Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Tenha medo dos velhinhos...

"Pedala, Robinho!"


Em uma das minhas passagens favoritas do excelente livro The Book of Basketball, o autor Bill Simmons usa uma conversa com o Hall of Famer Isiah Thomas pra dissertar sobre como o jogo é profundamente afetado por coisas que NÃO tem a ver com o jogo. Como o segredo do esporte é entender o que afeta o jogo por fora, aquelas coisas que naão tem a ver com basquete mas que um time precisa compreender pra ter sucesso. No caso de Isiah, ele usa como referência seu Pistons campeão de 1989, um time que sempre deixou o ego e o individualismo em segundo plano, jogava um jogo bastante coletivo e cujos jogadores só se preocupavam com a vitória e nada mais - e sobre como isso foi profundamente afetado por uma troca feita logo antes da temporada, trocando o SF/PF titular da equipe (Adrian Dantley) por Mark Aguirre. Dantley era o melhor jogador, mas durante os playoffs de 1988 ele reclamou - continuamente - de ficar no banco nos minutos cruciais das partidas com o segundo-anista Dennis Rodman ganhando seus minutos. Foi trocado assim que a offseason permitiu por Aguirre - um jogador não tão bom mas que não ligava de ficar no banco, não ligava pros seus números e tinha a mentalidade "o time em primeiro lugar" que o seu time e o seu líder - Isiah - sempre pregaram. O resultado? O Pistons de 1989 era muito melhor que o de 1988 e foi campeão com folgas... Sendo que a única mudança foi que o time trocou seu SF titular por um jogador pior (E que o Isiah ficou saudável nos playoffs). Porque? Porque essa troca nunca foi voltada pro lado do basquete - Dantley era melhor, ponto - e sim pro lado que naão tinha a ver com basquete, ou seja, a mentalidade que o time compartilhava e colocava em primeiro lugar encontrava uma peça muito mais disposta a abraça-la em Aguirre que Dantley. Embora muitas vezes negligênciado, esse lado do basquete que não tem a ver com basquete eé o fundamental para os grandes times. 

Um outro exemplo em outro esporte, mas seguindo a mesma abordagem? Quando o Red Sox de 2004 trocou seu Shortstop, o All-Star Nomar Garciaparra, por Orlando Cabrera. Cabrera era um bom SS e foi fundamental nos playoffs, mas Nomar era um jogador muito superior... Só que a presença de Nomar na equipe causava distúrbios por causa do seu enorme ego que não aceitava colocar o time em primeiro lugar e parecia se importar mais com os seus números e nunca aceitou que jogadores como David Ortiz e Kevin Millar eram os novos astros da equipe. Nomar não aceitou o segundo plano, quis um contrato grande demais, e foi trocado por um jogador inferior... Que imediatamente melhorou o ambiente do elenco, fez todo mundo se comprometer ainda mais com o grupo e levou o time a ganhar do Yankees na maior série de playoffs de todos os tempos e conquistar o primeiro título da Franquia em 86 anos. E tudo isso começou quando o Sox trocou seu Shortstop All-Star por razōes que nada tinham a ver com baseball.

Em outras palavras, não é só o talento e a habilidade do time que importa. Importa muito também a mentalidade da equipe em quadra, cada jogador entender seu papel e colocar o time em primeiro lugar, desenvolver uma confiança e um entrosamento... Ou seja, times dependem tanto do que tem a ver com o esporte em si como do que não tem a ver com o que vemos dentro de quadra. Não acabamos todos de ver um time com um All-Star e um bando de role players vencer numa Final de NBA o time com dois dos cinco melhores jogadores da NBA com base no jogo coletivo e na força de vontade?

Quem sabe que eu sou um torcedor do Celtics possivelmente já percebeu aonde essa conversa vai chegar: Na trade deadline de 2011, quando Danny Ainge trocou Kendrick Perkins por Jeff Green. Essa troca era defensável dentro de quadra: O único ala no elenco pra defender Carmelo, Lebron, Deng e possivelmente Durant nos playoffs era Paul Pierce. Com a lesão do Marquis Daniels, o time perdeu depth, defesa e flexibilidade no perímetro, e com tantos SFs de alto nivel ameaçando nos playoffs, o time decidiu que podia trocar seu pivô (um jogador mediano e unidimensional) titular, sendo que tinha dois pivôs veteranos reservas em Shaq e Jermaine O`Neal (o problema desse plano: Contar com a saúde do Shaq aos 38 anos) por um bom ala que podia dar a proteção necessária a Paul Pierce e Kevin Garnett vindo do banco. (Parenteses rápido: Faltava defesa, flexibilidade e intensidade no perimetro do Celtics, e isso motivou essa troca absurda. Ou seja, o pequeno segredo da temporada 2011 do Celtics: Eles sentiram falta DEMAIS do Tony Allen!). Dentro de quadra, a troca fazia sentido.

Fora de campo? Não fazia nenhum. Estritamente sobre basquete, Perkins era apenas um pivô defensivo que era o quinto melhor jogador do time (se tanto). Mas existem coisas que não aparecem em estatísticas, como o fato de Perkins ser a âncora emocional da equipe dentro e fora de quadra e o Celtics ter construído sua identidade com base na palavra Ubuntu, que significa algo como "União" (em inglês a tradução é mais expressiva: Togetherness). O Celtics acreditava de fato que era como uma familia, todos eram amigos, saiam juntos nas ferias, estavam sempre apoiando uns aos outros. Eles não eram colegas, eles realmente eram amigos, e acreditavam - como o técnico Doc Rivers pregava - que sua força em quadra se dava pelo seu coletivo, sua união (ubuntu). E ai o Ainge pega o Perkins - o melhor amigo do Rajon Rondo, o jogador que todos sabiam que estariam la com eles caso de problema, o jogador que tinha "as costas" de todo mundo, e que valorizava o orgulho de ser um Celtic mais do que ninguém - e trocou sem mais nem menos por que fazia sentido no papel! Como o Doc Rivers podia pregar Ubuntu depois do Ainge pegar uma peça essencial da chemestry do time e mandar embora sem cerimonia, provando definitivamente que Ubuntu eé apenas uma palavra e que no esporte a racionalidade eé mais importante que o que os jogadores e o grupo significam uns com os outros? Ele basicamente pegou o "Segredo" do Isiah - e o Celtics se apoiava nisso mais do que qualquer outro time - e jogou pela janela... E isso destruiu completamente o espirito da equipe! (A troca também quebrou o Cs dentro de campo, por causa da incapacidade de deixar o Shaq saudável, e o Celtics acabou perdendo sua principal arma contra o Heat - seu garrafão forte e extremamente defensivo. Sem tamanho, o Celtics não tinha como bater de frente com Heat ou Bulls. Sem a intensidade e a confiança que o Perks trazia... Pior ainda).

O Celtics terminou a temporada um horror e essa temporada começou de onde parou ano passado. Os jogadores pareciam ter perdido seu espiírito com a troca do Perkins. Os jogadores não eram mais os marrentos, ultra-intensos, competitivos e confiantes uns nos outros de antes da troca fatidica, o time parecia assustado, sem confiança, como quem sabe que não tem mais seu irmão mais velho pra cuidar das suas costas. O time perdeu seu pilar de sustentação emocional quando perdeu Perkins e depois viu o seu Ubuntu ser jogado pela janela. Os boatos de troca envolvendo Rondo e o Big Three começaram a explodir, e o começo de temporada de 15-17 mostrava bem o que era esse time: Velho, sem energia, cansado, e sem ninguém pra levantar emocionalmente o grupo. Mesmo o sempre intenso KG, o coração do Celtics, parecia abatido sem Perkins do lado. O Celtics era um grupo destruído - o quinto ano de um projeto de três anos, como disse o Bob Ryan - que parecia só esperar o golpe de misericordia (O fim dos contrados do Ray Allen e do KG no fim da temporada ou alguma troca). A imprensa fez parecer que o time estava desesperadamente querendo trocar o Rondo (O Rondo só foi colocado em negociaçōes UMA vez: Por Chris Paul. E só. O resto foi tudo especulação e boatos da mídia) ou alguém do Big Three, o que não era verdade. Trocas foram discutidas pelo Big Three (Não por Rondo), mas nenhuma foi realmente avançada. Ainge sabia que sua melhor chance era manter o time unido.

Ai de repente, as coisas pareceram que começaram a mudar pro Celtics. Uma sequencia de quatro vitórias antes da Trade Deadline, coroada com a histórica performance de 18-20-17 do Rondo contra o Knicks, pareceu dar vida nova ao time, mas que voltou a sofrer com inconsistência de seus dois principais veteranos (Pierce e Garnett) e lesōes do terceiro (Allen). A falta de pivôs após a lesão do Jermaine obrigou o KG a jogar de pivô, onde ele não parecia render tão bem, e saindo do garrafão pra evitar o contato e as lesōes o Celtics não tinha nenhum jogador que começasse a pontuar dentro do garrafão e atacasse a cesta com intensidade.

Ai de repente passou o All-Star Game... Passou a trade deadline... E o Celtics agora tem um record de 18-7 após o ASG, esta jogando defesa num nível histórico, recobrou a sua intensidade e confiança e, como eu disse no nosso twitter, embora eu não aposte no Celtics pra ser campeão da NBA ainda, ningueém em sã consciência quer cruzar com eles numa série de playoffs! E isso aconteceu... como??

Pra responder essa pergunta, temos que analisar os dois lados da história. A parte que é sobre basquete... E a parte que não é sobre basquete.

A parte que é sobre basquete tem nome e sobrenome. Ainda que ele seja apenas a ponta do iceberg, foi ele quem permitiu que o resto todo aparecesse: Avery Bradley. Bradley foi draftado ano passado como um armador defensivo, mas ganhou poucas chances. Quando ganhou, foi como reserva do Rondo, e sua dificuldade pra controlar a bola e fazer passes acabou fazendo com que ele fosse pouco aproveitado apesar de ser excelente defensor. Mas com a lesão de Ray Allen, Bradley acabou entrando numa posição que eu já tinha cantado para meu amigo Zeca que era a melhor pra ele: Shooting Guard. Apesar da dificuldade nos arremessos - o que nos daria um backcourt que naão arremessa - Bradley se livraria da responsabilidade de armar o jogo e poderia se concentrar na sua defesa, que era excepcional. Ainda que ele não tenha tido muitas chances como SG antes, com a lesão do Allen e o Sasha Pavlovic como alternativa, o Bradley acabou entrando de titular na posição 2, enquanto Garnett continuava jogando de pivô com o Brandon Bass do seu lado. 

O resultado foi que o Avery Bradley trouxe TUDO que o Celtics precisava. Primeiro, o Bradley é um dos melhores defensores de perimetro em TODA a NBA. Ele não só sabe marcar no mano a mano como sabe marcar na cobertura, protege o garrafão com sua habilidade atleética (Como o Wade aprendeu a duras penas) e é muito agressivo nas linhas de passe, forçando uma cacetada de turnovers, que geram contra ataques para o Rondo. Alias, lembra como o Rondo costumava puxar excelentes contra ataques... se não fosse pelo fato de que ninguém no time tinha o fôlego e o atleticismo mais (bando de velhotes) para acompanhá-lo, o que forçava o Rondo a puxar todos os contra ataques praticamente sozinho? Agora ele ganhou um jogador jovem, atlético e que finaliza muito bem perto do aro pra puxar contra ataques com ele. Isso melhorou em muito a eficiencia ofensiva do Celtics: Nao so o time força mais turnovers como esses turnovers são melhores aproveitados agora que o Rondo tem companhia. 

A defesa do Bradley, portanto, era esperada. O que ninguém esperava era o impacto que ele teria no lado ofensivo. O Bradley não é um grande driblador ou passador - um dos motivos pelos quais ele não rendia de PG - então ele não fica com a bola na mão tanto quanto o Rondo. No entanto, o Bradley é um jogador extremamente agressivo cortando em direção à cesta e que finaliza muito bem perto dela. Como o KG, mesmo de pivô, prefere jogar mais longe da cesta pra poupar seu físico, o Celtics não tinha jogadores que criassem pressão perto da cesta (Bass também prefere receber a bola mais longe ou em velocidade), o que forçava o Pierce a jogar lá perto. Com o Bradley jogando o tempo todo perto da cesta, o Celtics começou a criar essa pressão la perto, e permitiu que Garnett voltasse a ser um monstro do pick and pop e que o Pierce jogasse mais no perímetro e se movimentasse mais sem a bola. O Bradley não é um monstro ofensivo como o Wade, por exemplo, mas sua presença trouxe uma dimensão nova ao ataque do Celtics, e ajudado pela espetacular fase do Rondo todo o time se encaixou em torno disso. Pierce voltou a se movimentar com liberdade, Garnett ta tendo uma fase espetacular mais longe da cesta, e até o Ray Allen disse que jogaria vindo do banco para não desmontar o funcionamento do time (lembra aquela parte de deixar de lado a individualidade em nome do time?). Se você não acha que o Bradley - o principal responsável por essa mudança no Celtics - é um bom jogador de basquete, você não assiste NBA.

Claro que o Bradley teve uma grande influência por causa da forma como seu estilo de jogo casou perfeitamente com o grupo do Celtics, mas ele foi apenas o catalizador. Nada adiantaria isso se o resto do time não se adaptasse ao redor dele, no que tem uma grande mão do Doc Rivers. Eu nunca achei o Rivers um grande técnico, em 2008 ele era um cara extremamente medíocre, mas ele tem melhorado de ano pra ano, e agora pra mim ele disputa o  Coach of the Year com o Gregg Popovich, ele tem trabalhado absurdamente bem com esse elenco, soube remontar o time a cada problema e percebeu a importância do Bradley pra esse elenco. Confiou no Rondo (como o Bradley não é um bom criador, esse novo estilo de jogo coloca ainda mais pressão no Rondo pra controlar cada movimento do ataque do Celtics. Eu diria que, depois de 18 jogos seguidos com pelo menos 10 assistências, a sua boa fase é um fator importantíssimo para o sucesso dessa equipe), tornou a unir o time, definiu uma rotação (colocar Allen vindo do banco foi uma excelente leitura da situação, e não seria qualquer tecnico que o faria) e confiou nos seus jogadores para desenvolver novamente sua identidade. E ela esta lá. A grande fase de Pierce e Garnett tem a ver com as mudanças no estilo de ataque do Celtics, mas de nada adiantaria se eles não estivessem calibrados e jogando com intensidade - e eles estão. 

