Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Como se fez um campeão


Uma comemoração mais do que merecida

Ontem eu infelizmente estava sem tempo e fiz um post apenas exaltando a conquista do Dallas Mavericks: Seus jogadores, o que significa essa conquista, a difícil temporada pela qual o time passou e idolatrei o Dirk Nowitzki mais um pouco. Mas hoje, é hora de falar com mais calma sobre  assunto. Ainda amanhã eu vou tentar dar uma passada pra comenta sobre os rumos do blog agora que a NBA acabou - não deve mudar nada, mas só pra esclarecer aos leitores mais novos mesmo. E sim, esse post ficou imenso, peço desculpas.

Primeiro de tudo, essa temporada da NBA foi simplesmente sensacional. A quantidade absurda de histórias que nós tivemos ao longo do ano e a quantidade de emoções (A raiva também é uma emoção) que elas geraram garantiram que essa temporada fosse, sob alguns aspectos, muito melhor do que as últimas, ou pelo menos muito mais comentada, com muito mais cobertura e mídia. Só pra citar algumas, a chegada da maior máquina de vídeos no Youtube que a Liga teve em algum tempo com o Blake Griffin, o Derrick Rose evoluindo de pirralho talentoso pra MVP em questão de meses, as trocas de grandes estrelas como Carmelo Anthony e Deron Williams, o Danny Ainge realizando a troca mais doente da história recente da Liga e sozinho assassinando as chances do seu time ser campeão (Depois de ver o Grizzlies liderado por Marc Gasol e Zach Randolph quase chegar na Final do Oeste, alguém ainda tem coragem de afirmar que a troca do Pau Gasol pro Lakers foi mais idiota do que a do Danny Ainge?), a evolução do Thunder de 'time do futuro' pro 'time que pode ganhar quando o Russell Westbrook aprender a armar mais e arremessar menos' e, claro, a existência de um vilão como não se via no esporte talvez desde sempre (Pistons do final dos anos 80, talvez?) que foi a versão 2011 do Miami Heat. E essa última foi a linha mestra através da qual gravitaram todas as atenções da NBA ao longo de grande parte da temporada.

E tudo isso começou com o show de Free Agents do último verão e, claro, com o The Decision. Agora que já se passaram onze meses desde aquele dia, a gente pode sentar e pensar com calma no efeito daquela decisão. A idéia de juntar três dos melhores jogadores da Liga em Lebron James, Dwyane Wade e Chris Bosh em Miami era ao mesmo tempo fascinante e assustadora. Sempre é bom ver grandes craques jogando juntos, Wade e Lebron talvez sejam os dois melhores jogadores do mundo na atualidade, mas por outro lado, muita gente viu isso como uma "trapaça", uma forma fácil de tentar ganhar títulos. O medo de um time que seria tão supremo também tomou conta da Liga e, como o Heat continha o Lebron James, todas essas coisas se transformaram em ódio. Assassinando o Salary Cap pra assinar seu Big Three e mais Udonis Haslem e Mike Miller, o Heat completou seu time com restolhos (Aqueles que NUNCA são escolhidos pro seu time de futebol no colegial) e logicamente confiou no talento de suas grandes estrelas pra ganhar um título, a ponto de até comemorar muito antes da temporada começar. Não é a toa que eles eram tão odiados: Era um time com muito talento, uma boa dose de arrogância, e o jogador mais odiado do mundo.

Eu pessoalmente não gostei da troca por três motivos: Primeiro, porque achei que o Lebron estava escolhendo o "caminho fácil" para um título, que era se juntando a outras estrelas em seu auge. Não precisava necessariamente ficar em Cleveland, mas eu confesso que prefiro ver grandes jogadores desenvolvendo seu jogo e seus times ao seu redor ao invés de sair e se juntar a um mais forte. Talvez mais velhos, em busca de um título desesperado, mas o Lebron tem 26 anos e está no auge de suas forças! Não que seja errado ou proibido, eu só não gosto. Em segundo lugar, porque eu fiquei com medo que, se a combinação Wade-Lebron desse certo demais, a gente podia ter um campeonato chato e previsível com um time apelão demais, tipo aqueles que você montava no NBA Live ao trocar o JR Smith pelo Pau Gasol. E por fim, porque eu adorava a rivalidade Wade/Lebron e com os dois no mesmo time a gente não veria mais jogos épicos de rivalidade entre os dois, como aconteceram vários nos últimos anos.

