Sim, caros leitores, voltei das minhas férias. Peço desculpas por ter sumido nesse momento tão crucial da NFL, mas era a única época que eu tinha. Espero que todos vocês voltem a acompanhar o blog agora.
Como fiquei fora durante duas malditas rodadas de playoffs, vou deixar aqui todas as minhas impressões sobre essas duas rodadas.
San Francisco 49ers
E é claro que o meu time tinha que ser o primeiro da lista. E eu ainda sinto um desgosto imenso de pensar naquele jogo e naqueles dois f... f... naquelas duas jogadas que nos custaram uma vaga no Super Bowl, meu sonho desde pequeno, e me fizeram passar duas horas deitado de cara pra baixo no chão choramingando ocasionalmente pra avisar aos companheiros de quarto que ainda estava vivo.
Ainda assim, a primeira coisa quando eu penso na temporada 2011 do Niners que eu sinto é orgulho. Orgulho de ter visto uma das reviravoltas mais espetaculares da história da Liga, um time que de 6-10 e muitos problemas em 2010 terminou 13-3 e que teria ido ao Super Bowl não fossem dois erros individuais. Alex Smith teve uma temporada que seria digna de Comeback Player of the Year se não fossem as 5000 jardas do Matthew Stafford, e a defesa do time - que já era muito boa - emergiu como uma superpotência digna das grandes defesas que Ravens e Steelers tiveram ao longo da década. Ver meu time voltando a ser competitivo foi sensacional.
Além disso, o Niners chegou perto... Ah, tão perto. Primeiro, venceu o New Orleans Saints - o melhor time da NFL - em um jogo de proporções épicas que merece ser reprisado por toda a eternidade junto dos grandes clássicos de todos os tempos. Quatro Touchdowns no final da partida - incluindo a The Catch III (The Grab, como Vernon Davis a chamou) - foi pra tirar o fôlego de qualquer um, e aquele TD a oito segundos do final vindo de dois jogadores que tanto tinham sofrido como símbolos de uma franquia em queda- Smith e Davis - seguido do choro do próprio Davis enquanto era abraçado pelos companheiros, um dos momentos mais sinceros de toda a temporada, com certeza entrará para a galeria de grandes TDs da história da Liga. No fundo, aquele jogo valeu por qualquer coisa que pudesse acontecer nessa temporada. Eu, você e qualquer outro que tenhamos assistido ao jogo... Nós NUNCA vamos esquecer aquilo, talvez nunca vejamos algo assim novamente. É o tipo de jogo que você leva pro resto da sua vida. Eu vou contar aos meus filhos que assisti àquilo.
Alias, curioso que eu acreditava que, se o Niners fosse perder nesses playoffs, seria porque seu Quarterback se chama Alex Smith. Não foi o caso, não só ele superou Drew Brees na primeira rodada com quatro Touchdowns (Leia essa frase de novo. Os maias avisaram) como jogou, na pior das hipóteses, de igual pra igual com Eli Manning na final de conferência. Tudo bem, ele não teve uma grande partida (Eli também não teve), os dois Quarterbacks acabaram sendo dominados pelos pass rushes dos adversários e passaram a olhar pra linha de scrimmage ao invés da secundária, o que os tirou do jogo por longos períodos de tempo, mas o Niners não perdeu aquele jogo por causa de Smith. Não fosse os dois fumbles, o Niners provavelmente teria segurado o placar em 14 a 10 já que as duas defesas estavam comendo os ataques com farinha e nas últimas três campanhas de cada time os coordenadores ofensivos já começavam a chamar jogadas quando sua defesa ainda estava jogando a terceira descida, tamanha a confiança.
