Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O jumper de Rajon Rondo

Com esse olhar 43 a gente até esquece que ele não sabe arremessar

Ja falei do Rajon Rondo aqui recentemente, manifestei (e ainda manifestarei) muitas vezes minha admiração por ele, e falei sobre como ele cresceu de pirralho que não devia atrapalhar o Big Three no seu ano de título pra máquina de triple doubles dos playoffs do ano seguinte, sem Kevin Garnett, pro monstro que destruiu Cavaliers e Magic nos playoffs de 2010 e pro líder do time que é hoje. O crescimento do Rajon Rondo foi uma coisa absurda, daquelas pra deixar o Lebron James orgulhoso. Seu jogo evoluiu de várias formas possiveis e imagináveis. Um excelente ladrão de bolas, um ótimo defensor, um jogador muito bom em contra ataques, rápido, que toma boas decisões com a bola, que infiltra bem demais e que tem um passe cada vez melhor e mais imprevisivel. Alem disso, o Rondo é excelente reboteiro, o que por sua vez é fundamental pro Celtics.

De certa forma, o Rondo é perfeito pro Boston Celtics. Não só por ser um tremendo jogador, mas porque quando o Big Three chegou em Boston, o time vivia de defesa, defesa e defesa. Era uma defesa feroz, assassina (Só olhar a cara do Garnett) e que arrancava o couro de quem tentasse entrar no garrafão. O time vivia de contra ataques proporcionados por essa defesa forte e, principalmente, de isolações, confiando no talento individual de tres jogadores que provavelmente vão pro Hall da Fama: Paul Pierce, Ray Allen e Kevin Garnett. Allen é um dos melhores chutadores de tres da história (talvez perdendo apenas pro Reggie Miller), Kevin Garnett é um dos melhores alas de força que o mundo ja viu e o Pierce, apesar de escondido em times mediocres durante boa parte da sua carreira, era um dos grandes pontuadores da Liga e levou com Antoine Walker um time fraco pras finais de conferência. Era facil isolar esses jogadores, deixá-los atacar a cesta, criar um arremesso ou atrair uma marcação dupla e mandar a bola pro outro lado: OS tres eram ótimos nisso, tanto atacando a cesta como criando o próprio arremesso, arremessando, passando a bola, com boa visão de jogo. Alem disso, Garnett sempre foi um monstro jogando dentro do garrafão e Pierce e Allen ótimos chutadores de tres, o que se complementava bem. Ainda tinha no banco o gordinho Leon Powe, que era ótimo em cavar faltas, e James Posey, especialista defensivo que tambem chutava suas bolinhas de tres. O trabalho do Rondo era simples, defender, puxar alguns contra ataques, passar a bola e sair da frente que o resto do time fazia... bem, o resto.

No entanto, eram jogadores ja velhos, que ja tinham passado seus auges. E infelizmente, quando voce está nesse ponto, ele só piora com o passar do tempo. E foi o que rolou. Pouco a pouco, o Big Three nao parecia mais tão grande assim. Claro, os jogadores ainda eram bons, mas não tinham o mesmo impeto de antes na carreira. Seu fisico nao aguentava mais tanto, era dificil atacar a cesta com tanta velocidade e agilidade e os dias ruins começaram a ser mais frequentes. Era um time composto de excelentes jogadores mas que ja tinham passado suas melhores fases, condenado a decair até não aguentar mais e se desmontar, levando pra casa aquele anel solitário de 2008. Quem salvou o Boston disso, no entanto, foi o Rondo. Quando deixar a bola nas mãos do Big Three pra que criassem o arremesso, atacassem a cesta e etc e tal deixou de ser uma opção tão eficiente, surgiu a solução em Rondo. Sua evolução insana fez com que o time tivesse alguem pra deixar a bola na mão, confiar pra tomar as decisões certas, infiltrasse, desmontasse as defesas e mandasse a bola pra quem sabia finalizar melhor. Garnett no garrafão, Allen e Pierce fora dele. Rondo, pra melhorar, virou um excelente reboteiro, o que se encaixou perfeitamente no sistema do time. A defesa no garrafão era impecavel, a rotação era quase perfeita, e o Boston forçava varios turnovers (até porque o Rondo virou uma máquina de steals) e arremessos longos, que davam rebotes longos, e ambos viravam contra ataques muito rápidos nas mãos do Rondo - que varias vezes ja começava o contra ataque com a bola na mão - que acabavam com uma bandeja sua ou um passe pra algum finalizador proximo à cesta ou pra bola em velocidade de tres do Ray Allen, mortal. O trio de veteranos começou a confiar no pirralho pra decidir o ataque do time, e quando o time não consegue jogar na transição e tem que apelar pro ataque de meia quadra, ele funciona muito melhor quando Rondo tem a bola nas maos, infiltra e abre a defesa com seus dribles, visão de jogo e passes precisos. O Big Three nao precisava mais ter a bola nas mãos, e cabia a Rondo acioná-los na hora certa pra finalizar a jogada como sabem fazer tão bem.

