Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Um adeus à NBA

Olha, o meu padrão no blog tem sido de três colunas por semana: Os palpites no sábado, um resumo da rodada na terça e um post elaborado na quinta. A gente muda conforme a dança, mas é a forma que na minha opinião o blog caminha num ritmo e abordagem mais satisfatórios (Sintam-se a vontade para discordar nos comentários, no twitter, http://twitter.com/tmwarning, no nosso email, tmwarning@hotmail.com, ou até por cartas). Mas as vezes acontece algo que nos força a mudar drasticamente a rotina a ponto de me comprometer com quatro colunas seguidas.

O fato é, eu não queria fazer essa coluna. Eu estar aqui fazendo essa coluna implica que as negociações  para o fim do lockout da NBA fracassaram de maneira definitiva. A tão malfadada decertificação não aconteceu mas aconteceu quase isso, e o resultado é o mesmo, e significa que a NBAPA não tem mais autoridade pra negociar pelos seus jogadores, o que por sua vez permite que os jogadores entrem com ações na Justiça contra a NBA pra tentarem resolver seus problemas na Justiça. Quem acompanhou o lockout da NFL vai lembrar que foi exatamente isso que a NFLPA fez. Mas com uma diferença muito grande: Os jogadores da NFL fizeram isso em Março, seis meses antes do começo da temporada, e os da NBA estão fazendo isso um mês DEPOIS do início da temporada. Uma ação na Justiça é extremamente demorada e ainda existe a chance de acontecerem recursos. Uma opção dessas deveria ter sido considerada meses atrás, nunca agora!

Na verdade, isso só reflete o desastre homérico (Stérnico parece um bom neologismo) que foram as negociações. Os donos foram agressivos desde o começo porque queriam mudar um sistema que não estava mais funcionando sem mudar de fato esse sistema, apenas pegando para si uma parcela maior do bolo e tentando se protegerem de si mesmos. E os jogadores foram passivos porque não queriam mudanças de fato, para eles podia ter continuado tudo como estava. De um lado os donos não fizeram nenhuma concessão durante as negociações, sempre quiseram ganhar mais sem perder nada, não buscaram um diálogo efetivo e nem negociações para levar a um meio termo, era na base do "Negociaremos que queremos uma divisão do BRI de 50/50 porque é nosso objetivo final! Quando eles aceitarem, vamos negociar pra conseguirmos mais benefícios!", e do outro os jogadores ficaram a maior parte do tempo sentados esperando os donos cederem alguma coisa de interesse para eles (o que, sério, não iam) ao invés de montar contrapropostas, realizar votações e dialogar entre si para montar um esquema que agregasse os interesses das maiorias.

Na verdade os dois lados estão cobertos de culpa. Nenhum foi razoável, ambos deixaram o assunto correr demais, demoraram demais para conversarem e nem isso tentaram de fato. Enquanto a NFL tinha pessoas do calibre de Bob Kraft e Jerry Jones negociando seu CBA, a NBA tem Billy Hunter, Bob Sarver e Dan Gilbert. Estavamos ferrados desde o começo. Eles sabiam o que estava em jogo desde o começo: A NBA teve sua melhor temporada em termos de mídia desde Michael Jordan, estava em expansão, tinha mais jogadores de destaque do que qualquer outro esporte, as Finais voltaram a escalar em audiência, tinhamos uma dúzia de subplots interessantíssimos... E o lockout está jogando tudo isso pela janela. A NHL esteve em uma situação parecida recentemente - um sistema que não funcionava e que perdia dinheiro. O CBA da NHL demorou pra sair, as negociações foram mal conduzidas... E o Hockey perdeu uma temporada inteira pra conseguir resolver esse problema e NUNCA se recuperou da perda de popularidade e contratos. O CBA salvou as finanças da Liga, mas enviou ela para um poço sem fundo do qual ela só está saindo agora. E por causa da NBA! As vendas de ingressos aumentaram com o lockout, o interesse aumentou, mais emissores estão interessadas em colocar hockey nas transmissões porque elas sabem que os torcedores que ficaram sem NBA vão procurar outros entretenimentos, outros esportes. Sempre existe uma parcela hardcore que quer basquete e nada mais, mas muita gente que assiste e acompanha gosta de esportes vai procurar outra coisa pra fazer. Eu tentei comprar ingressos pra um jogo do Tampa Bay Lightning essa semana e quase não consegui! Essa foi a falha da NBA: A grande maioria dos fãs não vai voltar, esses fãs vão procurar novos esportes, novas diversões e  a NBA vai retroceder dez anos na sua existência. A queda no interesse vai ser tão grande que muito me surpreenderia se os donos não teriam ganho mais com 47% do BRI sem o cancelamento do que com 50% após o cancelamento da temporada (Ainda não aconteceu, mas ta caminhando...).

