David Stern e Billy Hunter se aposentaram juntos
faz cinco anos. Só que esqueceram de contar para eles.
Eu sei que é quase um crime falar de um assunto tão mórbido quanto um lockout quando a NFL já deixou esses problemas para trás, está a todo vapor e estamos cada dia mais perto desses playoffs, está um bonito dia de primavera e tudo que eu menos quero é falar sobre mais um lockout que pode (e provavelmente vai) nos custar alguns jogos. Mas eu recebi hoje um email de um leitor que se identificou apenas como "Pedro" que perguntava o que era para achar dessas reuniões sucessivas da NBA, se estavamos tendo algum avanço e, de modo geral, em que ponto as coisas estavam. Eu tentei de verdade responder por email como eu costumo fazer, mas não teve jeito. Sairam 5000 palavras. Então vamos tratar desse tema de uma vez por todas.
Eu já comentei várias vezes sobre o lockout da NBA, especialmente em comparação com o lockout que a NFL enfrentou antes da temporada. Quem quiser leituras aprofundadas sobre isso pode ler esse texto comparando os dois de forma mais aprofundada, mas para quem tem preguiça, vamos resumir a questão.
Os dois lockouts começaram de maneira idêntica, pois o CBA (contrato entre o sindicato dos jogadores e a Liga) terminou e ambos os lados estavam emperrando nas negociações para assinar um novo. Mas o motivo que manteve os dois lockouts ativos por tanto tempo foram muito diferentes. O da NFL era uma coisa relativamente simples: A Liga tem um faturamento anual de 9 bilhões de dólares, e os dois lados estavam discutindo quem ia ficar com quanto. Tinham algumas questões menores - salários de calouros, aposentadorias, etc - mas a base da discussão era a distribuição desses 9 bilhões. Ganância em sua forma mais pura. Quando a água bateu na bunda e ameaçou afetar a temporada, os dois lados se juntaram e em seis dias resolveram tudo a tempo de não alterar em nada a tabela da temporada regular (alguns efeitos aconteceram com os times, é só ler aqui, mas não vamos tão longe hoje). Simples.
A situação da NBA nunca foi simples, porque a questão é totalmente diferente. Ao contrário da NFL, que é uma Liga extremamente sólida, equilibrada e lucrativa, o modelo da NBA está se mostrando cada vez mais insustentável. Os times estão, na média, tendo prejuízo. Entrar na Liga não é uma atividade atraente para a maioria. As pessoas estão parando de ir aos ginásios, e a NBA está pagando mais do que pode. Ainda que os 370 milhões que os times alegam ter perdido não seja um número confiável, o ponto é que a NBA parou de ser uma liga sustentável.
Ou seja, enquanto a questão da NFL era simplesmente uma divisão de lucros, na NBA você tem um modelo que não funciona mais. Times gastam mais dinheiro do que ganham, o formato da Liga é brutal com os times de mercado pequeno, que são condenados a sempre terem problemas financeiros para manter seus elencos e em geral só conseguem se manter realmente competitivos quando tem uma base do nível do Kevin Durant. E isso passa por uma questão mais profunda, que é uma mudança de postura do consumidor típico. Hoje em dia, na era da Internet, como você convence um jogador a ir ao estádio, pegar trânsito e gastar mais dinheiro se ele pode assistir confortavelmente um jogo da sua casa pelo League Pass, pela TV ou até por links alternativos? A renda que vinha de ingressos encolheu, e isso também teve um impacto grande nos ganhos que o time tem dentro do estádio (consumo de alimentos, bebidas, equipamentos do time, ou seja, tudo que voce consome dentro do ginásio em um jogo). Essa fonte de renda para os times está caindo, e a verdade é que não existe uma tendência para reverter esse movimento. Times de mercados grandes, que ganham muito dinheiro com cotas de TV, conseguem se manter, mas times pequenos que dependeriam mais da renda vinda dos torcedores estão enfrentando cada vez mais problemas, o que por sua vez é um problema para a NBA.
E aí chegamos, enfim, ao empasse do lockout. Se o da NFL foi resolvido em questão de dias quando a temporada ameaçou sofrer mudanças, porque o da NBA continua no mesmo lugar onde começou mesmo com um mês da temporada praticamente cancelado?