Mas o motivo pra eu torcer contra o Heat era outro. O Heat contrariava tudo que eu acredito em esportes. Era a representação da idéia de que você só precisa juntar muito talento pra vencer. Eu sempre acreditei que havia muito mais para um time ser campeão do que simplesmente colocar bons jogadores juntos, que existia muito mais coisa por trás, a própria ideia de 'time', de que existem coisas que não podem ser mensuradas em números ou estatísticas, que existia aquele coletivo que torna cada um dos seus componentes tão melhores que só pode ser alcançado por times que evoluem juntos, jogam juntos, conhecem suas falhas e conhecem um ao outro. O Heat era exatamente o contrário disso, e eu queria ver o Heat derrotado pelo menos nesse seu ano de estreia para que eu pudesse ver que eu não estava errado.

Mas o Celtics mandou o Kendrick Perkins embora e trouxe de repente uma cacetada de jogadores que nunca tinham jogado juntos, e o Chicago Bulls não foi páreo para o Miami no Leste. O Heat foi um time que cresceu muito ao longo da temporada, passou cada vez mais do jogo individual para o coletivo, mas ainda era um time sem um grupo, eram três estrelas e um bando de descartados em volta. Mas o time parecia imparável e suas estrelas, de fato, eram grandes estrelas. O Heat chegou na Final da NBA com status de favorito.

E enfrenteram, na Final, um time que era exatamente o oposto desse time cheio de grandes craques e mais 12 jogadores descartáveis. O time de uma única estrela e mais uma cacetada de Role Players que sabiam exatamente sua função em quadra, um time que era arquitetado não como um conjunto de três ou de cinco, mas sim de oito ou nove jogadores. Um time que jogava um basquete tão coletivo a ponto de sua grande estrela se sentir extremamente confortável como uma peça do time como outra qualquer, um jogador que não jogava só como o grande pontuador que é mas como parte do todo, atraindo marcações duplas, distribuindo a bola e confiando nos seus parceiros. As vezes ele passava jogos inteiros só arremessando oito ou nove vezes porque preferia achar seus companheiros em boas condições com uma ótima rotação de bola - marca registrada da equipe - a forçar arremessos. Um time veterano com uma grande defesa coletiva, ótima rotação de bola, que chegou onde chegou do "jeito antigo", montando um núcleo, trazendo jogadores, evoluindo seu jogo, refinando o esquema tático e superando todo o tipo de adversidade juntos.

A questão aqui não e quem está certo e quem está errado, qual é o melhor e qual é o pior. São dois times com formações totalmente diferentes, um baseado no talento individual e que ganhava porque tinha três grandes craques, e outro baseado no jogo coletivo, em cada jogador desempenhando seu papel e que ganhava por causa disso. O fato de um ter ganho não quer dizer que seu caminho seja certo ou melhor, só que DEU certo dessa vez.

De certa forma, foi ironico que logo esses dois times chegassem à Final. Não só eles representavam duas mentalidades de basquete totalmente opostas, como também eram opostos em mais um monte de coisa. Eu falei, nas Finais de Conferência, que os times velhos que polarizaram a NBA recentemente (Lakers, Spurs e Celtics) estavam perdendo espaço para times jovens como Heat, Bulls e Thunder. A excessão era, justamente, o Dallas Mavericks, time veteraníssimo. E claro, não vamos esquecer que foi esse mesmo Miami Heat liderado por esse mesmo Dwyane Wade quem destruiu o sonho do Mavs seis anos atrás, quando mesmo ganhando por 15 pontos no jogo 3 em Miami e com a série 2-0 em seu favor viu o Wade sozinho virar para 2-4 as Finais e levantar o troféu com ajuda do Shaq. Se vocês não acreditam em Destino, ver logo esses dois times chegarem nas Finais - a revanche de 2006, o último representante vivo da velha geração contra os dois melhores jogadores da nova (atualmente), um time baseado no individual outro no coletivo, um time montado com base no talento outro com base no time, a possível última chance de jogadores como Nowitzki e Jason Kidd ganharem um título contra a primeira chance do Big Three do Heat - talvez faça algumas pessoas mudarem de ideia. Não podia ser mais simbólico.

