Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Um jogo seis pra história

Eles conseguiram o que queriam - e a gente também


Quando acabou o jogo 6 da World Series de 2011 entre Texas Rangers e Saint Louis Cardinals, 10 a 9 para o Cardinals, eu só consegui ficar sentado em estado de choque olhando para a TV. Eu vi David Freese correr as bases e atravessar o Home Plate, seus companheiros esperando para fazer festa, arrancar sua camisa e tudo mais, sem conseguir mover um músculo. Quando terminou a transmissão, entrei na internet e procurei os lances da partida. Assisti uma vez. Assisti duas vezes. Mais ou menos na quinta vez que eu vi o Freese anotar a corrida da vitória, eu finalmente entendi o siginficado daquilo.

Esse foi o melhor jogo de baseball de todos os tempos!

Talvez esse pensamento fosse um exagero. Mas com certeza foi o melhor jogo de baseball da minha vida. Tudo que eu conseguia pensar no dia seguinte era esse jogo. Tudo que me interessava era rever esse jogo. Pouco me importava quem ganharia o jogo 7, se o Cardinals ou o Rangers. Só o que importava era aquele jogo seis e a lendária performance do David Freese e do Saint Louis Cardinals.

Na verdade, esse jogo pode ser encarado como um resumo da temporada do Cardinals. O Cardinals começou o ano muito mal, com seu melhor arremessador Adam Wainwright fora pela temporada com uma lesão no cotovelo, seu melhor jogador Albert Pujols jogando no machucado (e chegou a perder um bom tempo depois), problemas com sua rotação titular e seu bullpen e sem achar seu melhor jogo em campo. A temporada começou, e o Cardinals caiu pra trás na briga pela sua divisão, atrás de Brewers e até mesmo do Pirates. Quando Pujols e o Cardinals - que fizeram ótima troca ao mandar Colby Rasmus em troca de 91 pitchers - finalmente se acharam, o time estava 10,5 jogos atrás do Atlanta Braves na briga pelo Wild Card no final de agosto. Uma classificação parecia impossível e o time já era dado como morto, mas o time nunca desistiu. A liderança de Tony LaRussa e Pujols, a ascenção de Freese e boas atuações de veteranos como Lance Berkman e Chris Carpenter manteve o time unido e competindo, e ajudado por um colapso histórico do Braves, o time chegou à pós temporada vencendo sua última partida, e como prêmio ganhou um duelo contra os favoritíssimos Phillies e sua rotação titular. O Cardinals levou a série até um jogo 5, onde viu Carpenter enfrentar o melhor pitcher da MLB, Roy Halladay.  Halladay foi brilhante, cedendo só uma corrida em um jogo completo, mas Carpenter foi ainda melhor e não cedeu nenhuma corrida na partida inteira. Dai para a World Series foi fácil passar pelo Brewers. Um time que teve uma chegada extremamente difícil e improvável mas que nunca desistiu e achou força nas horas que mais precisou. Parece história de cinema, mas que aconteceu na vida real.

A própria World Series em si foi excelente, apesar do excesso de erros de ambos os times. Um jogo 1 decidido pelo Pinch Hitter Allan Craig, depois no jogo dois o Rangers virando o jogo contra o ótimo Bullpen do Cards com duas rebatidas de sacrifício na nona entrada. Depois o jogo três com a melhor performance da história da World Series, com cinco rebatidas, três Home Runs e 6 RBIs do Albert Pujols. Depois a vitória do jogo 4 e o problema com o telefone do Bullpen (Quando LaRussa ligou para o Bullpen pedindo Jason Motte, e o bullpen entendeu Lance Lynn) colocando finalmente o Rangers na frente, a um passo do título. Aí o jogo 6, lendário, e por fim o jogo 7 com ótima atuação do Carpenter com três dias de descanso e mais um ótimo jogo do Freese pra levar o título. Jogos divertidíssimos, atuações históricas, um bilhão de sub-histórias interessantes (possível última temporada do Pujols em St. Louis, Josh Hamilton jogando lesionado, o duelo entre os técnicos, a ascenção do David Freese, os recordes do Nelson Cruz, etc) fizeram dessa uma das World Series mais divertidas dos últimos anos. Melhor série de playoff da minha vida? Com certeza não, esse título está reservado pra sempre para aquela ALCS de 2004 entre Red Sox e Yankees, NUNCA que ela será superada. Mas melhor World Series da minha vida? Com certeza.

