que o Heat usou a seu favor pra pular à frente durante muitas partes do jogo. Mas ao mesmo tempo, o Heat teve seus apagões e o Dallas soube aproveitar isso. Geralmente isso coincidia com das duas uma: Com as bolas longas, ou com bons momentos do Dirk Nowitzki. Aliás, as bolas longas estão sendo um problema para o Dallas até aqui, que não tem conseguido fazer bom uso delas como vinha fazendo. Talvez isso se deva às péssimas partidas que o JJ Barea tem fazendo e ao fato de que o Peja Stojakovic compromete demais a defesa para ficar em quadra, mas o Dallas vinha precisando muito mais dos pontos perto da cesta do Shawn Marion para se manter no jogo. O que foi problemático, porque ofensivamente o Marion teve um jogo mais apagado ontem e o time sentiu a falta dos pontos. Se o Dallas chegou no final do jogo com chances reais de ganhar, foi porque em certo momento o Dirk Nowitzki pegou fogo, marcou 12 pontos seguidos e sozinho recolocou o Dallas na partida, tirou a diferença do Heat e empatou o jogo. E do outro lado, o craque do Heat até aqui nas Finais (E pra mim nesses playoffs), Wade, entrou quando seu time estava sendo esmagado pelo alemão e fez suas cestas pra recolocar o time no jogo, depois virar, depois abrir vantagem mais uma vez. Foi um duelo de altíssimo nível entre os dois, cada um fazendo sua mágica no ataque e foram sem dúvida alguma os destaques do jogo, o alemão com 34 pontos (o maior valor que um jogador atingiu contra o Heat nesses playoffs) e 11 rebotes e o ala-armador com 29 pontos e 11 rebotes.

Mas a parte interessante e importante para esse jogo foi o fato de que o time que ganhou não foi do que teve a melhor performance individual, e sim do que teve mais ajuda dos companheiros de time. O Dallas não teve nenhum jogador além do alemão que realmente jogou bem, consistentemente, principalmente no quarto período, onde a única escolha do Dallas foi entregar tudo nas mãos do seu craque, que respondeu à altura, jogou bem pra cacete e colocou o time no jogo praticamente sozinho. E se o Wade foi o cara que devolveu tudo que o Dirk fez no final do jogo, e o Heat contou com jogos ruins do Chris Bosh e até do próprio Lebron, o Heat recebeu muito mais ajuda dos seus jogadores secundários, em especial do Mario Chalmers. Eu já falei que não sei como ele é reserva, ele é um bom jogador, bom defensor, erra pouco e chuta bem de três, e ontem ele acertou quatro dessas bolas, inclusive uma do meio da quadra at the buzzer no final do primeiro quarto. Mas não foi só nas bolas de três, ele marcou bem, jogou bem com a bola na mão e deu opção aos seus companheiros de time. O Chalmers foi, comparativamente, mais importante pro Heat no jogo de ontem que o Lebron. Não que o Lebron tenha jogado pior, mas em comparação ao que você espera dos dois, o Chalmers superou as expectativas e acertou suas bolas importantíssimas, enquanto o Lebron deu algumas enterradas geniais, algumas bolas milagrosas - tudo que a gente espera dele - mas forçou demais o jogo, exagerou nos turnovers e foi em alguns momentos fominha. Mas o fato dele e do Bosh estarem lá já faz do Heat um time muito melhor, assim como faz do Wade um jogador melhor. Podem estar jogando mal, podem não estar num grande jogo, mas são perigosos demais e podem resolver. Ao contrário do Dallas, que só tinha o Nowitzki realmente jogando bem e confiável em quadra.

