Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

sábado, 4 de junho de 2011

Os dois jogos dois da Final da NBA

Dirk Nowitzki levou seus talentos a South Beach


Quando estamos assistindo a esportes, seja futebol, futebol americano, basquete ou o que quer que seja, temos que estar sempre preparados para tudo. E quando eu digo "tudo" eu quero dizer "Situações absurdas que eventualmente podem acontecer e nos fazer duvidar da realidade". Quem já assistiu a séries decisivas de playoffs ou campeonatos de qualquer esporte sabe muito bem o que eu tou falando. Aqueles cinco minutos que pegam todos os outros e tacam no lixo, subvertem tudo que vocês acharam que sabiam e fazem você simplesmente abaixar a cabeça e se render ao inevitável. Não é a toa que o lema da NBA é "Where Amazing Happens", porque num esporte com mais jogos do que a maioria - futebol americano tem apenas um jogo, futebol no máximo dois (em casos de mata mata), sem falar dos absurdos 82 jogos da temporada regular - chega a ser até normal assistirmos a jogos absurdos, surreais, históricos. E o jogo de ontem foi, digamos, absurdo. Não da pra comentar daquele jogo como um jogo só, foram dois jogos: O primeiro durou 41 minutos e terminou com a vitória esmagadora do Miami Heat por 88 a 73. O segundo durou apenas sete minutos e a vantagem foi ainda mais assustadora, 22 a 5 para o Dallas Mavericks. Esses últimos sete minutos foram totalmente diferentes do resto da partida, deram um chute no meio das bolas dos primeiros 41 e acabaram por mudar toda a história do jogo e desses playoffs.

O primeiro "jogo", como eu já disse, foi um massacre do Heat. Mas incrível é que ambos os times estavam empatados em 51 ao intervalo. Ao contrário do jogo 1, onde as defesas foram o fator dominante limitando ambos os times a chutar menos de 40% de quadra, o primeiro tempo do jogo 2 foi bem mais aberto: Ambos os times chutaram melhor, terminaram com aproveitamento acima de 50% e mais de 50 pontos no placar. Mesmo assim, o Dallas ainda parecia incapaz de segurar um bom ritmo por muito tempo. Assim como aconteceu no jogo 1 algumas vezes, sempre que o Mavs abria uma liderança maior, eles deixavam o Heat encostar. Tudo bem, deixar encostar é um termo idiota quando você toma pontos do Dwyane Wade e do Lebron James, a gente sabe que quando eles tão em um bom dia ninguém segura, mas a estagnação ofensiva deixava o time preocupado. As vezes a bola rodava bem, as vezes parava de funcionar e quando seu ataque fica travado contra o Heat você sabe que vai tomar muitos pontos. E o Dallas conseguiu fazer isso mesmo com outra noite infeliz do seu banco. Jason Terry não se achava em quadra mais uma vez e errava as rotações defensivas. O JJ Barea continua tendo que jogar a bola pra cima toda vez que tenta uma bendeja, com péssimos resultados. E o Peja Stojakovic provou que simplesmente não tem condições de enfrentar o Heat, erra tudo na defesa. Pelo amor de Deus, até o BRIAN CARDINAL ganhou um minuto no jogo vindo do banco, tempo suficiente pra cometer uma falta, tomar uma enterrada na cabeça e cometer dois erros defensivos.

Mas se o banco do Mavs continuou fraco e as bolas de três continuaram não caindo, o time de Dallas teve uma grande vitória na defesa. Depois de tomar 16 rebotes ofensivos do garrafão baixo do Heat por causa de buracos que ficavam no meio do garrafão e de ver o Heat vencer sua defesa por zona no jogo 1 com infiltrações e usando muito as bolas longas do Mario Chalmers e a habilidade do Chris Bosh, o Mavs mudou seu jeito de jogar, começou a defender no mano a mano com eventuais coberturas mas praticamente abandonou a sua tão famosa defesa por zona. Aliás, essa melhora na defesa e nos rebotes deve-se muito a uma parte pouco notada da partida do Dirk Nowitzki. Nesses primeiros 41 minutos ele não foi feliz ofensivamente, fez só um ponto a mais que o Mike Bibby (15-14), mas fez um trabalho excelente marcando o Chris Bosh, que acertou apenas 4 de 16 arremessos e em nenhum momento foi um fator no jogo, mas mais do que isso ele fez um ÓTIMO trabalho com os rebotes defensivos, não só os pegando (10 no total, mais um de ataque) mas principalmente fazendo o box out pra manter o Bosh, o Udonis Haslem ou quem quer que fosse longe do aro. No jogo 1, a dominação nos rebotes de ataque foi importante pro Heat dominar o jogo, mas no jogo 2 o Mavs, graças à melhor rotação e ao ótimo trabalho do Dirk, conseguiu evitar que isso repetisse.

