Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

O Botão do Pânico

Gasol está entrando em pânico


Quem acompanha as mídias esportivas americanas aqui já deve ter ouvido falar no 'botão do pânico', ou "panic button" no original. É uma gíria usada para quando um time, por conta dos maus resultados, entra naquele estado de desespero. Muita gente, quando o Lakers estava naquela fase fraca pré-All Star Break e muita gente se perguntava se o time iria fazer alguma troca pra reforçar o elenco, disse que o Lakers estava na beira de apertar o botão do pânico e fazer trocas levado pelo desespero.

Para dar mais um exemplo prático, meu querido Boston Red Sox, que começou a temporada perdendo oito jogos seguidos, toda a torcida começou a entrar em desespero, achar que o time nunca mais ia ganhar um jogo, de que já era pra dar adeus aos playoffs (162 jogos, gente, 162 jogos!), trocar todo mundo e chorar ouvindo Simple Plan.

Mas as vezes, o panic button é um aviso real de que alguma coisa estáe errada na hora errada. E essa 'hora errada', pros times grandes da NBA, significa 'playoffs'. O Boston Celtics está numa situação complicada e está começando a flertar com esse botão. O time está 2-0 e está sendo superado em todos os quesitos possíveis pelo Miami Heat. Ainda assim, o Boston não está definitivamente ferrado a ponto de tacar tudo pra cima e desistir da vida, porque segundo consta o Shaq pode voltar já na próxima partida (Se o Shaq que vai jogar vai conseguir contribuir como contribuiu na temporada regular depois de uma lesão e um bom tempo parado é outra história) e também porque o Celtics perdeu dois jogos fora de casa, ainda tem dois seguidos em casa pra tentar empatar. O Celtics ainda não apertou o botão do pânico, mas um time nesses playoffs já apertou. E, pra alegria do Boston, foi o Los Angeles Lakers.

O Lakers teve um ano, digamos, peculiar. Começou muito bem, só não disparou na frente do Oeste porque o Spurs teve um começo surreal, e isso tudo sem Andrew Bynum. Mas o time começou a capengar, não se encontrava, amargou algumas sequências de derrotas e chegou no All Star Game desacreditado. Depois do All Star Weekend, o Lakers não perdia mais, estava jogando muito, Bynum na melhor fase da carreira, Kobe Bryant metendo mais de 30 pontos por jogo, e o Lakers massacrou todo mundo só pra, nos últimos jogos, perder mais alguns jogos e todo mundo de repente esquecer a ótima sequência anterior e falar que o Lakers estava acabado, típica memória curta de torcedor. Na primeira rodada dos playoffs, depois de quatro jogos trombados e difíceis contra o Hornets e assistindo em primeira mão ao Chris Paul destruir todo o sistema defensivo do Lakers jogada após jogada, o Lakers finalmente impôs seu estilo de jogo nos últimos dois, usou seu garrafão e dominou o adversário dos dois lados da quadra, lembrando todo mundo da primeira rodada do ano passado, quando o Lakers também só engrenou nos dois últimos jogos da primeira rodada contra o Thunder e acabou embalado pra ser bicampeão.

Só que agora o Lakers não parece mais o bicho papão do ano passado, nem o do pós-All Star Game, nem o dos dois últimos jogos contra o Thunder. O Lakers parece um time perdido, que não consegue saber o que está dando errado enquanto são comidos vivos pelo Dirk Nowitzki e pelo - acreditem - JJ Barea.

A gente falou no preview dessa série de como o Lakers tem uma desvantagem contra armadores rápidos que não poderia ser explorada pelo Jason Kidd e que teria que ser explorada pelo JJ Barea ou pelo Roddy Beaubois e que o garrafão do time de Los Angeles tinha que ser neutralizado pelos grandalhões Tyson Chandler e Brandon Haywood (até pra provar que a grana zilhonária que o Marc Cuban gasta em pivôs não é - toda - em vão) e o Lakers, nesse caso, teria que buscar uma opção capaz de infiltrar no garrafão adversário e desmontar a defesa por zona e liberar a região próxima ao aro, como o Brandon Roy fez nos dois jogos que o Blazers ganhou contra Dallas.