O que torna a vitória do Dallas tão interessante. Talvez a velha guarda esteja indo embora levando com ela o estilo antigo de se vencer e de se montar um campeão, como fez o Mavericks. Talvez na nova geração a moda seja times como o Heat ou o Knicks (E estamos no aguardo ainda de Deron, Chris Paul e Dwight Howard fazerem seus movimentos) que são montados se pegando um monte de grandes estrelas em seu auge e colocando juntas cercadas por um banco de restolhos que não devem atrapalhar. O Bulls é um time que escapa um pouco a isso, talvez um motivo de eu ter torcido tanto pra eles. Mas nessas Finais, nesse momento, vimos esse time cheio de jogadores com famas de amarelões, jogadores que supostamente não seriam vencedores - em resumo, jogadores sem um anel - ganhar, com base na força do seu grupo, sobre o time mais baladado dos últimos anos, sobre as grandes estrelas da NBA. E sim, eu sei, eu falo que nem velho.

E olhando a série agora, nós podemos dizer que o Mavericks jogou melhor que o Heat tirando, digamos, os dois últimos jogos? Pra mim não. Mas pra mim, o único jogo que o Heat dominou foi o jogo 1, quando Wade e Lebron dominaram o Mavs no segundo tempo, conseguiram impor seu jogo e fizeram todos acreditarem que eles iriam levar essa com facilidade. No jogo 2, apesar do Heat ainda ter jogado melhor a maior parte do jogo, a dominação foi menor porque, no final do jogo, o Mavs usou sua grande estrela para mudar o panorama da partida, ganhar o jogo sozinha e empatar a série. E se o Dirk quase fez o mesmo no jogo 3 - outro jogo onde o Heat jogou melhor, mas não dominou - nos últimos três jogos o Mavs sobrou. E sobrou porque, finalmente, apareceu o jogo do Mavs. Nos três primeiros jogos, o duelo foi entre as estrelas, como eu disse nesse post sobre o jogo 3. Sim, o Nowitzki ganhou um deles sozinho, mas se ele as Finais continuassem se resumindo a disputas entre estrelas, o Dallas não tinha a menor chance, nenhum time da Liga tem. E foi aí que o Dallas percebeu isso e voltou a jogar seu basquete, um basquete coletivo cheio de bolas de três, que ganhou os jogos 4 e 5. E isso a gente notou de uma forma absurda principalmente no jogo 6, que pra mim foi o símbolo dessa série.

No jogo seis, o Dirk Nowitzki estava mal. Muito mal. Ele acertou apenas um de 12 arremessos no primeiro tempo e só foi para o banco com três pontos porque o Mario Chalmers foi uma besta de cometer uma falta técnica desnecessária. Ele não fugiu do jogo, não desistiu de arremessar, continuou jogando seu jogo, mas ele estava descalibrado. A bola batia dentro e saia, o aro atrapalhava, qualquer coisa que fosse, mas ele não acertaria nem pra salvar a vida no primeiro tempo. E mesmo assim, o Dallas foi pro intervalo ganhando! Sim, foi porque o Jason Terry teve uma noite transcendental, mas isso não conta toda a história. O DeShawn Stevenson acertou duas bolas lindas de três. O Tyson Chandler fez o que quis no garrafão. O JJ Barea continuou forçando e acertando todo tipo de arremesso. Que diabos, até o Ian Manhimi e o Brian Cardinal foram úteis para o Mavs! Quando os coadjuvantes estavam mal, o Dirk levou o time nas costas. Quando o Dirk estava mal, o time todo ajudou o alemão, e ele sabia que estavam lhe dando cobertura, por isso continuou arremessando e errando até entrar num ritmo assassino no quarto período. Isso é jogo em equipe. Um jogador pode estar mal, mas o resto do time dava apoio e contornava o problema, fosse o JJ Barea ou o Nowitzki. E no final do jogo 6 - como em todos os jogos - quem colocou a bola embaixo do braço e fez cesta atrás de cesta sem ligar pra coisas mundanas como as leis da física foi o alemão, mesmo tendo tido um jogo péssimo no primeiro tempo, foram mais 10 pontos decisivos para o Dallas nos quartos períodos - ele teve 62 somando os seis quartos periodos da série. E o Heat nunca conseguiu superar os problemas que o Lebron teve nos últimos cinco jogos das Finais. A responsabilidade caiu demais no Wade, que sabia que não tinha ninguém pra lhe dar cobertura. Quando o Wade se machucou no jogo 5 e o Lebron não assumiu a responsabilidade dentro de quadra, o time se perdeu. O time não conseguiu achar uma forma de dividir a responsabilidade, como o Mavs tanto fez. O Mavs mostrou que não se ganha um título com três, e sim com 10!