Primeiro, a questão é mais séria do que uma divisão de lucros. Os donos, os que lidam com o dinheiro, sabem que o modelo está deixando de funcionar e que eles precisam corrigir isso, e tentam fazer passar uma série de medidas para aumentar a receita e reduzir os gastos das equipes - menos repasse aos jogadores, contratos mais curtos, o fim da mid level execption... E os jogadores não querem mudar nada, querem que tudo permaneça igual, mesmo que esse "igual' esteja afundando a Liga, argumentando que a culpa é dos donos se eles oferecem contratos exorbitantes para jogadores medianos, como quem diz "Ei, nós não estamos forçando os donos a pagarem 35 milhões pro Travis Outlaw, eles pagam porque querem, nós só aceitamos". De certa forma é verdade, mas é o mesmo que dizer "A culpa não é nossa que meu filho é obeso, não estamos obrigando ele a comer". Ou seja, a justificativa até é válida, mas isso não altera o fato de que tem um problema e, mesmo que vocês não sejam responsáveis por ele, vocês não estão fazendo nada para corrigi-lo. E enquanto os jogadores insistem em "Não vamos ceder!" e "Vocês estão tentando tirar no que é nosso!", sem fazer nada para resolver a questão, os donos insistem em resolver com medidas insuficientes como reduzir a parcela dos jogadores. Enquanto isso, o assunto se prolonga.
Aliás, uma questão que tem passado desapercebida é a seguinte: OS DONOS QUERIAM PERDER UM PEDAÇO DA TEMPORADA DESDE O COMEÇO!! A NBA tem uma temporada regular extremamente e desnecessariamente grande. O contrato de TV é válido pra 2011 da mesma forma. Pouca gente vai realmente surtar se perder umas duas semanas de NBA, ao contrário do que aconteceria se perdêssemos uma semana de NFL, por exemplo. O contrato de TV está pagando normalmente essa temporada, mas se perdermos dois meses de temporada, os jogadores não ganham salário. Porque vocês acham que demorou até agora para os dois lados terem encontros de mais de oito horas? Os donos queriam o tempo todo perder essas semanas. Significa muito menos custos, menos problemas... E os jogadores estão levando na teimosia sem perceber que, mesmo se eles conseguirem uma divisão de 53/47 como eles querem nos lucros, eles já vão ter perdido mais do que teriam se aceitassem um 50/50!
O problema de ambas as partes é que nenhum está pensando fora da caixa. Os dois lados estão vivendo principalmente de teimosia. Um encontro de mais de 10 horas recentemente deu esperanças a todos antes de acabar em nada, acho que o jogo de Banco Imobiliário que eu sugeri pelo twitter seria mais produtivo, pelo menos todos dariam risadas do Dan Gilbert se recusando a vender a carta de Saída Livre da Prisão pro Lebron James. Os problemas estão lá: A falta de receita, o excesso de gastos, a questão dos times de mercado pequeno. E os dois lados insistem no mesmo: De um lado, cortar gastos para proteger os donos, e do outro os jogadores insistindo que tudo está bem.
É tão difícil alguém chegar e sentar com os representantes de ambas as partes, explicitar os problemas e pensarem todos juntos em formas de resolver isso sem ter que recorrer ao que está dando tanto problema? Pra mim o ideal é achar um modelo que dure os próximos dez anos, mas isso não vai acontecer a tempo. Ao invés disso, que tal um modelo de dois anos transitório enquanto se define um modelo definitivo e duradouro? É difícil, mas não quer dizer que não tenhamos alternativas. Falta de receitas podem ser contornadas com patrocínios nas camisetas e nas quadras, por exemplo. O corte de custos é mais complicado, mas não quer dizer que não possa ser contornado: Por exemplo, concedam aos jogadores a divisão de 52/48, mas em troca cancelem a mid-level exception, sign and trades, estabeleçam contratos máximos de quatro anos e dobrem a multa por estar acima do teto salarial. O problema grande dos salários não está nos salários das estrelas - pelo contrário, as grandes estrelas recebem menos do que deviam. O que mata são os salários dos jogadores medianos que fazem 9 milhões por ano, e dos Rashard Lewis que ganham 17 milhões por cinco anos seguidos quando foram contratados para jogar dois. Aumentem o salário máximo a ser oferecido a estrelas, e cancelem benefícios como Bird Rights e Mid Level Exceptions que evitem que times ofereçam monstruosidades aos medianos. Algum mecanismo pra separar as estrelas dos medianos (Talvez algum algoritmo baseado em First e Second Teams All-NBAs ou até All Star Games) e algo que beneficie os times que queiram manter os seus jogadores (Como por exemplo, se um jogador for assinar com um time qualquer, ele pode receber um máximo de X por quatro anos, mas se for uma renovação ele ganha um "bônus" de acordo com os anos que jogou naquele time) são necessários, mas exigem tempo, um tempo que a NBA já comeu.