E nessa situação, não tem quem tenha desculpa. Nenhum dos lados. Alguns donos estão SATISFEITOS perdendo essa temporada para forçar um acordo que lhes interesse mais (O Dan Gilbert provavelmente também quer tirar mais um ano do Lebron James em Miami). E mesmo com vários jogadores dispostos a aceitar uma proposta mais desfavorável só pra acabar com o lockout e jogar (e jogadores importantes), isso não foi levado em pauta porque a NBAPA só ficou "negociando" e votando com os 30 representantes de cada time, que não são jogadores importantes ou com voz ativa. Alguns dizem que foi pro Billy Hunter manter seu salário que ele preferiu não abrir as votações a todos os jogadores e só votaram os representantes. E aí faltou a alguns jogadores que buscassem fazer valer seus interesses, o excesso de apatia dos jogadores foi tão letal como a ganância e teimosia dos donos. Uma das melhores frases que eu li disse que alguns jogadores que dependem muito dessa temporada deveriam ter sido mais egoístas. Ou seja, ninguém se salva e todos perdem. Inclusive nós, fãs, e a própria Liga.

Ainda da tempo de salvar a temporada? Sim, a alternativa dos jogadores à decertificação é fácil de ser revertida. Mas pra isso as negociações precisam retomar e, como eu disse, temos donos SATISFEITOS com essa situação. Precisamos de gente ativa e com jogo de cintura pra conseguir negociar com os dois lados, e isso não vai partir dos líderes de ambas as partes. A temporada já foi cancelada até o meio de Dezembro e os prognósticos são os piores possíveis.

Mas eu estou puto da vida com essa situação e com esses caras. Eles se merecem, mas nós não merecemos eles. Não estou aqui pra continuar falando do que eu acho do lockout (Já falei tudo que tinha pra falar), e para quem quiser uma visão mais detalhada dos processos recomendo muito esse ótimo post do Bola Presa. Mas vocês já pararam pra pensar o que significa perder essa temporada? Contem comigo algumas.

1. O segundo ano do Miami Heat com sua geração de superestrelas. O primeiro ano começou mal, melhorou, teve altos e baixos, atingiu seu pico nos playoffs e terminou com uma amarga derrota pro Mavericks nas Finais. O time mostrou que ainda não tinha achado seu equilibrio com Dwyane Wade/Lebron e o Chris Bosh não está sendo um jogador dos mais úteis pra equipe. Ou seja, gente batendo a cabeça, elenco de apoio fraco, falta de garrafão e talento saindo pela tampa. Tudo que a gente esperava. Você não queria ver como esse time ia voltar pra nova temporada? Eu com certeza queria!

2. Uma temporada inteira de enterradas alucinantes do Blake Griffin. Só por isso já valeria uma temporada. Pensem bem, seria o terceiro ano do Griffin na NBA: O primeiro perdemos por lesão, o segundo foi lendário e o terceiro não vai existir. Um ano de enterradas mágicas quando poderiamos estar tendo três?? Eu odeio todo o mundo!!

3. Um ano de piadas com o David Kahn, que gosta de colecionar jogadores da mesma posição. Antes eram os armadores com Luke Ridnour, Jonny Flynn, Ricky Rubio e Ty Lawson, agora os alas com Michael Beasley, Kevin Love, Derrick Williams e Anthony Randolph. Meu dia a dia não será o mesmo sem ouvir pelo menos um grito de KAAAAAAHN! E pior, era a temporada onde ele podia finalmente acompanhar o Chris Wallace e sair do patamar de piores GMs do universo: Rubio, Wes Johnson, Williams, Love e um C que chegue numa troca pelo Beasley é um time capaz de nos divertir por noites a fio!