E isso teve um impacto direto no resultado do jogo. Depois que um arremesso ninja do Dirk empatou o jogo em 86, o Heat veio com não uma isolação para o Wade, e sim com uma jogada de equipe. Começou com um pick and roll entre Wade e Lebron, o Lebron infiltrou e quando o Chandler veio pegar a bola, o Udonis Haslem fez um ótimo corta luz - muito parecido com o que o Chandler fez pra bola de três do Dirk no jogo 2 - pra deixar o Bosh livre pra receber o passe pelas costas do Lebron e finalizar. Simplesmente perigoso demais pra deixar os dois livres, e eles mostraram o porque. Mas na hora do Dallas montar sua jogada, a jogada foi o previsível: Uma isolação para o Dirk na cabeça do garrafão. O Mavericks simplesmente não tinha muitas opções com a forma como vinha jogando, o único jogador alí que eles confiavam era o alemão. Mas isso também tornou as coisas mais fáceis pra defesa do Heat porque eles já sabiam o que esperar. Ele pegou na bola, a dobra de marcação veio, ele girou para passar e veio um terceiro defensor. Eles não se preocuparam com mais ninguém porque sabiam que ninguém iria pegar a bola - e se pegasse, qual a chance de conseguir definir a jogada? Ninguém estava conseguindo fazer isso no time.

Essa jogada terminou com o Dirk tentando um passe apertado e errando. Mas o Dallas teve mais uma chance depois que uma troca de bolas terminou num arremesso de três errado do Lebron - e vale destacar aqui que, quando ele arremessou, tinha ao seu lado, livre, o Mario Chalmers, que é um melhor arremessador que ele. O Dallas recuperou a bola e tinha apenas 4.4 segundos no relógio com dois pontos de desvantagem. E aí, pra não deixar o Heat ler sua jogada, eles desenharam uma jogada que NÃO era pro Nowitzki. Se vocês olharem novamente a movimentação antes da jogada, a bola era pra ir para o Jason Terry. Mas o Terry não está numa grande série e não estava num grande jogo, e pior do que isso, não tem a estrela do Lebron ou do Bosh. Ele não conseguiu se desmarcar, o tempo pra colocar a bola em jogo tava acabando e aí o Nowitzki se desmarcou bem atrás da linha dos três pra receber a bola. Era o melhor jogador do time, mas a situação era péssima: ele recebeu a bola muito atrás da linha dos três, com pouco tempo no relógio e com a marcação em cima. Ele não teve espaço nem tempo pra tentar seu arsenal enorme de dribles, bateu pra cima, fez seu fadeaway e errou, mas ele não teve culpa. A situação estava péssima e marcação estava perfeita (Créditos ao Haslem), ele tentou mais um milagre e não conseguiu. Seus companheiros não conseguiram dar a ele nenhum suporte no final e o time pagou por isso nas duas últimas posses de bola, enquanto o Heat ganhou o jogo numa jogada coletiva e não individual. Os craques tiveram um duelo de altíssimo nível, ótimo para a gente assistir, mas quem ganhou o jogo não foi o craque, e sim o elenco de apoio (Eu sei que chamar Lebron e Bosh de 'elenco de apoio' é uma simplificação grotesca, mas vocês entenderam o meu ponto), aqueles que estão ao redor de Wade e Dirk. Se Wade e Dirk são, individualmente, os destaques da série, entre os outros jogadores queme stá claramente levando vantagem é o time de South Beach.

Aliás, nisso tem uma questão que envolve o técnico Eric Spolestra. Eu critiquei muito o fato do Wade ter sido "esquecido" no final do jogo 2 mesmo estando pegando fogo e pedindo desesperadamente a bola. O Heat rodou a bola com Bosh, Chalmers, Haslem e Lebron, deixando o camisa 3 isolado num canto sem tocar nela, e o time de Miami não acertou nada e viu o Dallas aproximar. Isso acontece porque o Spolestra prega uma movimentação ofensiva muito mais coletiva, que usa cada vez menos as isolações e prefere dividir as ações ofensivas pra não colocar tudo nas mãos de um ou dois jogadores só. Isso é ótimo quando você não quer viciar o ataque e seus jogadores estão focados e movimentam bem a bola, que foi a causa da vitória no jogo três, uma jogada desenhada que rodou a bola, envolveu o time quase todo e terminou com a cesta do Bosh. Mas por outro lado, as vezes ela ignora totalmente um jogador quente que pode individualmente decidir um jogo - ainda mais com o talento do Wade - pra manter esse padrão ofensivo, o que as vezes aproveita mal o momento dos seus jogadores e foi uma das causas da derrota no jogo dois. Aí depende um pouco do momento, acho que o Spolestra podia ser um pouco mais flexível e menos cabeça dura com seu padrão ofensivo, mas... ta dando certo, a série ta 2-1, então acho que ninguém em Miami deve tar reclamando muito. A não ser que o Dallas ganhe suas próximas partidas em casa, claro, memória curta é lei na NBA, foi só o Dirk errar seu arremesso nio último segundo que voltou a ser amareção descartando totalmente o fato dele ter sozinho recolocado o Dallas no jogo (e na série, se contar o jogo 2).

