A jogada que garantiu a vitória do Celtics no jogo 3
Pegando emprestada uma das frases clássicas do meu personagem preferido de todos os tempos em qualquer mídia pra ilustrar o jogo três de ontem entre Boston e Miami. Tudo bem, a frase do Hiruma é sobre futebol americano, mas para o Boston Celtics, ela serve - e muito - para basquete.
Para quem perdeu, ontem, faltando sete minutos no terceiro quarto, Rajon Rondo e Dwyane Wade se engancharam e cairam no chão. Rondo, tentando aparar a queda, acabou deslocando seu cotovelo (veja a foto que ilustra o post) em uma imagem realmente assustadora. Rondo saiu de quadra, o próprio Doc Rivers achou que ele não voltava mais, e o Boston jogou com sangue nos olhos pelo seu armador. Mas o que realmente selou a vitória do Boston foi, ao final do quarto, olhar para o canto do ginásio e ver o mesmo Rajon Rondo voltando do vestiário, o cotovelo enfaixado e pronto para jogar. O ginásio pegou fogo, o time do Boston pegou fogo, e a pergunta estampada no rosto de cada jogador do Miami Heat era clara: O que diabos está acontecendo aqui?? Esse cara não tinha perdido um cotovelo??
Falar que a vitória do Boston aconteceu apenas por causa desse retorno a lá Willis Reed é um exagero enorme. Apesar de um primeiro tempo duvidoso, no qual o Boston foi massacrado pelo grande Joel Anthony no garrafão, o Boston jogou com outra postura. Foi agressivo na defesa, congestionou o caminho de Wade e Lebron James até o aro e forçou o Heat a jogar mais do perímetro (Pelo menos até o Anthony pegar um rebote ofensivo). Paul Pierce e Kevin Garnett vieram pro jogo muito mais ligados do que tinham jogado na pós temporada até aqui, Pierce marcou 10 dos primeiros 14 pontos do time no jogo e Garnett teve um jogo digno dos seus melhores anos na Liga, com 28 pontos e 18 rebotes, o que foi fundamental. Eu falei muitas vezes que o Boston ganhou do Heat três vezes porque dominou o garrafão com Shaq e Kendrick Perkins. Como Perkins está em Oklahoma e Shaq - já vamos falar dele - estava machucado, o Garnett precisaria dominar seu duelo com Chris Bosh de forma a compensar a falta de um pivô enorme e trazer novamente a vantagem do garrafão pro seu time. E o Bosh não conseguiu jogar o jogo todo ontem, Garnett comeu ele com chilli, e se o garrafão do Boston não conseguiu dominar o primeiro tempo foi por causa do Joel Anthony.
E por falar em garrafão, eu insisti aqui 300 vezes que a chave para o Celtics virar a série era a volta do Shaq, recuperado da lesão, para aumentar a altura e a força do garrafão do Boston, impedir os pontos fáceis perto da cesta e dominar o garrafão no ataque. E o Shaq realmente voltou, mas ficou muito claro que ele nunca se recuperou da lesão. A entrada do Shaq foi um movimento desesperado de um time desesperado, o Shaq entrou em campo mancando, claramente sentindo, incapaz de jogar 25 minutos que fossem em alto nível, como fez em boa parte da temporada regular. O Shaq recuperado de lesão, jogando 25-30 minutos por jogo, era a chave para o Boston avançar. O Shaq machucado, no sacrifício, jogando menos de 10 minutos por jogo, não vai fazer milagre. O que não quer dizer, também, que ele não vá ajudar o Boston. Mesmo no sacrifício, o Shaq teve um impacto positivo no time do Celtics: A defesa de perímetro ficou mais agressiva sabendo que tinha uma parede no garrafão. Os jogadores do Miami pensavam duas vezes antes de infiltrar. E o Boston ganhou uma presensa de garrafão que não precisa fazer 25 pontos pra se fazer sentida, com apenas uma ou duas cestas, bom posicionamento e bons passes, ele já fez mais do que o Boston esperava e teve um papel ativo no jogo, mesmo que mais pelo que ele representa do que pelo que ele fez.
Mas não da pra negar que, no final do terceiro período, pronto pra entrar com uma vantagem considerável no quarto período - o que causou muitas dores de cabeça aos torcedores celtas ao longo do ano, inclusive contra o Knicks - a volta do Rajon Rondo, sem um cotovelo, foi o que terminou de definir a partida. Para lembrar de outro momento parecido, temos que voltar ao jogo 1 das Finais de 2008, quando em Boston, contra um time do Lakers que estava endurecendo - e muito - a partida, o Pierce fez a sua famosa e polêmica saida do ginásio em cadeiras de rodas depois de uma queda feia, para voltar à quadra algum tempo depois, levantando o ginásio, acertando duas bolas de três e iniciando uma sequência incrível do Boston que terminou numa vitória. Tudo bem, foi mais um teatro do que uma lesão séria de verdade, mas a volta do seu capitão mudou totalmente o ritmo do Boston na partida, impulsionado por uma torcida pegando fogo.
A lesão do Rondo ontem foi mais séria que a do Pierce, mas teve um efeito parecido e, ao mesmo tempo, diferente. A volta do Rondo fez com a torcida o que a volta do Pierce fez três anos atrás, e o time se energizou da mesma forma que fez em 2008. Mas a volta do Rondo não teve um impacto só nos seus colegas, também teve no Heat. Lembrando mais um momento clássico do grande Hiruma, a volta de um Rondo praticamente sem um braço, entrando em quadra depois de todos acreditarem que ele não tinha mais condições de jogo quem sabe por quanto tempo, não só deu novo ânimo aos seus colegas como abalou psicologicamente os adversários. O Miami Heat não ficou confortável durante todo o quarto período com o Rondo por lá, eles não sabiam como deveriam tratá-lo, como ele iria jogar, o que ele seria capaz de fazer, e isso abriu o caminho pro Boston não só garantir a vitória como garantí-la de forma definitiva, deixando claro que o time ainda tem gás para bater de frente com Miami. Não foram só os quatro pontos, uma assistência, um rebote e um roubo de bola do Rondo no quarto período que fizeram a diferença, foi tudo que ele significou para ambos os times ao fazer seu dramático retorno que definiu a partida no quarto período.
Agora, depois de uma vitória convincente na qual o Heat ficou claramente abalado, o Boston tem que se preocupar. É incerto o quanto dessas performances o Pierce e o Garnett vão ser capazes de repetir no jogo quatro, onde principalmente o Garnett vai ter que se impor no garrafão como fez nessa partida para anular o Chris Bosh e manter os jogadores de Miami afastados do aro. A volta do Shaq - baleado, machucado, no sacrifício, por 10 minutos - da um certo alívio pro Boston, ele jogando assim já torna o garrafão do Boston bem melhor do que o Glen Davis ou o Nenad Krstic, mas eles também tem que ver como o Rondo vai ser capaz de jogar daqui pra frente. Ele é durão o suficiente pra jogar os próximos jogos, mas tem que ver o quanto da sua capacidade de armação vai ser comprometida pelo seu braço esquerdo depois de só 48h de descanso. Se ele conseguir entrar, dar assistências, incomodar qualquer marcador e fazer seu time funcionar como ele sempre faz, o Miami pode se encontrar na mesma situação de ontem - abalado, tentando entender o que estava acontecendo e vendo um time totalmente diferente do Boston dominar o jogo. Ele é, mais do que ninguém, a chave para ganhar o jogo 4 e equilibrar novamente a série.
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