Do outro lado, o Miami estava contando com as bolas de três que não cairam até aqui do Mike Bibby e com uma noite inspirada do Dwyane Wade. Mas mesmo assim o jogo chegou ao intervalo empatado. Foi no terceiro quarto e no começo do quinto que o massacre do Heat começou a se desenhar. A marcação do Heat começou a ficar mais e mais agressiva nos ataques a linhas de passe, começou a pressionar com dobras todo jogador que tentasse um pick and roll e o Mavs simplesmente perdeu a calma, começou a forçar passes que não eram os que eles estavam acostumados e isso gerou muitos turnovers. E quando você gera tantos turnovers assim contra o Miami Heat com um Wade inspirado, você está perdindo pra perder o jogo. Foi turnover atrás de turnover atrás de turnover, e vídeo no Youtube atrás de vídeo no Youtube atrás de vídeo no Youtube, o Heat aproveitou isso pra abrir e alargar ainda mais o placar. O Mavs não conseguia rodar a bola, o Nowitzki não estava num dia feliz, o tendão rompido no seu dedo estava atrapalhando seu jogo e o Heat aproveitou. E a vantagem seria muito maior se não fosse a excelente partida do Shawn Marion, que além de marcar muito bem o Lebron durante todo o jogo (e em algums momentos até o Wade) foi fundamental no ataque, atacando a cesta, jogando de costas pra ela, até com alguns floaters de meia distância, mas ele sempre parecia acertar quando o Mavs precisava.

Mas não foi suficiente pra evitar que o Miami disparasse, e uma sensacional 13-0 run do Heat foi fechada com chave de ouro por uma linda bola de três do Wade da zona morta. Quando a bola entrou, o Wade continuou lá com os braços levantados, parecendo o Sr Miyagi, na frente do banco do Mavs. O Lebron saiu correndo e os dois saíram comemorando. Pronto, mais uma polêmica pro Miami Heat. O fato de ter acontecido na frente do banco do Mavs, como se fosse uma comemoração de uma vitória antecipada, foi o suficiente pra todo mundo cair matando em cima da dupla, um desrespeito, cantando vitória a mais de sete minutos pro final. Todo mundo ta criticando, botando a culpa pela derrota nisso. Eu pelo menos acho que é um tremendo exagero. O Wade tava quente pra cacete, acertou uma bola sensacional de três, porque ele não pode comemorar a cesta e a vantagem que ele abriu? Só porque por acaso ele acertou a cesta da frente do banco do Mavs? Não achei que ele tava comemorando a vitória, mas sim a sequencia boa dele e do time. Cacete, se eu acertar uma bola daquelas jogando contra a minha irma eu já ia sair por aí pulando feito retardado, acertar ela numa Final de NBA... Bom, não vejo porque não comemorar, não achei nada demais o gesto do Wade.

Mas o fato é que ele foi o ponto decisivo para mudar o jogo. Desse momento em diante, o jogo foi pra sua "segunda parte". E por segunda parte, vocês podem ler "Momento em que o Mavs acordou pra vida, jogou o melhor basquete da história da Franquia e comeu o Heat com farinha". Eu sempre digo que quando um time disperdiça uma vantagem tão grande assim nunca é só culpa de um nem só mérito do outro, sempre um pouco dos dois. E, mais uma vez, foi o que aconteceu, embora eu deva dizer que eu vejo mais mérito do Mavs do que demérito do Heat, ainda que os dois tenham existido - o Mavs se metamorfoseou, pelo amor de Deus!! A comemoração polêmica do Wade na frente do banco serviu pra deixar o Jason Terry nervoso, e ele ficou com vontade de bancar o heroi, partir pra cima e decidir tudo sozinho... com a diferença que dessa vez suas bolas forçadas caíram, ele cavou faltas, acertou as jogadas e fez sozinho oito pontos. O Terry acertou suas bolas e aí o Dallas começou a executar uma jogada que ainda não tinha executado antes e que, bem, deu certo até demais. Foi uma screen dupla atrás da linha dos três pontos, com Tyson Chandler e Dirk servindo de screen pro Terry. Na primeira vez, depois de ótima troca de passes, o Dirk atraiu a marcação dupla e tocou pro Jason Kidd, livre, acertar pra três.