sábado, 4 de junho de 2011

Os dois jogos dois da Final da NBA

Dirk Nowitzki levou seus talentos a South Beach


Quando estamos assistindo a esportes, seja futebol, futebol americano, basquete ou o que quer que seja, temos que estar sempre preparados para tudo. E quando eu digo "tudo" eu quero dizer "Situações absurdas que eventualmente podem acontecer e nos fazer duvidar da realidade". Quem já assistiu a séries decisivas de playoffs ou campeonatos de qualquer esporte sabe muito bem o que eu tou falando. Aqueles cinco minutos que pegam todos os outros e tacam no lixo, subvertem tudo que vocês acharam que sabiam e fazem você simplesmente abaixar a cabeça e se render ao inevitável. Não é a toa que o lema da NBA é "Where Amazing Happens", porque num esporte com mais jogos do que a maioria - futebol americano tem apenas um jogo, futebol no máximo dois (em casos de mata mata), sem falar dos absurdos 82 jogos da temporada regular - chega a ser até normal assistirmos a jogos absurdos, surreais, históricos. E o jogo de ontem foi, digamos, absurdo. Não da pra comentar daquele jogo como um jogo só, foram dois jogos: O primeiro durou 41 minutos e terminou com a vitória esmagadora do Miami Heat por 88 a 73. O segundo durou apenas sete minutos e a vantagem foi ainda mais assustadora, 22 a 5 para o Dallas Mavericks. Esses últimos sete minutos foram totalmente diferentes do resto da partida, deram um chute no meio das bolas dos primeiros 41 e acabaram por mudar toda a história do jogo e desses playoffs.

O primeiro "jogo", como eu já disse, foi um massacre do Heat. Mas incrível é que ambos os times estavam empatados em 51 ao intervalo. Ao contrário do jogo 1, onde as defesas foram o fator dominante limitando ambos os times a chutar menos de 40% de quadra, o primeiro tempo do jogo 2 foi bem mais aberto: Ambos os times chutaram melhor, terminaram com aproveitamento acima de 50% e mais de 50 pontos no placar. Mesmo assim, o Dallas ainda parecia incapaz de segurar um bom ritmo por muito tempo. Assim como aconteceu no jogo 1 algumas vezes, sempre que o Mavs abria uma liderança maior, eles deixavam o Heat encostar. Tudo bem, deixar encostar é um termo idiota quando você toma pontos do Dwyane Wade e do Lebron James, a gente sabe que quando eles tão em um bom dia ninguém segura, mas a estagnação ofensiva deixava o time preocupado. As vezes a bola rodava bem, as vezes parava de funcionar e quando seu ataque fica travado contra o Heat você sabe que vai tomar muitos pontos. E o Dallas conseguiu fazer isso mesmo com outra noite infeliz do seu banco. Jason Terry não se achava em quadra mais uma vez e errava as rotações defensivas. O JJ Barea continua tendo que jogar a bola pra cima toda vez que tenta uma bendeja, com péssimos resultados. E o Peja Stojakovic provou que simplesmente não tem condições de enfrentar o Heat, erra tudo na defesa. Pelo amor de Deus, até o BRIAN CARDINAL ganhou um minuto no jogo vindo do banco, tempo suficiente pra cometer uma falta, tomar uma enterrada na cabeça e cometer dois erros defensivos.