4. Jimmer Fredette!!

5. Não, sério!! Jimmer Fredette!!

6. Todos os calouros de um Draft que foi considerado um dos piores da história. Eu confesso que não estou interessado no Kyrie Irving, mas... Fredette, Kemba Walker, Rubio (Não é desse Draft mas é calouro), Bismack Biyombo, Enes Kanter, Jan Vesely, Williams e  Kenneth Faried? Tem UM jogador aí que não seria extremamente divertido de acompanhar nessa temporada pra ver como a gente fica? Acompanhar calouros é uma das coisas mais divertidas do dia a dia na NBA, eu estava LOUCO pra ver como essa molecada ia chegar na NBA.

7. O Cleveland Cavaliers indo jogar em Los Angeles contra o Clippers, quando a torcida do time de LA vai olhar pro Kyrie Irving e pensar "Nós perdemos esse cara pra nos livrarmos do Baron Davis??" antes que o Blake Griffin derrubasse todo o garrafão do Cavs com uma enterrada. Droga...

8. As inevitáveis comparações entre o Miami Heat e o Philadelphia Eagles, autoproclamados Dream Teams que não sabem jogar quartos períodos. Ah, espera, elas já estão acontecendo. Falha minha.

9. Hasheem Thabeet e seu enorme potencial.

9. Brincadeira de mau gosto acima.

10. A continuação da minha história paralela preferida, a questão Frank Wells/Michael Eisner (Méritos ao Bill Simmons pela brilhante comparação) de não um, mas dois times da Liga, Heat e Thunder. No Thunder a questão é simples, Kevin Durant tem que ser o alpha dog e o Russell Westbrook seu parceiro, mas o Russell ainda tem que aprender a jogar assim. Já no Heat a questão é muito mais difícil. Eu tenho mil vezes mais medo do Heat quando Wade é o líder do time, mas ele e Lebron tem estilos muito semelhantes e é difícil determinar quem deveria ficar com a bola. Os dois times se atrapalharam ano passado porque não conseguiram resolver essa questão a tempo. Seria divertidíssimo ver como eles resolveriam isso pra nova temporada.

11. A última temporada do Chris Paul em New Orleans, com o time desesperado pra tentar convencer sua superestrela que ele tem condições de ser campeão lá quando na verdade o time não tem nem mesmo um dono, e a inevítável dúvida: Tentar a sorte quando acabar seu contrato ou trocá-lo antes que percam o Paul por nada?

12. A inevitável revanche entre Bulls e Heat que aconteceria nos playoffs. Derrick Rose foi destruído por Lebron da última vez. Ele não vai aceitar isso em silêncio. Se ele melhorar seu jogo 10% do que melhorou da temporada 2010 pra 2011, nenhum time na NBA vai conseguir parar o Bulls.

13. A possível última chance de times como Celtics e Spurs de ganharem um título com sua geração atual de Tim Duncan, Manu Ginobili, Paul Pierce e Kevin Garnett. Não sabemos se será mesmo a última, mas esses jogadores perdem um pouco do seu jogo a cada ano. As chances vão minguando. Um ano inteiro parado pode fazer bem pela saúde deles, mas e pelo resto?

14. A troca envolvendo Dwight Howard por Lebron James que tem 1% de chance de acontecer mas que seria a troca mais genial da história da humanidade. Todos ganham, ninguém perde. Ela sozinha traria três títulos para Miami, daria ao Magic um Franchise Player com um contrato longo e o Lebron provavelmente não receberia mais tanto ódio. Perfeito. Porque diabos o Otis Smith (O cara que está com os contratos de Gilbert Arenas e Hedo Turkoglu empacando seu time e prestes a perder seu melhor jogador) tem contrato de GM nessa Liga e eu não?

15. Um ano remoendo a infeliz troca do Kendrick Perkins pelo Jeff Green. Ah, espera, essa tudo bem.

16. A evolução de Griffin, Westbrook, John Wall, Al Horford, Durant, Rose, Steph Curry, Demarcus Cousins, Eric Gordon, LaMarcus Aldridge e todas as estrelas jovens dessa Liga que ainda tem muito a oferecer e vão ter um ano tirado das suas carreiras.