Franquias em mercados que não podem sustentá-las são uma triste realidade, que não pode ser salva só com essas medidas. Mudar algumas delas para cidades de mercado maior (Mandem o Bobcats para Chicago, por exemplo) e até mesmo acabar com duas delas (Infelizmente nem todas as cidades que tem um time da NBA estão prontas pra isso - é triste mas é verdade) podem reequilibrar as finanças das Ligas e acabar em parte com essas desigualdades. A NBA sempre vai ser desigual, ela não é a NFL, ela não tem condições de subsidiar todos os seus times pra manter igualdade de condições e ainda sobreviver com lucro.
Mas todas essas medidas continuam na cabeça das pessoas como eu, e não nas do David Stern ou Billy Hunter. Esse lockout provavelmente já estaria resolvido se fossem duas pessoas com mais flexibilidade, jogo de cintura e capacidade de pensar fora da caixa. Façam um CBA temporário para as próximas duas temporadas atendendo as questões menores (divisão de lucros, fim da mid-level) e trabalhem durante esses dois anos para criar um modelo sólido que atenda todas as questões discutidas anteriormente e que seja aplicada pelos próximos dez anos que, de uma vez por todas, conserte os maiores problemas desse modelo. Existem vários meios de fazer isso, mas a teimosia de Stern e Hunter continua travando tudo.
E as vezes eu acho que nem eles mesmos perceberam o que tem em jogo aqui. A NBA acabou de sair de uma das suas melhores temporadas de todos os tempos, tem mais estrelas que atraem marketing do que qualquer outro esporte na atualidade, as Finais tiveram um pico de audiência que não tinham há anos, possuem dezenas de jogadores internacionais aparecendo com destaque e estão expandindo sua marca. A NBA está passando por uma fase de visibilidade que não acontecia desde a era Jordan. Cada vez mais pessoas casualmente estão acompanhando NBA, se interessando. E isso pode ser tudo jogado no lixo. A insistência e a teimosia das duas partes empurrou a questão para a beira do precipício, ninguém quer ceder mas ninguém quer achar uma solução no meio termo também. Um mês da temporada já está indo pro saco, e isso pode virar a temporada inteira. É uma situação bem real, que pode acontecer, e a NBA pode perder todo o momento que acumulou. A NBA ainda está achando que, mesmo sem uma temporada, quando ela retomasse as atividades tudo voltaria ao normal, mas não é verdade. As pessoas que estão começando a acompanhar agora não vão manter o interesse depois de um ano parado. Pessoas que já assistiam vão procurar alternativas - NCAA, MLB, NHL - para acompanhar. Os hábitos das pessoas mudam, elas se adaptam às situações, e uma vez adaptadas à vida sem a NBA, não será fácil fazê-las mudar de ideia. Mas ao invés de buscar uma solução, tudo que fizeram após a última reunião foi apontar dedos: O dono do Spurs falou isso, o Dan Gilbert não quer que tenha temporada pro Lebron não ser campeão, os jogadores são isso, etc e tal. Não é hora disso! É hora de sentar e pensar em como resolver essa situação que eles mesmos criaram.
A NHL passou por uma situação semelhante em 2004, com um modelo que não funcionava e pagava muito mais do que era possível. A Liga conseguiu arrumar o problema, mas ao custo de uma temporada. Isso atrasou a Liga em décadas. Seu contrato com a ESPN foi cancelado. O Hockey atingiu seu ponto mais baixo nos EUA em muito tempo, e só agora que está retomando seu espaço. A NBA pode ir pelo mesmo caminho. Uma temporada cancelada não só vai desperdiçar todo o momento que a NBA tem na atualidade, mas também vai retroceder em muito a Liga. As pessoas já estão relutantes em ir aos ginásios, imagina sem uma temporada. As pessoas vão mudar, começar a acompanhar Hockey, baseball, e no final a NBA vai ficar em segundo plano, com a imagem manchada. Não importa a que custo, essa temporada tem que acontecer.