Esse começo de ano não foi diferente. Ainda com mais estrelas em decadência (a dupla Shaquille e Jermaine O'Neal) no elenco, Rondo foi o responsavel por ficar com a bola na mão 80% do tempo e dar seus passes por cima da defesa, na velocidade ou pra linha de tres. Sua média de 15 assistencias por partida até aqui explica bem o que eu quero dizer. Rondo vinha jogando num nível altissimo, pra ser candidato a MVP mesmo, e o time colhia os frutos, está 5-2 na temporada sem Kendrick Perkins e com Shaq temporariamente fora.

Só que recentemente começaram a aparecer críticas ao Rondo e dizendo que seus números eram enganosos, que ele só tinha 15 assistencias por jogo porque ninguem o marcava em cima, todos o marcavam à distância e portanto ele tinha espaço pra dar passes com calma, que jogadores como Chris Paul, Deron Williams e Steve Nash não tinham esse benefício e portanto Rondo só era tão 'bom' por causa do espaço que lhe era dado pelos marcadores. E bom, quando voce ve um jogo do Celtics voce logo percebe que é verdade, pelo menos no que diz respeito à marcação afastada, os marcadores realmente não marcam Rondo em cima.

Primeiro de tudo, porque isso acontece? Simples, por causa da maior (talvez única) falha no jogo do Rajon Rondo: Ele não sabe arremessar. Tudo bem, ele é capaz de acertar um ou outro jumpers de media distancia, e até uma ou outra bola de três, mas todo mundo na Liga sabe que esse jumper não é confiavel e que o Rondo não gosta de usá-lo (Todas suas bolas de tres na temporada foram com o cronometro ou o relógio estourando). Eu sei, meu pai sabe, minha avó sabe, o próprio Rondo sabe... E é claro, seus adversários tambem sabem. Como esse Jumper dele não é confiavel, vai entrar uma vez e sair tres, é normal ver seus marcadores marcando ele à distancia: Voce pode dar espaço pro jumper, afinal ele não vai acertar, e evita que voce seja driblado marcando muito em cima. Varias vezes, assim como no final do jogo de ontem contra o Dallas Mavericks, os jogadores adversários deixavam Rondo completamente livre pro arremesso: a chance dele errar era grande.

Ou seja, voce só deixa o Rondo longe do marcador porque ele pode ter espaço pra arremessar. A critica que andam fazendo, chamando até Rondo de 'enganação', é que ele só consegue suas assistencias e sua habilidade pra armar o jogo por causa desse espaço. Não parece ter algo de errado ai? Se é apenas essa a questão, porque não marcar logo o Rondo em cima e evitar que ele tenha espaço pra passar tanto a bola? Uma coisa que aprendemos no começo do curso de Economia é que as pessoas, entre duas opções, escolhem a que lhes tras mais benefícios. Se voce pode marcar o Rondo de perto ou de longe, e mesmo assim marca de longe (TODO MUNDO marca de longe), é porque marcar de perto é uma manobra muito pior pro seu time!

O Rondo é um armador extremamente veloz e explosivo, muito bom no drible e nos fakes elaborados. Se voce marcar em cima, voce vai dar mais espaço pra ele driblar voce. Assim ele vai partir pra cima da cesta e perto dela ele é um bom finalizador, tem um fake por trás das costas muito treinado e que engana todo mundo (Lembro do Anderson Varejão quase quebrando a coluna nos playoffs,). Se voce fecha o garrafão na frente dele é ainda pior, porque isso vai abrir um dos jogadores do Celtics e o Rondo tme visão de jogo e precisão nos passes pra acertá-los quando encoberto. Se voce deixa o Rondo ir pra cima, ele vai varias vezes finalizar proximo à cesta, que tambem é um arremesso de porcentagem muito superior a um arremesso de meia distancia, ainda mais pra um chutador fraco como o Rondo. E tudo que voce não quer é ter o Rondo com media de 20 pontos por jogo - até porque ele vai continuar tendo uma media bem alta de assistencias, principalmente nos contra ataques. O Rondo não só é o melhor como tambem o jogador que melhor distribui o jogo em Boston. É muito mais vantajoso pros times deixarem o Rondo livre - Ele pode tentar um arremesso de meia distancia que não deve entrar mesmo, ou então vai passar a bola pra alguem com o espaço que tem. Claro que muitas vezes esse passe vai acabar resultando numa cesta pro time, mas caso não tenha ninguem tão proximo à cesta ou livre, voce acaba tirando a bola das mãos de Rondo - e é nessa hora que seu marcador cola nele, pra evitar que ele receba a bola de volta.

Ou seja, deixar o Rondo livre é uma estratégia de marcação. Voce força a tirar a bola da mão do Rajon, deixa que ele de alguns arremessos tortos e evita que ele infiltre com facilidade. Claro que ele vai ter um numero alto de assistencias, ele é ótimo achando os jogadores do seu time cortando em direção à cesta ou saindo de um corta luz, mas é o preço que voce paga. E os times estão dispostos a pagar esse preço - tanto que todos usam a marcação à distancia com o Rondo. Falar que os numeros e o jogo do Rondo, que tanto tem chamado a atenção, são menores porque a marcação que ele sofre permite que ele tenha espaço pra passar a bola, é uma das piores criticas que eu vi recentemente. Talvez seus números mudassem se começassem a marca-lo em cima - mais pontos, melhor aproveitamento, menos assistencias - mas continuariam sendo tão impressionante como os de hoje, se não mais. Afinal, se nao fossem, todo mundo marcaria ele fungando no seu cangote. Se essa é a tática de marcação mais eficiente contra Rondo, entao porque diabos alguns pentelhos insistem que é ela que deixa o armador 'tão bom'? Ele é bom e pronto! O fato dele não saber arremessar e ter espaço pra isso e não afzer só torna a forma como ele domina os jogos ainda mais incrivel. Lembro de uma citação sobre o Jason Kidd que atualmente cai muito bem no Rajon Rondo: "Ele pode controlar uma partida sem sequer pontuar". Perfeita, não?

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Escrevi isso tudo ontem a noite vendo NBA pelo League Pass, mas vou acrescenter dois comentarios antes de postar aqui.

- Da pra levar o Nuggets a sério quando eles tomam 144 pontos do Indiana Pacers, inclusive 54 pontos em 20-21 arremessos do Pacers no quarto periodo?? Definitivamente não. Dois times que tem ataques fortes e defesas fracas, entao é normal que seja um jogo de placar alto, mas isso é ridículo! 144 pontos?? Isso é tomar 36 pontos por periodo, é muita coisa, em especial aquele infeliz terceiro quarto. Parecia que o Pacers estava correndo e brincando em quadra, enquanto o Nuggets não sabia nem onde estava e nem o que estava fazendo, parecia perdido. Darren Collison finalmente fez o que era esperado dele, 29 pontos em 12-14 e 6 assistencias em 31 minutos. Mike Dunleavy (O filho do ex-técnico do Clippers) teve 31 pontos e o Tyler Hansborough mais 20. Lembro que no começo do jogo um comentarista da TV disse que o Pacers tinha que consertar seus aproveitamentos, tanto de field goals como de bolas de tres. Foram 64.4% dos field goals e 53.3% das bolas de tres, ahco que nao da pra reclamar mais, né? Acho que o George Karl deve estar rezando pro Kenyon Martin e pro Chris Andersen voltarem logo, pelo menos eles sabem defender alguma coisa.