E enquanto o Dallas pontuava feito doido - tirando uma bola que o Nowitzki foi bloqueado, o Dallas pontuou em TODAS, TODAS as posses de bola depois que o Wade acertou sua bola de três - o Heat simplesmente passou a ignorar o jogador mais quente da partida, o Wade, e concentrou suas jogadas no Lebron, no Bosh, no Haslem e até o Chalmers, mas o Wade continuava quietinho no canto. Aliás, quietinho o cacete, ele ficava puto porque não recebia a bola, mas o time continuava a errar - Lebron, Bosh, Haslem, Chalmers, todos tiveram sua chance de errar e erraram -  o Lebron chegou a dar air ball numa bandeja. Mesmo depois que o Mavs tirou a diferença para dois pontos num jumper do Nowitzki, o Heat foi incapaz de acertar as posses de bola. Porque exatamente? Por vários motivos, pra mim o mais culposo por parte do Heat foi deixar de acionar o Wade o tempo todo. Tudo bem que o Eric Spolestra gosta de distribuir as jogadas ofensivas, mas o Wade estava pegando fogo, não faz sentido deixar de usá-lo. Mas também teve outro lado, que foi a defesa do Mavs que se elevou a um nível sobre-humano. Era pick and roll, era infiltração, era troca de passes, era drible, tudo que o Heat podia tentar ele tentou (menos acionar o Wade) mas a defesa do Mavs reagia, fechava os caminhos, o que resultou em uma bola forçada do Lebron, e mesmo depois do rebote ofensivo do Wade, tudo que o Heat conseguiu em mais 24 segundos foi outra bola forçada de três do Lebron, que também não entrou, o Haslem tentou salvar o rebote mas gerou um contra ataque que o Nowitzki finalizou pra empatar a partida. Finalmente, quando o jogo foi empatado, o Heat acionou um Wade que tinha passado um tempão sem tocar na bola. O resultado? Outra bola forçada pra três que não entrou.

A verdade é que o Heat parecia, pela primeira vez em todos os playoffs, um time intimidado. Um time que parecia reconhecer que o adversário estava melhor, que estava jogando um jogo superior, que tinha achado a forma de superá-lo. Eles pareceram estar confiantes demais na vitória durante um certo tempo, e quando o Mavs não se deu por vencido e começou a achar cesta trás de cesta, o Miami parecia que só queria esgotar o relógio, gastar os 24 segundos e escapar com uma vitória. O time parou de jogar com ímpeto, com confiança, e sofreu as consequencias. Vale destacar também que, daquelas bolas super forçadas de três que eu citei ali em cima, a gente já viu o Lebron e o Wade acertarem algumas dessas. É a vantagem de ter um jogador desse calibre na sua equipe, ele pode acertar uma bola totalmente idiota e errada no momento certo, mas dessa vez não aconteceu.