Felizmente, depois de uma extensa reunião de ontem a noite, parece que temos alguns progressos. No entanto, as fontes são divergentes demais para sabermos com exatidão o que está acontecendo. Algumas dizem que estamos tão longe quanto antes. Outras dizem que em nova reunião hoje já podemos terminar o lockout. Não tem como saber ao certo. A impressão que me deu -e pra imprensa de modo geral - é que alguns avanços foram feitos, mas que ainda estamos longe de um acordo. Isso quer dizer que não devemos ter um acerto imediato, mas se for verdade - eles vão se reunir novamente hoje - a chance de termos uma temporada cancelada (que estava muito alta semana passada) caiu muito. Ainda estamos aguardando novas negociações e esperamos pra ver se Hunter e Stern finalmente desceram do pedestal de teimosia e começaram a negociar de verdade, procurando comuns acordos. Muitos jogadores e donos estão irritados com os dois, já está na hora de alguém sair da retaguarda e fazer algo diferente. Não sei se está acontecendo, mas o que eu sei é o segunte: A NBA não pode ter uma temporada cancelada. Não agora.
Atualização: Parece que hoje, 28/10, podemos ter uma reunião pra colocar um fim definitivo no lockout. Espero que seja o caso, mas estou curioso pra ver como será esse CBA, se ele realmente corrige os problemas ou só os remenda.
Ou seja, enquanto a questão da NFL era simplesmente uma divisão de lucros, na NBA você tem um modelo que não funciona mais. Times gastam mais dinheiro do que ganham, o formato da Liga é brutal com os times de mercado pequeno, que são condenados a sempre terem problemas financeiros para manter seus elencos e em geral só conseguem se manter realmente competitivos quando tem uma base do nível do Kevin Durant. E isso passa por uma questão mais profunda, que é uma mudança de postura do consumidor típico. Hoje em dia, na era da Internet, como você convence um jogador a ir ao estádio, pegar trânsito e gastar mais dinheiro se ele pode assistir confortavelmente um jogo da sua casa pelo League Pass, pela TV ou até por links alternativos? A renda que vinha de ingressos encolheu, e isso também teve um impacto grande nos ganhos que o time tem dentro do estádio (consumo de alimentos, bebidas, equipamentos do time, ou seja, tudo que voce consome dentro do ginásio em um jogo). Essa fonte de renda para os times está caindo, e a verdade é que não existe uma tendência para reverter esse movimento. Times de mercados grandes, que ganham muito dinheiro com cotas de TV, conseguem se manter, mas times pequenos que dependeriam mais da renda vinda dos torcedores estão enfrentando cada vez mais problemas, o que por sua vez é um problema para a NBA.
E aí chegamos, enfim, ao empasse do lockout. Se o da NFL foi resolvido em questão de dias quando a temporada ameaçou sofrer mudanças, porque o da NBA continua no mesmo lugar onde começou mesmo com um mês da temporada praticamente cancelado?
Primeiro, a questão é mais séria do que uma divisão de lucros. Os donos, os que lidam com o dinheiro, sabem que o modelo está deixando de funcionar e que eles precisam corrigir isso, e tentam fazer passar uma série de medidas para aumentar a receita e reduzir os gastos das equipes - menos repasse aos jogadores, contratos mais curtos, o fim da mid level execption... E os jogadores não querem mudar nada, querem que tudo permaneça igual, mesmo que esse "igual' esteja afundando a Liga, argumentando que a culpa é dos donos se eles oferecem contratos exorbitantes para jogadores medianos, como quem diz "Ei, nós não estamos forçando os donos a pagarem 35 milhões pro Travis Outlaw, eles pagam porque querem, nós só aceitamos". De certa forma é verdade, mas é o mesmo que dizer "A culpa não é nossa que meu filho é obeso, não estamos obrigando ele a comer". Ou seja, a justificativa até é válida, mas isso não altera o fato de que tem um problema e, mesmo que vocês não sejam responsáveis por ele, vocês não estão fazendo nada para corrigi-lo. E enquanto os jogadores insistem em "Não vamos ceder!" e "Vocês estão tentando tirar no que é nosso!", sem fazer nada para resolver a questão, os donos insistem em resolver com medidas insuficientes como reduzir a parcela dos jogadores. Enquanto isso, o assunto se prolonga.