Aliás, o futuro do Niners é tão bom quanto um time que tem uma defesa dominante e jovem pode ter, mesmo que seu ataque não seja grandes coisas. A linha ofensiva do time é jovem e tem melhorado (se evitar lesões tem tudo pra ser uma unidade dominante com mais um ano e uma offseason), o jogo terrestre continua firme e forte e o time já provou que pode ganhar na NFL com Alex Smith de Quarterback. Aliás, essa é a grande questão pra 2012 nesse time do Niners: Como virá Alex Smith em 2012? Em uma temporada sob o comando de Jim Harbaugh (que só não ganhará o prêmio de "Melhor Temporada de um Técnico Calouro na História da NFL" porque esse prêmio não existe - E não venham me falar do Colts de 2009 nem do Niners de 89, esses times tinham Peyton Manning e Joe Montana. Harbaugh tinha Alex Smith) - uma temporada que nem offseason não teve - Smith passou de "âncora da Franquia' pra "Sou capaz de anotar quatro TDs e vencer o melhor time da NFL em um jogo de playoffs", ainda que sofra de muita inconsistência. As vezes é capaz de jogar como um Franchise QB, outras parece que não acerta nada (Pelo menos também não entrega o jogo). A questão da temporada 2012 do Niners - porque Smith VAI voltar - é simples: Ele atingiu seu limite, ou ainda tem espaço pra crescer? Tem como melhorar sua leitura (as vezes limitada), acelerar sua tomada de decisões (segura demais a bola) e melhorar sua consistência de um modo geral pra se tornar um QB cada vez mais sólido (ao longo da temporada ele já teve uma grande evolução, especialmente em bolas em profundidade) ou ele vai continuar sendo como está agora? Se continuar como está agora, ótimo, o Niners já mostrou que é competitivo. Se ele continuar melhorando? Lucro!! Mal posso esperar, pelo menos até que o calendário brutal de 2012 me atinja (Saints, Packers, Patriots, Lions, Bears...) me atinja e eu tenha que recorrer aos antidepressivos.
Baltimore Ravens
Assim como o Niners fez com Kyle Williams, o Ravens deu um show de classe com o Field Goal errado do Billy Cundiff - que alias não foi pra mim o responsável pelo erro mais grave daquele quarto período e sim o Lee Evans, que deixou o TD da vitória cair dentro da End Zone. Ao contrário do que o Eagles fez com o David Akers ano passado quando ele errou dois FGs que poderiam ter dado ao seu time a vitória sobre o Packers nos playoffs (Eu contei um pouco da história do David Akers num post recente, sobre como sua filha havia sido diagnosticada com câncer dias antes dessa partida), os técnicos e jogadores do Ravens logo partiram em defesa do seu Kicker, que errou o FG de 32 jardas que levaria o jogo à prorrogação. Se o Ravens não podia falar que jogou melhor (caso do Niners), também em nenhum momento o Ravens foi inferior na partida, jogou de igual pra igual e também só perdeu por dois erros individuais. Muita gente esperava que os veteranos da defesa do Ravens - Ed Reed, Ray Lewis, Terrell Suggs - fossem reclamar dessa derrota, mas não. Muito pelo contrário, correram em defesa do Cundiff, deram a ele o seu voto de confiança, lembrando mais uma vez que um time ganha junto e perde junto. Chega a ser engraçado como num esporte tão coletivo, onde cada jogada depende tanto do esforço de pessoas que nem tocam na bola, seja tão importante o erro individual. Cundiff errou, Evans errou, e o Ravens perdeu. E nem por um momento os veteranos da equipe tentaram colocar a culpa no seu Kicker. Uma atitude de trabalho em equipe pra mostrar que, mesmo em um mar de fãs furiosos e ameaças aos dois jogadores (Cundiff e Williams) que poderiam ter custado a seus times uma vaga no Super Bowl, ainda tem gente que se preocupa em abraçar os companheiros.
O problema do Ravens é que, ao contrário do Niners que é um time muito jovem em franca ascensão, o Ravens é um time velho que vê seu tempo acabando a cada temporada que passa. Não que o Ravens esteja estacionado ou decadente - pelo contrário, nessa temporada finalmente vimos uma evolução do Joe Flacco, que jogou muito bem nos playoffs, e o ataque continua se reforçando: Ray Rice melhora a cada temporada, e o jogo aéreo se torna mais perigoso com a melhora do Flacco e o aumento dos alvos só ajudou o time. O Ravens é um time melhor do que era ano passado, e que por sua vez era um time melhor do que ano retrasado. Não é como se o Ravens fosse caindo de qualidade ano após ano, é um time com muitos jogadores jovens que ainda estão se desenvolvendo e que tem adicionado boas peças à equipe. O problema do time é outro, a idade (e a saúde) da sua defesa. Ed Reed, tradicionalmente, sempre se machuca e já beira os 34 anos, e o líder dentro e fora de campo do time, Ray Lewis, já está para fazer 37 anos e beira a aposentadoria. Por mais que o time tenha bons jogadores que ainda são jovens (Haloti Ngata, Suggs) o time ainda depende muito da sua forte defesa, e sua forte defesa ainda depende desses dois futuros Hall of Famers que já estão perto da aposentadoria. Eles continuam adiando essa aposentadoria para tentar uma última corrida ao título, e a cada ano que passa é um ano mais perto do final da carreira dessas duas lendas vivas.