Mas se o banco do Mavs continuou fraco e as bolas de três continuaram não caindo, o time de Dallas teve uma grande vitória na defesa. Depois de tomar 16 rebotes ofensivos do garrafão baixo do Heat por causa de buracos que ficavam no meio do garrafão e de ver o Heat vencer sua defesa por zona no jogo 1 com infiltrações e usando muito as bolas longas do Mario Chalmers e a habilidade do Chris Bosh, o Mavs mudou seu jeito de jogar, começou a defender no mano a mano com eventuais coberturas mas praticamente abandonou a sua tão famosa defesa por zona. Aliás, essa melhora na defesa e nos rebotes deve-se muito a uma parte pouco notada da partida do Dirk Nowitzki. Nesses primeiros 41 minutos ele não foi feliz ofensivamente, fez só um ponto a mais que o Mike Bibby (15-14), mas fez um trabalho excelente marcando o Chris Bosh, que acertou apenas 4 de 16 arremessos e em nenhum momento foi um fator no jogo, mas mais do que isso ele fez um ÓTIMO trabalho com os rebotes defensivos, não só os pegando (10 no total, mais um de ataque) mas principalmente fazendo o box out pra manter o Bosh, o Udonis Haslem ou quem quer que fosse longe do aro. No jogo 1, a dominação nos rebotes de ataque foi importante pro Heat dominar o jogo, mas no jogo 2 o Mavs, graças à melhor rotação e ao ótimo trabalho do Dirk, conseguiu evitar que isso repetisse.

Do outro lado, o Miami estava contando com as bolas de três que não cairam até aqui do Mike Bibby e com uma noite inspirada do Dwyane Wade. Mas mesmo assim o jogo chegou ao intervalo empatado. Foi no terceiro quarto e no começo do quinto que o massacre do Heat começou a se desenhar. A marcação do Heat começou a ficar mais e mais agressiva nos ataques a linhas de passe, começou a pressionar com dobras todo jogador que tentasse um pick and roll e o Mavs simplesmente perdeu a calma, começou a forçar passes que não eram os que eles estavam acostumados e isso gerou muitos turnovers. E quando você gera tantos turnovers assim contra o Miami Heat com um Wade inspirado, você está perdindo pra perder o jogo. Foi turnover atrás de turnover atrás de turnover, e vídeo no Youtube atrás de vídeo no Youtube atrás de vídeo no Youtube, o Heat aproveitou isso pra abrir e alargar ainda mais o placar. O Mavs não conseguia rodar a bola, o Nowitzki não estava num dia feliz, o tendão rompido no seu dedo estava atrapalhando seu jogo e o Heat aproveitou. E a vantagem seria muito maior se não fosse a excelente partida do Shawn Marion, que além de marcar muito bem o Lebron durante todo o jogo (e em algums momentos até o Wade) foi fundamental no ataque, atacando a cesta, jogando de costas pra ela, até com alguns floaters de meia distância, mas ele sempre parecia acertar quando o Mavs precisava.

Mas não foi suficiente pra evitar que o Miami disparasse, e uma sensacional 13-0 run do Heat foi fechada com chave de ouro por uma linda bola de três do Wade da zona morta. Quando a bola entrou, o Wade continuou lá com os braços levantados, parecendo o Sr Miyagi, na frente do banco do Mavs. O Lebron saiu correndo e os dois saíram comemorando. Pronto, mais uma polêmica pro Miami Heat. O fato de ter acontecido na frente do banco do Mavs, como se fosse uma comemoração de uma vitória antecipada, foi o suficiente pra todo mundo cair matando em cima da dupla, um desrespeito, cantando vitória a mais de sete minutos pro final. Todo mundo ta criticando, botando a culpa pela derrota nisso. Eu pelo menos acho que é um tremendo exagero. O Wade tava quente pra cacete, acertou uma bola sensacional de três, porque ele não pode comemorar a cesta e a vantagem que ele abriu? Só porque por acaso ele acertou a cesta da frente do banco do Mavs? Não achei que ele tava comemorando a vitória, mas sim a sequencia boa dele e do time. Cacete, se eu acertar uma bola daquelas jogando contra a minha irma eu já ia sair por aí pulando feito retardado, acertar ela numa Final de NBA... Bom, não vejo porque não comemorar, não achei nada demais o gesto do Wade.

