Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Preview: Green Bay Packers vs Chicago Bears


Todo o estilo da época que Bears e Packers viveram seus anos
de ouro, quando a gente ainda andava de bonde, tinha medo da
União Soviética e o Uruguai era uma potência no futebol.

Apesar de somarem apenas quatro Super Bowls (O Steelers sozinho tem seis), Chicago Bears e Green Bay Packers são duas das franquias mais vitoriosas e tradicionais da NFL. Antes da criação do Super Bowl - e o começo da Era do Super Bowl, que é tido quase como a parte moderna do futebol americano - Packers e Bears foram duas das principais, senão as duas principais, franquias da época. Os times somaram dezenove títulos nessa era pré-Super Bowl, foram as franquias dominantes, com jogadores lendários como Don Hutson (o da foto) e criaram, desde essa época, uma fortíssima rivalidade. Essa rivalidade atravessou toda a história da NFL, e até hoje é uma rivalidade intensa que só aumenta com o fato de Bears e Packers se enfrentarem duas vezes todo ano por pertencerem à mesma divisão. Talvez não haja tanto ódio e não seja tão pessoal como um jogo entre Steelers e Ravens, no que diz respeito a quem está dentro de campo, mas pensando na definição clássica de rivalidade, não ha uma rivalidade na NFL maior do que essa, é a que está a mais tempo ai, é a que mais foi marcante pra história da Liga e sempre esteve aquecida, mesmo com um dos times (ou os dois) em baixa. Para deixar duas pessoas que entendem um pouco mais do assunto que eu explicarem:

Até hoje nunca vi um vídeo que explicasse melhor o que é uma rivalidade, ainda mais com essas duas lendas lado a lado na tela.

 
As chaves da partida para o Bears:
Uma jujuba da marca "TM Warning" pra quem descobrir o que vem a seguir. Pois é, parar Aaron Rodgers. É o que a gente chama de idéia original. E se parar Rodgers já é difícil, parar Rodgers nos playoffs está praticamente impossível, porque o bigodudo ta pegando fogo e ta fazendo miséria com quem ele pega pela frente. Mas tudo bem, o que o Bears tem que fazer pra pelo menos aumentar suas chances é a questão aqui. O Bears tem uma secundária, embora não horrorosa, frágil. Não tem um grande defensor no mano a mano nem um safety que força turnovers. É uma unidade que não vai ferrar tudo, mas que também não vai fazer um milagre, não vai ganhar jogos, como por exemplo as secundárias do Jets, Steelers ou Ravens. Mas o Bears tem uma coisa que nem Eagles nem Falcons tinham num nível elevado: pass rush.

Quando você enfrenta um QB dominante, não importa as características, você tem que usar e abusar do pass rush pra ter uma chance. Tem que manter ele em movimento, ter alguém apressando seus lançamentos pra que não possam ser mirados direito, alguém que tire o QB da sua zona de conforto e que possa atrapalhar seus lançamentos. O Rodgers já é ha algum tempo um QB que, se tiver tempo, vai achar o alvo e vai conseguir o que quer, e o fato dele contar com um dos melhores corpos de recebedores da NFL não ajuda sua situação. Deixar o Rodgers quieto é pedir pra perder o jogo. O Rodgers tem conseguido se virar bem mesmo quando tem pouco tempo, mas no único momento desses playoffs que um time conseguiu efetivamente chegar no cangote do Rodgers mantendo-o no pocket, que foi contra o Eagles, foi a única hora que ele parou de lançar touchdowns. A chave pro Bears é a mesma, pressionar o QB, só que tem que fazer de forma mais eficiente do que os outros times, não dar sossego pro Rodgers e tentar limitar sua produtividade assim. Pode não dar certo, ele pode conseguir tirar aqueles passes maravilhosos enquanto corre pro lado, mas sua única chance de parar o Rodgers com uma secundária mediana é o Julius Peppers fungando na orelha dele. O Bears tem uma linha de frente que está entre as melhores da Liga e tem um pass rush muito mais eficiente do que Eagles e Falcons, e tem que usar essa linha de frente de formas criativas, cobrindo passes curtos pro RB e impedindo que o Packers estabeleça um jogo de corrida, mas mais do que isso tem que mandar gente atrás do Rodgers o jogo todo, e a linha de frente é o primeiro passo pra conseguir isso.