Não acredita? Então conte comigo. Dirk Nowitzki, MVP da Finais, MVP dos playoffs, o jogador mais imparável da pós temporada. Jason Kidd, que não é o mesmo armador de antes mas que manteve sua inteligência em quadra e ainda adicionou um arremesso de três pontos certeiro, e fez cestas de três quando seu time mais precisou - foi uma no jogo quatro, uma no cinco e duas no seis. Jason Terry, que foi o principal coadjuvante do alemão, e quando ele começou a aparecer pro jogo o Dallas começou a ganhar, foi fundamental para manter o time no jogo quando o alemão esteve fora de ritmo e ainda acertou bolas de três decisivas em toda a série. Shawn Marion, que fez um trabalho defensivo absurdo no Lebron James e ainda foi o terceiro melhor jogador ofensivo do time. Tyson Chandler, um monstro na defesa, que foi o responsável por dominar o garrafão (Fator importantíssimo para a série) e manter o Heat longe do aro e dos rebotes. JJ Barea, o anão branco vindo do banco que jogou mal os quatro primeiros jogos pra depois chutar a bunda do Heat nos dois últimos com infiltrações malucas e bolas de três forçadas. DeShawn Stevenson, que acertou bolas de três importantes nas últimas vitórias da equipe. E sim, Brian Cardinal - que foi responsável por um dos momentos decisivos do último jogo, quando desmontou a defesa do Heat (!!!) partindo pra cima antes de achar o Dirk livre no perímetro pra três e depois antecipando a bandeja do Wade (!!!!!!!!!) e cavando uma falta de ataque, duas jogadas que tiraram de vez o Heat do jogo. Até o Peja Stojakovic - que não foi bem nas Finais mas que foi importantíssimo pra vencer Lakers e Thunder - e o Brandon Haywood (Machucado nas Finais) tiveram um papel fundamental ao longo dos playoffs. Contou? Foram 10. Claro que nem todos foram essenciais para o título, mas todos tiveram seu papel e todos contribuiam. O Heat no máximo pode falar, além do seu Big Three, de Mario Chalmers e Haslem. Cinco.

E mais um personagem que merece muitos créditos aqui é o Rick Carlisle. Ele foi responsável direto pela vitória do Mavs na série. Ele fez todos os ajustes importantes nas horas certas pra fazer seu time vencer, como por exemplo deixar a zona de lado após o jogo 1 e reservá-la pra confudir o Heat em momentos chave da partida, colocar o JJ Barea de titular pra deixar o DeShawn Stevenson vindo do banco pra marcar o Lebron na ausência do Marion e colocar uma pulga branca de titular pra confudir a defesa de Miami, as mudanças nas jogadas ofensivas pra furar a marcação ninja de Miami nos pick and rolls, afundar o Peja Stojakovic no banco pra dar mais minutos ao Brian Cardinal... Ele fez tudo certinho, manejou o time com perfeição, leu o Heat como ninguém tinha lido até aqui e foi infinitamente melhor que o Eric Spolestra.

O Spolestra fez ajustes sensacionais contra o Bulls e explorou muito bem as fraquezas do adversário (as más linguas dizem que quem mandou ele fazer tudo isso foi o Pat Riley) mas ficou completamente perdido nas Finais. Aliás, chega a ser engraçado como as coisas deram errado pra ele. Ele notou o problema do coletivo do Miami e implementou o ano todo um sistema ofensivo coletivo, que envolvia todos os jogadores e diminuia as jogadas individuais. Mas foi exatamente isso que tirou a bola das mãos do quentíssimo Wade no jogo 2 e tentou envolver Bosh e Haslem quando o Mavs estava voltando a apertar no placar, o que deu muito errado, o time não conseguiu pontuar e quando o Wade pode finalmente receber a bola já tinha esfriado. Ele também mandou o Lebron fazer mais o papel de facilitador do que de pontuador para achar o buracos na zona do Mavs, o que ele aliás fez bem, mas quando o Mavs se acostumou e se adaptou a isso, o Heat não conseguiu se adaptar mais. O time não conseguiu defender as variações ofensivas criadas pelo Carlisle e nem achar uma forma eficiente de pontuar no quarto período, muito em parte pela passividade do Lebron também. E por fim, um técnico que tenta implementar um jogo coletivo não pode chegar até a Final sem ter uma rotação e um plano de jogo definido. O Mike Bibby jogou 20 minutos por jogo nos cinco primeiros e não entrou em quadra no último. O Eddie House jogou 15 minutos em TODOS os jogos desses playoffs combinados até o jogo 6, quando jogou 21. Se você na Final não tem uma rotação, sinto muito, mas você vacilou.