Mas o fato é que ele foi o ponto decisivo para mudar o jogo. Desse momento em diante, o jogo foi pra sua "segunda parte". E por segunda parte, vocês podem ler "Momento em que o Mavs acordou pra vida, jogou o melhor basquete da história da Franquia e comeu o Heat com farinha". Eu sempre digo que quando um time disperdiça uma vantagem tão grande assim nunca é só culpa de um nem só mérito do outro, sempre um pouco dos dois. E, mais uma vez, foi o que aconteceu, embora eu deva dizer que eu vejo mais mérito do Mavs do que demérito do Heat, ainda que os dois tenham existido - o Mavs se metamorfoseou, pelo amor de Deus!! A comemoração polêmica do Wade na frente do banco serviu pra deixar o Jason Terry nervoso, e ele ficou com vontade de bancar o heroi, partir pra cima e decidir tudo sozinho... com a diferença que dessa vez suas bolas forçadas caíram, ele cavou faltas, acertou as jogadas e fez sozinho oito pontos. O Terry acertou suas bolas e aí o Dallas começou a executar uma jogada que ainda não tinha executado antes e que, bem, deu certo até demais. Foi uma screen dupla atrás da linha dos três pontos, com Tyson Chandler e Dirk servindo de screen pro Terry. Na primeira vez, depois de ótima troca de passes, o Dirk atraiu a marcação dupla e tocou pro Jason Kidd, livre, acertar pra três.

E enquanto o Dallas pontuava feito doido - tirando uma bola que o Nowitzki foi bloqueado, o Dallas pontuou em TODAS, TODAS as posses de bola depois que o Wade acertou sua bola de três - o Heat simplesmente passou a ignorar o jogador mais quente da partida, o Wade, e concentrou suas jogadas no Lebron, no Bosh, no Haslem e até o Chalmers, mas o Wade continuava quietinho no canto. Aliás, quietinho o cacete, ele ficava puto porque não recebia a bola, mas o time continuava a errar - Lebron, Bosh, Haslem, Chalmers, todos tiveram sua chance de errar e erraram -  o Lebron chegou a dar air ball numa bandeja. Mesmo depois que o Mavs tirou a diferença para dois pontos num jumper do Nowitzki, o Heat foi incapaz de acertar as posses de bola. Porque exatamente? Por vários motivos, pra mim o mais culposo por parte do Heat foi deixar de acionar o Wade o tempo todo. Tudo bem que o Eric Spolestra gosta de distribuir as jogadas ofensivas, mas o Wade estava pegando fogo, não faz sentido deixar de usá-lo. Mas também teve outro lado, que foi a defesa do Mavs que se elevou a um nível sobre-humano. Era pick and roll, era infiltração, era troca de passes, era drible, tudo que o Heat podia tentar ele tentou (menos acionar o Wade) mas a defesa do Mavs reagia, fechava os caminhos, o que resultou em uma bola forçada do Lebron, e mesmo depois do rebote ofensivo do Wade, tudo que o Heat conseguiu em mais 24 segundos foi outra bola forçada de três do Lebron, que também não entrou, o Haslem tentou salvar o rebote mas gerou um contra ataque que o Nowitzki finalizou pra empatar a partida. Finalmente, quando o jogo foi empatado, o Heat acionou um Wade que tinha passado um tempão sem tocar na bola. O resultado? Outra bola forçada pra três que não entrou.

A verdade é que o Heat parecia, pela primeira vez em todos os playoffs, um time intimidado. Um time que parecia reconhecer que o adversário estava melhor, que estava jogando um jogo superior, que tinha achado a forma de superá-lo. Eles pareceram estar confiantes demais na vitória durante um certo tempo, e quando o Mavs não se deu por vencido e começou a achar cesta trás de cesta, o Miami parecia que só queria esgotar o relógio, gastar os 24 segundos e escapar com uma vitória. O time parou de jogar com ímpeto, com confiança, e sofreu as consequencias. Vale destacar também que, daquelas bolas super forçadas de três que eu citei ali em cima, a gente já viu o Lebron e o Wade acertarem algumas dessas. É a vantagem de ter um jogador desse calibre na sua equipe, ele pode acertar uma bola totalmente idiota e errada no momento certo, mas dessa vez não aconteceu.