Se eu acho que o que o Ravens será reduzido a um time fraco sem os dois? Não, acho que a defesa tem jogadores bons o suficiente pra manter um bom nível. Mas sem dúvida o time perde em poder defensivo e deixa de ser um juggernault defensivo pra ser uma boa defesa, mas não espetacular (Nunca se sabe, podem conseguir alguem bom pro lugar deles, mas ainda será difícil). Sem falar que o time perderá os seus dois principais líderes dentro e fora de campo. Isso significa que o ataque terá que assumir um papel muito mais importante pra levar o time pra frente, em especial no quesito liderança (o que vai cair nos ombros do Flacco, e por mais que eu ache ele um bom QB, ele nunca me passou confiança como lider), e eu não sei se o ataque vai ter condições de levar o time pra frente se não tiver ancorado por uma feroz defesa, como é o caso. Acho que essa janela de título imediato ainda fica aberta mais uma ou duas temporadas ao Ravens, depois disso - quando Reed e Lewis sairem - o time deve passar por uma pequena reformulação, embora dificilmente total, o time tem talento demais pra isso e sabe que está perto de um título. A um Evans ou a um Cundiff de distância.
New Orleans Saints e Green Bay Packers
Os dois melhores times da NFL, os dois times mais ferozes da Liga, os dois melhores ataques da NFL... Ambos caíram na primeira rodada dos playoffs, o Packers inclusive levando uma surra em casa. Drew Brees e Aaron Rodgers, os dois melhores QBs da temporada regular (embora eu ainda sustente que o melhor QB da NFL na atualidade seja Tom Brady), foram superados por Alex Smith e Eli Manning, e as defesas de Niners e Giants se provaram superiores às de Saints e Packers. O confronto tão esperado nunca aconteceu, e embora eu não quisesse ver o Niners perdendo, eu confesso que gostaria de ver essa partida.
O Packers jogou um jogo que deveria ser um shootout, com a fraca defesa do Packers e a fraca secundária do Giants. O Packers até tentou, e viu o Giants marcar 37 pontos (O que, sabe, configura um shootout), mas não conseguiu chegar perto de produzir o suficiente. O forte ataque do Packers acabou caindo frente à defesa do Giants, em especial a linha defensiva. O Giants dominou totalmente a fraca linha ofensiva de Green Bay, o Giants não teve vergonha de mandar blitz atrás de blitz e Rodgers cansou de comer grama, ao ponto que ele não conseguia mais manter os olhos na secundária com confiança na sua agilidade e seu scramble, ele só tinha olhos para a linha defensiva. Como já disse, quando você faz um QB parar de olhar a secundária (onde estão seus recebedores) para olhar a linha defensiva (pra evitar a pressão), você tem o controle do jogo (era exatamente esse o controle do jogo que o 49ers tinha quando Williams sofreu o primeiro fumble, e foi isso também que evitou que os dois QBs jogassem na prorrogação no mesmo jogo). A linha de frente fenomenal do Giants de Justin Tuck, Osi Umenyora e Jason Pierre-Paul entrou na cabeça de Rodgers desde o começo e evitou que o excelente QB do Packers jogasse confortável. Com o ataque controlado, a defesa do Packers foi presa fácil para o explosivo ataque de New York.
Já o Saints, que enfrentava um adversário com defesa feroz e fortíssima, conseguiu seu objetivo - isto é, levar o jogo a um placar alto. Anotou 32 pontos contra a melhor defesa da NFL (cortesia de dois TDs longos no final da partida) e, mesmo tendo passado boa parte do jogo sob controle de uma defesa extremamente feroz e agressiva que forçou cinco (!!) turnovers, conseguiu conter os avanços do Niners, não deixou esses turnovers virarem TDs durante boa parte da partida e se colocou, com os 32 pontos, em ótima situação para vencer um time cujo ataque tinha sido questionável em boa parte da temporada. A defesa do Saints é bem fraca e isso sem dúvida atrapalhou a equipe, mas não dava pra adivinhar que ia baixar o Montana no Alex Smith e ele ia conduzir duas campanhas impecáveis em tão pouco tempo pra vencer o Saints. Por mais bizarro que isso fosse, o Saints enfrentou um time que, se tirassemos os dois QBs da equação, era razoavelmente mais forte... E perdeu porque o QB do Niners jogou melhor que o seu próprio - sabe, aquele que quebrou o recorde do Dan Marino de jardas em uma temporada.