O Bears também foi um time que me surpreendeu ao longo da temporada e também no primeiro jogo dos playoffs contra o Seahawks pela capacidade de adaptação. O time entregou o ataque ao Mike Martz, o novo coordenador ofensivo, que deu vida nova ao ataque e ao Jay Cutler. O esquema que o Martz usa é chamado de Air Coryell, e um dia eu ainda vou fazer um post explicando a diferença entre o chamado West Coast Offense e o Air Coryell, são dois esquemas muito parecidos, tanto que o próprio Bill Walsh chamava o Air Coryell de "O verdadeiro West Coast Offense", mas ambos enfatizam as mesmas coisas: jardas após a recepção, passes curtos e médios, entre muitas outras coisas. E esse esquema caiu bem pro Cutler porque usa o braço forte do QB e os recebedores dinâmicos que o time tem, e no começo foi responsável por uns jogos absurdos do Matt Forte onde o RB tinha duas vezes mais jardas aéreas do que terrestres, um Marshall Faulk piorado. Esse ataque foi responsável pelo inicio avassalador de temporada do Bears, até que os times começaram a perceber o problema desse esquema. O Bears tem uma linha ofensiva patética, de dar dó, e no começo o Martz (Que sempre deixou seus QBs morrerem com esquemas fracos de proteção) até conseguiu cobrir isso com trocas de marcação e pacotes usando TEs e RBs de bloqueadores, mas com o tempo foi simplesmente ficando demais pra proteção acompanhar e o Cutler começou a ser sackado num ritmo que nenhum QB na Liga agüentaria, o que o levou até a perder alguns jogos por contusão. Eu parei de acompanhar jogos do Bears por algum tempo e só comecei a ver alguns flashes mais pro final da temporada. E fiquei surpreso ao ver que o Bears foi capaz de se adaptar a isso com uma solução simples: Correr com a bola. Em qualquer West Coast Offense do mundo o RB é usado muito como recebedor, o Roger Craig do 49ers do Walsh foi o primeiro RB com 1000 jardas aéreas e terrestres na mesma temporada, e o Forte tava fazendo sua temporada recebendo passes curtos do Cutler. Mas frente aos problemas em ter tempo pra soltar a bola, e também o fato de que o Cutler tende a perder a cabeça e fazer jogadas idiotas quando se sente pressionado, o Bears recorreu ao jogo terrestre como uma forma de tirar as mãos da bola do Cutler. E tem que continuar fazendo isso, até porque o pass rush do Packers tem tudo pra brincar com a cabeça do Cutler o dia todo. Colocar o Forte e o Chester Taylor pra correr, tirar a pressão do Cutler, impedir que ele tenha que sofrer porrada o dia todo e colocar o  Cutler pra lançar como um recurso ofensivo, não como uma obrigação, principalmente trabalhando no play action, é a chance do Bears. A defesa do Packers é muito melhor que a do Seahawks, claro, mas deu certo - e muito - contra Seattle. E, claro, é bom pra deixar o Rodgers sentadinho no banco, sem nenhuma bola na mão que ele possa colocar na end zone do Bears, sem jogar e sem estabelecer um ritmo que lhe seja confortável.

Também não seria nada mal explorar os retornos: O time de especialistas do Packers é fraco e o Devin Hester é o maior retornador de todos os tempos. O Hester tem que tocar na bola o máximo possível, retornando kickoffs, punts, até em passes curtos, a velocidade dele é incrível e tem que aproveitar cada oportunidade que tiver pra ganhar jardas.