E mesmo assim, eu só conseguia pensar naquele jogo seis. Nem o roteirista mais dramático e clichê escreveria algo semelhante para um roteiro de cinema. Primeiro, a situação: Perdendo de 7 a 5 na nona entrada, enfrentando o excelente closer Naftali Feliz. Dois homens em base, mas também dois eliminados e dois strikes com Freese - segundo anista - no bastão. Mais um strike do seu closer e o Rangers seria campeão da World Series. Mas Freese acertou uma rebatida tripla pro lado direito, anotou duas corridas e mandou o jogo para a prorrogação. Lá, Josh Hamilton, jogando no sacrifício com três lesões diferentes e com visível dor a cada rebatida, acertou um Home Run de duas corridas - segundo ele, Deus disse que ele iria rebater esse Home Run - para recolocar o Rangers na frente, 9 a 7. Mas na parte de baixo, depois de eliminar dois jogadores e conseguir dois strikes novamente contra o Cards, uma rebatida simples do Lance Berkman - espetacular durante toda a temporada - empatou novamente o jogo em 9 a 9. E dai na parte de baixo da 11ª entrada, David Freese, sempre ele, acertou um Home Run pra vencer o jogo de forma espetacular. O Rangers esteve duas vezes a um strike do título, separados por duas corridas,  mas nas duas o Cardinals voltou, anotou as corridas que precisava e saiu com a vitória com um jogo histórico. Tudo que o Cardinals apresentou nessa corrida pro título - vontade, capacidade de superação, nunca desistir... - esteve à prova no mais alto grau. E o time se superou.

Na verdade, o que fez desse jogo tão especial, tão lendário a ponto de me fazer esquecer completamente da importância do jogo 7 e de um título foi justamente que o jogo ao mesmo tempo destrói tudo que você espera e satisfaz seu subconsciente. Nós temos heróis ou batalhas lendárias na TV, em livros e nos filmes, e esperamos ver esse tipo de coisa no nosso dia a dia, o que não acontece sempre. Aquele herói que faz coisas impossíveis, inimagináveis, supera os problemas no último segundo e nos faz pensar "Ufa, eu sabia que ele ia conseguir" está sempre presente na ficção, mas o que nós queremos ver é alguém fazer isso na vida real. Porque vocês acham que os torcedores do Red Sox idolatram tanto o Curt Schilling mesmo ele tendo jogado só quatro temporadas lá? Não é porque ele ajudou o Sox a ganhar dois títulos e reverter a famosa "Maldição do Bambino", mas principalmente por causa de outro jogo 6 lendário, o da ALCS de 2004. O Schilling tinha estourado o tendão do tornozelo na série anterior e não tinha condições de jogo, mas o Red Sox não tinha NENHUM pitcher disponível para o jogo 6 (tanto que no jogo 7 quem jogou foi o Derek Lowe com dois dias de descanso, e de alguma forma ele conseguiu 7 innings e cedeu só uma rebatida) e precisava vencer para manter a série viva (tava 3-2 pro Yankees). Schilling então teve uma operação de emergência e, horas antes do jogo, os médicos do Red Sox abriram a perna de Schilling, amarraram seu tendão com linha e fecharam de novo. Schilling simplesmente entrou em campo assim, arremessou sete entradas, dominou o adversário, cedeu apenas uma corrida e venceu o jogo apesar da dor inimaginável no seu pé e do fato de sua meia estar encharcada do sangue que seu pé não conseguiu segurar. Ele não hesitou um segundo em fazer isso, colocar o resto da sua carreira e até sua capacidade de andar na linha, entrou em campo com um maldito ponto prendendo seu tendão e arremessou um dos jogos mais importantes da sua carreira assim simplesmente porque só ele poderia ter feito aquilo naquele momento! Por isso idolatramos tanto o Curt Schilling. Heróis fazem esse tipo de coisa nos filmes. Schilling fez isso na vida real.