No final, esses dois times com ataque explosivos foram derrotados por maneiras diferentes, mas o que importa é que os dois estão em casa. Ano que vem é outro ano, mais uma offseason, e quem sabe o que vai acontecer com eles. Só posso dizer que estou muito ansioso pra ver Rodgers e Brees - dois QBs extremamente orgulhosos e competitivos - jogando temporada que vem com sangue nos olhos. Brees enfrenta o Niners e, se não me engano, Rodgers enfrenta o Giants durante a temporada regular. Assim como mal posso esperar pra ver o Tom Brady jogando contra o Giants no Super Bowl como se a vida dele dependesse disso...
(pausa)
Oh meu Deus, o que eu vou fazer durante esses sete meses sem NFL???
A mídia esportiva é um pé no saco
De certa forma, eu faço parte da mídia (eu acho), mas não consigo deixar de achar a mídia esportiva um tremendo saco sensacionalista em 95% dos casos. Vocês ficam putos com os sensacionalismos da mídia brasileira com o campeonato brasileiro? Eu também, mas lá fora não é diferente. No começo e meio da temporada, quando o Packers de Aaron Rodgers estava atropelando todos os times fracos e medios no seu caminho e caminhando para uma temporada invicta, o Rodgers foi chamado na imprensa de "o melhor Quarterback de todos os tempos" e disseram que ele e o Packers estavam tendo "a melhor temporada de todos os tempos" ou então que eram "o melhor time de todos os tempos". Típico sensacionalismo: O Packers estava jogando muito bem, claro, mas sua defesa estava fraca, o time tinha várias fraquezas e sua tabela era muito mais tranquila do que a do Patriots de 2007, por exemplo.
Depois, quando o Packers desacelerou e perdeu a invencibilidade, o Drew Brees engatou a sexta marcha, teve um final de temporada espetacular e caminhou para destruir o recorde do Dan Marino de jardas. De repente ele era "o melhor QB da NFL' e estava tendo "a melhor temporada de todos os tempos" no lugar do Rodgers. E eu sei que já repeti um milhão de vezes, inclusive deixei isso bem claro no epílogo da temporada, mas passar pra 5300 jardas hoje em dia é muito, mas muito mais fácil do que passar para 5000 jardas em 1984, quando Marino estabeleceu sua marca. As temporadas de Brees e Rodgers foram espetaculares, nenhuma dúvida quanto a isso, mas o que Marino fez era impossível. Já comentei aqui sobre como a evolução das regras na NFL favoreceu o jogo aéreo: Quando Marino jogou, a defesa podia fazer de tudo pra parar os recebedores e atingir o QB onde bem entendesse. Agora? Não podem atingir 80% do corpo do QB, não podem encostar nos recebedores... É muito mais fácil.
Mas claro que, quando Brees e Rodgers perderam nos playoffs, e Brady foi ao Super Bowl com a chance de ganhar seu quarto Super Bowl e se igualar a Montana e Terry Bradshaw (Esquecendo totalmente que nos dois primeiros SBs - talvez até três primeiros SBs - da Franquia Brady era secundário a uma formidável defesa e que sua tarefa consistia em evitar erros e ser eficiente), de repente Brady era o melhor de todos os tempos e bla bla bla, esquecendo totalmente que números de títulos não são exatamente um indicador de qualidade - o segundo melhor QB da história nunca foi campeão (Marino), enquanto Trent Dilfer - que é muito melhor comentarista que jogador - tem o seu anel. Quando vamos parar com essa mania de sensacionalismo, lembrando que as coisas mudam com o tempo, e que existem coisas além de números? Precisamos mesmo tentar elevar os jogadores de agora a esses patamares ridiculos só para que eles pareçam melhores? O que eles estão fazendo diante dos nossos olhos - independentemente de ser ou não o que a imprensa tenta passar - não é mais suficiente, eles precisam superar tudo que veio antes senão não ficaremos satisfeitos? Eu odeio isso, odeio como isso nos leva ao eterno debate sem solução que impede que aproveitemos o que temos para ver agora. Eu não ligo se Montana e Marino eram melhores que Brees e Rodgers, tudo que me interessa é ver esses dois se enfrentando com sangue nos olhos nos playoffs do ano que vem!!