17. A manutenção do auge de estrelas como Dirk Nowitzki (Sim, eu sei que ele tem idade para ser meu pai. Ou quase), Lebron, Wade, Carmelo Anthony, Zach Randolph (!!), Deron Williams, Chris Paul, Amare Stoudamire e Monta Ellis. Um ano fora no auge é uma coisa extremamente chata. Pergunte ao Michael Jordan, que provavelmente teria terminado sua carreira com oito títulos seguidos não fosse sua primeira aposentadoria.

18. Jogadores em fim de carreira que continuam chutando a bunda de todo mundo que encontram pela frente como Ray Allen e Steve Nash. Aliás, só pelo Steve Nash eu já fico extremamente triste, porque pelo menos o Allen já tem um título. Mas o Nash, meu jogador favorito de todos os tempos e que merece mais do que nenhum outro jogador ativo um título? Podemos estar perdendo a sua última temporada.

19. A possível última temporada do Sacramento Kings em Sacramento precisando de três bolas pra JJ Hickson, Jimmer, Tyreke Evans e Cousins jogarem juntos e arremessarem todas as bolas que quiserem.

20. A evolução de times jovens como Thunder, Wizards, Bulls e Wolves.

21. As inevitáveis performances épicas que teríamos nos playoffs. Elas são de lei, sempre temos algumas. Ano passado tivemos Dirk Nowitzki com umas três diferentes, Chris Paul comendo o Lakers com farinha, Lebron massacrando o MVP da Liga e o Brandon Roy jogando um dos jogos mais espetaculares de todos os tempos. Mal podia esperar pelos desse ano.

22. A existência de uma cláusula no novo CBA que permitisse aos times dispensar um jogador desde que pagando seu salário (sem contar no Salary Cap), algo bem provável, e a subsequente dispensa do Brandon Roy pelo Blazers e sua inevitável ida para o Suns, onde a mágica equipe de médicos do time iria revitalizar sua carreira (Deu certo com o Grant Hill!) e montariam um time de Steve Nash, Roy, Hill, Markieff Morris e Marcin Gortat! Você apostaria contra esse time?? Nunca!

23. Colunas épicas do Bill Simmons, do Bola Presa, do Basketbawful, do NBA Playbook e dos trocentos outros sites, blogs e afins que tornam acompanhar a NBA tão mais divertido. Ah sim, o TM Warning também!

24. Uma fucking temporada inteira de NBA! São sete meses de jogos absurdos (Clippers e Wolves? Em qualquer dia da semana!) que nos fazem ficar acordados, alguns clássicos, jogos e atuações épicas, zilhões de subplots, protagonistas e antagonistas. A NBA trouxe isso em altíssimo nível em 2011, atraiu interesse do planeta inteiro... E agora estamos jogando tudo isso pela janela. Ninguém se salva e todos sabem da sua culpa. Os que conduziram essa negociação - de ambos os lados - se merecem. Não se preocuparam em um momento com os fãs, com os milhares de trabalhadores desempregados e as inúmeras pessoas cuja vida depende indiretamente desse marcado nem com nada. Os donos queriam ganhar mais e mais pra se protegerem deles mesmos e suas decisões estúpidas, e os jogadores só souberam esperar cair do céu uma proposta favorável sem UMA rodada de verdade de negociações ou uma contraproposta. Isso não vale para todos, claro, mas vale para os líderes, e no final a apatia dos que pensavam diferente foi tão nociva quanto isso tudo. Essa temporada não vai voltar. O momento que a NBA tinha não vai voltar. A Liga vai esfriar, vai perder contratos e valor, vai ver a NHL roubar parte do seu espaço... E vai demorar anos pra se recuperar e retornar ao patamar onde estava. E as pessoas que podiam evitar isso viram tudo de camarote e deixaram acontecer. Algumas até queriam que acontecesse! Isso é imperdoável, mas esse não é a questão. Releiam os 24 pontos. Esses são só ALGUNS dos milhares de pequenas histórias interessantes que acontecem no meio de uma temporada tão agitada e movimentada como a que tivemos em 2011. Vamos perder isso tudo. Vamos perder todas as outras. Vamos perder um esporte extremamente divertido e sua cacetada de estrelas. A gente não sabe quando vai voltar. A gente não sabe se vai voltar. Só podemos torcer.

Muito obrigado por nada, David Stern, Billy Hunter e companhia.

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