Essas foram as principais mudanças dentro de quadra que o Celtics sofreu, especialmente desde a inclusão do Bradley: Defesa mais forte no perímetro (Rondo e Bradley sao provavelmente a melhor dupla defensiva de perimetro da Liga), mais roubos de bola e contra ataques, um ataque que ocupa melhor os espaços na quadra (especialmente porque recentemente o Bradley deu pra acertar arremessos também!) e a boa fase de seus jogadores. Mas uma grande parte do sucesso da equipe vem da parte fora de quadra. A energia, defesa e intensidade do Bradley, tudo isso trouxe ao Celtics o espírito guerreiro que a equipe perdeu com a saída do Perkins.

O Bradley nunca sera o teammate que o Perkins era, mas ele trouxe de volta alguns elementos que o Perkins trazia e que o time murchou quando pararam de aparecer toda a noite. Por mais importante que fosse o Perkins pra chemestry do time, ele era apenas um jogador no meio de um time. O que o Bradley trouxe fez com que os jogadores recuperassem a sua parte dessa intensidade e energia. Ela contagiou o time, e cada jogador começou a jogar com a mesma intensidade e energia que pareciam ter perdido em algum lugar do ano passado - na trade deadline. O Celtics recuperou sua identidade, o time se uniu novamente (os titulares do time comemoram do banco como se fossem cestas da vitória qualquer boa jogada que os reservas fazem num jogo ganho por 30), começou a jogar com energia e intensidade... E basicamente foi isso que ressuscitou o Garnett. O Garnett sempre foi um cara de grande intensidade e vontade quando jogava no Wolves (e mesmo no Celtics), ele jogava como se sua vida dependesse disso, e isso sempre foi uma fonte de energia e vontade pros seus companheiros. Quando ele perdeu seu parceiro no Perkins, ele pareceu pela primeira vez sem essa energia. A energia que o Bradley trouxe pro time reacendeu a energia do Garnett, e quando o Garnett começa a jogar com sangue nos olhos o Celtics é um time totalmente diferente, muito mais agressivo. A defesa do Celtics, que está em niveis estatisticamente historicos desde o All Star Break, se torna uma força da natureza capaz de engolir qualquer time com farinha, e quando Pierce e Garnett estão calibrados (sabe, como tem estado faz uns 20 dias) o ataque do Celtics funciona como uma máquina em torno do Rondo. Eles ressuscitaram o cara mais problemático (no bom sentido) e essencial na equipe, e a intensidade de Bradley e Garnett, juntos, é o que manteve esse time com sangue nos olhos até o final e causou boa parte dessa mudança de postura. Que levou à reviravolta na temporada dos verdinhos.

Mas também teve um outro fator externo que contribuiu pro time ficar mais focado do que nunca. O fato que me chama a atenção não foi de que o Celtics começou a jogar de forma alucinada depois do All Star Game... E sim depois da Trade Deadline. Com tantos boatos de troca rondando o time do Celtics, tanto Rondo como o Big Three, não era de se espantar que eles estivessem desconcentrados com o rumo das coisas. Lembram de como o Russell Westbrook estava jogando mal, nervoso, e de repente ganhou uma extensão de 80 milhōes, relaxou e começou a jogar que nem um retardado mental metendo 30 pontos todo jogo na cara das pessoas? A extensão deu ao Westbrook a confiança e a segurança que lhe faltavam em meio a tantas criticas, e ai seu jogo apareceu. O mesmo aconteceu com o Celtics. Quando ficou oficial que o Big Three nao iria a lugar nenhum, os jogadores pareceram jogar com um foco muito maior, com mais vontade, como se tivessem entendido qual sua função na temporada. Isso pareceu tirar um peso dos jogadores, que conseguiram jogar com mais confiança e liberdade.

Então temos dois tipos de impactos que se mostraram nessa incrível recuperação do Celtics, um impacto objetivo e um subjetivo. Essa recuperação do Celtics pode se dar por um deles, provavelmente pelos dois, ou até por nenhum. Mas o fato é que o Celtics finalmente se achou na temporada. Taticamente o time esta mais organizado, com um estilo que se adaptou muito bem às caracteristicas do time, e voltou a jogar com aquela intensidade contagiante. As vezes, o que importa não é como um jogador (ou qualquer fator num jogo) afeta o jogo em si, e sim como ele afeta seus companheiros. Jogadores como Bill Russell e Larry Bird eram tão bons porque faziam os companheiros ao seu redor chegarem a niveis mais altos. Times como o Celtics de 86, o Bulls de 96 ou o Lakers de 87 faziam isso coletivamente. O time todo do Celtics de 2012 está fazendo isso, cada jogador se alimentando da energia e da vontade do outro, cada jogador apoiando os companheiros. O time todo está jogando com vontade e com confiança, jogadores como Greg Stiemsma estão sendo muito valiosos (19 mpg, 2 bpg, acertando arremessos de meia distancia (!!), bom defensor, briga dentro do garrafão, joga com intensidade, tudo que um pivô reserva deve fazer), e todos os jogadores sabem seu papel no time. O time titular esta definido (Rondo, Bradley, Pierce, Bass, KG) e os reservas (Stiemsma, Michael Pietrus assim que voltar de lesão, Sasha Pavlovic e, claro, Ray Allen) sabem quais são seus minutos e suas responsabilidades... Ou seja, é um time que se encaixou, arrumou uma identidade e está executando seu plano de jogo com perfeição. Demorou um ano pro Celtics recuperar sua identidade perdida com o Perkins, sua intensidade e confiança, mas isso está acontecendo agora, e no melhor momento possível na temporada. Isso significa que o Celtics será campeão? Não. Isso torna o Celtics um candidato ao título com Derrick Rose batalhando lesōes e um Heat que as vezes parece perdido em quadra? Sem dúvida. Não há certezas nos playoffs, especialmente nessa temporada. Só garantoo seguinte: nenhum time com juizo perfeito quer enfrentar esse time do Celtics nos playoffs.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Dança dos Quarterbacks

Quarterback por profissão, maestro nas horas vagas


Devido a dois problemas (falta de tempo, e falta de um computador, que finalmente foi resolvida!), não deu pra esperar mais pra falar do período doido de Free Agency que tivemos recentemente. E embora algumas contratações mereçam algum destaque, de longe o que mais chamou a atenção foi a grande movimentação envolvendo Quarterbacks... Que, sabe, são os jogadores mais importantes de um time. Quem liderou a bagunça, é claro, foi o Peyton Manning decidindo por Denver, e dai pra frente foi um efeito dominó no mercado.


Num dos nossos últimos posts, comentamos sobre o adeus do Manning ao Colts e como ele e a escolha de Draft do Rams (2ª geral) estavam sendo os principais pontos de uma mudança de cenário na Liga. E de certa forma, o Manning na Free Agency dava uma opção a mais para os times que estavam atrás do QB Robert Griffin Jr através da escolha de Draft do Rams, o que tirava do time de Saint Louis um certo poder de barganha (Além do Free Agent Matt Flynn).  A questão era quem escolheria seu destino primeiro, Manning ou o Rams. E quem deu o primeiro passo desesperado foi o Redskins, trocando sua escolha de Draft desse ano (6th overall), as primeiras escolhas de 2013 e 2014 e mais uma escolha de segunda rodada pela escolha do Rams e ou Robert Griffin (que teve um Pro Day espetacular e mostrou que tem talento pra ser um monstro) ou então até mesmo Andrew Luck (Que teve um Pro Day pra colocar Griffin definitivamente na segunda escolha, sem discussão).

Pro Redskins, a questão era simples. Matt Flynn não queria ir pra lá, e Washington tinha sido descartada pelo Manning como um destino. O Redskins tinha duas opções: Ou fazer uma oferta Godfather pela escolha do Rams antes que os demais candidatos à escolha (Dolphins, Seahawks) fossem descartados pelo Manning e a disputa pela escolha ficasse mais acirrada e arriscada, ou se contentar com mais um ano de Rex Grossman. Decisão difícil (ta, nem tanto), mas o Redskins preferiu oferecer a casa pelo Griffin do que aguentar mais Sexy Rexy. De certa forma, a decisão faz sentido, o Griffin é muito atlético e tem um braço muito forte, é bem maduro e treina feito desgraçado (e tem péssimo gosto pra meias). Tipo de jogador que tem tudo pra dar certo, e talento ele tem de sobra. Ainda tem alguns vícios e falhas no seu jogo (Falta precisão em lançamentos curtos e médios, ainda tem alguns problemas lendo defesas e toma algumas decisões apressadas) mas são coisas que ele deve evoluir com o tempo. O Redskins preferiu pagar muito alto do que arriscar ficar sem, o Rams agradeceu, e agora temos um time a mais com um bom QB.

O problema do Redskins era que o resto do ataque era uma piada. A linha ofensiva era boa, mas não conseguia ficar saudável de jeito nenhum. O corpo de recebedores era de chorar e ninguém sabe o que esperar dos RBs porque o Mike Shanahan parece ter um prazer mórbido e destruir todo o valor dos seus corredores. Tocando quatro escolhas de Draft, você vai melhorar o seu QB - e bastante - mas tem um outro lado, que é perder a chance de conseguir bons jogadores para as áreas carentes da equipe. A defesa do time é muito boa (Ainda que tenha perdido um jogador muito importante no Laron Landry), mas poderia usar algumas peças a mais, e o ataque precisava urgente de jogadores. O que o Redskins fez então foi sair caçando Wide Receivers no mercado. Ao invés de ir em WRs nº1 provados como Reggie Wayne ou Vincent Jackson, o time pagou uma fortuna pro Pierre Garçon - um jogador mediano que teve seu valor absurdamente inflado pelo Manning e que tem um dos piores índices de recepções da Liga - ser um jogador que ele não é, e uma grana moderada pro Eddie Royal e pro Josh Morgan... Sabe, dois slot receivers com características parecidas. Ou seja, torraram o Salary Cap (Que já vai ser muito reduzido por causa de uma punição por parte da Liga por causa de gastos excessivos nas temporadas recentes) em recebedores jovens pra compensar o fato de que o time não vai ter boas escolhas de Draft nos próximos anos e mesmo assim dar alguns alvos pro seu Quarterback. O resultado é que pegaram bons role players, mas nenhum alvo realmente confiável, e pagaram muito mais do que deviam no Garçon. O Redskins fez o que tinha que fazer, trocou pelo jogador que a franquia precisava pra se reerguer (e manter seu técnico no cargo), só que o resto do ataque foi montado muito às pressas e sem o tipo de jogador que mais vai ajudar seu QB. Quem saiu perdendo, na verdade, foi o próprio Griffin.

Com Redskins então fora da briga pelos Free Agents Flynn e Manning, o camisa 18 continuou seu tour pela América limitando suas opções. Com o tempo, ele discretamente descartou Seattle e Miami, que foram atrás de alternativas - leia-se Flynn. A briga por Manning então ficou restrita a Denver, Tennessee e o time que entrou de última hora: 49ers

Entrar na briga pelo Manning pode ter sido a pior decisão de um time que tem feito tudo certo nos últimos dois anos por um simples motivo: Alex Smith, o QB do time em 2011 e um Free Agent que não se preocupou em procurar um time porque tinha certeza que reassinaria, se sentiu traído quando o time buscou outro jogador para seu lugar, e colocou em risco a chance do QB voltar para o time (Em defesa do 49ers, o Smith teve um contrato de três anos na sua frente e não assinou, queria um maior, e aí quando Manning virou Free Agent o Niners foi atrás dele. Defensável) graças também a um espetáculo lamentável de mídia: Smith foi pra Miami visitar sua irmã, e lá o Dolphins foi atrás dele para uma entrevista. Um jornalista de Seattle imediatamente soltou na imprensa que a viagem de Smith pra lá tinha sido pra realizar um treino com o Dolphins e que em seguida ele iria pra Seattle (o Seahawks foi rejeitado por ele muito antes disso), e de repente toda a mídia esportiva tinha certeza que ele estava saindo do Niners.

Mas pra infelicidade do Dolphins, Flynn assinou com Seattle e o time de Miami - que tinha trocado seu melhor jogador ofensivo, Brandon Marshall, pro Bears em troca de um Trakinas velho - ficou chupando o dedo mais uma vez. O time sonhou com Flynn, Griffin ou Manning e saiu sem nenhum deles. Entre as possibilidades restaram Alex Smith (um bom QB mas que dificilmente repetiria seu 2011 fora de San Francisco, e muito pouco pra ser o centro de uma reconstrução), David Garrard (Quebra um galho, mas dificilmente vai levar um time longe sozinho) ou arriscar o Ryan Tanerhill no Draft (mais disso no nosso Mock Draft). Como disse - cruelmente, mas com muita razão - o Ryan Clark, do Steelers, ninguém quer jogar em Miami. Só o Lebron, mas depois a gente fala disso.

Pro Seattle, isso faz todo o sentido. O Seahawks não é uma potência defensiva, mas tem uma unidade sólida com bons jogadores, e o ataque conta com um bom RB (Marshawn Lynch, que dificilmente vai manter a produtividade) e vários bons alvos (Sidney Rice, Zach Miller, Golden Tate, Mike Williams, Doug Baldwin) pra um QB... Só que seu QB se chamava Tarvaris Jackson e ele é muito ruim. O Flynn se destacou como reserva do Aaron Rodgers em Green Bay (Os últimos dois reservas do Packers a virarem titulares? Matt Hasselback e Rodgers) contra o Patriots em 2010 quando o Rodgers machucou e ano passado contra o Lions. Ele jogou muito bem nos dois jogos (480 jardas e 6 TDs contra o bom time do Lions lhe garantiram um gordo contrato e foram recordes da Franquia, num jogo que nao valia quase nada e ninguem quis defender) e muita gente já projeta como ele vai render de QB.

Essa situação lembra muito a do Kevin Kolb ano passado. Kolb teve alguns poucos e bons jogos como titular do Eagles antes de se machucar e do Michael Vick despontar. Acabou sendo considerado um futuro Franchise QB e o Cardinals abriu até demais o cofre por ele, sem considerar que ele só tinha jogado seis jogos como titular! Acabou que o Kolb ficou no banco do John Skelton ano passado, e agora ninguém mas leva ele a sério. Nas poucas chances que teve, Flynn jogou muitíssimo bem, melhor do que Kolb, mas ainda vale lembrar que são só dois jogos e com um ataque fantástico que nem o do Packers, é uma amostra muito pequena em apenas uma situação. Não tem como garantir que ele vá render num esquema ofensivo novo, sem o espetacular corpo de recebedores do Packers, e a amostra é muito pequena pra avaliar totalmente o quanto ele é bom pra render no outro esquema tático. Ele mostrou várias habilidades e algumas limitações - mais ou menos como Kolb - mas ninguém pode garantir quais dessas vão ser as determinantes daqui pra frente. A diferença é que ao contrário do Cardinals, o Seahawks não teve que trocar nada pelo seu QB (O Cardinals trocou um CB Pro-Bowler e uma escolha de segunda rodada) e deu um contrato de apenas 30 milhões, e não 60. Ou seja, o custo foi baixo e o risco não é muito grande, o Flynn já mostrou mais futebol do que o Kolb e por isso da pra entender que o Seahawks fez a coisa certa. O Flynn surpreendeu recusando o mercado maior, um pouco mais de dinheiro, a chance de voltar a trabalhar com o Joe Phibin e o bom clima de Miami, mas a decisão na verdade faz todo o sentido pra ele: O Seahawks é um time melhor que o Dolphins e que com um bom QB pode brigar pelos playoffs - vocês lembram do que eles fizeram com o Saints quando tinham o Matt Hasselback em 2009. Ninguém sabe se ele É um bom QB, mas o Seahawks fez sua aposta. Dificilmente vai ser pior que o Tarvaris Jackson, e o risco não foi dos mais altos.


E foi ai que finalmente Peyton Manning anunciou sua decisão, e eu até agora estou triste que ele não soltou um "I'm taking my talents to the Rocky Mountains" quando disse que iria para o Broncos. Sendo que a decisão estava entre Broncos, 49ers e Titans, o que me chocou foi que ele escolheu o PIOR time pra ir. Pra um QB de 36 anos saído de quatro cirurgias no pescoço, que claramente não tem mais muito tempo pela frente, era de se esperar que o foco do Manning fosse ganhar títulos imediatamente, e portanto que ele escolhesse o melhor time disponível. Mas o Broncos é um time com uma defesa mediana (não se enganem, eles tem bons jogadores, mas como uma unidade - e sem o Brian Dawkins - eles são bem medianos), um ataque com uma linha ofensiva muito fraca protegendo o QB e razoável correndo com a bola (O ataque do Broncos ano passado só funcionou com Tim Tebow, e quando foi a última vez que um time do Manning correu com a bola? 2004?), e sem bons alvos no ataque (o melhor WR do time, Demaryus Thomas, é atlético, bom em disputas pelo ar e fraco correndo rotas precisas, exatamente o tipo de WR que funciona melhor com Tebow que com Manning). Claramente o Manning não procurou o melhor time pra ir jogar. Nesse caso, o que fez ele escolher Denver??

O Denver até faz sentido por alguns fatores menores, que com certeza pesaram na decisão: É um time da AFC (Onde o Manning pode realizar o sonho de enfrentar o irmão num Super Bowl), não enfrenta o Colts duas vezes por ano como o Titans, joga na altitude (onde a bola viaja mais no ar, facilitando suas bolas longas) e o GM do time é o grande John Elway, um dos maiores QBs de todos os tempos e que ganhou Super Bowls com 37 e 38 anos, quase o que Manning quer fazer (Vale lembrar que o Broncos daquela época, ao contrário da atual, tinha um grande time. E mesmo assim tomou de 55-10 no Super Bowl do Niners de Joe Montana e Jerry Rice. Só pra lembrar).

Mas o Broncos também tem alguns fatores que eram desestimulantes (clima muito frio, costa Oeste, ele fez faculdade no Tennessee) e, mais uma vez, era o pior time dos três!! Porque voce iria pra uma Franquia que está no meio, se tanto, de uma fase de reconstrução?? Essa é a pergunta que todo mundo estava se perguntando. Jogar para o Elway faz sentido? Faz. Jogar num time da AFC (e fora da divisão do Colts) faz sentido? Faz. Mas o que o Broncos realmente tinha pra oferecer pro Manning que Titans e Niners não tinham  eram duas, e que com certeza foram os fatores determinantes da sua decisão: Dinheiro, e poder. O Broncos era de longe o time que mais estava abaixo do Salary Cap (mais de 40 milhões de patacas) e pode oferecer imediatamente ao QB o contrato que ele tinha com o Colts (5 anos, 98 milhões) e ainda manter algum espaço pra contratar "ajuda" (Jacob Tamme e Andre Caldwell, uma tremenda ajuda, mas ainda assim...). O Broncos era basicamente quem mais podia pagar e quem mais estava disposto a pagar. Com certeza o 49ers - apesar de ter o cap pra isso - não iria pagar esse salário todo com tantos jogadores chave na equipe com salários de calouros, e o Titans - embora disposto a oferecer um salário quase igual - iria limitar totalmente seu cap e seria incapaz de manter a equipe junta num futuro próximo, então teria que oferecer um contrato menor. Manning optou pelo dinheiro do Broncos.

O segundo motivo foi provavelmente ainda mais importante: Poder. No 49ers ou o no Titans, Manning ia ser um jogador dentro de um grupo, um jogador extremamente importante, mas ainda assim mais um no grupo, no mesmo patamar de todos os outros, sem tratamento preferencial. O Niners e o Titans tem vários líderes no elenco e na comissão técnica, e embora Manning provavelmente se tornasse um deles, ele não seria superior a qualquer um deles. Manning estaria lá pelo time, pra entrar na equipe, melhorá-la e pronto. Ele iria ter um papel no grupo. Mas o que o Broncos ofereceu pra ele foi diferente: O time estaria lá pra ele, um time pra levá-lo longe. Ele teria poder total dentro do grupo pra reconstruir o ataque como ele bem entendesse, a ponto de ser praticamente o coordenador ofensivo do técnico. Ele tem um controle maior sobre o time em Denver do que ele teria em San Fran ou no Tennessee, e era isso que ele queria. Ele não queria ser apenas mais um num time cheio de líderes, ele queria ser o que era no Colts, o soberano da equipe, em torno da qual tudo gravita. E só Denver estava disposto a oferecer isso. Ele optou pelo seu ego, sua vontade de ser o centro de uma equipe, sobre sua vontade de ser campeão num time forte. Ou então seu ego está dizendo que ele sozinho é suficiente pra transformar a equipe do Denver em mediana num supertime.

Será que isso é verdade? Será que só um QB Hall of Famer, top 10, pode sozinho levar um time mediano ao Super Bowl? A resposta é que sim. Se Peyton Manning estiver a 100%, ele é capaz de pegar uma defesa mediana e um ataque fraco e transformar esse time num candidato ao título. A defesa do Colts de 2009, por exemplo, era um pouco pior que a do Broncos  e o ataque era significantemente melhor - ou seja, em geral um time melhor, mas não era um time de elite tirando o QB, muito inferior a times como Patriots, Steelers, Jets ou Chargers nesse quesito. E mesmo assim ganhou 14 jogos seguidos, só não foi 16-0 porque não quis, e chegou ao Super Bowl. Então sim, Manning a 100% é capaz de pegar esse time e pelo menos torná-lo um sério candidato (Afinal, Manning teve times fantásticos entre 2002 e 2007 e só chegou a um SB, nada é garantido).

Mas aqui está o grande segredo da Free Agency da temporada 2012 da NFL: Manning não vai voltar pra NFL a 100%. Ele já tem 36 anos e acabou de vir de quatro cirurgias muito sérias no pescoço, e mesmo nos últimos anos (alguns anos mais jovem e antes da lesão), apesar do altíssimo nível, ele já vinha apresentando uma certa decadência natural no seu jogo. Dois anos mais velho e vindo de QUATRO CIRURGIAS NO PESCOÇO, a chance dele voltar a 100% do seu jogo em Denver é zero. E essa é a questão: Manning a 100% é capaz de transformar esse time mediano num candidato ao título, mas... Qual a chance dele conseguir isso jogando a 60, 70%? Muito menor, certo? Ele é plenamente capaz de ser campeão a 70% no Titans ou a 50% em San Francisco. Mas no Denver, um time que vai depender totalmente do seu QB e que vai montar todo o time em torno dele? Eles esperam que ele jogue como jogava anos atrás, o que é impossível. Eu não sei se já falei isso, mas ele é um QB de 36 anos vindo de QUATRO CIRURGIAS NO PESCOÇO (e tratamentos por célula tronco). Mesmo que aconteça a remota possibilidade dele aguentar uma temporada inteira saudável jogando atrás de uma linha ofensiva esburacada, ele dificilmente vai jogar como jogava quando era MVP todo ano. O Broncos esperava ele a 100% quando o contratou, ele deve esperar que vá jogar 100% pra aceitar... Mas não vai acontecer.

O Denver de 2011 é um time muito mais complexo do que isso. A lógica de "Wow, chegamos às semifinais de conferência com Tim Tebow, se conseguirmos um QB melhores seremos campeões!" não faz sentido em nenhum esporte, especialmente no Broncos. O time de 2011 chegou onde chegou por uma combinação de três fatores: Sorte (tabela fraca, sorte em alguns jogos específicos, divisão com problemas demais em 2011), imprevisibilidade (um time que ganhou jogos valiosos quando mudou radicalmente seu estilo de jogo, pegando muitos times desprevinidos sem saber como enfrentá-lo), e porque o Tim Tebow levou todo mundo a um nível acima. O primeiro ponto ninguém garante, o segundo não vai voltar, e o terceiro - e mais importante - também não. Tebow não levou o time a um novo nível pelo seu talento dentro de campo, e sim pela sua liderança fora de campo. O time compreendeu que não tinha um QB que iria ganhar os jogos sozinhos, mas que faria o que fosse necessário pra que isso acontecesse... E abraçou essa mentalidade. A equipe jogou seus jogos com uma raça e confiança que dizia "Vamos fazer o impossível pra deixar esse jogo apertado, porque se isso acontecer o Tebow vai ganhar o jogo". Os jogadores se desdobraram, jogadores medianos começaram a jogar como se sua vida dependesse disso, o time jogou em equipe, todo mundo jogava pelo coletivo e nao pelo individual, e conseguiu bater os adversários que pareciam desnorteados com tanta intensidade. O sucesso do Denver não aconteceu porque Tebow era um QB dominante dentro de campo, aconteceu porque ele passou sua mentalidade ultra-competitiva pros seus companheiros, fez eles se importarem tanto quanto ele com a vitória, jogarem em equipe, não ligarem pros seus próprios números e feitos e jogassem em equipe. No fundo, esse é o verdadeiro segredo sobre esportes coletivos, não o que voce faz individualmente mas como você afeta os seus companheiros, como voce faz eles chegarem num nível maior ao seu redor. Tebow fez isso melhor do que ninguém na NFL em muitos anos, e por isso que o Broncos foi tão competitivo ano passado mesmo com tantas limitações.

Manning? Ele é muito melhor que Tebow como QB, com certeza vai tornar o jogo aéreo do Denver melhor. Isso nunca esteve em questão - supondo que fique saudável. Mas eu duvido muito que ele consiga afetar os companheiros da mesma forma que Tebow. Ele é um líder, mas um líder com uma certa superioridade, aquele cara bom pra cacete em quem você confia que vai ganhar o jogo pra você. É um tipo diferente de liderança, mas que dificilmente vai ter o mesmo efeito. Quem leu as declarações do jogadores do Denver desde a contratação viu claramente a mensagem implícita: "Conseguimos alguém que vai ganhar os jogos pra gente!". Exatamente o oposto da mentalidade "Nenhum de nós vai conseguir ganhar o jogo, então vamos ganhar juntos, um cobrindo o outro!" que fez o time ser bom ano passado. Pro Denver, era muito mais importante aquela mentalidade competitiva do que a relaxada que parece ter tomado conta do time, como quem espera que o Manning sempre vá resolver desde que eles façam sua parte. Eles tem que fazer MAIS do que sua parte pro time vencer. Se o Broncos não perceber isso e continuar achando que só porque o QB melhorou eles vão conseguir ganhar jogos mais facilmente, então eles vão fracassar grosseiramente. Quer saber porque o Tebow foi trocado, quando deixar ele no banco do Manning, treinando e desenvolvendo seus passes com um dos melhores (E provavelmente o mais técnico) QBs da história até pra ter um substituto pro caso do Manning se lesionar novamente ou precisar de uma folga (muito provável) faz todo o sentido do mundo? Porque eles não querem um segundo líder no elenco, um jogador que era o oposto do Manning, não um líder por talento mas um líder por exemplo. A franquia tinha que ser toda do Manning, e a sombra do Tebow no vestiário e em campo estaria lá o tempo todo. Não em surpreenderia nem um pouco que a troca do Tebow fosse uma condição do Manning pra assinar com Denver (Assim como Kobe renovou com o Lakers em 2004 sob a condição que o Shaq seria trocado), porque ele não queria o garoto por lá. E nem Elway. E por isso que um time que estava em uma reconstrução bem encaminhada está de repente com um QB veterano e quebrado em busca de um sonho de um título que é muito improvável com o time atual. DAqui a três anos no máximo, Manning vai aposentar, e o Denver vai ter perdido a chance de continuar sua reconstrução em busca de um sonho improvável. E vai ter que recomeçar, tudo de novo. E só por curiosidade, alguém sabe quem é o reserva do Manning? Caleb Hanie. Aquele que afundou um time do Bears muito bom (e bem melhor que o Broncos) ano passado quando Jay Cutler machucou.

Um último comentário sobre a escolha do Manning: Ele declarou depois que nao escolheu o 49ers porque "Nao queria ter a pressão de ganhar um Super Bowl". Sério?? Você é um dos dois melhores QBs da década na NFL, um dos maiores de todos os tempos... E voce ta com medo da pressaão de ganhar um titulo no melhor time da Liga? Sério? Que confiança incrível ele deve ter passado com essa frase.

Enquanto isso, Tebow foi pra New York numa troca por algumas migalhas que gritava "Queremos trocar o cara e aceitamos qualquer birosca em troca!" pelos motivos que já discutimos antes. Pro Jets, tudo que você precisa saber é que isso acontece semanas depois do Jets ter dado ao fraquíssimo Mark Sanchez uma extensão de contrato de 3 anos com 20 milhões garantidos... Sabe, tanto quanto Matt Flynn e Alex Smith juntos. E ai eles trocam por um cara que é melhor que o Sanchez e que é um líder muito mais expressivo. Claro.

A questão que fica é se o Tebow chega pra ser titular. Por mais que ele tenha feito com um elenco limitado em Denver ano passado, ele ainda é um QB mediano, que tem dificuldade passando a bola e que vai se adaptar a um novo playbook (O terceiro em tres anos). Eu disse que Denver é um encaixe ruim para o Peyton Manning, mas por outro lado era o encaixe perfeito para Tebow: Jogadores que aceitaram a mentalidade que ele estava passando, um time que sabia suas limitaçōes e que tinha sempre um jogador cobrindo o outro, e principalmente um time onde todos estavam dispostos a sacrificar brilho individual pelo coletivo. O Jets, por outro lado, eé um pessimo encaixe: Muitos jogadores fominhas que só querem saber de si mesmos, clima pesado no vestiário, jogadores que não confiam uns nos outros... Enfim, o oposto do Denver, e o oposto do Tebow. Somando tudo isso ao fato de que o Sanchez acabou de receber uma extensão ridicula do Jets, e provavelmente teremos o Sanchez de titular e o Tebow vindo do banco.

Mesmo assim, será que o Jets é um time melhor com Sanchez do que com Tebow? O Jets chegou na final de conferência duas vezes com o mesmo remédio: Defesa forte e agressiva, um bom jogo terrestre e um QB que evitava erros e fazia as jogadas pontuais nos quartos periodos. Mas espera... Nao foi exatamente assim que o Broncos superou todas as expectativas ano passado? O Jets dos ultimos dois anos teve problemas no ataque porque o jogo terrestre (força que movia o time ofensivamente) nao conseguiu ser dominante e isso exigiu que o Sanchez tivesse mais responsabilidades no ataque. E aqui estaá o segredinho da temporada 2011 do Denver Broncos: O Willis McGahee, que recebeu boa parte do crédito pelo sucesso da equipe, estava tendo media de 3.2 jardas por carregada antes do TEbow assumir como titular, e teve média de 5,3 depois. A presença de um scrambler como Tebow faz toda a diferença, e esse pode ser o ingrediente que faltava pro jogo terrestre do Jets voltar a ser forte o suficiente pra deixar o QB do time com um papel de minimizar os erros. E Tebow eé o QB que tem as caracteristicas pra fazer isso dar certo. Ele também tem um elenco muito melhor à disposição do que em Denver (A linha ofensiva eé muito melhor, e Santonio Holmes-Dustin Keller dao uma surra em todo o corpo de recebedores do Denver - e sim, o Shonne Greene é melhor que o McGahee). Se o Jets eé um encaixe ruim para o Tebow por causa do excesso de jogadores individualistas e de uma mentalidade coletiva - e tambem um certo numero de caras problematicos - o Tebow é um bom encaixe para o Jets, porque ele é capaz de fazer um papel que ele sabe muito bem e o Sanchez nao. Dificilmente ele vai influenciar o vestiaário e os companheiros como fez em Denver, mas mesmo assim ele eé um lider infinitamente melhor que Sanchez e que lidera entrando em campo e dando tudo de si pelo time, e o Jets desesperadamente precisa de um jogador assim. Entao sim, faz muito mais sentido pro Jets ter o Tebow de titular (ou faria antes de dar 20 milhoes pro Sanchez). Pra mim, o Jets eé um time mais perigoso com Tebow em campo.

Por fim, pra coroar o fracasso de contrataçōes que tem sido o Dolphins, o Alex Smith nem quis saber do time da Flórida e voltou pra San Francisco, onde ele saiu de "Bust histórico" pra "300 jardas, 4 TDs e a vitória nos playoffs contra o melhor time da NFL". Eu confesso que preferia Smith ao Manning por dois motivos: Primeiro, saude, eu nao confio na saude do Manning. Segundo porque, diabos, o Alex Smith pode ser mediano, mas ele sempre foi leal ao time e à franquia. Ele foi o líder desse time mesmo quando era uma piada, nunca reclamou, sempre fez o possível pra ajudar a equipe, nao liga pros seus numeros e so se importa em fazer o time melhor. Eu disse isso no twitter e repito: Eu prefiro ganhar um titulo com Alex Smith do que dois com Peyton Manning. Quando ele engoliu o Saints com farinha nos playoffs, a alegria nao foi só porque tinhamos vencido um jogo historico de playoffs, mas tambem porque foi sensacional ver o Smith ganhando do Drew Brees! O problema aqui é que nao da pra saber o que esperar do Smith: Foram 6 anos fracos, e um ano bom (seguido de playoffs excelentes - ele superou Brees e jogou de igual pra igual com Eli Manning). Embora ele claramente tenha mostrado uma evolução em fundamentos sob a tutela do Jim Harbaugh, é dificil dizer com certeza que 2011 será o parâmetro daqui pra frente. Eu pessoalmente acho que a evolução que ele mostrou foi real e que ele tem tudo pra continuar melhorando e se tornar um QB top 10 da Liga (Ele jogou como um top5 nos playoffs com metade do ataque - que ja era mediano - machucado), mas é dificil afirmar isso porque a amostra de anos ruins é bem maior. Mas vou guardar esse assunto pra outro dia, especialmente com o Draft chegando ai. Por enquanto, vale destacar que o 49ers trouxe de volta toda sua defesa, e reforçou consideravelmente seu ataque. Pra mim, é o melhor time da Liga - se o Alex Smith conseguir manter o nivel dos playoffs.

Aproveitem a volta do TM Warning, e peço desculpas pela ausencia forçada!


sexta-feira, 16 de março de 2012

Os calouros da temporada 2011 da NFL

Enquanto não soluciono meus problemas de falta de tempo e falta de um computador (pelo menos um deles será resolvido até o final do mês com certeza, o que já deve melhorar), além de pedir perdão de joelhos aos leitores, o que nós vamos fazer será simples: Analisar os jogadores que foram calouros na temporada 2011 da NFL.

Pra quem não lembra, algum tempo atrás nós fizemos uma análise de como se sairam os Quarterbacks calouros da NFL, comparando o que se falava deles antes do Draft com como eles se saíram e as habilidades que edmonstraram. Falamos de Cam Newton, Andy Dalton e companhia. Quando esse post saiu, muitas pessoas nos pediram posts semelhantes para calouros de diferentes posições. Por fim, depois de muita enrolação e muita dificuldade pra postar, vamos fazer um post com vários calouros de posições diferentes, separados pela expectativa antes do Draft e do dia do Draft em si. Vamos a isto que não sei quando tempo ainda tenho pra escrever. Chega logo, fim do mês!! Prometo que quando chegar, eu volto a postar decentemente. Tenham paciência!


As certezas do dia do Draft
Von Miller, OLB, 2nd pick (1st round), Denver Broncos (8-8)
Antes do Draft, muita gente falava que o Von Miller era o melhor jogador do Draft. Atlético e explosivo, tinha tudo pra ser um grande OLB numa defesa 3-4, usando sua velocidade e explosão pra vir pela lateral e contornar os jogadores de linha ofensiva. Muita gente comparou ele ao Demarcus Ware, dominante OLB do Cowboys, mas pra mim essa avaliação era muito errada. Ware é um jogador muito forte, que usa seu corpo e força física como sua principal arma pra destruir as defesas, enquanto Miller é um jogador muito mais magro, mas bem mais rápido e que ia usar sua velocidade e agilidade pra conseguir colocar pressão.

O Broncos Draftou o Miller com a secunda escolha contra minha vontade (Pra mim um DT permitiria que o time jogasse com uma defesa 3-4, liberando o Elvis Dumervil pra jogar de OLB,onde ele rende mais). Pra mim era mais importante draftar o Marcell Dareus. Mas o Broncos pegou o Miller e teve que viver com os altos e baixos da decisão.

O alto é que, no final das contas, o Miller era ainda melhor do que se supunha. Extremamente rápido e explosivo como anunciado, ele realmente foi uma força pressionando o Quarterback como esperado (11,5 sacks apesar de ter jogado alguns jogos com uma lesão na mão), mas mais do que isso, ele mostrou um jogo muito completo que logo se tornou o pilar defensivo da equipe. Ele mostrou boa cobertura nas jogadas de passe mas, mais importante ainda pra um time que não tinha uma linha defensiva dominante (leia-se muito ruim) , ele foi um monstro contra o jogo terrestre, parou todo mundo que tentasse correr pela lateral, deu tackle atras de tackle antes da linha de scrimmage e foi o líder da defesa.

O lado negativo é que pelo fato dele ser um OLB e não um DT, o time não tinha condições de montar uma linha defensiva forte o suficiente pra defesa jogar na formação 3-4, que pra mim maximiza o poder de fogo da dupla Dumervil-Miller. Com isso, o time teve que jogar na formação 4-3, com o Dumervil de DE, o que não faz com que ele seja desperdiçado mas também não é onde ele rende mais. O Miller até se virou muito bem como OLB nesse esquema, demonstrou suas habilidades contra o jogo terrestre, mas essa dupla numa formação 3-4 seria algo de outro planeta. Mas pra isso acontecer, o Broncos precisa antes de mais nada de algo que lembre uma linha defensiva, consequencia de ter passado o Dareus. Mas eles não ligam, o Miller é um grande jogador, que ancorou uma defesa que jogou muito bem apesar das limitações óbvias e ele realmente era o melhor jogador defensivo desse Draft.


"Forças especiais... GINYU!!"


Marcell Dareus, DT, 3rd pick (1st Round), Buffalo Bills (6-10)
Cotado por muitos como a possível primeira escolha do Draft antes do Panthers decidir pelo Cam Newton, o Marcell Dareus caiu até a terceira escolha, e o Bills decidiu pegar o melhor jogador disponível. O Dareus era um DT muito grande e forte, com um bom motor e movimentação, e que eu chamei de "âncora" pela sua capacidade de ancorar uma linha defensiva, ocupar bloqueadores e causar problemas pelo miolo da defesa.

O problema pro Bills é que o melhor jogador do time, Kyle Williams, tem exatamente essas características, e ninguém vai tirar o Williams da sua posição no miolo da linha defensiva do Bills. O que o Bills tentou fazer, portanto, foi adaptar o Dareus ao esquema, colocando ele pra jogar muitas vezes na lateral da linha de DE. Ele não jogou mal, seu tamanho foi valioso tapando buracos e as vezes funcionando pra vencer adversários mais fracos e forçar o QB a se livrar da bola. Mas a verdade é que ele também não esteve tão confortável jogando um pouco fora de posição. Seu enorme tamanho é uma vantagem muito maior no miolo da defesa do que na lateral, ele claramente se mostrou um pouco perdido numa posição onde não tinha jogado antes.

Ao longo do tempo ele até mostrou adaptação e usou seu bom motor pra dominar alguns jogos, mas ele mostrou que é um jogador dominante mesmo quando o Williams machucou e o Dareus jogou no lugar dele no meio da linha. Ai sim seu motor e tamanho fizeram a diferença e ele conseguiu se mostrar um defensor dominante. Acho que a ideia do Bills é continuar insistindo na dupla e tentar desenvolver o Dareus jogando mais pelas laterais da linha como um DE no esquema 3-4. Acho que ele até vai render bem na função, ele teve bons momentos e tem talento de sobra, mas definitivamente não é onde ele rende mais. Mas como o Kyle Williams vive machucando, talvez seja bom ter ele na sombra pra assumir a função. E fato é que a defesa do Bills foi muito melhor quando os dois estavam saudáveis...

AJ Green vai dar um beijinho de amigo na bola


AJ Green, WR, 4th pick (1st Round), Cincinnati Bengals (9-7)
AJ Green era considerado o melhor WR do Draft, hands down. Atleticismo, boas mãos, velocidade, altura, salto, controle do corpo e precisão das rotas. Agora podemos dizer é que ele é ainda melhor do que anunciado.

Jogadores com o pacote físico do Green não são raros. O raro é encontrar alguém que além disso tudo saiba usar essas ferramentas e tenha uma cabeça que favoreça o desenvolvimento desse jogo. O Dez Bryant, por exemplo, é muito bom em termos físicos e sabe tirar vantagem dos WRs, mas não tem cabeça e nem inteligência dentro de campo (suas rotas são muito malfeitas). Mas o Green é um jogador extremamente completo, e um dos motivos do Andy Dalton ter jogado com tanto conforto nesse ano de calouro - faz toda a diferença ter um WR que você possa confiar em cobertura dupla E em terceiras descidas. Pra mim, o Green foi o segundo melhor calouro ofensivo do ano atrás do Cam Newton, mas dentro da sua posição talvez ele seja ainda mais dominante. A NFL não viu seis WRs melhores que Green em 2011. E tem tudo pra ser um dos jogadores mais dominantes da Liga nos próximos anos.

Essa foto é legal demais pra virar piadinha


Patrick Peterson, CB, 5th pick (1st Round), Arizona Cardinals (8-8)
No ambiente do Draft, temos vários termos diferentes pra designar como um jogador correspondeu em relação às expectativas. Temos os clássicos "bust" ou "steal", mas também temos outro como "late bloomers" (alguém que demora pra atingir seu potencial) ou "stud". Mas precisamos de um termo novo pra determinar jogadores que entram na Liga com enormes expectativas, nunca as atingem, mas também não são fracassos (Pense num Emeka Okafor se você gostar de NBA ou até mesmo na versão 2011 do Alex Smith).

Claro que usar esse termo ainda inexistente pra determinar o Patrick Peterson é um tremendo exagero, afinal ele acabou de terminar o seu primeiro ano na Liga e mostrou potencial pra ser um tremendo jogador. Mas serviria pra descrever como foi seu primeiro ano na NFL muito bem: Chegou com pinta de ser um grande craque desde o começo, o novo Darrelle Revis, o melhor jogador do Draft para muitos (Inclusive pra mim)... Mas começou devagar, tomou muita canseira dos WRs no profissional, e acabou tendo muita gente da mídia falando que ele era muito inferior ao que tinha sido anunciado (porque, afinal, a mídia nunca exagera). Mas com o tempo sua habilidade motora fora de série, sua habilidade na antecipação e capacidade geral para jogar na cobertura nos fizeram lembrar que ele é muito bom e que é simplesmente muito dificil fazer a transição entre ser Cornerback no College e nos profissionais, é raro ver jogadores que já entram e tem sucesso na posição. Ao longo da temporada o Peterson acostumou muito bem à sua posição nos profissionais, conseguiu boas partidas e, ainda que não tenha sido dentro de campo o jogador que muita gente achou que ele ia ser logo de cara, ele mostrou que tem tudo pra vir a ser nas próximas temporadas.

A função que realmente fez o Peterson se destacar, no entanto, não foi a de Cornerback, e sim a de Punt Returner. O Peterson, ao longo do ano, retornou quatro punts pra TD (recorde da NFL empatado com Devin Hester), sendo todos de 80 jardas ou mais (recorde da NFL). Ainda que jogar duas vezes contra o Rams faça esses números subirem (foram dois deles contra o Rams), é uma performance impressionante para um calouro, que o levou ao Pro Bowl. Grande talento, grande potencial. Apesar de não ter mostrado o que esperávemos até agora, tem tudo pra ser um jogador tão bom quanto o anunciado.



As apostas

Antes de virar jogador, Julio Jones estrelou o papel de Predador no cinema


Julio Jones, WR, 6th Pick (1st Round), Atlanta Falcons (10-6)
O Julio Jones, ainda que fosse amplamente considerado o segundo melhor WR do Draft e um talento top10, foi uma aposta que saiu muito cara para o Falcons. O time de Atlanta trocou duas escolhas de primeira rodada (2011 e 2012), uma de segunda rodada (2011) e duas de quarta rodada (2011 e 2012) pela sexta escolha do Draft de 2011 com o Browns, pra poder pegar o Julio Jones. Ainda que caro, na época, o investimento do Falcons fez sentido: O time tinha saído de uma excelente campanha em 2010 mesmo com seu melhor defensor (John Abraham) machucado, mas que tinha esbarrado nos playoffs na sua falta de um segundo playmaker pra complementar o Roddy White no ataque - o Packers dobrou a marcação em White, forçou Matt Ryan a lançar para os demais recebedores... E o ataque do Falcons se autodestruiu. Por esse motivo, um WR tão promissor como Jones parecia a única coisa entre o Falcons e um time ainda melhor, com ainda mais chances de título que no ano anterior.

Bom, as coisas não foram bem assim para o Falcons em 2011 - Matt Ryan não conseguiu duplicar o sucesso de 2010, a defesa não jogou bem, e várias falhas do time que não tinham aparecido em 2010 foram escancaradas. O Falcons sobreviveu e foi aos playoffs graças a uma tabela muito fácil, mas claramente não jogou bem e foi massacrado pelo Giants nos playoffs anotando apenas dois pontos. Sim, um safety.

A culpa não foi, claro, do Julio Jones. Jones teve alguns jogos excepcionais e outros relativamente apagados. Uma boa parte da sua falta de produtividade em algumas partidas se deveu à temporada fraca do Ryan e da linha ofensiva do time. Mas o Jones também mostrou que as comparações com o AJ Green antes do Draft eram exageradas. Ele mostrou grande velocidade e agilidade, disparava pelo campo sempre que conseguia segurar uma bola, um dos melhores WRs da NFL em jardas após a recepção, mas também mostrou um lado mais cru: Suas rotas não eram tão precisas, ele não tinha grande antecipação e nem era o tipo de jogador que consegue cavar um espaço no meio de uma marcação apertada ou até dupla (como o AJ Green faz parecer fácil, por exemplo). Mas o motivo da troca não ter dado tão certo foi o próprio time do falcons que não estava tão pronto como a gente imaginava, não o Jones jogando mal de alguma maneira. Existem poucos WRs mais explosivos na Liga.

Adoro quando alguém da esses abraços de corpo inteiro 
no comissário no Draft. O melhor? Darius Miles,
 é claro! Mas depois vem essa do Epke Udoh!


Aldon Smith, OLB, 7th Pick (1st Round), San Francisco 49ers (13-3)
Todo Draft tem pelo menos um jogador que, quando é escolhido, deixa todo mundo pensando algo como "Espera, esse cara não foi escolhido uma rodada antes?" ou "Quem diabos é esse cara??", e nesse Draft foi o Aldon Smith. Smith era cotado como muitos pra sair lá pela 14ª, 18ª escolha, e para alguns não sairia nem na primeira rodada. ~Quando o Niners escolheu ele com a sétima escolha, o sentimento geral era que o Jim Harbaugh tinha surtado no seu primeiro Draft, pegando um jogador muito acima do seu verdadeiro valor com jogadores melhores disponíveis. Uma temporada espetacular e 14 sacks depois... Ahn... É, ele é bom.

Os scouting reports sobre o Smith geralmente concordavam em algumas coisas: Um jogador muito forte e atlético, bastante explosivo, mas que não sabia usar as mãos muito bem, e que precisaria de algum tempo pra se adaptar a jogar como OLB numa defesa 3-4, ao invés de DE numa defesa 4-3 como estava acostumado (São funções parecidas, mas diferentes. A principal diferença possivelmente é que um OLB numa defesa 3-4 começa a jogada de pé, e não com a mão apoiada no chão. Pode parecer pouco, mas faz muita diferença pro impulso inicial), além de que ainda lhe faltavam habilidades mais gerais para a posição de OLB. Mas o que se viu foi um jogador extremamente explosivo, com um excelente motor e que não teve absolutamente nenhuma dificuldade pra sair de uma postura levantada, que sabe usar as mãos com maestria e que nunca desiste de perseguir o adversário numa jogada. Se ele ainda tem algumas deficiências pra se tornar um jogador completo pra posição, ele compensa sendo um dos melhores pass rushers de TODA a NFL. Conseguiu 14 sacks (A apenas meio sack de empatar o recorde de calouros do Jevon Kearse) mesmo jogando apenas algumas descidas por campanha, e sendo titular apenas quando o Ahmad Brooks se machucou.

No final, teve muita discussão sobre quem merecia ser o Defensive Rookie of The Year, entre Miller e Smith. Miller é mais completo, não só é um ótimo pass rusher como também sabe jogar na cobertura e é absolutamente devastador contra o jogo terrestre. Do outro lado, o Smith ainda deixa a desejar na cobertura e não tem ainda experiência pra ser forte contrao jogo terrestre, ele é um jogador mais unidimensional que o Miller... Mas nessa sua dimensão ele é um dos melhores do mundo e, como pass rusher puro, muito melhor até mesmo que o Miller. No que ele faz, ele é o melhor. Já o Miller faz tudo e, por jogar nas três descidas (por causa do seu jogo mais completo), impacta o time de formas mais variadas e em mais jogadas. Os dois melhores calouros defensivos do Draft sem dúvida, e Smith acabou sendo um jogador muito melhor do que esperado.


Os steals do Draft

Brooks Reed, DE/OLB, 42nd Pick (2nd Round), Houston Texans (10-6)
Eu podia comentar do DE JJ Watt, Draftado pelo Texans em 11th Overall e que é um excelente jogador - muito forte, consegue dar voltas tanto por dentro como por fora da linha e sempre parece aparecer quando o time precisa de uma jogada defensiva - mas quem me chamou a atenção mesmo foi o Brooks Reed, draftado na segunda rodada e com muito menos pompa que o Watt, mas que jogou ainda melhor. Quando o Mario Williams machucou, o Reed foi quem tapou o buraco jogando de OLB e DE, anotou seis sacks até o final da temporada, correu por três, executou todo o trabalho sujo pra facilitar a vida do Brian Cushing e do Watt, e foi o principal responsável por tapar o buraco deixado pelo Pro Bowler. Talvez o que tenha feito tanto sucesso foi a combinação dos dois: JJ Watt e Reed, o Watt pelo meio com sua força e o Reed com sua versatilidade. Não é um steal tão grande assim, mas jogou mais do que seu status no Draft indicava. Grande achado.


DeMarco Murray, RB, 71st Pick (3rd Round), Dallas Cowboys (8-8)
Eu sempre digo que avaliar Running Backs é a tarefa mais ingrata da história do Draft. O College é muito melhor pra RBs, que enfrentam jogadores mais fracos e lentos, que jogam menos fechados que na NFL, e é muito dificil separar que talento vai ser levado pro nível da NFL e qual não vai ser. Por exemplo, entre os melhores RBs da NFL temos jogadores draftados no top 5 (Adrian Peterson) e jogadores não Draftados (Arian Foster). Temos muitos jogadores chegando com pompa na Liga, draftados com escolhas altas, que somem na Liga (CJ Spiller), e outros que chegam como resíduo e que se destacam (LeGarret Blount, Fred Jackson). Se avaliar talentos saindo do College é uma ciência muito inexata, avaliar RBs é a mais inexata de todas elas.

E lá está DeMarco Murray, pouco comentado antes do Draft, que sai na terceira rodada pra um time que tem Felix Jones e Tashard Choice. Murray ficou o banco, jogou pouco e quase não se destacou, até que o Jones estourou o joelho e Murray começou de titular na sétima semana. O resultado? 253 jardas e um recorde da história do Cowboys. Nos jogos seguintes, Murray continuou destruindo tudo e todos: Foram 74 jardas (em 8 carregadas, absurdas 9.3 jardas por carregada) na semana seguinte, depois 140 e 136 antes de acalmar o fogo, especialmente quando voltou o Felix Jones de lesão. Quando ele finalmente machucou o pé e perdeu o resto da temporada, todo mundo já estava pensando "Que diabos, como nós deixamos passar esse cara??". Mas eu já disse, avaliar RBs é dificílimo. Eu acho mais absurdo ainda ninguém ter pego o Arian Foster, mas enfim.

O problema é que as vezes é difícil cravar alguma coisa sobre um calouro que jogou pra valer só cinco jogos, destruiu em três, foi bom em um, mediano em outro, e depois estourou o pé. Ele pode ser realmente um monstro nível Arian Foster, mas tem muita pouca amostra pra poder falar com certeza, e precisamos também ver como ele vai render quando as defesas começarem a se ajustar a ele (Corte para Jeremy Lin concordando com a cabeça). Mas pelo que mostrou até agora, pelo menos, vale o entusiasmo, porque ele quebrou o recorde de jardas pra um jogo da Franquia que teve Emmit Smith e Tony Dorset (e o recorde do Eric Dickerson pra mais jardas de um calouro nos primeiros jogos como titular). A companhia, pelo menos, é muito boa. Vamos ver como ele volta depois dessa lesão que acabou com sua temporada, dessa vez como titular desde a offseason.


Os não Draftados


Doug Baldwin, WR, Seattle Seahawks (7-9)
Apenas um jogador calouro não draftado, na história da NFL, liderou seu time em jardas recebidas e recepções na temporada, e foi o Doug Baldwin, do Seahawks. E ele fez isso jogando com o Tarvaris Jackson, é incrível que ele tenha conseguido receber bolas. Não é exatamente comum, mas também não é uma grande raridade quando algum jogador não draftado se destaca (Arian Foster, Miles Austin, LeGarrett Blount... Kurt Warner...). O Baldwin acabou aproveitando muito bem a chance, se destacou como um alvo grande e atlético e se destacou num ataque meio confuso, mas que tinha outros recebedores consagrados (Zach Miller, Sidney Rice) e outros promissores (Golden Tate). Agora que o Matt Flynn chegou (Post sobre isso ainda essa semana se tudo der certo - leia-se se meu computador funcionar) o Baldwin pode se tornar um alvo mais importante pro time, porque... sabe... o Flynn sabe lançar a bola pra frente.


Sterling Moore, CB, Oakland Raiders/New England Patriots
Sterling Moore teve um único momento relevante na sua temporada de calouro. Que foi tirar das mãos de manteiga do Lee Evans o passe que resultaria num touchdown do Ravens nos segundos finais da Final da AFC e que teria dado a vitória ao Ravens, levando o time de Baltimore ao Super Bowl (onde eles teriam a chance de fazer uma das maiores justiças da história da NFL: O Baltimore Ravens ganhando um título em Indianapolis, a cidade que roubou o Baltimore Colts). Ao invés disso, Evans não segurou a bola e Moore derrubou a bola o chão, Billy Cundiff  errou um FG tosco e o Patriots foi pro Super Bowl.

E sim, o fato do Patriots estar contando com um calouro não Draftado na jogada mais importante da temporada resume o que você precisa saber sobre o Patriots de 2011. 

quinta-feira, 8 de março de 2012

Os caminhos se separam

Peyton Manning mostra toda sua fúria de marido traído pro Colts


Depois de perder uma temporada inteira por causa de uma lesão séria que ameaçou sua carreira, e enfrentando muitas dúvidas sobre sua capacidade de voltar a jogar no nível anterior à lesão, um dos grandes QBs da história da NFL acabou saindo do time no qual tinha feito sua carreira para tentar jogar em busca de um título nos seus últimos anos em outro lugar, enquanto seu time optava por apostar em um QB mais jovem.

Não, essa não é a história de Peyton Manning, embora pudesse ser. Essa é a história do maior Quarterback de todos os tempos, Joe Montana, que de certa forma se repetiu hoje quando o Colts anunciou que estava dispensando Manning. Depois de perder a temporada 2011 inteira com problemas no pescoço e ver o Colts acabar com a primeira escolha do Draft. Com um QB do calibre de Andrew Luck no Draft, o Colts decidiu começar do zero em torno de Luck, e então terminou o contrato de Manning antes que tivesse que pagar um bonus de 28 milhões e tivesse que pegar os últimos cinco anos do contrato - o que tornaria quase inviável uma troca com outro time.

Por mais triste que seja ver uma lenda e futuro Hall of Famer sair do time que ele ama e fez sua carreira, não é incomum. Manning e Montana não são os únicos grandes QBs que seguiram esse caminho, e não serão os últimos. O que acontece é que as vezes os times são obrigados a tomar decisões pensando no presente e futuro da Franquia, e deixam de lado a parte emocional. O Colts sabe que se mantiver Manning, por melhor que ele volte de lesão, dificilmente terá time pra competir por títulos nos próximos anos, a equipe está muito fraca e velha, e daí vai ter que aguentar um período longo de reconstrução sem talvez nenhuma base. Caiu no colo do Colts o melhor QB a sair do College Football dos últimos 13 anos (desde, bem, Manning), então eles acham preferível dispensar Manning pra tentar um último título em qualquer lugar e começar sua reconstrução com um grande jogador como Luck no centro. Isso significa partir caminhos com o maior jogador da história da Franquia e um dos dez maiores Quarterbacks a jogar o esporte, mas é a decisão racional a se tomar.

Pra quem não conhece a história de Montana, ela é bem parecida. Depois de ser campeão em 1988, o 49ers montou em 1989 o time que é considerado o melhor que a NFL já teve em todos os tempos, liderado pelo maior QB e pelo maior WR da história do jogo,  Montana e Jerry Rice. Esse Niners atropelou todo mundo que viu pela frente, inclusive anotou nos seus três jogos de playoffs naquele ano 128 PONTOS e tomou apenas 38 (!!!!), a maior performance de uma equipe nos playoffs na história da Liga, inclusive um humilhante 55-10 no Denver Broncos do John Elway no Super Bowl. Em 1990, o 49ers parecia pronto pra repetir e conseguir o terceiro título consecutivo (15-1 durante a temporada regular, Montana e Rice imparáveis, equipe absolutamente perfeita), mas na final da NFC, quando o Niners vencia o Giants no quarto período por 16-3 (leia essa frase de novo e tente se convencer que o Niners NÃO ia ser campeão aquele ano), Montana foi atingido pelas costas por um sack com o capacete (hoje ilegal, na época legal). O ombro do QB se despedaçou e ele teve que sair do jogo. O Giants virou o jogo e foi ao Super Bowl. Depois de perder toda a temporada 1991 lesionado, o Niners decidiu trocar Montana e entregar o comando da Franquia ao então reserva Steve Young (futuramente um Hall of Famer e um dos dez maiores QBs de todos os tempos - pra mim cinco maiores). Montana foi trocado pro Chiefs por quase nada como um sinal de respeito ao QB - O Niners tinha propostas muito melhores, mas deixou o QB decidir por que time jogaria. Depois de fazer milagre com um time limitado do Chiefs, dois anos depois Montana aposentou, e seu nome sempre esteve e estará associado ao San Francisco 49ers, onde ele conquistou quatro titulos e teria conquistado pelo menos mais um caso não tivesse machucado.

Mas o proposito desse post não é ficar triste pelo ciclo do Manning se encerrar em Indianapolis e nem lembrar de outros grandes QBs que tiveram um fim parecido. Eu só queria mostrar que o Colts não está fazendo algo inédito ou imoral, é uma decisão dura pela história do jogador e da franquia, mas uma decisão necessária pro futuro do time. Se eu fosse torcedor do Colts, estaria muito triste de ver o camisa 18 saindo, mas entenderia a necessidade dessa decisão e estaria disposto a abraçar a nova era Andrew Luck. Afinal, o que passou, passou e nada vai mudar. A história que Manning e o Colts construíram juntos está lá pra sempre. Não importa por que time Manning joga, ele sempre será o QB que fez sua história no Colts. Seu auge foi lá. Ele sempre será um Colt, até o final. 

Mas o interessante é que a dispensa de Manning e um outro QB que nem está na NFL nesse momento tornam a situação futura da NFL mais interessante. Robert Griffin III, considerado o segundo melhor jogador (e QB) do Draft depois de Andrew Luck, e Peyton Manning, que de certa forma estão no mercado nesse momento, são as chaves pro futuro de vários times.

A situação do Draft da NFL está bastante clara no momento, pelo menos pras duas primeiras escolhas. O Colts irá, sem dúvida alguma, escolher um Quarterback nesse Draft, e muito provavelmente ele será Andrew Luck. A segunda escolha do Draft, atualmente, pertence ao Saint Louis Rams, que tem no Sam Bradford o seu QB, e portanto dificilmente irá pegar Robert Griffin com a terceira escolha. Mas como Griffin é amplamente considerado o segundo melhor jogador no Draft, o Rams está na posição perfeita pra trocar a segunda escolha do Draft para algum time que quiser Griffin, e com isso adquirir mais escolhas de Draft ou jogadores que lhes interessem. Claro que o Rams não vai trocar pra algum time que não possa oferecer (entre outras coisas) uma escolha de primeira rodada decente nesse Draft, de preferência alta o suficiente pro Rams poder pegar o WR Justin Blackmon, considerado o melhor WR desse Draft. Só que agora o valor dessa moeda de troca recebeu um golpe considerável, já que existe um novo ativo pra posição de QB no mercado pra um time que queira vencer imediatamente, o que significa que um time em busca da segunda escolha do Draft vai parar de fazer ofertas para o Rams, tirando valor de troca.

Quais são, então, os times com maiores chances de adquirir a escolha do Rams? No momento, os candidatos mais fortes são Browns (4th overall), Redskins (6th overall) e o Miami Dolphins (8th overall). Times como Seahawks (12th overall) estão interessados, é claro, mas dificilmente algum time vai conseguir trocar com o Rams sem ter uma escolha de Draft alta pra dar em troca. Esses três vão ter que oferecer muito mais do que simplesmente sua escolha de primeira rodada - talvez uma outra escolha futura de primeira rodada, ou algum jogador - mas isso vai depender de como a concorrência estiver. Se um desses times sair da briga, o Rams perde poder de barganha.

E ai aparece Peyton Manning. Manning, apesar de todas as dúvidas quanto à sua forma física e sua capacidade de jogar depois das lesões e cirurgias no pescoço, ainda é um QB que está entre os melhores de todos os tempos e que se conseguir jogar 60% do que jogava já é capaz de fazer a diferença. Mas ele também está velho e claramente no fim da carreira, então o time que o pegar estará se comprometendo com o QB por um período curto, para disputar títulos num curto prazo. Por isso precisa ser um time que (pelo menos ele acredite que) possa competir com a adição do camisa 18 e talvez mais um ou dois jogadores na Free Agency. Isso naturalmente limita o número de opções por dois lados. Primeiro, um time que esteja com um QB estabelecido ou com um QB para o futuro que precise de jogo não vão dar uma nota preta pro Manning, tem que ser um time que precise de um QB pra estar pronto pra competir, com o resto do time montado - ou pelo menos eles assim acreditam. Do outro lado, Manning não vai escolher um time que ele não acredite que tenha chances de títulos pra desperdiçar seus últimos anos.

Uma variável importante aqui pra delimitar o mercado é o quanto Manning está querendo no seu contrato, em salário e duração. Se ele quiser um salário muito alto ou um contrato muito longo, isso vai desanimar alguns times por causa do teto salarial. Mas se ele aceitar ganhar menos e fazer um contrato curto (Dois anos pra mim é o ideal) o mercado rpa ele vai ser muito maior - e muito mais atraente do seu ponto de vista.

Entre os times que irão procurar Manning pra oferecer até a casa pra ele, pra tentar convencê-lo, os principais são dois times que também estão atrás de Griffin: Dolphins e Redskins. Times como Cardinals, Jets e Seahawks estão também muito interessados no QB, mas Dolphins e Redskins devem persegui-lo com muito mais agressividade e são considerados os favoritos, talvez porque estejam dispostos a gastar mais. 

Entre esses times, o Dolphins tem boas chances porque tem um bom time, joga num estado quente (onde Manning tem casa) e porque tem um problema sério de QB, mas com um ataque ajustado (com uma linha ofensiva fraca, mas fora isso...). O Redskins é outro time que pode se dar ao luxo de gastar demais e que tem uma defesa muito boa pra oferecer ao Manning, embora por outro lado seu ataque, apesar de uma linha ofensiva melhor, tem muito poucos alvos e jogadores confiáveis pra oferecer. São dois tiems que tem problemas de Quarterback e que tem um bom conjunto, e embora a meu ver não estejam só a um Manning a 60% da força de serem campeões, podem ser opções tentadoras pro QB pelo dinheiro e pelo fato de serem times que estão dispostos a se comprometerem a qualquer custo - e prazo. Entre esses dois, eu acho que quem estaria disposto a oferecer mais era o Redskins, principalmente porque o Dolphins também tem grande interesse no Matt Flynn, Free Agent que trabalhou com o novo técnico do time John Philbin em Green Bay e acho que é uma opção preferível pro time jovem e promissor do Dolphins, enquanto que o técnico do Redskins - que está brigando pra manter seu emprego - prefere um jogador que renda resultados imediatos.

Entre as outras opções, Jets é um time que ficou a um bom QB de ser um candidato sério por algum tempo e seria uma boa opção por esse ponto de vista... Mas eu duvido muito que o Manning vá querer ir pra um time com tantos jogadores estrelas, com tantos conflitos de ego e tantas personalidades fortes (num sentido negativo), por mais que lhe ofereça boas chances de título. Cardinals e Seahawks são dois times com talento muito jovem e que, pra mim, fazem besteira de apostar num QB veterano. Nos dois casos, vale mais a pena achar um QB pra desenvolver com calma junto com o resto da equipe. Acho que não só seria prejudicial colocar um QB veterano num time com tantas falhas e jogadores que precisem de tempo pra desenvolver, como isso também e´o tipo de coisa que atrasa uma franquia em reconstrução: O time seria obrigado a fazer trocas e assinaturas arriscadas e precipitadas pra melhorar a situação do time agora enquanto Manning não aposenta, e quando ele aposentar daqui a dois anos (possivelmente sem ganhar nada) o time vai ter destruído sua chance de desenvolver aquele elenco. Por isso não gosto das opções - embora sejam possibilidades, até porque estão afim de gastar.

Por outro ponto de vista, temos os times que fazem sentido, mas que dificilmente irão atrás de Manning. Embora alguns citem Ravens como um possível destino, é muito difiícil porque o time não teria espaço salarial (A não ser, como eu disse acima, que o QB aceite um salário muito menor, ou então que metade do time reestruture seus contratos) e porque o time parece comprometido com Joe Flacco como seu QB do futuro - ainda que faça sentido porque o núcleo do time já tem certa idade e está com o tempo acabando.

Outra excelente opção seria o meu 49ers, um time que tem uma excelente defesa e um bom ataque centrado em torno de um QB limitado. Se Manning aceitasse um contrato de pouca duração ou de pouco valor, o 49ers não teria problemas pra reassinar com Navorro Bowman e Michael Crabtree em alguns anos e teria um QB pra mentorar o jovem Colin Kaepernick pra ser o QB do futuro, um casamento perfeito pra ambos. O problema é que o 49ers já disse várias vezes que está comprometido com o Alex Smith e que prefere ficar com ele indo pra frente, especialmente depois da grande evolução que ele mostrou em 2011 (e também porque a confiança na relação Jim Harbaugh-Smith é um dos pilares de sustentação da equipe). Situação parecida acontece com outro time com um ótimo núcleo e um QB jovem e duvidoso na posição de Quarterback, o Chiefs. Uma boa defesa, um grande RB e um bom corpo de Wide Receivers que, pra mim, está a um QB  de alto nível (e de saúde e sorte!) de ser um candidato sério na AFC. Manning certamente daria esse jogador ao Chiefs, mas o problema é que o time é muito jovem e o Chiefs prefere que Matt Cassell possa evoluir e ser o QB do futuro, pra manter o time atual unido por mais tempo.

Por fim, aquele que pra mim é o encaixe perfeito se o Manning aceitar um contrato de dois anos: Tennessee Titans. Pra quem não lembra, o Titans pegou o Matt Hasselback ano passado e colocou ele pra ser titular enquanto o Jake Locker treinava os fundamentos nos bastidores, sem pressão, pra assumir daqui a alguns anos. Se o Manning quiser um contrato longo, isso vai interferir com o desenvolvimento do Locker e acho que o Titans não vai querer arriscar o futuro do time pra ter a chance de ganhar títulos num curto prazo. Mas se a ideia do time é manter um veterano no comando do time pra mentorar o Locker por algum tempo curto (dois anos, digamos) e tentar algo nesse período antes de colocar o Locker pra levar o time pro futuro... Porque não fazer isso com Manning ao invés de Hasselback? O time tem uma defesa jovem e talentosa, tem vários playmakers no ataque, bons recebedores e uma boa linha ofensiva. Se o Hasselback tivesse sido consistente no ataque e o Kenny Britt ficasse saudável, o Titans tinha boas chances de ir aos playoffs mesmo com Chris Johnson jogando muito mal no ano todo. Imagina então com Manning? Pra mim o time tem a chance real de disputar títulos por dois anos, ai acabava o contrato do Manning e Locker assume com a base montada. Perfeito!

Mas o problema desses últimos times, apesar de serem bons encaixes, é que eles aparentemente não estão interessados em arriscar. Mesmo que tenham alguma chance e, se decidirem a tempo entrar na briga, possam fazer Manning pensar duas vezes, parece difícil que eles entrem pra valer na disputa (Parece que o Chiefs, entre esses, é o que tem mais chance de passar para a ofensiva). Caso esse prognóstico se confirme, a briga ficaria entre os times que irão desesperadamente atrás do QB: Jets, Redskins, Miami, Cardinals e Seahawks (Sendo que, repito, dificilmente acredito que ele opte pelo Jets). Entre esses times, o Redskins tem tudo pra ser um time mais agressivo que o Dolphins, simplesmente porque o Redskins é um time mais desesperado. O Dolphins tem um time mais jovem, tem boas chances de pegar o Matt Flynn na Free Agency se tentar, e não tem a urgência por um QB que resolva a parada imediatamente. Já o Redskins tem uma mistura confusa de jogadores jovens e velhos e um ataque mais decadente, mas mais importante, tem um técnico que está com o cargo a perigo e que se interessaria muito mais por um QB veterano pra entrar e resolver a parada do que pegar um FA jovem como Flynn ou até Griffin no Draft, jogadores que podem demorar pra se ajustarem e darem resultados, e até lá o Mike Shanahan já pode ter sido demitido e não vai colher os resultados da sua decisão - justamente por isso o Manning é preferível (ainda que "fontes" digam que ele não quer ir pra Washington).

O problema pro Rams é que se Dolphins ou Redskins pegarem o Manning, então um dos candidatos a trocar pela segunda escolha vai pelo ralo. O Browns pode (e aparentemente vai) oferecer sua escolha de primeira rodada (4th) e sua outra escolha de primeira rodada (22nd) pela escolha do Rams. Se Miami e Redskins estiverem na briga, eles podem oferecer algo a mais pra tentar ficar com a escolha e forçar uma reação dos demais, inflacionando assim o valor da escolha. Mas se um dos dois sair do páreo com o camisa 18, um dos concorrentes a valorizar essa escolha de Draft foi pro saco, e o Rams vai acabar ficando no máximo com as duas escolhas de primeira rodada do Browns. O essencial para o Rams era trocar a escolha antes do Manning definir seu destino (o que deve acontecer na próxima semana), mas isso não vai acontecer - o Draft vai acontecer depois da decisão do Manning e o Rams não tem tanto poder de barganha assim. Pro Rams, foi a pior coisa que poderia acontecer: Além de possivelmente ganhar mais um forte competidor na divisão (caso Manning vá pra Seahawks ou Cardinals), ele ainda viu sua escolha tomar um pequeno golpe no seu valor.

Mas claro que, no final, o fator determinante vai ser a vontade do Manning, aonde ele está afim de ir e o que ele aceita abrir mão pra isso. Talvez o número de times que aceitem fazer propostas elevadas (e talvez até exageradas) pro Manning seja pequeno, mas a grande parte dos times citados acima (e até outros como Broncos, Vikings ou até Jaguars) com toda a certeza vai pelo menos se informar das disponibilidades do QB. Se ele achar algo interessante nesse meio, então talvez mude seus pedidos... Não tem como saber. No fundo, podemos identificar os times que devem ser mais agressivos em busca do camisa 18, os times que fariam sentido do ponto de vista do encaixe entre e time e jogador... Mas o fator que realmente vai decidir pra onde vai o grande prêmio dessa Free Agency vai ser a própria vontade do jogador. Boatos vão aparecer, pessoas vão falar que X ou Y tem mais chances... Mas no final, tudo depende de Peyton Manning, do que ele considerará importante, da parte pessoal. E ele merece. Aos 36 anos, ele está escrevendo os últimos capítulos da sua história na NFL. O 49ers deu a Montana a chance de escrever esse último capítulo no time que ele escolheu, o Chiefs (e ele quase fez o milagre de levar aquele time ao Super Bowl). Agora o Manning tem a liberdade de escolher aonde ele quer fazer o mesmo. Porque, depois de 13 das maiores temporadas da história da NFL, ele merece.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Sugestão de leitura

Enquanto eu tento solucionar dois problemas (Leia-se a falta de tempo e a falta de um computador desde que o meu teve uma crise) pra voltar a postar com frequencia no blog (não sei quando isso vai acontecer, mas espero que antes cedo do que tarde), estou preparando a uma velocidade digna de alguem que usa o computador da irmã quando ela não está em casa um post sobre os novatos da temporada 2011 da NFL, atendendo a muitos pedidos.

Enquanto não sai (espero que saia até sábado), deixo aos que sabem ler em inglês uma sugestão de leitura de um artigo do ótimo site Grantlando. O artigo, que pode ser encontrado no link http://www.grantland.com/story/_/id/7612311/an-oral-history-malice-palace, é um excelente relato da lendária briga entre os jogadores do Pacers e os torcedores do Detroit Pistons em um jogo. O cara que escreveu (o bom Jonathan Abrams) conversou com várias pessoas que estiveram lá, desde jogadores dos dois times, passando pelos técnicos, comentaristas, diretores e muitos outros que estiveram no ginásio no momento ou que tivessem algo a ver com o que aconteceu.

É um relato impressionante e extremamente bem feito de um dos eventos mais importantes da NBA na última década e que levou a muitas coisas como o aumento das punições a jogadores, criação do famoso código de vestimenta, o fim do time do Pacers de 2005 que pra muitos era o melhor da NBA (e que levou o Pacers a amargar seis anos apostando em jogadores branquelos e bonzinhos pra melhorar a imagem ad franquia), e o Abrams passa muito bem por essas questões extra-campo e qual foi a reação do resto da NBA. Uma obra-prima que merece ser lida, recomendo a todos que leiam ingles.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Um chinês em New York

"A resposta da questão 22-b era um!!"


O New York Knicks é, como se sabe, uma franquia muito tradicional na NBA. Joga num dos maiores mercados dos EUA, é o time que mais ganha dinheiro na Liga, uma das franquias mais valiosas da NBA, tem o ginásio mais bolado de lá e uma das torcidas mais fanáticas. Ou seja, é um time tradicional e importante e que tem tudo pra ser um time vencedor como o time mais vencedor da cidade (E dos esportes americanos), o Yankees.

Mas toda essa tradição e dinheiro do Knicks não tem se traduzido em títulos. Ao longo dos ultimos anos, o Knicks tem sido o time que mais ganhou dinheiro mas também o que mais gastou - e o pior, gastou com jogadores como Eddy Curry e Stephon Marbury. Um fracasso em termos de administração e gestão, o Knicks dos últimos anos acumulou fracassos e frustraçōes na Liga, nunca foi realmente competitivo desde o começo da década passada. Pra mudar isso, a Franquia apostou no que ela tem de melhor - que definitivamente não é a administração. Ou seja, apostou na cidade de New York, no dinheiro que jogar nesse enorme mercado dá e no quanto ele é atrativo para os jogadores: Trouxe por uma fortuna na Free Agency o Amare Stoudamire depois que Lebron James e Dwyane Wade recusaram a oferta, e trouxe o Carmelo Anthony quando ele forçou a saída do mercado pequeno que era o Nuggets em Denver. Tudo bem, o Knicks pagou caro pelo Melo e o Nuggets se reconstruiu e montou um grande time jovem e coletivo, mas conseguiu seu objetivo: Juntou duas superestrelas e limpou espaço pra contratar mais uma, no caso o armador Chris Paul, que poderia terminar seu contrato no final dessa temporada e sair de New Orleans.

Bom, a gente sabe o que aconteceu depois: O Chris Paul foi trocado para o Lakers numa troca que também envolveu o Rockets. Com o Paul (sonho de consumo do Knicks) fora da jogada, o time de NY usou o seu espaço salarial pra assinar o Free Agent Tyson Chandler pra ser a âncora defensiva de um time que não sabia o que era defesa. Quando o David Stern decidiu explodir a Liga e ferrar de vez Lakers e especialmente o Rockets (Mais sobre isso daqui a pouco) vetando a troca do CP3 para o Lakers, o contrato do Chandler já estava assinado e o Knicks não podia mais voltar atrás pra manter o teto salarial aberto pro Paul. Assim, o Knicks teve que se contentar com o núcleo de Melo, Amare e Chandler.

De uma maneira meio bizarra, o Chandler cumpriu seu papel de tornar um time que não se interessava por defesa em um time capaz de apertar no lado defensivo e contar com um ataque eficiente para vencer alguns jogos. A defesa do time não é do nível de Heat ou Bulls, claro, mas está muito longe de ser uma peneira e está entre as 10 melhores da Liga, em boa parte por causa do Chandler. Ele cumpriu perfeitamente seu papel de quando foi contratado, e o time do Knicks tinha eliminado seu grande problema de 2011. Mas curiosamente, o grande problema do Knicks se tornou o ataque. O ataque  da equipe, que deveria se apoiar amplamente no talento individual da dupla Melo/Amare, passou a ser estático, previsível, sem movimentação de bola e a viver de jogadas forçadas das suas duas estrelas. Não tinha espaçamento em quadra, não tinha uma tática definida, era basicamente tocar pras estrelas e esperar elas resolverem sozinhas. 

Isso acabou caindo como culpa do técnico Mike D'Anthony, em parte justificadamente e em parte não. O Mike D'Anthony é um técnico limitado que teve muito sucesso com o Phoenix Suns de 2005-2006, o famoso Suns dos "Sete segundos ou menos", que corria como se a vida dependesse disso, jogava na velocidade, arremessava muito de três pontos e confiava no gênio do Steve Nash pra distribuir a bola e manter o ataque funcionando. O problema do D'Anthony é justamente a sua dependência desse esquema de jogo, um esquema de correria, passes rápidos e que depende muito de um armador capaz de infiltrar. Ele só sabe jogar esse estilo, um estilo de muito espaçamento, velocidade e que depende de um armador que distribua o jogo e ataque o aro. Com as peças pra jogar no seu estilo, ele o faz muito bem, mas não tem a capacidade de se adaptar a outros estilos de jogo, ou adaptar o seu estilo aos jogadores com características diferentes - caso do Knicks. O problema é justamente pedir pro D'Anthony fazer isso, jogar com jogadores totalmente opostos ao esquema tático que ele sabe. Ele tentou adaptar os jogadores ao estilo, tentou mudar o estilo pra se adaptar aos jogadores, e não funcionou, o ataque continuava uma droga estática e o Knicks começou a perder, perder e parecer uma droga que não ia a lugar nenhum. Quando Amare se ausentou por causa da morte do irmão e o Melo saiu machucado, parecia que o Knicks estava condenado à mediocridade.

Foi ai que o Knicks achou ouro em um armador chinês, formado em economia em Harvard chamado Jeremy Lin. Se voceê tiver interesse na história mais detalhada do Lin, o Bola Presa fez um post a respeito nas Summer Leagues da temporada passada, muito antes dele ficar famoso, então é bem legal ver a história dele antes de ficar famoso. Mas resumidamente, ele é um chinês (ainda que tenha nascido na Califórnia, os pais são chineses) que ficou conhecido por jogar como armador por Harvard - sim, essa Harvard mesmo, da Ivy League. Ele jogou muito bem no College, chegou a disputar o prêmio de melhor armador da NCAA e levou Harvard a uma boa colocação, mas não foi Draftado. Apareceu bem nas Summer Leagues daquele ano, onde humilhou o John Wall, e ganhou um contrato com o Warriors, onde não teve chance nenhuma, passou o ano na D-League e acabou dispensado. Esse ano, começou no Rockets, foi dispensado quando a troca do CP3 foi cancelada e acabou indo parar no Knicks. Quando estava para ser dispensado novamente, teve a chance de jogar numa partida vindo do banco, e anotou 25 pontos. No jogo seguinte foi titular, destruiu o espaço tempo, jogou como o armador que o D'Anthony sempre quis pro seu esquema tático, foi espetacular e não saiu mais do time.

O Lin acabou virando um fenômeno em duas frentes, dentro e fora de quadra. Fora de quadra, chamou a atenção por diversas coisas na sua história: o fato de ter vindo de um College como Harvard, de ser chinês, e de ser um jogador totalmente desconhecido que chegou na NBA quebrando recorde atrás de recorde, pontuando e assistindo feito doido, fazendo o time do Knicks funcionar como uma equipe de verdade. Ninguém entendia como um jogador tão bom (o que ficou claro depois de dois ou três jogos, que ele não era simplesmente fogo de palha, e sim um jogador realmente talentoso) podia não ter sido draftado, passado uma temporada inteira na D-League, ter sido dispensado por dois times sem ninguém ter percebido que ele era na verdade muito bom!! A NBA já teve casos de bons jogadores não Draftados, mas não com esse nível de talento nem depois de ter passado um ano inteiro na D-League. Ele também virou um fenômeno de mídia e acabou muito comparado com o Tim Tebow, Quarterback do Denver Broncos.

Sinceramente, essa é uma das piores comparaçōes esportivas de todos os tempos, incluindo aí quando compararam o Adam Morrisson com o Larry Bird. O Tebow e o Lin são dois jogadores religiosos, dois fenômenos de mídia carismáticos... E pronto, acabou o que eles tem em comum! De resto, eles são dois jogadores bastante opostos, e os motivos da enorme atenção da mídia que eles atraem também são: Tebow foi um dos maiores jogadores de College Football de todos os tempos mas claramente não chegou na NFL com as ferramentas necessárias pra jogar nos profissionais. Foi draftado alto com base nas esperanças e expectativas que trazia do College, e mesmo não estando no nível de jogo da NFL, acabou titular e continuou ganhando jogo atrás de jogo de forma absurda e na pura raça, porque em termos de habilidades ele ainda não está num nível acima da média. O mais impressionante do fenômeno Tebowmania era que o Tebow era um QB mediano que continuava ganhando com as poucas armas que lhe restavam. O Lin é exatamente o oposto: Carreira desconhecida do grande público no College, nenhuma expectativa no Draft (tanto que não foi Draftado), apareceu pra Liga do nada porque tem muito talento pra jogar entre os profissionais e foi uma surpresa tão grande porque ele era bom demais e ninguém conhecia ele, foi só ele ganhar uma chance que explodiu. Ou seja, são histórias totalmente diferentes e jogadores totalmente diferentes, a comparação é bem ruinzinha. 

