Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Cinco contra cinco

O verdadeiro camisa seis do Miami Heat


Nesses playoffs, tivemos muitas performances em alto nível de vários jogadores. Jogos históricos de alguns, de outros nem tanto mas nem por isso deixam de ser grandes jogos. Lebron James, Dwyane Wade, Dirk Nowitzki, Kevin Durant, Brandon Roy, Carmelo Anthony, Chris Paul e Zach Randolph são alguns dos jogadores que podem se orgulhar de pertencer ao grupo de jogadores que conseguiram um grande jogo nesses playoffs. Mas acho que ainda não tinhamos visto um duelo do nível do que vimos ontem entre Wade e Nowitzki no quarto período.

E como tem acontecido até aqui nessas Finais, a história do jogo tem sido a inconsistência de ambos os times que resulta em várias sequências de algum time, que nesse período pontua, joga bem na defesa, comete poucos turnovers e executa bem no ataque, pra no período seguinte esse time apagar, errar tudo, e ver o adversário abrir vantagem (ou tirá-la) no placar. Foi assim no jogo 1, foi assim no jogo 2, e não tinhamos porque acreditar que seria diferente no jogo 3. Mas isso não quer dizer que ajustes não tenham sido feitos entre os jogos, muito pelo contrário. As mudanças do jogo 1 para o jogo 2 foram cruciais para a vitória do Mavs, como por exemplo abandonar a defesa por zona e congestionar o garrafão pra obrigar o Heat a chutar de longe e manter o Dirk mais próximo da cesta na defesa para fazer o box out e evitar rebotes ofensivos. E o Heat também fez as suas mudanças, misturou as dobras de marcação no Nowitzki, passou a atacar ainda mais as linhas de passe e centrou mais o jogo na dupla Lebron/Wade (Sim, ainda mais que de costume).

Mas pro jogo 3, parece que o Mavs ainda não aprendeu com alguns erros que vinha cometendo, principalmente quando o assunto é cometer turnovers. Foram 14 turnovers, e eles geraram 19 pontos em contra ataques fáceis, sem contar os lances livres. É verdade que o Heat também cometeu 13 turnovers, mas o Heat tem um aproveitamento muito melhor nos contra ataques do que o Dallas. Aliás, o Dallas muitas vezes comete turnovers quando sai no contra ataque, e tem resultados melhores quando pega os rebotes e cadencia o jogo ao invés de sair na correria. Foi algo que o Dallas fez certo, evitou um número maior ainda de turnovers, mas o número de disperdicios de bola em ataques de meia quadra ainda assustou. E pra piorar, o Brandan Haywood ainda escolheu o pior momento possível pra se machucar. O pivôzão pode ser reserva, mas é enorme, pega rebotes e da tocos, tudo que o Dallas quer pra congestionar o garrafão quando o Tyson Chandler ou o Nowitzki tiver que sentar com faltas ou pra descansar. O substituto dele é o Ian Mahinmi, que sejamos sinceros, é um Brian Cardinal mais alto e forte. Ele é horrível, jogou oito minutos por falta de opção e foi suficiente pra cometer cinco faltas e errar em 80% das posses de bola no ataque ou na defesa. Sem o par de monstros de garrafão pra tirar Wade e Lebron de dentro da área pintada, o Dallas não conseguiu fazer o ótimo trabalho que fez no jogo dois, limitando Miami a apenas 28 pontos no garrafão - foram 40 ontem a noite.