Aliás, uma questão que tem passado desapercebida é a seguinte: OS DONOS QUERIAM PERDER UM PEDAÇO DA TEMPORADA DESDE O COMEÇO!! A NBA tem uma temporada regular extremamente e desnecessariamente grande. O contrato de TV é válido pra 2011 da mesma forma. Pouca gente vai realmente surtar se perder umas duas semanas de NBA, ao contrário do que aconteceria se perdêssemos uma semana de NFL, por exemplo. O contrato de TV está pagando normalmente essa temporada, mas se perdermos dois meses de temporada, os jogadores não ganham salário. Porque vocês acham que demorou até agora para os dois lados terem encontros de mais de oito horas? Os donos queriam o tempo todo perder essas semanas. Significa muito menos custos, menos problemas... E os jogadores estão levando na teimosia sem perceber que, mesmo se eles conseguirem uma divisão de 53/47 como eles querem nos lucros, eles já vão ter perdido mais do que teriam se aceitassem um 50/50!
O problema de ambas as partes é que nenhum está pensando fora da caixa. Os dois lados estão vivendo principalmente de teimosia. Um encontro de mais de 10 horas recentemente deu esperanças a todos antes de acabar em nada, acho que o jogo de Banco Imobiliário que eu sugeri pelo twitter seria mais produtivo, pelo menos todos dariam risadas do Dan Gilbert se recusando a vender a carta de Saída Livre da Prisão pro Lebron James. Os problemas estão lá: A falta de receita, o excesso de gastos, a questão dos times de mercado pequeno. E os dois lados insistem no mesmo: De um lado, cortar gastos para proteger os donos, e do outro os jogadores insistindo que tudo está bem.
É tão difícil alguém chegar e sentar com os representantes de ambas as partes, explicitar os problemas e pensarem todos juntos em formas de resolver isso sem ter que recorrer ao que está dando tanto problema? Pra mim o ideal é achar um modelo que dure os próximos dez anos, mas isso não vai acontecer a tempo. Ao invés disso, que tal um modelo de dois anos transitório enquanto se define um modelo definitivo e duradouro? É difícil, mas não quer dizer que não tenhamos alternativas. Falta de receitas podem ser contornadas com patrocínios nas camisetas e nas quadras, por exemplo. O corte de custos é mais complicado, mas não quer dizer que não possa ser contornado: Por exemplo, concedam aos jogadores a divisão de 52/48, mas em troca cancelem a mid-level exception, sign and trades, estabeleçam contratos máximos de quatro anos e dobrem a multa por estar acima do teto salarial. O problema grande dos salários não está nos salários das estrelas - pelo contrário, as grandes estrelas recebem menos do que deviam. O que mata são os salários dos jogadores medianos que fazem 9 milhões por ano, e dos Rashard Lewis que ganham 17 milhões por cinco anos seguidos quando foram contratados para jogar dois. Aumentem o salário máximo a ser oferecido a estrelas, e cancelem benefícios como Bird Rights e Mid Level Exceptions que evitem que times ofereçam monstruosidades aos medianos. Algum mecanismo pra separar as estrelas dos medianos (Talvez algum algoritmo baseado em First e Second Teams All-NBAs ou até All Star Games) e algo que beneficie os times que queiram manter os seus jogadores (Como por exemplo, se um jogador for assinar com um time qualquer, ele pode receber um máximo de X por quatro anos, mas se for uma renovação ele ganha um "bônus" de acordo com os anos que jogou naquele time) são necessários, mas exigem tempo, um tempo que a NBA já comeu.
Franquias em mercados que não podem sustentá-las são uma triste realidade, que não pode ser salva só com essas medidas. Mudar algumas delas para cidades de mercado maior (Mandem o Bobcats para Chicago, por exemplo) e até mesmo acabar com duas delas (Infelizmente nem todas as cidades que tem um time da NBA estão prontas pra isso - é triste mas é verdade) podem reequilibrar as finanças das Ligas e acabar em parte com essas desigualdades. A NBA sempre vai ser desigual, ela não é a NFL, ela não tem condições de subsidiar todos os seus times pra manter igualdade de condições e ainda sobreviver com lucro.