E é claro que o meu time tinha que ser o primeiro da lista. E eu ainda sinto um desgosto imenso de pensar naquele jogo e naqueles dois f... f... naquelas duas jogadas que nos custaram uma vaga no Super Bowl, meu sonho desde pequeno, e me fizeram passar duas horas deitado de cara pra baixo no chão choramingando ocasionalmente pra avisar aos companheiros de quarto que ainda estava vivo.
Ainda assim, a primeira coisa quando eu penso na temporada 2011 do Niners que eu sinto é orgulho. Orgulho de ter visto uma das reviravoltas mais espetaculares da história da Liga, um time que de 6-10 e muitos problemas em 2010 terminou 13-3 e que teria ido ao Super Bowl não fossem dois erros individuais. Alex Smith teve uma temporada que seria digna de Comeback Player of the Year se não fossem as 5000 jardas do Matthew Stafford, e a defesa do time - que já era muito boa - emergiu como uma superpotência digna das grandes defesas que Ravens e Steelers tiveram ao longo da década. Ver meu time voltando a ser competitivo foi sensacional.
Além disso, o Niners chegou perto... Ah, tão perto. Primeiro, venceu o New Orleans Saints - o melhor time da NFL - em um jogo de proporções épicas que merece ser reprisado por toda a eternidade junto dos grandes clássicos de todos os tempos. Quatro Touchdowns no final da partida - incluindo a The Catch III (The Grab, como Vernon Davis a chamou) - foi pra tirar o fôlego de qualquer um, e aquele TD a oito segundos do final vindo de dois jogadores que tanto tinham sofrido como símbolos de uma franquia em queda- Smith e Davis - seguido do choro do próprio Davis enquanto era abraçado pelos companheiros, um dos momentos mais sinceros de toda a temporada, com certeza entrará para a galeria de grandes TDs da história da Liga. No fundo, aquele jogo valeu por qualquer coisa que pudesse acontecer nessa temporada. Eu, você e qualquer outro que tenhamos assistido ao jogo... Nós NUNCA vamos esquecer aquilo, talvez nunca vejamos algo assim novamente. É o tipo de jogo que você leva pro resto da sua vida. Eu vou contar aos meus filhos que assisti àquilo.
Alias, curioso que eu acreditava que, se o Niners fosse perder nesses playoffs, seria porque seu Quarterback se chama Alex Smith. Não foi o caso, não só ele superou Drew Brees na primeira rodada com quatro Touchdowns (Leia essa frase de novo. Os maias avisaram) como jogou, na pior das hipóteses, de igual pra igual com Eli Manning na final de conferência. Tudo bem, ele não teve uma grande partida (Eli também não teve), os dois Quarterbacks acabaram sendo dominados pelos pass rushes dos adversários e passaram a olhar pra linha de scrimmage ao invés da secundária, o que os tirou do jogo por longos períodos de tempo, mas o Niners não perdeu aquele jogo por causa de Smith. Não fosse os dois fumbles, o Niners provavelmente teria segurado o placar em 14 a 10 já que as duas defesas estavam comendo os ataques com farinha e nas últimas três campanhas de cada time os coordenadores ofensivos já começavam a chamar jogadas quando sua defesa ainda estava jogando a terceira descida, tamanha a confiança.