Tudo isso foi o que o Heat usou a seu favor pra pular à frente durante muitas partes do jogo. Mas ao mesmo tempo, o Heat teve seus apagões e o Dallas soube aproveitar isso. Geralmente isso coincidia com das duas uma: Com as bolas longas, ou com bons momentos do Dirk Nowitzki. Aliás, as bolas longas estão sendo um problema para o Dallas até aqui, que não tem conseguido fazer bom uso delas como vinha fazendo. Talvez isso se deva às péssimas partidas que o JJ Barea tem fazendo e ao fato de que o Peja Stojakovic compromete demais a defesa para ficar em quadra, mas o Dallas vinha precisando muito mais dos pontos perto da cesta do Shawn Marion para se manter no jogo. O que foi problemático, porque ofensivamente o Marion teve um jogo mais apagado ontem e o time sentiu a falta dos pontos. Se o Dallas chegou no final do jogo com chances reais de ganhar, foi porque em certo momento o Dirk Nowitzki pegou fogo, marcou 12 pontos seguidos e sozinho recolocou o Dallas na partida, tirou a diferença do Heat e empatou o jogo. E do outro lado, o craque do Heat até aqui nas Finais (E pra mim nesses playoffs), Wade, entrou quando seu time estava sendo esmagado pelo alemão e fez suas cestas pra recolocar o time no jogo, depois virar, depois abrir vantagem mais uma vez. Foi um duelo de altíssimo nível entre os dois, cada um fazendo sua mágica no ataque e foram sem dúvida alguma os destaques do jogo, o alemão com 34 pontos (o maior valor que um jogador atingiu contra o Heat nesses playoffs) e 11 rebotes e o ala-armador com 29 pontos e 11 rebotes.

Mas a parte interessante e importante para esse jogo foi o fato de que o time que ganhou não foi do que teve a melhor performance individual, e sim do que teve mais ajuda dos companheiros de time. O Dallas não teve nenhum jogador além do alemão que realmente jogou bem, consistentemente, principalmente no quarto período, onde a única escolha do Dallas foi entregar tudo nas mãos do seu craque, que respondeu à altura, jogou bem pra cacete e colocou o time no jogo praticamente sozinho. E se o Wade foi o cara que devolveu tudo que o Dirk fez no final do jogo, e o Heat contou com jogos ruins do Chris Bosh e até do próprio Lebron, o Heat recebeu muito mais ajuda dos seus jogadores secundários, em especial do Mario Chalmers. Eu já falei que não sei como ele é reserva, ele é um bom jogador, bom defensor, erra pouco e chuta bem de três, e ontem ele acertou quatro dessas bolas, inclusive uma do meio da quadra at the buzzer no final do primeiro quarto. Mas não foi só nas bolas de três, ele marcou bem, jogou bem com a bola na mão e deu opção aos seus companheiros de time. O Chalmers foi, comparativamente, mais importante pro Heat no jogo de ontem que o Lebron. Não que o Lebron tenha jogado pior, mas em comparação ao que você espera dos dois, o Chalmers superou as expectativas e acertou suas bolas importantíssimas, enquanto o Lebron deu algumas enterradas geniais, algumas bolas milagrosas - tudo que a gente espera dele - mas forçou demais o jogo, exagerou nos turnovers e foi em alguns momentos fominha. Mas o fato dele e do Bosh estarem lá já faz do Heat um time muito melhor, assim como faz do Wade um jogador melhor. Podem estar jogando mal, podem não estar num grande jogo, mas são perigosos demais e podem resolver. Ao contrário do Dallas, que só tinha o Nowitzki realmente jogando bem e confiável em quadra.

E isso teve um impacto direto no resultado do jogo. Depois que um arremesso ninja do Dirk empatou o jogo em 86, o Heat veio com não uma isolação para o Wade, e sim com uma jogada de equipe. Começou com um pick and roll entre Wade e Lebron, o Lebron infiltrou e quando o Chandler veio pegar a bola, o Udonis Haslem fez um ótimo corta luz - muito parecido com o que o Chandler fez pra bola de três do Dirk no jogo 2 - pra deixar o Bosh livre pra receber o passe pelas costas do Lebron e finalizar. Simplesmente perigoso demais pra deixar os dois livres, e eles mostraram o porque. Mas na hora do Dallas montar sua jogada, a jogada foi o previsível: Uma isolação para o Dirk na cabeça do garrafão. O Mavericks simplesmente não tinha muitas opções com a forma como vinha jogando, o único jogador alí que eles confiavam era o alemão. Mas isso também tornou as coisas mais fáceis pra defesa do Heat porque eles já sabiam o que esperar. Ele pegou na bola, a dobra de marcação veio, ele girou para passar e veio um terceiro defensor. Eles não se preocuparam com mais ninguém porque sabiam que ninguém iria pegar a bola - e se pegasse, qual a chance de conseguir definir a jogada? Ninguém estava conseguindo fazer isso no time.