E o Mavs aproveitou, primeiro em uma jogada sensacional do Chandler onde ele fez não uma, não duas, mas três screens pra liberar o Dirk pra uma bola de três livre que, claro, ele acertou. Mas o Heat pediu seu último tempo e, num erro grosseiro de marcação do Jason Terry, que preferiu dobrar a marcação no Wade e deixar livre quem ele realmente deveria marcar, o Lebron usou sua espetacular visão de jogo e achou o Chalmers livre da silva na zona morta pra empatar a partida em 93 a 93. E a bola final estava nas mãos do Mavs que, como qualquer mamífero poderia supor, procurou sua estrela no Dirk Nowitzki. Com tempo no relógio, ele foi acionado na parte esquerda da quadra no mano a mano contra o Bosh, que tinha feito um bom trabalho marcando o alemão naquela partida, ou pelo menos até a fatídica bola de três do Wade. Jason Terry estava na zona morta daquele canto impedindo o Lebron de dobrar a marcação, e o Chandler cortou em direção à cesta, o que deixou o Haslem em dúvida sobre se dobrar ou não. O Dirk foi pra cima, deu seu tradicional giro e em uma hesitada - um segundo de hesitação fingindo que ia virar para seu arremesso preferido - foi o suficiente pra deixar o Chris Bosh na saudade, travou completamente o brontossauro de Miami e passou por ele pra bandeja por cima da tentativa de toco do Haslem que veio tarde demais. Simples, perfeito, decisivo.

Engraçado que a única coisa boa nas famas injustificadas que muitos grandes jogadores carregam - Kobe Bryant não ser capaz de ganhar sem Shaq, Lebron não ser um cara decisivo, entre tantas outras - é que esses jogadores sempre acabam superando elas e mostrando pra todo mundo o quão eles estavam errados de alguma forma espetacular. Foi o que o Dirk fez ontem. O Dirk que sempre sofreu com duas críticas ao longo da carreira, a de ser "soft", um jogador que não gosta de contato, de dor, de usar o corpo, que prefere só usar a técnica. E a de ser um amarelão, que treme nas horas decisivas, que ele carrega desde as Finais de 2006. Ontem, o alemão passou por cima das duas e não deixou dúvidas de que estará um dia entre os grandes da história. Mesmo jogando com o tendão do dedo médio da mão esquerda (que não é a que arremessa, mas que ainda atrapalhou muito seu controle de bola), ele em nenhum momento reclamou, sempre disse que estava 100% (O que a gente cansa de ouvir o Kobe e o Chris Paul falando mesmo sabendo que é mentira) e foi com essa mão que acertou suas duas bandejas decisivas na partida, com um finger roll lindo com dedo estrupiado e tudo. E se anotar os últimos nove pontos do seu time contra uma defesa forte dessas num jogo importantíssimo para esses playoffs não é ser decisivo, eu juro que não sei o que é. Espero que, depois desse jogo, finalmente ele possa deixar essas injustiças para trás. Porque o que ele fez nesse jogo foi incrível, o que o Mavs fez foi incrível e nós, torcedores e admiradores de basquete, agradecemos, porque agora a série vai ficar ainda melhor e mais disputada.

Que venha o jogo três, em Dallas!!

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Lições básicas


Ontem, esse Stojakovic tinha mais chance de
 acertar uma bola de três do que o original


Em um jogo de basquete, bem como em praticamente qualquer outro tipo de confronto - outro esporte, uma briga, etc - a vitória geralmente é decidida por quem consegue usar melhor seus pontos fortes e explorar melhor os pontos fracos do adversário. Isso é uma lição básica, e se vocês querem um exemplo prático (que me entristece) no mundo do basquete, é só pensar no Phoenix Suns. O Suns era um time que tinha o MVP jogando em alto nível, um time fortíssimo que jogava muito bem na correria e que se não fosse pela covardia do Robert Horry nesse lance teria sido campeão pelo menos uma vez. Aquele time era absolutamente invencível quando jogava contra equipes fracas e sem identidade, porque elas tentavam copiar o estilo do Suns ao invés de jogar o seu próprio e aí eram massacradas na correria porque era impossível superar o Nash nesse quesito. Mas quando o Suns enfretava o Spurs, o Spurs usava seu jogo extremamente lento, cadenciado e metódico pra conter a correria do Suns, que depois de algum tempo começou a tentar copiar o Spurs trazendo o Shaq (Que se aposentou hoje, espero que vire comentarista) e abandonar um estilo de jogo no qual eram bons pra tentar copiar a força do outro. E bom, todo mundo conhece o resultado, na montagem de hoje na NBA.com sobre o Shaq tem ele com a camisa de cinco dos times pelos quais ele jogou, adivinha qual não tem? Pois é.