E não da pra falar disso sem falar de Wade e Lebron, até porque essa conversa toda começou com o The Decision. A postura do Lebron James nos últimos cinco jogos das Finais foi um grande enigma pra muitos. Muita gente vai chamar ele de amarelão, muita gente vai falar que ele não gosta de jogos decisivos, mas pra mim não é o caso. Ele já provou pra gente muitas vezes que sabe decidir quando precisa - Contra o Pistons em 2007, contra o Magic em 2009, contra o Celtics e o Bulls esse ano mesmo. Só porque ele foi mal em UMA série decisiva (A de 2010 não conta, ele tava claramente jogando esperando a hora de ir embora) não quer dizer que ele não consiga jogá-las. Aliás, é engraçado como o fenômeno de mídia que é o Lebron cria uma faca de dois gumes. Existiam tantos haters, tantas críticas ao Lebron sem fundamento que não mereciam atenção (ao mesmo de outras que eram justificadas, claro) que agora que ele realmente jogou mal e vacilou num momento importante a gente não pode críticar sem ouvir gente falando que é ódio contra o Lebron. Pra mim, ele realmente foi mal, merece as críticas que vai ouvir, mas a gente tem que saber diferenciar uma coisa: Não foi o Lebron que perdeu a Final. Foi o Miami Heat. Um indivíduo não ganha sozinho nem perde sozinho. Wade, Bosh e todo mundo lá também perdeu a Final pra um conjunto que foi superior.

Dito isso, eu acho que o Lebron foi mal sim. Não por ter armado mais e pontuado menos, ele prefere assim e diga-se de passagem é excelente armando o jogo, mas por não ter conseguido sair disso. Ele começou assim pra destruir a defesa por zona do Mavs no jogo 1, depois assumiu esse papel nos outros jogos, mas não fez mais nada. E quando você só tem três jogadores no elenco que sabem criar o próprio arremesso e o Chris Bosh é bem mal aproveitado, é de se esperar que o Lebron seja mais agressivo. O Heat chegou até aqui por era impossível marcar Wade e Lebron indo pra cima e infiltrando. Mas quando o Heat precisou das infiltrações e do pontos do Lebron, ele simplesmente foi passivo, preferiu passar a bola de lado - e muitas vezes isso não envolvia criar uma situação de assistência, simplesment pegar a bola e soltar. Revejam o terceiro período do jogo 6 e vocês verão uma hora em que duas vezes o Lebron ficou com medo de jogar de costas em cima do JJ Barea, preferindo primeiro voltar a jogada até o meio da quadra com o Wade e depois dar um empurrão grotesco pra uma falta de ataque. Ele muitas vezes pareceu desconfortável em quadra e até sem confiança. Não foi o Lebron que usa seu físico e controle de bola de outro mundo pra infiltrar, desmontar todas as defesas do universo e conseguir pontos fáceis em bandejas, enterradas ou lances livres, foi um Lebron que parecia com medo de pisar no garrafão, que preferiu insistir nos arremessos longos que não caíram a série toda. E, claro, sumiu completamente dos quartos períodos. Muitas vezes nem fazia o papel da armação, parecia que ele só queria sair de cena e ficar longe da ação, pegando a bola e tocando rápido quando acontecia e evitando chamar o jogo. Desculpa Lebron, mas se você é tão bom (e ele é!) você não pode ficar se escondendo atrás do Wade o tempo todo e esperar que o Haslem apareça pra aliviar a carga do camisa 3. O Heat chegou até aqui porque vocês dois eram espetaculares, porque agora você preferiu ficar na sua e deixar tudo nas mãos dele?