Mas todas essas medidas continuam na cabeça das pessoas como eu, e não nas do David Stern ou Billy Hunter. Esse lockout provavelmente já estaria resolvido se fossem duas pessoas com mais flexibilidade, jogo de cintura e capacidade de pensar fora da caixa. Façam um CBA temporário para as próximas duas temporadas atendendo as questões menores (divisão de lucros, fim da mid-level) e trabalhem durante esses dois anos para criar um modelo sólido que atenda todas as questões discutidas anteriormente e que seja aplicada pelos próximos dez anos que, de uma vez por todas, conserte os maiores problemas desse modelo. Existem vários meios de fazer isso, mas a teimosia de Stern e Hunter continua travando tudo.
E as vezes eu acho que nem eles mesmos perceberam o que tem em jogo aqui. A NBA acabou de sair de uma das suas melhores temporadas de todos os tempos, tem mais estrelas que atraem marketing do que qualquer outro esporte na atualidade, as Finais tiveram um pico de audiência que não tinham há anos, possuem dezenas de jogadores internacionais aparecendo com destaque e estão expandindo sua marca. A NBA está passando por uma fase de visibilidade que não acontecia desde a era Jordan. Cada vez mais pessoas casualmente estão acompanhando NBA, se interessando. E isso pode ser tudo jogado no lixo. A insistência e a teimosia das duas partes empurrou a questão para a beira do precipício, ninguém quer ceder mas ninguém quer achar uma solução no meio termo também. Um mês da temporada já está indo pro saco, e isso pode virar a temporada inteira. É uma situação bem real, que pode acontecer, e a NBA pode perder todo o momento que acumulou. A NBA ainda está achando que, mesmo sem uma temporada, quando ela retomasse as atividades tudo voltaria ao normal, mas não é verdade. As pessoas que estão começando a acompanhar agora não vão manter o interesse depois de um ano parado. Pessoas que já assistiam vão procurar alternativas - NCAA, MLB, NHL - para acompanhar. Os hábitos das pessoas mudam, elas se adaptam às situações, e uma vez adaptadas à vida sem a NBA, não será fácil fazê-las mudar de ideia. Mas ao invés de buscar uma solução, tudo que fizeram após a última reunião foi apontar dedos: O dono do Spurs falou isso, o Dan Gilbert não quer que tenha temporada pro Lebron não ser campeão, os jogadores são isso, etc e tal. Não é hora disso! É hora de sentar e pensar em como resolver essa situação que eles mesmos criaram.
A NHL passou por uma situação semelhante em 2004, com um modelo que não funcionava e pagava muito mais do que era possível. A Liga conseguiu arrumar o problema, mas ao custo de uma temporada. Isso atrasou a Liga em décadas. Seu contrato com a ESPN foi cancelado. O Hockey atingiu seu ponto mais baixo nos EUA em muito tempo, e só agora que está retomando seu espaço. A NBA pode ir pelo mesmo caminho. Uma temporada cancelada não só vai desperdiçar todo o momento que a NBA tem na atualidade, mas também vai retroceder em muito a Liga. As pessoas já estão relutantes em ir aos ginásios, imagina sem uma temporada. As pessoas vão mudar, começar a acompanhar Hockey, baseball, e no final a NBA vai ficar em segundo plano, com a imagem manchada. Não importa a que custo, essa temporada tem que acontecer.
Felizmente, depois de uma extensa reunião de ontem a noite, parece que temos alguns progressos. No entanto, as fontes são divergentes demais para sabermos com exatidão o que está acontecendo. Algumas dizem que estamos tão longe quanto antes. Outras dizem que em nova reunião hoje já podemos terminar o lockout. Não tem como saber ao certo. A impressão que me deu -e pra imprensa de modo geral - é que alguns avanços foram feitos, mas que ainda estamos longe de um acordo. Isso quer dizer que não devemos ter um acerto imediato, mas se for verdade - eles vão se reunir novamente hoje - a chance de termos uma temporada cancelada (que estava muito alta semana passada) caiu muito. Ainda estamos aguardando novas negociações e esperamos pra ver se Hunter e Stern finalmente desceram do pedestal de teimosia e começaram a negociar de verdade, procurando comuns acordos. Muitos jogadores e donos estão irritados com os dois, já está na hora de alguém sair da retaguarda e fazer algo diferente. Não sei se está acontecendo, mas o que eu sei é o segunte: A NBA não pode ter uma temporada cancelada. Não agora.
Atualização: Parece que hoje, 28/10, podemos ter uma reunião pra colocar um fim definitivo no lockout. Espero que seja o caso, mas estou curioso pra ver como será esse CBA, se ele realmente corrige os problemas ou só os remenda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário