Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

terça-feira, 12 de abril de 2011

E o MVP vai para...

O Troféu Maurice Podoloff é muito melhor que o Oscar


Chegou a hora de finalmente falar do prêmio individual mais importante e mais polêmico de toda a NBA, o troféu Maurice Podoloff para o MVP da temporada regular. Eu sei, eu sei, de certa forma discutir esse prêmio é uma idiotice, mas eu já falei no post logo antes desse onde eu dou meus candidatos aos cinco outros prêmios da NBA (Técnico do ano, calouro do ano, sexto homem do ano, jogador que mais evoluiu e jogador defensivo do ano) que eu já mandei o bom senso pro inferno e tou agora só fazendo isso por diversão. Se bem que, pra falar a verdade, eu acho o troféu desse ano um assunto mais interessante do que nos últimos anos. E já aviso que ficou um dos maiores posts que a gente já fez, mas... bom, eu já desisti de me preocupar com isso. Eu recomendo e acho que vale muito a pena, e fiquem a vontade (Na verdade, sintam-se convidados) a comentar e dar a opinião de vocês.

O prêmio de MVP, assim como todos os outros da NBA, é muito subjetivo. Ele não apresenta um critério definido. Ele é um prêmio para o 'jogador mais valioso', mas o que isso significa? É o jogador mais valioso pra Liga? Pro seu time? Individualmente? E o que qualifica um jogador como 'mais valioso'? O melhor jogador? Mais valioso para o seu time? Bom, a gente pode ficar com essas perguntas inuteis até amanhã ou ir direto ao assunto, e pra surpresa de todo mundo eu vou direto ao assunto.

Como tudo nesse universo dos prêmios, ele se baseia em critérios pessoais e subjetivos de avaliação. Por isso, os meus critérios pra nomear o MVP são os meus critérios, não algum critério pré-estabelecido ou 'correto' pra isso. A prova é que até agora eu estou tentando me afogar na pia por não ter nomeado o Kevin Love o jogador que mais evoluiu na temporada. Mas tudo bem, isso acontece. Primeiro, o basquete é um esporte coletivo e o objetivo é que o time seja campeão, não que o jogador seja o MVP (Existem alguns dissidentes, pergunte pro Andray Blatche o que ele acha). Então por 'jogador mais valioso' eu prefiro entender como sendo o jogador mais valioso para o seu time. Ok, isso nos leva a mais 400 perguntas sobre o que é o jogador mais valioso para o time. É o que faz mais com menos? O que é o melhor jogador do melhor time? É o que tem melhor números individuais? Ou a gente deve usar um critério totalmente subjetivo?

O mais legal do basquete é que ele é um esporte que envolve uma parte objetiva, numérica, e outra parte subjetiva. Uma parte do basquete envolve estatísticas, pontos por jogo, PER (Player Efficiecy Rating) e tudo que pode ser mensurado por todo tipo de fórmula. Mas também tem outra que é muito mais subjetiva, que envolve análises, e a gente tem que confiar no que a gente vê mais no que pode ser medido. E pra se poder analisar um prêmio tão complexo como o MVP, a gente tem que considerar os dois lados, objetivo e subjetivo, pra tentar chegar a algum lugar.

E quando a gente fala em números, o candidato que vem à cabeça é o Lebron James, que tem números muito sólidos pra sustentar esse tipo de candidatura: Segundo da Liga em pontuação (26.7 ppg), 13º em assistências (7 apg), além dos 7.5 rebotes por jogo e de ser o primeiro da Liga em PER, com 28.6. Os números do Lebron são muto sólidos, ele joga num dos melhores times da Liga e é um dos melhores jogadores do planeta, e esses são os principais argumentos usados por quem coloca o Lebron como o MVP dessa temporada, e são argumentos inegáveis. Mas eu assisti muitos jogos do Miami Heat (alguns pra secar, alguns porque eram os melhores jogos da noite e muitos outros porque eu tinha muito interesse em ver o Big Three jogando) e, depois de tantos jogos, simplesmente não da pra falar que o Lebron é mais valioso para o Miami Heat do que o Dwyane Wade. Tudo bem, o Lebron é o jogador mais consistente do time, tem os melhores números e talvez seja até o melhor jogador no time, mas quem viu o Miami Heat jogar por um longo período de tempo - em especial os períodos conturbados - sabe que quem é o verdadeiro dono, o verdadeiro líder do time de Miami é o Wade. Quando o Eric Spolestra tentou mudar o estilo de jogo do Lebron e do Wade pra melhor combinarem em quadra, quem conseguiu fazer isso foi o Wade, ele quem começou a jogar mais sem a bola, finalizar de formas diferentes e se tornou um jogador de equipe muito mais importante do que o Lebron. E o Miami só começou a decidir jogos no final da partida quando quem começou a ter o papel de closer do time foi o Wade, antes o time sempre sentia medo quando chegava ano final de um jogo difícil. É o tipo de coisa que não aparece nas estatísticas mas que está dentro de quadra, toda noite, fazendo a diferença. É o intangível, o subjetivo, que é tão difícil de mensurar e analisar mas que é de extrema importância.

Outro candidato que tem sua sustentação em números mas também possui uma boa dose do resto é o Dwight Howard. Ele é o 10º cestinha da Liga com 23 ppg, o segundo em rebotes com 14.1 rpg e é o segundo colocado em PER com 28.4, só 0.2 a menos que o Lebron. Mas tem mais do que só números pro Dwight Howard: Ele é uma parede defensiva, eu mesmo disse ontem que votaria nele pra jogador de defesa da temporada, e ele é o principal responsável pela defesa do Magic estar entre as melhores da Liga mesmo com tanto jogador fraco defensivamente em volta. Ele é importantíssimo pra defesa do Magic, e além disso ele teve uma melhora assustadora no seu jogo ofensivo, que antes consistia apenas de pura força física mas que agora parece estar muito mais elaborada depois de um período de treinamentos com o Hakeem Olajuwon nas férias. Tudo bem, ele ainda não é tão confiável ofensivamente se não tiver a bola longe da cesta, mas já melhorou bastante em relação ao ano passado e está até acertando mais lances livres. O Dwight tem números, um impacto muito grande no seu time e é um jogador que evoluiu seu jogo. O que está faltando pra ele?

Pra mim o problema dele é simples, e é a forma como ele afeta o seu time, mais uma das "chatices" subjetivas que são tão importantes pro basquete. Cada jogador que está dentro de quadra afeta todos os outros jogadores do seu time de alguma forma, nem que seja matando eles de riso como o Brian Scalabrine. E o melhor jogador de um time - no caso do Orlando, Dwight - é o jogador que deve assumir o papel do líder, tem que exercer esse papel de liderança e ditar o ritmo do seu time. O melhor jogador de um time, que deveria ser o mais valioso pro seu time em toda a Liga, tem que fazer o possível - objetiva e subjetivamente - para que seu time seja melhor. E eu simplesmente não consigo falar disso de um jogador como o Dwight Howard, que as vezes parece que entra em quadra desinteressado, que toma faltas técnicas a torto e a direito, e principalmente que some nos momentos decisivos das partidas. O Dwight revoluciona defensivamente o Magic quando pisa na quadra, melhorou muito o seu jogo e é muito eficiente jogando, isso tudo afeta positivamente o Magic e faz sua campanha pra MVP, mas ao mesmo tempo a sua absoluta incapacidade de decidir jogos no final (Jameer Nelson é o closer do Magic, meu Deus, Jameer Nelson!) , o tipo de falta que ele costuma cometer de forma desnecessária e prejudicial ao time (Incluindo as técnicas) e principalmente o fato de ele não ter uma mentalidade que busca a vitória a todo custo para passar para seus companheiros como o líder do time são coisas que prejudicam e muito o time de Orlando! O Howard é um ótimo jogador, e é isso que ele é. Ele ainda não assumiu o papel de líder dos companheiros. O Lebron não é o líder do Heat, é o Wade, mas isso não quer dizer que ele não entre com sangue nos olhos todo jogo querendo vencer a todo custo. E o Wade é assim num nível ainda maior que ele. E essa marca dos grandes jogadores e líderes, o Howard não tem, e isso afeta diretamente o rendimento do seu time ao longo do campeonato.


A verdade dessa temporada é que ela não teve um jogador que realmente jogou num nível acima dos demais. Não é sempre que temos isso, é verdade, mas sempre existe algum jogador que está claramente se destacando, como era o caso do Lebron ano passado, por exemplo. Ele tinha os números, a liderança, os intangíveis e fez o seu time ganhar tudo na temporada regular mesmo jogando em um time apenas mediano. A gente não tem um jogador desses nessa temporada, e por isso a gente fica achando tantos defeitos nos jogadores pra tentar achar um jogador lapidado no formato que a gente espera. Não tivemos um jogador assim. Mas isso não quer dizer, pelo menos pra mim, que não tivemos um MVP.


Eu falei ontem, quando comentei que o Tom Thibodeau era o meu técnico do ano, que fiquei bem chateado (talvez 'puto' seja a palavra mais adequada) quando soube que ele estava saindo do Boston Celtics e indo pro Chicago Bulls, já que eu gostava muito dele e achava ele genial. Mas isso também fez com que eu me identificasse mais com o Bulls e começasse a assistir cada vez mais jogos do time. O que foi ótimo, porque eu pude acompanhar, desde o começo da temporada, a ascenção do Derrick Rose. O Bulls começou o ano como um bom time mas em formação, que supostamente iria brigar com o Hawks pelo quarto lugar do Leste. Eu queria fazer um post sobre o Bulls faz muito tempo, mas nunca conseguia porque o Bulls nunca ficava saudável: Uma hora era o Carlos Boozer, outra o Joakim Noah, mas o Bulls nunca emendava uma sequência grande de jogos com o time titular pra que a gente pudesse analisar. Mas o Bulls continuou ganhando, ganhando, até que hoje é o campeão do Leste e um dos times mais temidos da NBA. E essa ascenção absurda tem dois nomes: Tom Thibodeau e Derrick Rose.

O ponto forte do time do Bulls - e também um dos argumentos mais usados por aqueles que não veem o Rose como o MVP da temporada - é, indicustivelmente, a defesa. O Thibodeau implementou sua mentalidade doentia e defensiva no time desde cedo, o Chicago começou a defender feito louco e o time tem a segunda melhor defesa da Liga em pontos por jogo e a melhor em Effective FG % dos oponentes e em pontos cedidos a cada 100 posses de bola. O time não é dos maiores pontuadores da Liga, tem apenas o 19º melhor ataque (11º se ajustado a cada 100 posses de bola), mas vence principalmente por causa da sua defesa sufocante. E isso é um mérito, como eu disse ontem, do Tom Thibodeau, porque o time não conta com grandes defensores individuais (só o Ronnie Brewer, no banco, e o Noah) e o próprio Rose, embora tenha melhorado e não seja um queijo suiço como o Steve Nash quando defende,  não é um defensor excepcional, e por isso muita gente diz que ele não é tão valioso assim porque o que ganha jogos é a defesa e o Rose não é um grande defensor.

Isso é muito verdade, e é inegável que o Bulls chegou ao topo do Leste por causa da sua defesa. E os números do Derrick Rose, embora bons o suficiente para um jogador estar na elite da Liga (24 ppg, sétimo da Liga, 7.8 assistências por jogo, 10º da Liga), não são também os melhores da Liga, estão abaixo de jogadores como Lebron, Howard e até o Kevin Durant, se contada a eficiência. Isso também é verdade. Mas eu já falei que números contam apenas parte da história quando a gente fala de basquete. E se por um lado o Bulls chegou aonde está em parte por causa do Thibodeau e sua defesa, também foi por causa do Rose.

O Thibodeau é um técnico novato. Tem muita experiência na Liga, mas como técnico, ele está começando agora. E ele chegou num time recém montado, onde começou a implementar seu estilo, tanto dentro como fora de quadra. Esse tipo de coisa nunca é fácil, jogadores nem sempre confiam em técnicos estreantes e geralmente demora para um time desses conseguir totalmente estar sob controle do técnico, algo muito importante quando seu técnico é tão bom e, como já dissemos, um dos grandes responsáveis pelo sucesso do time. O que aconteceu para o Thibodeau, no entanto, foi o Derrick Rose. O Rose assumiu tudo que seu técnico chegou pregando, tomou pra si a responsabilidade de liderar o time e começou a ser dentro de campo tudo que o Thibodeau pregava fora dele: ele joga com vontade do primeiro ao último minuto, não liga pros números, e se importa com a vitória mais do que qualquer coisa. Sem falar nada, sem fazer farol, o Rose cresceu pra se tornar o líder e a voz do técnico dentro do time, e foi o responsável pela mudança de postura do Chicago Bulls. O Bulls assumiu a personalidade do seu líder e melhor jogador dentro de quadra, o que acontece com os grandes craques nos grandes times. A vontade de o esforço que o Rose coloca a cada jogo e a cada treino é algo que motivou seus companheiros o ano todo a vencer, vencer e vencer. E é esse o tipo de líder que você quer para o seu time. Ele se importa, ele faz o que é necessário e joga com vontade o tempo todo. Mesmo que não afete a defesa do seu time com o seu jogo, ele afeta a defesa e todo o resto do seu time com a mentalidade e o compromisso que ele, como o líder e melhor jogador, fez o time assumir. Isso não pode ser medido, não pode ser contabilizado, mas isso é o tipo de coisa que faz os times vencerem!

Além disso, mesmo com uma defesa que toma apenas 90 pontos por jogo, você ainda precisa de um ataque que marque 91. E o Rose é o responsável por esse ataque estar funcionando. Ele é o único jogador do Bulls que sabe jogar com a bola na mão, o único que é um passador capaz de abrir espaços junto com o Noah, e o único capaz de criar o próprio arremesso. Seus companheiros - Boozer, Luol Deng, Kyle Korver - são ótimos pra finalizar as jogadas, mas precisam de alguem que fique com a bola e os ache em situações propícias, e o Rose é quem faz isso 90% do tempo. Ele tem, talvez, mais responsabilidades ofensivas do que qualquer outro jogador da Liga (tirando talvez o Steve Nash e o Chris Paul) e mesmo assim continua competindo, dando o sangue e ganhando jogos para o Bulls. Ele não cansa de treinar e evoluir seu jogo, melhorou sua distribuição de jogo e seu arremesso de três, e isso também foi responsável pela melhora do time, porque abre espaço para os outros jogadores. E foi ele que de repente virou um dos melhores closers de toda a NBA e liderou o time mesmo sem Noah e sem Boozer durante a maior parte da temporada, e fez o seu time ganhar. Isso, repito, não se mede nem se calcula, mas é o que faz a diferença a cada segundo de uma partida.

E por trazer tudo isso para seu time, e tornar esse time sem nenhuma outra estrela o melhor time da NBA, o Derrick Rose é meu MVP para a temporada 2011 da NBA, e se juntar a Magic Johnson, Oscar Robertson, Bob Cousy e Nash como os únicos armadores a terem ganho o prêmio.

E se você ainda não está convencido da história dos números, vou apresentar o problema que o Bill Simmons apresentou na sua coluna (genial, diga-se de passagem) para fazer o mesmo ponto.

"Te apresento dois jogadores:

Player A: 27.2 PPG, 10.1 RPG, 4.2 APG, 54% FG, 76% FT, 28.4 PER, 16.6 WS, 60% TS%, 1st-team All-Defense.


Player B: 29.2 PPG, 5.9 RPG, 3.8 APG, 48% FG, 81% FT, 26.3 PER, 17.1 WS, 55% TS%, 1st-team All-Defense.


Quem era melhor? É apertado, mas você escolheu o jogador A, certo?? Bom, esses são os números combinados de Karl Malone e Michael Jordan para as temporadas 1997 e 1998 da NBA. Você acabou de escolher Malone. Obrigado e dirija com cuidado." - Bill Simmons em "NBA Power Poll: The contenders"

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