Essa foi a previsão que eu fiz para o confronto, tenho provas concretas, e é exatamente o que está acontecendo. O Lakers não está conseguindo ficar confortável com o seu jogo de garrafão, principalmente porque o Dallas está usando seus pivôs para neutralizar o Bynum dentro da área pintada, eu acho que não vi no ano todo nenhum jogador dar tanto trabalho ao Bynum na defesa como o Haywood, e está também tendo problemas porque o Pau Gasol está jogando muito mal, além de estar sendo muito bem marcado e pressionado toda vez que pega na bola (Se alguém me falasse, quando Gasol foi pro Lakers, que em três anos o irmão dele não só estaria jogando melhor que ele numa pós temporada mas também teria mais chances de ir para as Finais nesse momento, eu provavelmente infartaria de dar risada) e não estar acertando muita coisa quando tem a chance. Além disso, ele está tomando um baile deprimente do Nowitzki, embora esse seja mais mérito do alemão e seus arremessos tortos (sério, é um enigma como alguém que só arremessa bolas caindo, torto, pulando pra trás, marcado e de um ângulo impossível consegue ter um aproveitamento maior que 50% nos arremessos).

O Dallas ganhou as primeiras partidas em Los Angeles porque neutralizou a vantagem do Lakers no garrafão e está contando com os pontuadores certas nas horas certas, além do fato bizarro do Lakers não ter uma resposta ao JJ Barea. O Kidd não tem mais idade, fôlego ou velocidade para ficar driblando e bater pra dentro do garrafão a cada posse de bola, então o técnico do Mavs está colocando o JJ Barea pra fazer isso, e o Steve Blake e o Derek Fisher não sabem mais o que fazer pra parar o portoriquenho, Los Angeles não está conseguindo defender nenhum simples pick and roll e o Barea está fazendo exatamente o que o Lakers deveria estar tentando fazer, infiltrar e desmontar a defesa pra abrir o garrafão ou o perímetro. O Dallas está controlando cada fator importante da série e o Nowitzki está sendo o melhor jogador em quadra. Sinto muito, Kobe, mas é a verdade.

E o botão do pânico está apertado, ao contrário do do Boston (Por muito pouco, é verdade), porque a situação do Lakers é mais preocupante: Eles não tem um jogador voltando de lesão pra depositar as esperanças, eles jogam dois jogos fora de casa, e ainda não vão ter o Ron Artest pro jogo três, suspenso por uma tentativa de assassinato no JJ Barea. O Lakers ainda não achou uma forma de envolver seu garrafão no jogo e acordar o Gasol, muito menos de chegar perto de marcar o Nowitzki. E o que mais preocupa, a meu ver, é o Kobe e como ele tem jogado.

Eu falei que pro Lakers abrir o garrafão do Mavs, alguém precisaria infiltrar e atacar a cesta, e esse papel, claro, caberia ao Kobe ou ao Lamar Odom. Mas depois de dois jogos, o Kobe tentou 49 arremessos e apenas um (UM!!) foi uma bandeja! O Kobe não está atacando a cesta, está vivendo dos arremessos, e muitos arremessos. Eu acho o Lakers um time melhor quando o Kobe arremessa 20 bolas do que quando arremessa 30, mas o problema nessa série não é o quanto de arremessos ele dá e sim quais arremessos ele dá. O Mavericks pode tranquilamente viver com o Kobe dando 25 jumpers de meia distância por jogo desde que ele só ataque a cesta uma ou duas vezes e mantenha a defesa de garrafão do time intacta. O garrafão do Hornets só caiu por terra quando o Kobe deu duas enterradas monstruosas e fez o jogo atacando a cesta e jogando dentro do garrafão. E se o Kobe não fizer isso agora, ninguém no Lakers vai fazer - e a pós temporada pode acabar daqui a dois jogos para Los Angeles. Em Dallas. Em quatro jogos.

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