- O que foi o jogo do Miami Heat ontem?? Deixei de dormir cedo porque estava louco pra ver Heat vs Jazz. Afinal, o Heat é o Heat, goste ou não goste deles, mas eles chamam a atenção e sao interessantes de ver, até pra torcer contra pros que nao gostam. Mas mais do que isso, e além do fato de serem dois ótimos times, eu estava curioso em ver se eu achava um padrão. O Heat perdeu de Boston e New Orleans na temporada até agora, e ambas as partidas da mesma forma: Um armador rápido capaz de driblar, infiltrar e desmontar a boa defesa do Miami Heat, complementado por um jogo forte no garrafão pra tirar vantagem do garrafão frágil do Heat. Foi assim que Rondo e Paul trabalharam com Shaq, Garnett e Emeka Okafor pra ganhar do tão falado Miami Heat. E se voce for olhar, é o que o Jazz tem: Deron Williams do lado de fora, e Al Jefferson e Paul Millsap do lado de dentro. Queria ver se o Jazz, que pra mim ainda tem muito a melhorar, principalmente com a volta do Mehmet Okur, era capaz de usar as peças da mesma forma que Celtics e Hornets e derrotar o Heat.

Mas o primeiro tempo foi uma decepção. Williams não infiltrava, Millsap e Jefferson tentavam pontuar de fora do garrafão, nenhum dos dois tinha o bom senso de jogar de forma física dentro do garrafão, brigar por rebotes ofensivos e conseguir cestas proximas À tabela. O primeiro tempo acabou com domínio total do Heat, 19 pontos à frente. Mas o segundo tempo foi exatamente o oposto do primeiro pro Jazz, e exatamente o que eu cobrava deles no começo do jogo. Deron Williams parou de arremessar tanto de fora e começou a partir pra cima, partir pra dentro e distribuir a bola DEPOIS de entrar no garrafão. Isso fez desmoronar o esquema defensivo do Heat, que tentou fechar o garrafão e favoreceu as distribuições de bola do Williams. E quem apareceu nessa hora foi Paul Millsap. Deron Williams infiltrando e Millsap sendo agressivo, dentro do garrafão e fora dele, fez o Jazz superar o Heat no periodo e diminuir a vantagem pra... bem, pra 13. Mas o Heat, que voltou sonolento - um pouco relaxado talvez - do intervalo, não conseguiu recuperar seu ímpeto. E o Jazz, animado, foi pra cima com um Millsap inspirado. No quarto periodo, Millsap, que na carreira toda acertou apenas duas bolas de tres pontos, acertou as tres que tentou. Williams desmontou cada marcador e marcação que colocaram em cima dele. E o Jazz foi pra cima com tudo. Andrei Kirilenko achou mais espaços, o mesmo pra CJ Miles. O esquema de marcação do Heat não funcionou (e não vem funcionando) quando o armador principalmente do time adversario veio driblando pra dentro da sua defesa. E Millsap fez a festa (uma pena que Al Jefferson tenha tido uma partida patética, era outro que teria feito estrago la dentro) pra levar o jogo pra prorrogação - onde o Jazz abriu dois pontos de vantagem faltando 0.4 segundos com Francisco Elson. O Miami Heat aparentemente está arrogante demais com seu proprio talento e nao quis procurar o Jason Kidd pra perguntar sobre pontes aéreas faltando 0.4 segundos como o Nash fez. Ao inves disso tentaram uma cesta de tres pra virar a partida. Chris Bosh? Lebron James? Dwyane Wade? Claro que não, foi novamente Eddie House quem teve a honra do arremesso - e errou, era um arremesso extremamente dificil faltando 0.4 segundos. No final, o Jazz demorou, mas implacou o que eu queria ver se funcionava contra o Heat - armador agressivo, garrafão forte e fisico. Funcionou, ajudado pela acomodação do Heat no segundo tempo. Os excelentes jogos de Wade, com 39 pontos, e Lebron, com 20 pontos, 11 rebotes e 14 assistencias (Apesar dos 5-18 em arremessos) foram eclipsados pela melhor marca da carreira do ex-reserva Paul Millsap: 46 pontos. Claro que o Heat é um timasso e não vai ser facil vencê-lo, mas entre os tres times a fazê-lo, da pra notar um padrão. Amanha o Heat enfrenta o Boston com olhos numa revanche, mas depois disso vai demorar bastante pra enfrentar um time de bom garrafão e armador agressivo. Ou seja, o Miami vai ter bastante tempo pra se ajustar até isso acontecer denovo.

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