As chaves da partida para o Packers:
Eu confesso que eu era um cético sobre a linha ofensiva do Packers. Ela foi extremamente fraca em 2009, fez o Rodgers sofrer demais com sacks, e em 2010, embora tenha melhorado, ainda esteve longe de ser confiável, as vezes era vulnerável demais e as vezes tinha boas partidas. Eu confesso que não confiava nela, achei que ela ia ser um ponto fraco a ser explorado nesses playoffs, mas ela tem jogado muito bem. Não só tem jogado muito bem abrindo caminho pros RBs do time, mas tem protegido o Aaron Rodgers muito bem, dando a ele tempo pra fazer o que ele sabe fazer melhor, ser bom. Verdade que, como eu disse ali em cima, o pass rush do Bears é melhor que os que eles tiveram que enfrentar do Falcons, um time que tem certa dificuldade com o rush, e do Eagles, que tem dois bons DEs e só, mas contra quem o Packers enfrentou problemas no fim da partida por causa desses DEs. A maior chance do Bears parar o ataque aéreo do Packers é com sua forte linha de frente, parando o jogo terrestre, colocando o Rodgers em situações obvias de passe e ai mandar a casa pra cima dele pra tentar impedir ele de passar a bola como quer. Portanto, a linha ofensiva tem que continuar se mostrando solida, mas dessa vez vai ter que elevar seu jogo mais um nível, porque é o que vai acontecer com o nível da adversária. Ou pelo menos da linha de frente dela. Só pra deixar claro, 'linha defensiva' e 'linha de frente' são conceitos diferentes, a linha defensiva são os DEs, DTs e NTs, e a linha de frente engloba todo mundo que fica ali na linha de scrimmage, ou seja, a linha defensiva mais o corpo de LBs.

Na defesa o Packers tem uma vantagem substancial sobre o ataque do Bears, porque nos confrontos individuais o Packers leva vantagem em quase todos. A secundária do Packers é superior individualmente ao corpo de recebedores do Bears, e a linha de frente - em especial os linebackers - tem uma vantagem gritante sobre a linha ofensiva do Bears. O Packers tem colocado muita pressão nos adversários a temporada toda, e não sei por que seria diferente aqui, até porque é contra uma linha ofensiva bem mais vulnerável e um QB que não trabalha bem sob pressão. O Packers tem que tomar só cuidado pra não ser queimado nos passes curtos pro Forte, e tem que fazer bem o papel de parar o jogo terrestre do Bears, porque quanto mais unidimensional se tornar o ataque do Bears, maior a chance da secundária ridiculamente forte do Packers forçar turnovers, a especialidade da defesa. O Cutler não é um grande leitor de defesas e o PAckers pode ter muito sucesso mandando o Charles Woodson na blitz, o Woodson é um safety muito físico que é excelente dando tackles e sacks, e por isso ele pode fazer o papel da blitz ou até da cobertura por zona pelas laterais do campo próximo à linha de scrimmage, porque ele pode tanto ir atrás do Cutler como pode evitar os passes curtos com sua velocidade e atleticismo. A secundária do Packers deve dar conta dos WRs do Packers mesmo sem o Woodson, então é uma boa usá-lo pra confundir o Cutler. O segredo pro Packers aqui, mais do que mudanças táticas, é continuar fazendo com eficiência o que tem fazendo: Pressionar o QB, segurar o jogo terrestre e forçar conversões difíceis onde força turnovers.

Também o time tem que tomar cuidado com o Devin Hester. Os especialistas do Packers são fracos, ja cederam um TD nesses playoffs, e o Hester é capaz de fazer a festa o dia todo, inclusive ja fez um TD contra o Packers essa temporada regular. O punter tem que estar ligado e o time tem que estar disposto a chutar algumas bolas pra fora de campo, mesmo que assim você de algumas jardas pro Bears, do que se arriscar a um retorno ainda maior do Hester.

Palpite: Não consigo ver o ataque do Bears passando consistentemente pela defesa do Packers, e é o que o time precisaria fazer pra ganhar essa partida. Acho que da Packers, merecidamente, no Super Bowl.

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