Aliás, o futuro do Niners é tão bom quanto um time que tem uma defesa dominante e jovem pode ter, mesmo que seu ataque não seja grandes coisas. A linha ofensiva do time é jovem e tem melhorado (se evitar lesões tem tudo pra ser uma unidade dominante com mais um ano e uma offseason), o jogo terrestre continua firme e forte e o time já provou que pode ganhar na NFL com Alex Smith de Quarterback. Aliás, essa é a grande questão pra 2012 nesse time do Niners: Como virá Alex Smith em 2012? Em uma temporada sob o comando de Jim Harbaugh (que só não ganhará o prêmio de "Melhor Temporada de um Técnico Calouro na História da NFL" porque esse prêmio não existe - E não venham me falar do Colts de 2009 nem do Niners de 89, esses times tinham Peyton Manning e Joe Montana. Harbaugh tinha Alex Smith) - uma temporada que nem offseason não teve - Smith passou de "âncora da Franquia' pra "Sou capaz de anotar quatro TDs e vencer o melhor time da NFL em um jogo de playoffs", ainda que sofra de muita inconsistência. As vezes é capaz de jogar como um Franchise QB, outras parece que não acerta nada (Pelo menos também não entrega o jogo). A questão da temporada 2012 do Niners - porque Smith VAI voltar - é simples: Ele atingiu seu limite, ou ainda tem espaço pra crescer? Tem como melhorar sua leitura (as vezes limitada), acelerar sua tomada de decisões (segura demais a bola) e melhorar sua consistência de um modo geral pra se tornar um QB cada vez mais sólido (ao longo da temporada ele já teve uma grande evolução, especialmente em bolas em profundidade) ou ele vai continuar sendo como está agora? Se continuar como está agora, ótimo, o Niners já mostrou que é competitivo. Se ele continuar melhorando? Lucro!! Mal posso esperar, pelo menos até que o calendário brutal de 2012 me atinja (Saints, Packers, Patriots, Lions, Bears...) me atinja e eu tenha que recorrer aos antidepressivos.
Baltimore Ravens
Assim como o Niners fez com Kyle Williams, o Ravens deu um show de classe com o Field Goal errado do Billy Cundiff - que alias não foi pra mim o responsável pelo erro mais grave daquele quarto período e sim o Lee Evans, que deixou o TD da vitória cair dentro da End Zone. Ao contrário do que o Eagles fez com o David Akers ano passado quando ele errou dois FGs que poderiam ter dado ao seu time a vitória sobre o Packers nos playoffs (Eu contei um pouco da história do David Akers num post recente, sobre como sua filha havia sido diagnosticada com câncer dias antes dessa partida), os técnicos e jogadores do Ravens logo partiram em defesa do seu Kicker, que errou o FG de 32 jardas que levaria o jogo à prorrogação. Se o Ravens não podia falar que jogou melhor (caso do Niners), também em nenhum momento o Ravens foi inferior na partida, jogou de igual pra igual e também só perdeu por dois erros individuais. Muita gente esperava que os veteranos da defesa do Ravens - Ed Reed, Ray Lewis, Terrell Suggs - fossem reclamar dessa derrota, mas não. Muito pelo contrário, correram em defesa do Cundiff, deram a ele o seu voto de confiança, lembrando mais uma vez que um time ganha junto e perde junto. Chega a ser engraçado como num esporte tão coletivo, onde cada jogada depende tanto do esforço de pessoas que nem tocam na bola, seja tão importante o erro individual. Cundiff errou, Evans errou, e o Ravens perdeu. E nem por um momento os veteranos da equipe tentaram colocar a culpa no seu Kicker. Uma atitude de trabalho em equipe pra mostrar que, mesmo em um mar de fãs furiosos e ameaças aos dois jogadores (Cundiff e Williams) que poderiam ter custado a seus times uma vaga no Super Bowl, ainda tem gente que se preocupa em abraçar os companheiros.
O problema do Ravens é que, ao contrário do Niners que é um time muito jovem em franca ascensão, o Ravens é um time velho que vê seu tempo acabando a cada temporada que passa. Não que o Ravens esteja estacionado ou decadente - pelo contrário, nessa temporada finalmente vimos uma evolução do Joe Flacco, que jogou muito bem nos playoffs, e o ataque continua se reforçando: Ray Rice melhora a cada temporada, e o jogo aéreo se torna mais perigoso com a melhora do Flacco e o aumento dos alvos só ajudou o time. O Ravens é um time melhor do que era ano passado, e que por sua vez era um time melhor do que ano retrasado. Não é como se o Ravens fosse caindo de qualidade ano após ano, é um time com muitos jogadores jovens que ainda estão se desenvolvendo e que tem adicionado boas peças à equipe. O problema do time é outro, a idade (e a saúde) da sua defesa. Ed Reed, tradicionalmente, sempre se machuca e já beira os 34 anos, e o líder dentro e fora de campo do time, Ray Lewis, já está para fazer 37 anos e beira a aposentadoria. Por mais que o time tenha bons jogadores que ainda são jovens (Haloti Ngata, Suggs) o time ainda depende muito da sua forte defesa, e sua forte defesa ainda depende desses dois futuros Hall of Famers que já estão perto da aposentadoria. Eles continuam adiando essa aposentadoria para tentar uma última corrida ao título, e a cada ano que passa é um ano mais perto do final da carreira dessas duas lendas vivas.