Esse tipo de coisa é rara, mas acontece. O jogo 6 da ALCS de 2004 foi um exemplo. O jogo 6 da World Series desse ano foi outra. Jogos onde nós nos sentimos assistindo a um filme, onde temos trezentas reviravoltas e momentos heróicos até o final, que nos fazem ficar parados nos perguntando se estamos mesmo vendo isso, são jogos que nos levam a um lugar maior como fãs de esportes. Esse tipo de jogo não acontece com frequência, mas quando acontece em qualquer esporte... Não é exatamente pra isso que nós assistimos esportes? Um outro exemplo recente, foi o jogo 4 entre Dallas e Portland na NBA em 2011, quando Brandon Roy - um Superstar em seu auge, que infelizmente teve sua carreira destruida por lesões sérias nos joelhos que lhe tiraram a capacidade de jogar muito tempo em alto nível - fez 21 pontos nos últimos 12:03 minutos de partida (inclusive a cesta da vitória) para ajudar seu time a superar uma desvantagem de 20 pontos. Sua carreira pode estar numa descendente inevitavelmente, mas para sempre sua carreira vai ficar marcada por esse jogo. Um exemplo extremo? O último jogo de Michael Jordan pelo Bulls. Seu último arremesso não foi sensacional porque entrou, mas porque todo mundo sabia que ia entrar, era o final perfeito para o melhor jogador de todos os tempos. A história não poderia acabar de outra forma. Isso acontece com os heróis nas histórias, e Jordan fez isso na vida real. Nós adoramos isso, nós queremos ver esses momentos.

Foi por isso que eu me senti satisfeito ao ver o jogo seis, independentemente do que acontecesse no definitivo jogo 7. O jogo sete era irrelevante, eu queria mesmo era saborear tudo que aconteceu no jogo seis. Eu senti naquele momento que valeu a pena ter assistido todo o resto da temporada só pra assistir aquela partida. Jogos assim são raros, mas cada um nos recompensa, cada um nos leva a um lugar maior. Por isso que nós assistimos esportes. Jogos assim acontecem a cada 10, 100, mil jogos, e nós temos que assistir a todo os outros 999 jogos normais só pra podermos assistir a UM desses jogos. E quando acontece, ele nos recompensa por todo o resto. São jogos que vamos levar pro resto de nossas vidas. E esse jogo 6 da World Series foi um deles. Em 20 anos, eu posso não lembrar dessa pós temporada, posso não lembrar do jogo 7 dessa WS, posso até não lembrar da incrível reação do Cardinals rumo ao título, mas eu com certeza vou lembrar desse jogo 6 e contar para os meus filhos (Se eles gostarem de baseball) que vi esse jogo, assim como vou contar que vi o Curt Schilling jogando sem tendão. Porque esses são os jogos que nós queremos ver como fãs de esporte. Esses são os jogos que nos definem.

Parabéns ao Saint Louis Cardinals pelo título. Parabéns ao Saint Louis Cardinals pela vitória no melhor jogo que eu vi na minha vida. E espero que Albert Pujols volte para tentar fazer tudo isso de novo em 2012.

2 comentários:

  1. Também achei épico, raramente teremos mais jogos com esse. Quando os Cardinals trocaram o Rasmus eu achava que os Cards tava fazendo muita besteira, mas o GM John Mozeliak provou que um dos melhores da liga, pensando em posição por posição. Grande trabalho do La Russa e do pitching staff em tornar Rzepczyinski e Dotel em grandes arremessadores. E vida longa ao Pujols em St.Louis!

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  2. Eu também não gostei da troca do Rasmus no começo, mas deu muito certo. Que o Rzepczyinski ia dar certo eu imaginava, o cara transpira força nominal, mas a forma como o LaRussa usou esse bullpen foi sensacional. Espero que o Pujols volte sim, odeio ver caras como ele saindo do time, mas infelizmente times como Cubs, Rangers e Nationals vão oferecer até o estádio pra ele.... Só muita lealdade pro Pujols ficar, porque financeiramente terão melhores oportunidades (Falaram numa proposta de 10 anos, 300 milhões do Nationals...)

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