Bom, mas sem afastar demais do assunto em questão, essa final era mais um exemplo de confronto no qual a vantagem iria para aquele que melhor usasse seus pontos fortes e explorasse as fraquezas do adversário. E cada time nessa série tem pontos fortes diferentes, a unica excessão sendo a defesa forte: Os pontos fortes do Heat são a defesa sufocante e atlética, os contra ataques mortais e, claro, o talento individual dos seus três craques. No caso do Mavericks, os pontos fortes vinham sendo a defesa por zona, as bolas de três pontos e o banco de reservas, sem falar no Dirk Nowitzki, claro.

Olhando o jogo 1 da série, podemos ver que os dois times conseguiram impor sua forte defesa, já que ambos os times chutaram abaixo de 40% de quadra e o placar só foi passar dos 90 por causa da correria do final da partida. E se por um lado o Dallas conseguiu controlar os turnovers pra evitar que o Heat jogasse no contra ataque o tempo todo, o Mavericks simplesmente não conseguiu impor nenhum dos seus outros pontos fortes. O primeiro número que salta aos olhos é o fato do Heat ter acertado duas bolas a mais do que o Mavs, 11 a 9. O Heat sempre foi um time que teve problemas com as bolas de longa distância, o único chutador de três do time titular é o Mike Bibby, que não acerta nada faz alguns anos, mas o Heat acertou incríveis 45% das bolas longas que tentou e acertou um número muito acima da sua média, inclusive duas bolas seguidas do Mario Chalmers no final do primeiro tempo pra evitar que o Jason Terry abrisse o placar pro Mavs. Enquanto isso, o Mavs acertou 40% dos seus arremessos e acertou nove bolas, um bom número se você for pensar.

Mas o problema aqui pro Dallas não foi quantidade, e sim timing. O primeiro tempo terminou com apenas um ponto de diferença porque foi nele que cai a maior parte das bolas de três: O Jason Kidd acertou duas logo no começo do jogo, o Terry acertou suas três bolas longas, o DeShawn Stevenson também acertou uma, e o Dallas foi jogando o jogo que o tinha levado até alí. O Terry veio bem do banco, e pro segundo tempo o Dallas queria continuar com o ritmo. Mas daí deu tudo errado, porque nem as bolas de três nem o banco de reservas funcionaram. Analisando com calma, vemos que não só o Dallas acertou muito menos bolas de três do que está acostumado como também os três jogadores que mais tinham um papel importante vindo do banco - em boa parte por causa das bolas de três - que no caso são JJ Barea, Jason Terry e Peja Stojakovic, jogaram um dos piores jogos individuais desses playoffs. O Terry acertou todas suas bolas de três no primeiro tempo e errou absolutamente tudo que tentou no segundo. O JJ Barea fez muito bem o papel de costurar a defesa e conseguir bons arremessos próximos ao aro, mas com o problema de ter errado todos. E a maior parte não foi contestada nem nada, ele simpelsmente errou. Várias vezes ele tentou fazer uma bandeja por cima quando não havia necessidade, outra ele tentou afastar a mão do aro pra evitar um toco que nunca existiu, e no final seu único arremesso certo também foi no primeiro tempo. O Barea exagerou no individualismo e pra piorar não acertou seus arremessos, ele travou a rotação de bola do Dallas porque não soltou a laranja e ainda errou arremessos fáceis perto do aro. E o Stojakovic foi de longe o pior jogador em quadra, não acertou nenhum dos seus arremessos (todos livres) e além disso foi péssimo na defesa. Tudo bem, ele nunca foi bom na defesa, mas ele estava errando menos na defesa por zona e acertando tudo no ataque, mas ontem ele errou todas as rotações, deixou a defesa vulnerável e ainda matou todos os ataques com tijoladas! O banco do Dallas, que até aqui sempre vinha superando o banco dos adversários, um fator importantíssimo no plano de jogo do Mavs, marcou apenas 17 pontos, enquanto o fraco e contestado banco do Miami marcou 27.