Não sei o que aconteceu em Miami. O Wade era o líder do time, era a sua mentalidade competitiva que o time assumiu ao longo da temporada, mas dentro de quadra o Lebron era o jogador consistente. O Wade estava jogando mais fora da bola (Orientação do Spolestra) pra variar o repertório ofensivo do time e o Lebron era o centro das ações de ataque de Miami, seja criando ou finalizando. O Wade era decisivo pro Heat - sempre foi, mais que o Lebron - mas o Lebron sempre esteve lá, pra combinarem seus jogos e fazerem um ao outro melhor. Mas o Wade, principalmente durante os quartos períodos, teve que carregar o time nas costas. Pontuar sozinho, armar todas as bolas, porque ninguém mais no time fazia isso - o que não teria grandes problemas se um cara que foi duas vezes MVP não estivesse do outro lado da quadra. O Wade jogou seu melhor jogo na Final, apareceu e jogou muito basquete, e o Lebron se escondeu durante boa parte. Não falemos que o Lebron é amarelão - ele não é - mas não tenhamos medo de falar que sim, ele jogou mal, foi passivo demais e não é a toa que o Wade se enfezou com ele e deu uma tremenda bronca no companheiro no final do jogo três.

No final, o Mavs finalmente foi campeão e Terry, Kidd, Marion e Dirk finalmente conseguiram o anel que mereciam há anos. Finalmente podem se livrar daquelas idiotices de que quem não foi campeão tem menos valor do que alguém que foi. E agora o Kidd pode se aposentar em paz e o Dirk pode finalmente relaxar sabendo que seu nome está entre os maiores de todos os tempos. O Dallas vai querer mais, claro, mas não sabemos se o time velho vai conseguir. E não tem problema, eles fizeram a história aqui.

Para o Heat, ao contrário, a história está só começando. Se não houver (ou estiver tendo) um conflito de egos dentro do time, esse Big Three deve durar mais quatro ou cinco anos. É tempo de sobra pra ganhar títulos, fazer história e dominar a Liga. O time deve aproveitar agora a offseason pra trazer jogadores pra melhorar o elenco de apoio, um bom pivô, renovar com o Chalmers e tudo mais. O Heat - e o Lebron - tem agora a sua chance de crescer, de aprenderem com os erros, de reconhecerem as próprias falhas e evoluirem juntos. Eles provavelmente vão voltar mais fortes ano que vem e eventualmente podem sair campeões. Mas eu confesso que, pelo Dirk, pelo Mavs e por tudo que eu acredito no basquete, eu fiquei feliz que esse título do Heat não tenha saído de primeira. Talvez de segunda...

5 comentários:

  1. Na verdade eu não gostava nem do Bulls e nem do Miami. Acho que os dois times tem uma mentalidade de "ataque é besteira, legal é ganhar de meio a zero" e em nome disso não tinha jogadores talentosos, apenas defensores. Miami e Chicago eram jogos que podiam muito bem acabar 60x50 em um dia no qual os jogadores tivessem uma noite um pouquinho pior

    Outra coisa que acho que poderia ter sido comentada era que Nova York finalmente deixou de feder e depois jogou tudo fora por uma estrela.

    Por falar nisso, que pena que o Celtics, Knicks e o Jazz sofreram tantas mudanças. Eram times que eu adorava ver, times com vários jogadores talentosos, jogo coletivo...

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  2. Interessante, confesso que não pensei por esse lado no Jazz, um time quie tinha um bom coletivo que tava entrosando e evoluindo e sacrificaram em troca de uma estrela. Comentei na época, claro, mas não tinha notado que se encaixa perfeitamente no assunto, ótima ideia.

    E o Knicks, como voce disse, foi uma escolha, optaram pelo caminho das estrelas ao invés do coletivo. No caso do Jazz, necessidade. E no caso do CEltics, não fez um puto de um sentido!! O Danny Ainge desmontou completamente um time favorito ao título sem nenhum motivo cabivel! Confesso que esse eu não entendi e me deixou bem abalado com o Celtics.

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  3. Opa, não pensei por esse lado no Knicks*

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  4. Essa do E-House foi bem estranha mesmo, parecia que ele tava sendo obrigado a arriscar...se tem uma hora ruim pra fazer uma mudança importante dessas na rotação é num jogo de finais que você está com "as costas voltadas pra parede"...apesar de não ter sido esse o motivo da derrota

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  5. Não foi o motivo da derrota, mas simboliza como o Heat não tinha de fato um time fora do Big Three. Eles nem sabiam a própria rotação!! Quando o Big Three não tava resolvendo, eles tiveram que apelar até pro House pra tentar ajudar alguma coisa. Surpreende que não ajudou?

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