E o Mavs aproveitou, primeiro em uma jogada sensacional do Chandler onde ele fez não uma, não duas, mas três screens pra liberar o Dirk pra uma bola de três livre que, claro, ele acertou. Mas o Heat pediu seu último tempo e, num erro grosseiro de marcação do Jason Terry, que preferiu dobrar a marcação no Wade e deixar livre quem ele realmente deveria marcar, o Lebron usou sua espetacular visão de jogo e achou o Chalmers livre da silva na zona morta pra empatar a partida em 93 a 93. E a bola final estava nas mãos do Mavs que, como qualquer mamífero poderia supor, procurou sua estrela no Dirk Nowitzki. Com tempo no relógio, ele foi acionado na parte esquerda da quadra no mano a mano contra o Bosh, que tinha feito um bom trabalho marcando o alemão naquela partida, ou pelo menos até a fatídica bola de três do Wade. Jason Terry estava na zona morta daquele canto impedindo o Lebron de dobrar a marcação, e o Chandler cortou em direção à cesta, o que deixou o Haslem em dúvida sobre se dobrar ou não. O Dirk foi pra cima, deu seu tradicional giro e em uma hesitada - um segundo de hesitação fingindo que ia virar para seu arremesso preferido - foi o suficiente pra deixar o Chris Bosh na saudade, travou completamente o brontossauro de Miami e passou por ele pra bandeja por cima da tentativa de toco do Haslem que veio tarde demais. Simples, perfeito, decisivo.

Engraçado que a única coisa boa nas famas injustificadas que muitos grandes jogadores carregam - Kobe Bryant não ser capaz de ganhar sem Shaq, Lebron não ser um cara decisivo, entre tantas outras - é que esses jogadores sempre acabam superando elas e mostrando pra todo mundo o quão eles estavam errados de alguma forma espetacular. Foi o que o Dirk fez ontem. O Dirk que sempre sofreu com duas críticas ao longo da carreira, a de ser "soft", um jogador que não gosta de contato, de dor, de usar o corpo, que prefere só usar a técnica. E a de ser um amarelão, que treme nas horas decisivas, que ele carrega desde as Finais de 2006. Ontem, o alemão passou por cima das duas e não deixou dúvidas de que estará um dia entre os grandes da história. Mesmo jogando com o tendão do dedo médio da mão esquerda (que não é a que arremessa, mas que ainda atrapalhou muito seu controle de bola), ele em nenhum momento reclamou, sempre disse que estava 100% (O que a gente cansa de ouvir o Kobe e o Chris Paul falando mesmo sabendo que é mentira) e foi com essa mão que acertou suas duas bandejas decisivas na partida, com um finger roll lindo com dedo estrupiado e tudo. E se anotar os últimos nove pontos do seu time contra uma defesa forte dessas num jogo importantíssimo para esses playoffs não é ser decisivo, eu juro que não sei o que é. Espero que, depois desse jogo, finalmente ele possa deixar essas injustiças para trás. Porque o que ele fez nesse jogo foi incrível, o que o Mavs fez foi incrível e nós, torcedores e admiradores de basquete, agradecemos, porque agora a série vai ficar ainda melhor e mais disputada.

Que venha o jogo três, em Dallas!!

3 comentários:

  1. Pois é, Dallas jogou 6 minutos a vera e ganhou mesmo com vários problemas q teve no jogo todo...ainda espero inversões de mando de quadra e torço por um jogo 7!

    ResponderExcluir
  2. Faltou humildade ao heat, o jogo só termina quando acabar, salto alto em qualquer esporte sempre dá merda.
    Além de disso o que abritagem fez com miami no 2 quarto mantendo o Dallas no jogo o tempo todo foi foda também.
    Fora as merdas que miami faz como dois jogadores irem na mesma bola, os passes errados no meio da quadra sem marcação entre outros.
    Para mim o miami é melhor mais como se diz no futebol o jogo é decidido nos detalhes.

    ResponderExcluir
  3. É bem isso, Zeca. O Heat foi melhor por 41 minutos, mas o Mavs foi melhor em sete que foram os decisivos.

    E eu concordo Alfa, faltou humildade sim. Eu confesso que achei que o jogo tava acabado com aqueles 15 pontos e pela forma como os times vinham jogando, mas eu posso achar isso daqui de casa, quem ta em quadra não pode. O Heat relaxou, achou que o jogo tava ganho e quando precisou não conseguiu retomar seu ritmo.

    E esses problemas são duas coisas, falta de entrosamento e confusão dos jogadores. O Spolestra não gosta de isolar jogadores o tempo todo, prefere movimentar bem a bola e envolver todo mundo, o que é muito bom porque o time varia e o jogo não fica viciado, mas as vezes quando uma isolação é necessária pra pontos importantes o time fica confuso, sem saber como agir e as vezes resulta em turnovers.

    ResponderExcluir