Se eu acho que o que o Ravens será reduzido a um time fraco sem os dois? Não, acho que a defesa tem jogadores bons o suficiente pra manter um bom nível. Mas sem dúvida o time perde em poder defensivo e deixa de ser um juggernault defensivo pra ser uma boa defesa, mas não espetacular (Nunca se sabe, podem conseguir alguem bom pro lugar deles, mas ainda será difícil). Sem falar que o time perderá os seus dois principais líderes dentro e fora de campo. Isso significa que o ataque terá que assumir um papel muito mais importante pra levar o time pra frente, em especial no quesito liderança (o que vai cair nos ombros do Flacco, e por mais que eu ache ele um bom QB, ele nunca me passou confiança como lider), e eu não sei se o ataque vai ter condições de levar o time pra frente se não tiver ancorado por uma feroz defesa, como é o caso. Acho que essa janela de título imediato ainda fica aberta mais uma ou duas temporadas ao Ravens, depois disso - quando Reed e Lewis sairem - o time deve passar por uma pequena reformulação, embora dificilmente total, o time tem talento demais pra isso e sabe que está perto de um título. A um Evans ou a um Cundiff de distância.
New Orleans Saints e Green Bay Packers
Os dois melhores times da NFL, os dois times mais ferozes da Liga, os dois melhores ataques da NFL... Ambos caíram na primeira rodada dos playoffs, o Packers inclusive levando uma surra em casa. Drew Brees e Aaron Rodgers, os dois melhores QBs da temporada regular (embora eu ainda sustente que o melhor QB da NFL na atualidade seja Tom Brady), foram superados por Alex Smith e Eli Manning, e as defesas de Niners e Giants se provaram superiores às de Saints e Packers. O confronto tão esperado nunca aconteceu, e embora eu não quisesse ver o Niners perdendo, eu confesso que gostaria de ver essa partida.
O Packers jogou um jogo que deveria ser um shootout, com a fraca defesa do Packers e a fraca secundária do Giants. O Packers até tentou, e viu o Giants marcar 37 pontos (O que, sabe, configura um shootout), mas não conseguiu chegar perto de produzir o suficiente. O forte ataque do Packers acabou caindo frente à defesa do Giants, em especial a linha defensiva. O Giants dominou totalmente a fraca linha ofensiva de Green Bay, o Giants não teve vergonha de mandar blitz atrás de blitz e Rodgers cansou de comer grama, ao ponto que ele não conseguia mais manter os olhos na secundária com confiança na sua agilidade e seu scramble, ele só tinha olhos para a linha defensiva. Como já disse, quando você faz um QB parar de olhar a secundária (onde estão seus recebedores) para olhar a linha defensiva (pra evitar a pressão), você tem o controle do jogo (era exatamente esse o controle do jogo que o 49ers tinha quando Williams sofreu o primeiro fumble, e foi isso também que evitou que os dois QBs jogassem na prorrogação no mesmo jogo). A linha de frente fenomenal do Giants de Justin Tuck, Osi Umenyora e Jason Pierre-Paul entrou na cabeça de Rodgers desde o começo e evitou que o excelente QB do Packers jogasse confortável. Com o ataque controlado, a defesa do Packers foi presa fácil para o explosivo ataque de New York.
Já o Saints, que enfrentava um adversário com defesa feroz e fortíssima, conseguiu seu objetivo - isto é, levar o jogo a um placar alto. Anotou 32 pontos contra a melhor defesa da NFL (cortesia de dois TDs longos no final da partida) e, mesmo tendo passado boa parte do jogo sob controle de uma defesa extremamente feroz e agressiva que forçou cinco (!!) turnovers, conseguiu conter os avanços do Niners, não deixou esses turnovers virarem TDs durante boa parte da partida e se colocou, com os 32 pontos, em ótima situação para vencer um time cujo ataque tinha sido questionável em boa parte da temporada. A defesa do Saints é bem fraca e isso sem dúvida atrapalhou a equipe, mas não dava pra adivinhar que ia baixar o Montana no Alex Smith e ele ia conduzir duas campanhas impecáveis em tão pouco tempo pra vencer o Saints. Por mais bizarro que isso fosse, o Saints enfrentou um time que, se tirassemos os dois QBs da equação, era razoavelmente mais forte... E perdeu porque o QB do Niners jogou melhor que o seu próprio - sabe, aquele que quebrou o recorde do Dan Marino de jardas em uma temporada.