Se querem comparar o fenômeno Linsanity a alguma coisa, comparem à Fernandomania, do arremessador Fernando Valenzuela. Pra quem não conhece, Fernando Valenzuera foi um arremessador mexicano que apareceu no Los Angeles Dodgers no começo de uma bela temporada como titular, era bom pra cacete e tomou a Liga de assalto, foi um fenômeno de mídia que apareceu do nada e representava uma minoria nos EUA (os mexicanos no caso, como os asiáticos para Lin) e que fez todo mundo ficar se perguntando "De onde surgiu esse cara??". A mesma história, jogadores muito talentosos que surgiram do nada, sem nenhuma expectativa, e que de repente começaram a jogar muito. A diferença básica entre os dois foi mais contextual do que outra coisa: Fernando era um jogador melhor do que Lin (ganhou o prêmio de melhor arremessador de TODA a NL como calouro) e porque baseball em 1984 era mais importante pros EUA do que basquete em 2012, mas as situaçōes são muito parecidas. Muito mais do que com Tebow.

Mas dentro de quadra, o impacto do Lin foi enorme, justamente porque ele é o armador no qual todo o esquema tático do Mike D'Anthony se baseia, um armador com bons passes, inteligência e que sabe infiltrar e criar espaço. Foi só o Lin começar a jogar que tudo no Knicks caiu no seu lugar mesmo sem Melo e Amare: Ele começou a conseguir muitos pontos vindos de infiltração, trabalhou no pick and roll muito bem com o Chandler (que consegue seus pontos no ataque com um armador decente), os arremessadores do time se espalharam pelo perímetro, o Chandler começou a pegar rebote ofensivo atrás de rebote ofensivo... Tudo isso faz parte do esquema do D'Anthony, só que agora que estava começando a funcionar porque tinha alguém pra atacar a cesta, abrir os espaços no qual o Mike gosta de trabalhar e distribuir o jogo para quem estivesse livre quando a marcação reagisse às infiltraçōes do Lin. Finalmente o Knicks pode implementar o jogo que seu técnico queria desde o começo, o Steve Novak começou a receber as bolas que ele precisava pra acertar tudo de longe, os rebotes ofensivos cairam na mão do Chandler, e o time pontuou no garrafão com seu armador.

A dúvida que ficava, portanto, era como os astros do time Amare e Melo - e depois a contratação chinesa do time no JR Smith - iam se encaixar nesse time, como suas características iam combinar com a do armador chinês e da forma de jogar que o seu técnico tanto gosta. O Amare, de certa forma, era o menor dos problemas: Ele sempre foi um jogador que se beneficiou do pick and roll com o Nash em Phoenix e que está no seu melhor finalizando de frente pra cesta recebendo um bom passe. No seu primeiro jogo voltando dos problemas familiares, ele finalizou cinco bolas saindo de pick and roll - ele tinha média de uma finalização dessas por temporada. Esse pick and roll ainda não é uma jogada de conforto do time (as vezes passam tempo demais sem usar) e as vezes parece que o Chandler no garrafão ocupa um espaço que o Amare gostaria de ter livre pra atacar a cesta - o que resulta em alguns arremessos bobos de meia distância - mas com um pouco de entrosamento e prática o Knicks provavelmente vai começar a fazer isso com mais naturalidade. O Lin fez muito bem os pick and rolls com o Chandler, e o Amare é um finalizador muito melhor que o Chandler, logo ele deve assumir o papel nessas jogadas e o Chandler deve fazer um papel mais de segurar o rebote ofensivo. De certa forma ele realmente ocupa um espaço que o Amare gosta de usar, mas isso pode ser contornado de diferentes maneiras: O Chandler pode continuar fazendo o pick and roll com o Amare se posicionando pra um arremesso de meia distância, ou então o Chandler pode se afastar um pouco do aro quando o PnR acontecer pra buscar o rebote vindo de fora. Ou seja, a jogada está lá e o D'Anthony trabalhou muito bem com ela em Phoenix, não vejo ele tendo muitos problemas pra adaptar essa jogada da melhor forma possível para o seu time.

O JR Smih é um caso particular, mas também não deve apresentar problemas. O JR Smith é o famoso arremessador de três sem cérebro, tem talento pra cacete mas não tem cabeça e prefere ficar forçando bolas de três até alguém se enfezar com ele. Ou seja, típico jogador pra vir do banco e encher de bolas de três, as vezes elas caem e outras não, mas como é exatamente isso que ele faz - e foi contratado pra fazer - é mais uma questão de controlar os minutos dele do que de encaixá-lo em esquema tático, porque ele não segue nenhum. Acho que vai acabar beneficiado pelo maior espaçamento, mas ai vai continuar com seu joguinho de chutar de longe, e o Mike D'Anthony que se vire pra controlar os minutos do JR e usar ele e sua porralouquice de uma forma benéfica à equipe.

Enfim, chegamos no problema: O grande astro do time, Carmelo Anthony. O Melo é um jogador espetacular, ofensivamente provavelmente é o jogador mais completo de toda a NBA e é um dos melhores fechadores da Liga. Ele  arremessa de dois, de três, infiltra, bate lances livres, joga de costas pra cesta, na transição... Enfim, uma força ofensiva. Mas o Melo também sempre foi um jogador que gosta de segurar a bola, criar o próprio arremesso e as vezes arremessa demais e sem critério. A melhor fase do Carmelo na sua carreira foi no Nuggets exatamente quando o time trouxe um armador pra tomar conta da equipe, no caso o Chauncey Billups. Isso foi muito importante pro time e pro Melo porque o Billups é um armador calmo e pensador que controlava o jogo e fazia as bolas chegarem no Melo nas horas certas pra ele partir pra cima e pontuar alucinadamente. Inclusive, na minha avaliação, é o melhor tipo de jogador pra acompanhar o Melo, alguém que pense o jogo e acione o Melo nas horas certas pra ele funcionar como o pontuador nato que é mas sem atrapalhar o esquema de jogo e a rotação de bola da equipe. E bom, armador calmo, pensador e que cadencia o jogo? Por melhor que ele seja, é o oposto do que o Lin faz de melhor, que é atacar a cesta, acelerar o ataque e abrir espaços na defesa. O Lin é um jogador inteligente, mas não é um armador pensador (E o Knicks nem quer que ele seja, ele é muito mais útil sendo desse jeito!) e nem tem a função de acionar os companheiros na melhor posição, pelo contrário, ele ataca a cesta o mais rápido que puder sempre controlando a bola. E isso - e essa é a minha preocupação - é algo que conflito diretamente com o estilo do Melo e o estilo que ele mais rende.

A questão é que o time do Knicks rende melhor com o Lin atacando a cesta, fazendo pick and rolls e abrindo a defesa para os arremessos, mas o seu melhor jogador rende melhor controlando a bola ou com um armador que controle o ritmo ofensivo e distribua o jogo com calma. Como o Knicks não tem um armador assim no elenco, o time tem duas opçōes pra integrar o Carmelo e o novo esquema de jogo. A primeira é buscar um balanço entre as duas formas de jogar, jogar uma parte do tempo com o estilo do D'Anthony e com o Lin controlando a bola, e outra parte com o Melo jogando mais individualmente controlando o jogo. Claro que isso exigiria do Lin um maior controle do jogo e uma qualidade mais pensadora pra saber quando deixar o Melo jogar sozinho e quando acionar o ataque de velocidade da equipe.

Eu não gosto dessa opção por dois motivos. Primeiro, porque você estaá abandonando o estilo de jogo que seu time e seu técnico sabem e gostam de usar, o esquema que o time mais é eficiente, só pra integrar um jogador, especialmente com dois estilos tão diferentes. Um técnico como Phil Jackson poderia eficientemente achar uma maneira de jogar que combinasse as duas coisas, mas não confio que o D'Anthony consiga o mesmo. Além disso, você estaria pedindo para seu armador ser um jogador que ele não é, e jogar de uma forma muito mais pensadora e cadenciada, o que ele não está acostumado a fazer.

A outra opção, mais interessante, é reinventar um pouco o estilo de jogo do Melo. O Melo está acostumado a criar seu arremesso e jogar com a bola na mão, mas ele é um jogador inteligente e excelente finalizador, portanto a ideia seria usar mais o Melo jogando fora da bola e se posicionando para receber passes e finalizar as jogadas. O Melo já jogou assim na seleção americana e teve muito sucesso, e assim o Knicks pode continuar deixando a bola nas mãos do Lin (Que precisa tomar mais conta dela, ele perde demais a bola durante o drible) enquanto o Carmelo trabalha pra se posicionar pra receber a bola numa posição onde ele possa partir direto pra finalização sem precisar desacelerar o ataque ou parar a rotação da bola. O Lin é um bom passador saindo do drible pra achar os jogadores mais bem posicionados, então o Melo pode simplesmente se colocar numa boa posição pra receber esse passe. De certa forma é reinventar o estilo de jogo do Melo porque ele está acostumado a jogar com a bola na mão e criar seu arremesso, mas ele também já mostrou que tem inteligência pra se posicionar em quadra e trabalhar como um pontuador que joga sem a bola na mão, como já mostrou na seleção. E como o esquema do Knicks com o Lin livre pra infiltrar abre muito espaço pros arremessadores se espalharem pela quadra, o Melo vai ter bastante espaço pra se movimentar enquanto o Lin trabalha no pick and roll.

Aliás, isso significa que o D'Anthony vai ter que ficar criativo nas escalaçōes, porque se o Lin trabalhar no PnR com o Chandler e o Melo e algum outro se posicionarem pra receber a bola pra arremessos, não faz sentido o Amare também ficar posicionado apenas como um arremessador de meia distância, e quando o Amare for o homem do pick and roll o Chandler vai ter que jogar mais afastado do aro pra não congestionar o garrafão, mas como o pivô não tem um bom arremesso as defesas provavelmente vão deixar ele pegar a bola livre longe do aro pra congestionar o garrafão. Ou seja, Amare e Chandler podem jogar juntos em alguns momentos, mas se o Melo se adaptar à sua função de pontuador sem a bola o time ficaria mais eficiente com só um dos dois em quadra. Ai fica a critério da criatividade do D'Anthony usar os dois em situaçōes separadas pra aproveitar melhor cada um deles (até acho que pela sua capacidade de forçar double teams o Amare jogaria melhor com o Baron Davis e o JR Smith vindo do banco).

Quanto ao Lin, ele foi o cara que deu cara nova ao time, ele tem talento pra burro e deve continuar executando essa função que ele executa hoje, que é tão importante pro esquema de jogo da equipe. O Lin tem fraquezas (Não defende ninguém, conforme ficou claro no jogo contra o Nets - um dos motivos de porque é tão interessante o Iman Shumpert jogando com o Lin e se encarregando de marcar o jogador mais perigoso do perímetro - comete muitos turnovers principalmente porque a bola fica muito solta durante seu drible e muitas vezes ele perde controle da bola, e algumas limitaçōes como por exemplo o drible pro lado esquerdo - não é que ele não consiga ou não saiba, mas ele claramente fica menos confortável, o Heat forçou ele o jogo todo a ir pro lado esquerdo e ele teve uma partida horrorosa cheia de turnovers). De certa forma, algumas delas são erros comuns de jogadores que estão na NBA há tão pouco tempo e com o tempo  de jogo e treino ele deve melhorar, especialmente nos turnovers e na mania que as vezes ele tem de colocar uma jogada na cabeça e insistir nela até o fim, mesmo que no meio do caminho uma opção melhor apareça. Mas o moleque é talentoso pra burro, muito rápido, tem bom arremesso, é inteligente dentro de quadra e é excelente finalizando no garrafão mesmo sofrendo contato. Ele tem bom passe, boa visão de jogo e trabalha bem no pick and roll. Ou seja, não só as ferramentas pra ter sucesso na NBA como exatamente o que um armador precisa ter pra virar um monstro no esquema do Mike D'Anthony.

Aliás, um comentário rápido: O Lin está em seu segundo ano na Liga e é praticamente um calouro, mas vale lembrar que o Lin vai fazer 24 anos essa temporada, mais velho do que Derrick Rose, Russell Westbrook e Kevin Durant.

Aliás, sabe o que é engraçado - ou trágico? O Houston não tinha a intenção de dispensar o Lin, a idéia do Rockets era trocar o Goran Dragic (que iria pro Hornets na troca do CP3) e o Lin ficar como reserva do Kyle Lowry. Quando a troca foi vetada, o Rockets ficou com quatro armadores - Lowry, Dragic, Lin e Flynn (que era mais valioso pro Rockets pelo seu valor de troca), sendo que todos menos o Lin tinham contratos garantidos - e ai teve que mandar o Lin embora. Ou seja, se a troca não tivesse sido vetada, o Lin nunca teria saido do Rockets e possivelmente estaria destruindo tudo e todos por lá ao invés de NY. O Rockets teria Pau Gasol e provavelmente teria assinado com o Nenê (que dizem que iria pra lá se eles conseguissem um outro jogador de garrafão), e ficaria com um time de Lowry, Courtney Lee, Chandler Parsons, Gasol e Nenê, e um banco com Lin, Marcus Morris, Chase Buddinger, Patrick Petterson e algum Free Agent para a posição 2. Ao invés disso o time perdeu Lin, não assinou com Nenê e ficou sem seu All Star no Gasol... Tudo por causa do veto do David Stern, que podemos afirmar que destruiu a temporada do Rockets e salvou a temporada do Knicks de ir pro buraco. Ah sim, adivinhem quem tem a escolha de primeira rodada do Knicks esse ano? Bingo! O sangue do Rockets está em suas mãos, Stern!