Apesar disso, o Mavs conseguiu abrir boa vantagem na metade do terceiro, mas o Heat ganhou a partida no final do terceiro quarto e começo do último. Durante esse período, vimos o Stojakovic errar as rotações defensivas que mataram a defesa do Dallas, vimos o ataque do Dallas ficar completamente estagnado e gerando posses de bola pro Miami Heat e as bolas de três de Miami - aquelas que não cairam para Dallas - caíram o tempo todo, e o Heat usou isso pra tirar a diferença e abrir a sua. E pra piorar pro Mavericks, no começo do quarto período houve um período de tempo - dois, três minutos - nos quais os juizes erraram absolutamente tudo que tentaram: marcaram faltas que não aconteceram, ignoraram uma falta claríssima numa bola de três do Terry, deram uma falta de ataque no mínimo duvidosa... Num momento onde ambos os times estavam estagnados, isso fez muita diferença. Antes que os teóricos da conspiração venham falar que os juizes querem que Miami seja campeão, temos que ressaltar que a arbitragem da NBA não é tendenciosa (Esqueçam Tim Donaghy, sim?), mas que infelizmente ela é ruim, erra para os dois times por incompetencia, aconteceu de durante esse periodo o Dallas ter sido mais prejudicado até porque a maior parte dos lances mais difíceis desse período eram contra o Mavs. Não foi roubo, não foi armado, foi apenas incompetencia que por acaso prejudicou o Mavs. Faz parte do jogo.

E no final da partida, quando o Mavs finalmente acionou melhor o Dirk Nowitzki e começou a aproximar no placar, apareceu o último e principal ponto forte do Miami. Aliás, a marcação ao Nowitzki foi muito bem feita e contou com uma ajuda do Dallas. O Mavs acionou pouco o alemão e sempre muito longe do garrafão, e quando acionava, o Heat imediatamente dobrava a marcação nele como fez com o Derrick Rose. A bola rodava o perímetro e várias vezes o Heat, com a velocidade e atleticismo da sua defesa, conseguia muitas vezes correr atrás da marcação e contestar o arremesso. No primeiro tempo,o Dallas até aproveitou o espaço pra acionar o Shawn Marion e arremessar de três, mas durante o segundo tempo - do final do terceiro quarto em diante - o Mavs simplesmente errou as bolas de três. Quando a rotação assustadoramente rápida do Heat não era rápida o bastante, o Mavericks errava e aí colocava a bola nas mãos de Miami pra puxar o contra ataque. E aí como eu já disse a melhor arma do Heat - o talento individuai do Big Three - decidiu o jogo. Dwyane Wade, que teve um jogo relativamente apagado até alí, colocou a bola embaixo do braço, deu dois tocos, puxou contra ataques e acertou uma bola de três na cara do Kidd pra decidir o jogo. Simples, eficiente. O Heat fez o que tinha de melhor, enquanto o Mavs não conseguiu.

Outro ponto que impressiona são os 16 rebotes de ataque do Heat, um time com garrafão fraco. Ta bom que o Dallas não é o melhor time reboteiro da Liga, mas tomar 16 rebotes de um time baixo sem grandes reboteiros no garrafão? Isso é mais preocupante do que o sumiço do banco de reserva!

É cedo demais e é ingenuidade demais falar que esse jogo garantiu a vitória de um ou a derrota de outro. Mas o fato é que o Mavericks deixou escapar uma chance de ouro de quebrar o mando do Miami logo cedo, algo fundamental com o formato 2-3-2 das Finais da NBA. O Dallas não precisava ter se superado, feito coisas novas e difíceis para ter uma chance - só precisava ter feito o que fez o tempo todo, acertar suas bolas de três, acionar o Nowitzki onde ele mais gosta e aproveitar das dobras de marcação. Mas as bolas de três não caíram, o banco muito mais atrapalhou do que ajudou, e o Heat venceu mesmo num jogo no qual não jogou tão bem. Era um jogo que o Dallas podia ter vencido, e deixou escapar. O ponto positivo é que o Dallas mostrou que tem condições de vencer o jogo dois: A defesa foi eficiente, evitou os contra ataques e pontos fáceis no garrafão (Exceto os de rebotes de ataque) e o Nowitzki atraiu a marcação dupla que o Mavs gosta. O Mavs só precisa acertar a mira, melhorar a rotação de bola que foi falha no jogo 1, contar com boas performances de Barea e Terry (Esqueçam o Stojakovic e usem o Corey Brewer, mil vezes melhor defensor) e pegar mais rebotes que vai ter uma chance real de vencer esse jogo, porque ir pra casa perdendo de 0-2, nas Finais, é mortal.