No final, esses dois times com ataque explosivos foram derrotados por maneiras diferentes, mas o que importa é que os dois estão em casa. Ano que vem é outro ano, mais uma offseason, e quem sabe o que vai acontecer com eles. Só posso dizer que estou muito ansioso pra ver Rodgers e Brees - dois QBs extremamente orgulhosos e competitivos - jogando temporada que vem com sangue nos olhos. Brees enfrenta o Niners e, se não me engano, Rodgers enfrenta o Giants durante a temporada regular. Assim como mal posso esperar pra ver o Tom Brady jogando contra o Giants no Super Bowl como se a vida dele dependesse disso...
(pausa)
Oh meu Deus, o que eu vou fazer durante esses sete meses sem NFL???
A mídia esportiva é um pé no saco
De certa forma, eu faço parte da mídia (eu acho), mas não consigo deixar de achar a mídia esportiva um tremendo saco sensacionalista em 95% dos casos. Vocês ficam putos com os sensacionalismos da mídia brasileira com o campeonato brasileiro? Eu também, mas lá fora não é diferente. No começo e meio da temporada, quando o Packers de Aaron Rodgers estava atropelando todos os times fracos e medios no seu caminho e caminhando para uma temporada invicta, o Rodgers foi chamado na imprensa de "o melhor Quarterback de todos os tempos" e disseram que ele e o Packers estavam tendo "a melhor temporada de todos os tempos" ou então que eram "o melhor time de todos os tempos". Típico sensacionalismo: O Packers estava jogando muito bem, claro, mas sua defesa estava fraca, o time tinha várias fraquezas e sua tabela era muito mais tranquila do que a do Patriots de 2007, por exemplo.
Depois, quando o Packers desacelerou e perdeu a invencibilidade, o Drew Brees engatou a sexta marcha, teve um final de temporada espetacular e caminhou para destruir o recorde do Dan Marino de jardas. De repente ele era "o melhor QB da NFL' e estava tendo "a melhor temporada de todos os tempos" no lugar do Rodgers. E eu sei que já repeti um milhão de vezes, inclusive deixei isso bem claro no epílogo da temporada, mas passar pra 5300 jardas hoje em dia é muito, mas muito mais fácil do que passar para 5000 jardas em 1984, quando Marino estabeleceu sua marca. As temporadas de Brees e Rodgers foram espetaculares, nenhuma dúvida quanto a isso, mas o que Marino fez era impossível. Já comentei aqui sobre como a evolução das regras na NFL favoreceu o jogo aéreo: Quando Marino jogou, a defesa podia fazer de tudo pra parar os recebedores e atingir o QB onde bem entendesse. Agora? Não podem atingir 80% do corpo do QB, não podem encostar nos recebedores... É muito mais fácil.
Mas claro que, quando Brees e Rodgers perderam nos playoffs, e Brady foi ao Super Bowl com a chance de ganhar seu quarto Super Bowl e se igualar a Montana e Terry Bradshaw (Esquecendo totalmente que nos dois primeiros SBs - talvez até três primeiros SBs - da Franquia Brady era secundário a uma formidável defesa e que sua tarefa consistia em evitar erros e ser eficiente), de repente Brady era o melhor de todos os tempos e bla bla bla, esquecendo totalmente que números de títulos não são exatamente um indicador de qualidade - o segundo melhor QB da história nunca foi campeão (Marino), enquanto Trent Dilfer - que é muito melhor comentarista que jogador - tem o seu anel. Quando vamos parar com essa mania de sensacionalismo, lembrando que as coisas mudam com o tempo, e que existem coisas além de números? Precisamos mesmo tentar elevar os jogadores de agora a esses patamares ridiculos só para que eles pareçam melhores? O que eles estão fazendo diante dos nossos olhos - independentemente de ser ou não o que a imprensa tenta passar - não é mais suficiente, eles precisam superar tudo que veio antes senão não ficaremos satisfeitos? Eu odeio isso, odeio como isso nos leva ao eterno debate sem solução que impede que aproveitemos o que temos para ver agora. Eu não ligo se Montana e Marino eram melhores que Brees e Rodgers, tudo que me interessa é ver esses dois se enfrentando com sangue nos olhos nos playoffs do ano que vem!!