Essa jogada terminou com o Dirk tentando um passe apertado e errando. Mas o Dallas teve mais uma chance depois que uma troca de bolas terminou num arremesso de três errado do Lebron - e vale destacar aqui que, quando ele arremessou, tinha ao seu lado, livre, o Mario Chalmers, que é um melhor arremessador que ele. O Dallas recuperou a bola e tinha apenas 4.4 segundos no relógio com dois pontos de desvantagem. E aí, pra não deixar o Heat ler sua jogada, eles desenharam uma jogada que NÃO era pro Nowitzki. Se vocês olharem novamente a movimentação antes da jogada, a bola era pra ir para o Jason Terry. Mas o Terry não está numa grande série e não estava num grande jogo, e pior do que isso, não tem a estrela do Lebron ou do Bosh. Ele não conseguiu se desmarcar, o tempo pra colocar a bola em jogo tava acabando e aí o Nowitzki se desmarcou bem atrás da linha dos três pra receber a bola. Era o melhor jogador do time, mas a situação era péssima: ele recebeu a bola muito atrás da linha dos três, com pouco tempo no relógio e com a marcação em cima. Ele não teve espaço nem tempo pra tentar seu arsenal enorme de dribles, bateu pra cima, fez seu fadeaway e errou, mas ele não teve culpa. A situação estava péssima e marcação estava perfeita (Créditos ao Haslem), ele tentou mais um milagre e não conseguiu. Seus companheiros não conseguiram dar a ele nenhum suporte no final e o time pagou por isso nas duas últimas posses de bola, enquanto o Heat ganhou o jogo numa jogada coletiva e não individual. Os craques tiveram um duelo de altíssimo nível, ótimo para a gente assistir, mas quem ganhou o jogo não foi o craque, e sim o elenco de apoio (Eu sei que chamar Lebron e Bosh de 'elenco de apoio' é uma simplificação grotesca, mas vocês entenderam o meu ponto), aqueles que estão ao redor de Wade e Dirk. Se Wade e Dirk são, individualmente, os destaques da série, entre os outros jogadores queme stá claramente levando vantagem é o time de South Beach.

Aliás, nisso tem uma questão que envolve o técnico Eric Spolestra. Eu critiquei muito o fato do Wade ter sido "esquecido" no final do jogo 2 mesmo estando pegando fogo e pedindo desesperadamente a bola. O Heat rodou a bola com Bosh, Chalmers, Haslem e Lebron, deixando o camisa 3 isolado num canto sem tocar nela, e o time de Miami não acertou nada e viu o Dallas aproximar. Isso acontece porque o Spolestra prega uma movimentação ofensiva muito mais coletiva, que usa cada vez menos as isolações e prefere dividir as ações ofensivas pra não colocar tudo nas mãos de um ou dois jogadores só. Isso é ótimo quando você não quer viciar o ataque e seus jogadores estão focados e movimentam bem a bola, que foi a causa da vitória no jogo três, uma jogada desenhada que rodou a bola, envolveu o time quase todo e terminou com a cesta do Bosh. Mas por outro lado, as vezes ela ignora totalmente um jogador quente que pode individualmente decidir um jogo - ainda mais com o talento do Wade - pra manter esse padrão ofensivo, o que as vezes aproveita mal o momento dos seus jogadores e foi uma das causas da derrota no jogo dois. Aí depende um pouco do momento, acho que o Spolestra podia ser um pouco mais flexível e menos cabeça dura com seu padrão ofensivo, mas... ta dando certo, a série ta 2-1, então acho que ninguém em Miami deve tar reclamando muito. A não ser que o Dallas ganhe suas próximas partidas em casa, claro, memória curta é lei na NBA, foi só o Dirk errar seu arremesso nio último segundo que voltou a ser amareção descartando totalmente o fato dele ter sozinho recolocado o Dallas no jogo (e na série, se contar o jogo 2).

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